Páginas

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Diário de Kurt Gerstein


Kurt Gerstein, oficial da SS da seção de 'serviço sanitário', escreveu estas linhas em seu diário, sobre o campo de extermínio de Belzec, antes de seu suicídio em 1945:

"Logo a seguir começa a marcha. À frente uma mocinha muito bonita; Caminham ao longo da avenida, completamente nus, os homens as mulheres, as crianças. Estou junto do capitão Wirth, responsável pela organização do extermínio, na escada exterior de um só lance que há entre as câmaras. As mães - que apertam nos braços seus bebês - sobem, hesitam, entram nas câmaras da morte. À esquina um corpulento SS, com voz sonora e afável, diz àqueles desgraçados 'nada vai acontecer de mau! Basta respirar fundo nas câmaras; Isto fortalece os pulmões e é um meio preventivo contra as doenças e epidemias'.
Aos que indagam sobre o destino que os espera, responde:
'Evidentemente os homens terão de trabalhar, construir casas e ruas. As mulheres tratarão da casa e da cozinha'. Isto representava a última esperança, capaz de os fazer caminhar sem resistência até as câmaras da morte. A maioria porém conhece a sua sorte, pois o cheiro dominante é bastante eloqüente. Sobem uma pequena escada e abrangem tudo num último olhar: As mães com seus filhos apertados contra o peito,
crianças de tenra idade, velhos, homens, mulheres, totalmente nus; Vacilam, mas entram empurrados pelos que vêm atrás, ou pelas vergastadas dos SS, a maioria sem dizer uma palavra. Uma judia de cêrca de 40 anos, de olhos ardentes, amaldiçoa os assassinos:
'Que o nosso sangue caia sobre vocês!' E, tendo recebido 5 ou 6 chicotadas no rosto, dadas pelo próprio capitão Whirth, desaparece na câmara de gás. Muitos rezam, e eu rezo com eles. Vou para um recanto e oro ao meu Deus que é também o Deus deles. Queria entrar ao seu lado nas câmaras de gás. Quanto teria gostado de morrer da mesma morte! Se houvessem encontrado então nas câmaras de gás um oficial SS de uniforme, julgariam tratar-se de um acidente e não voltariam a falar no caso. Mas
não devo fazê-lo.
Primeiro tenho que denunciar o que vi aqui. A câmaras lotam. 'Encher bêm!', ordenara Wirth. A pessoas estão de tal modo apertadas que pisam os pés uma das outras. Há 700,800 em 25m2 e 45 m2. Os SS os colocam como numa prensa, tal como folhas de um livro. As portas são fechadas. Enquanto isso, os outros estão do lado de fora à espera, completamente nus, no inverno ou no verão.
'Estão aqui para morrer', diz um SS.
Compreendo então a inscrição que vi na entrada 'Fundação Heckenholt'. Heckenholt é o encarregado do Diesel, um dos 3 ou 4 técnicos encarregados que construíram a instalação. São os gases de escape do diesel que matam aqueles infelizes. O diesel põe-se em movimento e até este instantes, todos permaneciam vivos: 4 vêzes 750 homens em 4 vêzes 45 m3. Decorreram mais 25 minutos. Agora muitos já morreram.
Pode-se ver pela vigia: Uma lâmpada elétrica ilumina por momentos o interior da câmara. Passados 28 minutos, poucos restam com vida. 32 minutos: todos morreram.
Do lado de fora os homens do Kommando de trabalhadores abrem as portas de madeira. Como colunas de basalto, os homens ainda estão de pé nas câmaras, sem o menor espaço para cair ou dobrarem-se sobre si próprios.
A morte não separou os que pertencem às mesmas famílias, pois estão de mãos dadas. Custa muito a separá-los quando as câmaras são esvaziadas para o próximo carregamento. Despejam-se os corpos úmidos de suor e urina, as pernas cobertas de fezes. Atiram-se pelo ar os cadáveres das crianças. Não há tempo a perder. Duas dezenas de dentistas revistam as bocas com ganchos. Ouro à esquerda; não há ouro, à direita. Outros dentistas, com a ajuda de pu\inças e martelos, arrancam as peças de ouro e as coroas.
Entre eles, vai e vêm o capitão Wirth. Está no seu elemento. Procura-se nos cadáveres o ouro, os diamantes e as jóias.
Wirth chama:
'Veja o peso desta lata cheia de dentes de ouro. São os despojos de ontem e anteontem'.
Numa linguagem incrivelmente cínica, dis-me:
'Não pode imaginar a quantidade de ouro, diamante e dólares que encontramos todos os dias! Vá ver com seus próprios olhos!'
Wirth é capitão do exército imperial austríaco, cavaleiro da cruz de ferro, e tem agora a seu cargo o campo de kommandos dos trabalhadores judeus. Nem em Belzec nem em Treblinka pessoa alguma se incomodou em contar ou em fazer o registro dos mortos. Os números eram calculados por aproximação, segundo o conteúdo dos vagões. O capitão Wirth rogou-me que não propusesse em Berlim, nenhuma modificação nas instalações quedirigia visto haverem provado sua eficácia.
No dia seguinte, 19/08/1942, partimos no carro do capitão Wirth para Treblinka, a 120 km de Varsóvia. A instalação eram mais ou menos a mesma, porém muito maior que em Belzec. 8 câmaras de gás e montanhas de malas e roupas. Ofereceram um banquete em nossa honra, ao velho estilo alemão, tão típico de Himmler. A comida foi simples, mas abundante. Himmler ordenara que se entregasse aos homens do kommando todas as bebidas alcoólicas, a carne e a manteiga que desejássem."
No fim:
"Tenho consciência da importância trágica dos fatos expostos e posso certificar, sob juramento diante de Deus e dos homens, que nada do que disse é inventado. Tudo é inteiramente exato."

