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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Abwehr - Os bastidores da espionagem



Abwehr

A guerra, como fenômeno doloroso mas inevitável, mostra duas faces diametralmente opostas: a pública, difundida pelas crônicas periódicas, e a oculta, somente conhecida por grupos selecionados de combatentes e, às vezes, por um só homem. A primeira compreende a ação a céu aberto, a luta de homens e máquinas, o bombardeio, o duelo aéreo e o assalto à baioneta; a segunda vive e se desenrola nas sombras, num silêncio só interrompido quando um homem, ou mais, cai numa ruela silenciosa, baleado na escuridão. Nesse mundo de silêncio é onde a guerra atinge o máximo de dramatismo, um dramatismo que supera o duelo aéreo ou o assalto à baioneta. Nesse mundo, os combatentes jogam sua vida numa cartada, sem nenhuma recompensa, tendo como cúmplices, apenas, um silêncio e uma obscura solidão. Nesse mundo não existem medalhas nem menções. É o mundo da espionagem.

A literatura de ficção tem familiarizado o homem moderno com a figura do espião. E o tem feito alterando fundamentalmente a verdade. A novela e o cinema têm transformado o espião num ser impassível, provido de nervos de aço e dotado de particularidades incomuns. E é aí que a verdade é alterada. Porque o espião não é senão um ser humano, com suas paixões e fraquezas. E também com seus temores, que convertem sua vida diária num longo sofrimento, que termina, invariavelmente, na morte.

O espião, no contexto de uma conflagração mundial, deve ser aceito como mais um combatente; um combatente sem a proteção das convenções e dos tratados internacionais. Para ele não há quartel nem piedade. E assim, como mais um soldado, deve ser estudado em sua trajetória e seus métodos de luta, em sua vida e sua morte, despojado das falsas auréolas de romantismo e das pejorativas definições.


O que é um espião?

Poderíamos definir o espião dizendo que é um homem, ou uma mulher, que vende ou cede informações de importância vital para um Estado. A definição, porém, seria inexata. Com efeito, a informação geralmente é obtida através de pequenos detalhes aparentemente sem importância; porém, esses dados, agrupados e complementados com muitos outros, podem chegar a configurar uma informação de máxima importância. Além disso, vender ou ceder informações implica em considerações e conseqüências diametralmente opostas. Devemos destacar que o Abwehr (Serviço de Informação alemão), em sua seção de espionagem, selecionava, especialmente, voluntários que colaboravam espontaneamente, por simpatia ou por convicções políticas; os espiões mercenários constituíam somente um reduzido grupo, pois o comando alemão achava que o melhor serviço de informação não pode ser comprado.



Como é um espião?

A literatura especializada e a arte cinematográfica têm apresentado o espião, quase sempre, como um personagem de valor infinito, que vive deslumbrantes aventuras, em hotéis luxuosos e automóveis esporte, valendo-se simplesmente de seu valor e de sua força física. Porém, a realidade não é esta.

Um espião é, sempre, um homem ou uma mulher que reúnem, invariavelmente, um valor pessoal e uma série de qualidades individuais indispensáveis ao desempenho de sua tarefa. Quais são? Primeiro, o espião deve possuir uma extraordinária memória. A mesma, inata em muitos seres humanos, pode ser encontrada em muitos outros, atingindo limites inimagináveis. Os métodos e as chaves mnemotécnicas têm especial importância. De qualquer maneira, um espião deverá estar em condições de ler duas, três ou quatro páginas de termos técnicos e repeti-los sem erros nem vacilações. Deverá, ainda, ver um rosto humano e não esquecê-lo nunca mais; para isso, aprenderá a reter em sua memória certos traços determinados, invariáveis e impossíveis de dissimular ou ocultar, e nunca o rosto em sua totalidade. Deverá, finalmente, estar em condições de receber complicadas instruções verbais e recordá-las minuciosamente. Em segundo lugar, deverá conhecer vários idiomas, além do seu. Deparará, em muitas ocasiões, com documentos que estarão redigidos em outro idioma, ou seres que falarão uma língua que pode ser-lhe estranha. Deve estar em condições de entender esta língua, ainda que não totalmente. Um profundo conhecimento de psicologia será imprescindível a um espião, pois o ajudará a prever reações alheias, o porá em guarda e evitará, inclusive, que dê passos em falso. Deverá conhecer muito bem sua zona de operações: ruas, hotéis edifícios públicos, transportes e costumes locais, expressões idiomáticas, etc. O espião deverá estar em condições de responder sem vacilar a um pedido de informação de qualquer desconhecido que o aborde em plena rua, desconhecido este que pode ser, neste caso, um agente da contra-espionagem. Deverá ser, finalmente, um ator consumado, capaz de demonstrar surpresa, dor ou alegria, segundo as circunstâncias o exijam, dominando suas emoções e aprendendo a viver em plena simulação. É necessário destacar uma qualidade que está intimamente ligada à sua profissão: o valor. O espião sabe que para ele não existem convenções internacionais nem piedade. Sabe que sua vida está por um fio. E sabe, principalmente, que ninguém, nem o governo para quem trabalha, dará um passo em seu favor. Ele sabe que está só e isto constitui seu verdadeiro drama.