Texto extraido do livro: 'Seleções do reader's digest -Grande Crônica da 2a. Guerra Mundial(Vol. 2 de 3) - De Pearl Harbor a Stalingrado'

Fonte:
http://holocausto-doc.blogspot.com.br/2010/06/relato-ss-kurt-gerstein-campo-de-exterminio-de-belzec.html (tem mais informações)

Postagens relacionadas:

8 comentários:

  1. O Dr. Stefan Szende descreveu da seguinte forma o extermínio em massa dos judeus no campo de extermínio de Belzec, no seu livro "Der letzte Jude aus Pólen" [O último judeu da Polónia], (Editorial Europa Zürich/New York, 1945), um livro baseado na vivência de Adolf Folkmann, um judeu polaco, nos territórios dominados pelos nazis de Setembro de 1939 a Outubro de 1943. Este livro foi traduzido para inglês com o título "The Promise Hitler Kept" [A Promessa que Hitler Cumpriu].



    Retirado das páginas 290 e seguintes de "The Promise Hitler Kept":


    "A fábrica da morte englobava uma área de aproximadamente sete quilómetros de diâmetro. Esta zona estava protegida com arame farpado e outras medidas de protecção. Nenhuma pessoa se podia aproximar dali. Nenhuma pessoa podia abandonar a zona (...). Os comboios cheios de judeus entravam por um túnel nas salas subterrâneas da fábrica das execuções. Tirava-se-lhes tudo... os objectos pessoais eram separados ordenadamente, inventariados e utilizados para as necessidades da raça superior."

    "(...) Os judeus nus eram trazidos para salas gigantescas. Vários milhares de pessoas de uma só vez podiam ser metidas nestas salas. Não tinham janelas e o chão era feito de uma placa de metal que era submergível. Os pisos metálicos destas salas, com os seus milhares de judeus, afundavam numa bacia de água que ficava por baixo – mas só até ao ponto em que as pessoas não ficavam totalmente debaixo de água. Quando todos os judeus sobre o piso de metal estavam com a água pelas coxas, faziam passar através da água uma corrente eléctrica."

    "Após alguns momentos, todos os judeus, milhares de uma só vez, estavam mortos. Então, o piso de metal era elevado até sair da água. Sobre ele estendiam-se os corpos das vítimas executadas. Então, era enviada outra corrente eléctrica, e o piso metálico transformava-se num forno crematório, incandescente, para que todos os corpos ardessem até ficarem em cinzas. Gruas gigantescas levantavam imediatamente esta imensa urna e descarregavam as cinzas. Grandes chaminés, tipo fábrica, evacuavam o fumo."

    "O próximo comboio já estava à espera com mais judeus à entrada do túnel. Cada comboio trazia de três a cinco mil judeus, e por vezes mais. Havia dias em que o ramal para Belzec trazia vinte ou mais comboios. A tecnologia moderna triunfava no sistema nazi. O problema de como exterminar milhões de pessoas estava resolvido."

    http://citadino.blogspot.com/2009/10/dr-stefan-szende-electrocussao-como.html

    ResponderExcluir
  2. Horrível,extremamente tenebroso...e ainda os oficias da SS achavam isso uma normalidade pura...

    ResponderExcluir
  3. Nossa é chocante...não existe nem palavras pra destinguir a crueldade que essas pessoas sofreram...é inacreditavél o ponto que um ser humano pode chegar achando-se superior a outro...porém por pior que isso seja é mais terrivél ainda é muitas pessoas acreditarem e ter aceitado e feito parte de coisas como estas.

    ResponderExcluir
  4. Creio não estar enganado, mas esse metodo de exterminio foi argumentado durante a decada de 50, com base em afirmações sovieticas. No entando, na decada de 60, esse metodo foi comprovado nao ter existido, não?
    Abraços

    ResponderExcluir
  5. meu avô foi da SS eles não tem culpa des de pequenos eram levados acreditar que os judeus queriam acabar com a alemanha....A RESPONSABILODADE DESSA TRAGÉDIA HUMANA DEVE SER DOS GRANDES(HITLER,GOEBELS,HIMMLER,Göring)..NÃO DEFENDO OS CRIMINOSSOS NAZISTAS MAS PESSOAS COOMO MEU AVÔ FORAM SIMPLESMENTE ENGANADAS COM A IMPLACAVEL PROPAGANDA ANT-SEMITA DA ÉPOCA

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O que eu não entendo é como uma pessoa se deixa levar por propagandas ao ponto de matar uma pessoa só por ela ser judia! Não adianta defender o indefensável! Sinto pelo seu avô, deve ser uma vergonha carregar essa responsabilidade!

      Excluir
  6. o mundo hoje fecha os olhos a tudo o que aconteceu e temos actualmente uma nova Alemanha imponente, em que a sua Chanceler manda na Europa e esquecemos de um passado tão presente como este...como é que este povo ainda pode prosperar depois de tudo o que fizeram...o mundo perdoou eu nunca perdoarei...

    ResponderExcluir
  7. Gerstein descreve em seu diário que muitos da SS que ali estava não queria estar. Muitos sofriam, mas executavam a tarefa de executar. Acho que o fato dessa catástrofe estar muito bem documentada e testemunhada chocará a humanidade.

    ResponderExcluir

Favor, sem ofensas, comentários racistas, antissemitas, homofóbicos e semelhantes...

Racismo é crime (Lei 7.716/89).

Não irei liberar comentários que ataquem outras pessoas.