Almirante Canaris, comandante do Abwehr


Espiões alemães

Em 31 de agosto de 1939, os comandos alemães viviam a excitação do momento histórico que começavam a protagonizar. Somente um alto chefe permanecera despachando em Berlim. Era Wilhelm Canaris, o homem que mais dera de si e de seus homens, até este momento, para o êxito da empresa que a Alemanha estava prestes a empreender. Seus agentes já haviam feito sua guerra, uma guerra silenciosa, subterrânea e sutil, secreta e angustiosa: a guerra da espionagem.

Quem era Canaris? Para alguns, o maior agente alemão de todos os tempos; para outros, um simples intrigante...

Canaris nasceu em Aplerbeck, perto de Dortmund, no coração do Ruhr, em 1o de janeiro de 1887, e era o mais novo dos três filhos de um engenheiro do lugar. Na Primeira Guerra Mundial serviu no Serviço de Informação, esteve no comando de um submarino e no fim do luta passou a comandar o cruzador Schlesien. Depois de desempenhar várias funções no frota alemã, em 1o de janeiro de 1935, surpreendentemente, substituiu o Capitão Konrad Potzig no chefia do Abwehr, Em 1o de setembro de 1939, ao estalar a Segunda Guerra Mundial, Canaris tinha sob seu comando cinco seções: a Seção Central, sob o comando do Coronel Hans Oster, oficial que se destacaria mais tarde como ferrenho antinazista; a Seção Estrangeira, sob o comando do Capitão Buerkner, que mantinha relações com as potências estrangeiras; a Seção II, sob o comando do Coronel von Lohousen, que era responsável pelas ações de sabotagem e outras operações secretas; a Seção III, encarregada dos serviços de segurança, contra-espionagem e contra-sabotagem, e a Seção I, que merece ser estudada detalhadamente.

A Seção I tinha a seu cargo a informação secreta originada da espionagem. Estava organizada em três subseções, pertencentes ao exército, à frota e à aviação, e, além destas, havia cinco grupos. Entre estes, o Grupo I-G, que destinava-se à criação de armas secretas, microfotografias, tintas secretas, etc.; era ali onde se falsificavam passaportes e todo tipo de documentos indispensáveis para o funcionamento da rede de espiões e sabotadores. O Grupo I-I cuidava das telecomunicações, incluindo a fabricação de equipamentos clandestinos de rádio para os agentes, e da organização de redes secretas de rádio. A Seção I, no quartel-general de Berlim, estava instalada num edifício de cinco andares e contava com pessoal relativamente reduzido. Fora dali, ao contrário, seu pessoal era numerosíssimo e integrava a rede de "homens V" (V de "Vetrauen", confiança). Na sua maioria, os homens V eram voluntários a serviço do regime nazista por simpatia ou simplesmente por patriotismo. Havia muito poucos mercenários.

A principal função do Abwehr era defender a Alemanha dos adversários estrangeiros por meio da espionagem agressiva e da contra-espionagem defensiva.

Paralelamente às funções de Canaris e de seus homens, existia na Alemanha outra organização, sob o comando direto de um jovem ex-marinheiro alemão, Reinhard Heydrich. Era o Serviço de Segurança (Sicherheitsdients) para defender a Alemanha dos inimigos internos.

O Serviço de Segurança de Heydrich estava organizado em várias seções. As Seções IV e V eram especializadas em funções policiais. A IV era a temida Gestapo, que operava sob o comando de Heinrich Mueller e destinava-se a combater todos os inimigos do regime. A Seção V era o Kriminolpolizei, ou Kripo, sob o comando de Arthur Nebe.

O Serviço de Informação e o de Espionagem concentravam-se no SD, Seções III (Nacional) e VI (Estrangeira), dirigidas por Reinhard Heydrich. A espionagem agressiva estava a cargo da Seção VI, a famosa Amt Sechs.
A Seção VI desenvolveu-se passo a passo, até converter-se num outro Abwehr no seio da Wehrmacht.

Heydrich, por sua vez, foi reconhecido como um dos mais hábeis chefes do Serviço Secreto de todos os tempos.

As atividades do Abwehr

Hans Pieckenbrock era um alemão de caráter jovial, com um aspecto exterior de comerciante próspero. Porém, sob esta capa simples e sorridente, ocultava-se a verdadeira personalidade de um coronel do Estado-Maior alemão e do chefe da Seção I do Abwehr, dedicada à espionagem. Pieckenbrock, em quem Canaris confiava cegamente, guardava em seus arquivos segredos vitais de várias grandes potências e manejava com pulso firme uma imensa rede de espiões que abarcava dezenas de países. Enfrentava, paralelamente, problemas de toda espécie que se originavam nos serviços repressivos dos citados países e ainda pressões de órgãos alemães. O Ministério de Relações Exteriores alemão, por exemplo, nos anos anteriores à guerra, empenhara-se intensamente em impedir desgastes com a Grã-Bretanha, França e Estados Unidos; isto, logicamente, perturbava profundamente as atividades da espionagem alemã. Em 1937, por ordem expressa de Hitler, o Abwehr organizou, na Inglaterra, uma rede de espionagem de grandes dimensões. Em menos de dois anos, o Abwehr organizou o serviço e completou seus arquivos com detalhes minuciosos acerca da potencialidade do exército inglês e também da RAF e da frota britânica.

Porém, o principal objetivo do Abwehr não era a Inglaterra, e sim a França. Na Seção I foi organizado um ramo especial, com o objetivo de investigar e descobrir tudo sobre as defesas da Linha Maginot. Apesar de haver perdido, nesta empresa, numerosos agentes, o Abwehr obteve, finalmente, a informação precisa dessas defesas. Foi conseguida através de oficiais franceses, comprados pelos agentes do Abwehr; um deles era o Capitão Credle, ajudante do comandante das fortificações do setor de Metz, que forneceu um plano da linha; o outro era o Capitão Forge, encarregado dos abastecimentos na Maginot, que simpatizava com o movimento nazista e cedeu sua informação aos agentes do Abwehr.

Serviço secreto de rádio na OKW(Amt Ausland-Abwehr)
O segundo objetivo importante, para o Abwehr, era a frota de guerra da França. A Seção I-M, divisão de informação naval de Pieckenbrock, reunia os informes que alimentavam uma rede de espiões especialmente adestrados. Um destes últimos era um tenente da marinha francesa, relacionado com uma agente alemã. Este tenente tinha acesso direto ao arquivo e à documentação do Almirante Darlan. Foi assim que a ordem de mobilização chegou ao conhecimento do comando alemão quatro horas antes que às bases e barcos franceses... Outro dos agentes alemães - neste caso, da força aérea francesa - era um capitão da aviação francesa, colaborador de Pierre Cot, Ministro do Ar. Como muitos outros, tornara-se traidor devido a uma agente alemã. Nem todos os espiões alemães, porém, arriscavam suas vidas a troco de dinheiro ou sob a influência de uma mulher mais ou menos atrativa. Como já se havia dito, o serviço de espionagem alemão preferia, acertadamente, aqueles agentes que colaboravam por patriotismo ou simpatia pelo regime. Se déssemos exemplos, teríamos centenas de nomes, mas a descrição minuciosa de somente um deles demonstrará quão árdua e perigosa foi, e é, a missão dos homens que arriscaram, e arriscam, a própria vida pelo amor à pátria.

Num domingo do mês de outubro de 1939, no gabinete do Almirante Karl Doenitz, comandante da frota submarina alemã, o alto chefe dialogava com um jovem oficial, comandante de um submarino. Este último - que não era outro senão o mais tarde famoso Gunther Prien - escutava em silêncio as palavras de seu superior. Doenitz, debruçado sobre um grande mapa de operações, disse: "Tudo depende de um ataque rápido e de surpresa. Scapa Flow tem sete entradas. Se um submarino fosse capaz de penetrar nela, apesar da rápida e traiçoeira corrente... Isto pode ser feito e creio que você é o homem indicado... ".

Almirante Canaris
Em seguida, Doenitz entregou ao Comandante Prien algumas folhas de papel datilografadas, e vários diagramas e mapas. Aquela documentação de valor inapreciável havia sido entregue ao Alto-Comando alemão da frota por um dos melhores agentes alemães que operavam na Grã-Bretanha. O espião, Albert Oertel, havia chegado à Inglaterra em 1927, procedente da Suíça. De acordo com o declarado às autoridades inglesas, era um relojoeiro que desejava radicar-se na Escócia.

Na realidade, aquele relojoeiro suíço não era uma coisa nem outra. Tratava-se, na verdade, de um ex-oficial da marinha alemã, chamado Alfred Wehring, especialmente treinado para espião.

Depois de sua chegada à Grã-Bretanha, Wehring radicou-se definitivamente na cidade de Kirkwall, em Orkneyes, perto de Scapa Flow, a importante base naval.

Oertel - Wehring, na realidade tornou-se um ótimo vizinho dos habitantes do lugar. Era amável, cortês e sumamente inclinado a criar amizade com seus clientes. Porém, no segundo andar de seu pequeno negócio, Oertel ocultava um minúsculo rádio de onda curta, com o qual se comunicava regularmente com o continente; através daquelas mensagens, o serviço de informação alemão tinha observações detalhadas dos movimentos dos barcos ingleses, as particularidades da base e um sem-número de detalhes técnicos que o relojoeiro suíço averiguava por meio de suas inocentes conversações com os oficiais britânicos que chegavam até ele. Paralelamente, era através da correspondência que chegava da Suíça, aparentemente de sua longínqua família, que ele recebia as instruções de seus chefes.

Ao começarem as hostilidades, Oertel recebeu uma carta na qual comunicavam o falecimento de sua velha mãe. Angustiado pela notícia, o relojoeiro apressou-se em viajar ao continente. Dois dias mais tarde, Oertel embarcava em Leith, num barco que se dirigia para Roterdã. Em seu poder, cuidadosamente cosidos no forro de sua jaqueta, levava cartas secretas, diagramas e esboços de Scapa Flow, minuciosamente detalhados. Ao chegar a Roterdã, Oertel dirigiu-se ao Hotel Comércio, onde o esperava Fritz Burler, chefe do serviço de espionagem alemão na Holanda. Juntos, imediatamente dirigiram-se para Haia, onde o Barão von Bulow, importante chefe da espionagem alemã, os esperava. Este, depois de olhar a documentação levada por Oertel, compreendeu que estava de posse de valiosíssima informação, que deveria ser enviada imediatamente ao Almirante Canaris.

Em seguida, depois de cumprir sua missão, Oertel regressou à Inglaterra, decidido a continuar com sua tarefa de informação.

No mês de outubro, Oertel comprovou que as defesas da base possuíam falhas que estavam sendo reparadas urgentemente. Era necessário agir sem vacilação, e assim o fez. Minuciosas e detalhadas investigações permitiram a Oertel comprovar qual era o setor que ainda se encontrava indefeso e exposto à penetração de um barco inimigo.

Na tarde do mês de outubro, quando conseguiu a citada comprovação, Oertel fechou sua loja mais cedo que de costume e subiu rapidamente ao segundo andar. Ali, emitiu pelo rádio a senha convencional e esperou. Depois de estabelecida a comunicação, irradiou sua preciosa informação: "Scapa Flow está indefesa... ".

A mensagem de Oertel chegou ao quartel-general do Almirante Doenitz, da Kriegsmarine. Doenitz compreendeu que um pequeno atraso seria fatal, pois as entradas expostas seriam logo reparadas. O golpe, pois, deveria ser dado imediatamente. Foi quando conversou com o Comandante Prien.

A conseqüência do anteriormente exposto não se fez esperar. Na noite de 13 de outubro de 1939, o submarino alemão U-47 deixou o porto de Kiel. O Capitão Prien, que estava no comando do barco, era o único que sabia do objetivo da missão e suas ordens eram para não revelá-lo, até o último momento.

Ao cruzar as perigosas correntes da entrada da imponente base naval britânica, o U-47 subiu quase até a superfície. Em seguida, o periscópio percorreu minuciosamente a área de Scapa Flow. Atracado junto à costa encontrava-se o Royal Oak. O U-47 acercou-se lentamente de sua presa, até uma distância em que era impossível errar a tiro. Uma breve ordem partiu de Prien: "Fogo!" Depois de alguns segundos deu-se uma explosão terrível. Dois torpedos mais foram disparados ainda contra o Royal Oak.

A cena que se seguiu foi dantesca. Em meio às sombras da noite, as explosões sucediam-se ininterruptamente, destroçando o enorme barco. Entretanto, velozes caça-torpedeiros e lanchas torpedeiras sulcavam as águas, buscando, com seus refletores, o agressor. Prien, porém, com maestria e com uma incrível sorte, conseguiu escapar dali sem nada sofrer. Sem dúvida, esta empresa jamais teria sido realizada se não fosse a decidida e audaz intervenção de Alfred Wehring, o oficial naval alemão que havia adotado a personalidade de Albert Oertel, o pacífico relojoeiro. Depois do episódio, Wehring abandonou silenciosamente seu negócio e desapareceu tão misteriosamente como havia chegado.

O episódio Wehring-Oertel é típico e se repetiu várias vezes, em diferentes lugares e com diversos protagonistas. Em todos, porém, houve um denominador comum de sacrifício: silêncio e tensão insuportáveis para alguém que não possua nervos de aço.


Espionagem americana

No campo aliado, paralelamente, alternativas das mais variadas dificultaram a tarefa dos serviços de informação. Vejamos o Caso Donovan. Em janeiro de 1942, numa entrevista que o então Presidente Roosevelt manteve com William Donovan, o presidente, sem preâmbulos, afirmou que os Estados Unidos careciam de um Serviço de Informação capaz e efetivo. Donovan era o chefe do Bureau Coordenador de Informação, departamento organizado antes do ataque a Pearl Harbor e integrado por várias dezenas de investigadores das mais variadas especialidades. Eisenhower, anos mais tarde, no fim da guerra, expôs uma opinião semelhante, ao dizer: "A Europa estava em guerra há um ano, quando a América alarmava-se ante o estado de suas defesas... O obstáculo maior era... a indiferença. Inclusive quando a França caiu, em maio de 1940, não tínhamos ainda conseguido despertar de nossa inércia... No Departamento de Guerra havia uma surpreendente deficiência que dificultava todos os planos construtivos no campo da informação... A posição de órfã da Seção G-2 em nosso Estado-Maior era comprovada de várias formas. Por exemplo, quase sem exceção, a G-2 esteve sob o comando de um coronel. Isto, em si, não é grave, pois era preferível colocar à frente da seção um coronel capaz do que um general medíocre; mas vê-se claramente que o exército não se dava conta da importância do serviço de informação...".

William Donovan
Porém, devemos destacar que, apesar das opiniões de Eisenhower e Roosevelt, os serviços de informação dos Estados Unidos cumpriam acertadamente suas ordens. Devemos destacar, ainda, o serviço criptográfico do exército e da marinha, que funcionava melhor do que nunca e decifrava as mensagens mais confidenciais do inimigo.


Quando começaram as hostilidades, cada uma das frotas japonesas foi provida de vários sistemas de chaves, cada um dos quais era trocado regularmente. Porém, os criptoanalistas americanos descobriram suficientes senhas, nas telecomunicações japonesas, para ter uma idéia mais ou menos exata das intenções e disposições japonesas. Estas chaves incluíam o volume do tráfego, a repetição de certas letras de chamada, a longitude das mensagens e os tipos de chaves que eram empregados. Todos estes detalhes foram catalogados até que se chegou a uma conclusão muito clara: o Almirante Yamamoto preparava-se para outra ação de grande importância. Para determinar o objetivo de seus preparativos, os japoneses faziam referência ao mesmo com os letras AF e essas duas letras podiam significar muitíssimos lugares: Midway, Havaí, as Aleútas, etc. Nestas circunstâncias, na primavera de 1942, fez-se necessário saber exatamente a que ater-se. Foi então que o Almirante Nimitz pôs em prática uma armadilha que daria o resultado esperado. Nimitz ordenou ao Comandante Cyril Simard, de Midway, que informasse pelo rádio a Pearl Harbor que o abastecimento de água potável do atol fôra interrompido. A mensagem foi transmitida numa linguagem que os japoneses puderam interpretar facilmente.

No terceiro dia aconteceu o esperado. Uma das mensagens japonesas interceptadas dizia que em AF havia dificuldades no abastecimento de água potável.

Yamamoto, indubitavelmente, havia sido derrotado pela criptografia americana. E, mais tarde, haveria de sucumbir nas mãos da mesma. Foi quando o almirante empreendeu a sua última viagem. A notícia da viagem foi interceptada pelos criptoanalistas americanos e foi preparado a armadilha fatal.

Uma nomeação implicaria num notável melhoramento na situação da espionagem americana, em maio de 1942, quando o General Strong foi designado para chefiar a Seção G-2.

Strong foi indicado pelo General George Marshall, levando em conta não somente seus merecimentos em relação às tarefas de informação, mas também sua conhecida decisão e energia indômita.

O primeiro ato de Strong foi partir para Londres para estudar o terreno e o funcionamento dos serviços de inteligência britânicos. Quando voltou, Strong montou nos Estados Unidos uma organização inteiramente nova. Um de seus principais colaboradores foi "Wild Bill" Donovan, sob as ordens do Escritório de Serviços Estratégicos (SSO). Este foi dividido em três ramos paralelos. O primeiro foi o "R e A" (investigação e análise); o segundo era o "MO" (operação Morales), que dirigia a propaganda com o fim de minar a resistência do inimigo e enganá-lo por todos os meios possíveis; a terceira era o "SI" (informação secreta), centro vital da organização, que compreendia o grupo de espiões e sabotadores.

No decorrer da guerra, o SSO empregou mais ou menos 20.000 pessoas. Os integrantes do SSO eram pessoas de todas as classes e níveis sociais e culturais; havia entre eles desde Prêmios Nobel até indivíduos de baixo caráter.

Sob a direção de Donovan, o serviço de inteligência começou a funcionar, afinal, efetivamente. Suas façanhas, ocultas no momento, viriam à luz anos depois, no fim da luta.


Os segredos da espionagem 

O que narramos a seguir ilustra bem os múltiplos e estranhos recursos que a espionagem tem que pôr em prática com o objetivo de obter a informação. "Já fazia bastante tempo que o adido militar da embaixada americana estava conversando com o funcionário russo. Uma série de assuntos haviam sido abordados, e o russo falava sobre o interessante terreno das cifras de produção. O militar americano disse a si mesmo que este era o seu dia de sorte. Conversavam num discreto recanto de um restaurante moscovita e as mesas próximas estavam desocupadas. Ninguém poderia escutá-los. O americano oferecera a seu informante uma boa recompensa em troca de futuros dados. 

"O oficial americano reparou que seu copo estava vazio. Tinha sede e viu que na mesa ao lado, desocupada, havia um martini solitário. Interrompeu o diálogo e foi buscá-lo. Quando estava levando à boca a azeitona do martini, notou que algo estava para acontecer. Um garçom correu até ele, gesticulando e dizendo, atropeladamente: "Um momento... um momento... esta bebida não é para o senhor". 

"Já era tarde. O militar mordera a azeitona e um dos seus dentes estalou ao chocar-se com uma superfície metálica. A azeitona era um minúsculo transmissor de transistores. O palito era a antena. Toda a conversação que acabava de ter com o funcionário russo havia sido captada da mesa vizinha e registrada por um gravador oculto." 

Este fato foi divulgado pela revista americana Time e por várias revistas especializadas em eletrônica, demonstrando até que ponto os métodos de espionagem haviam-se aperfeiçoado, graças ao progresso da ciência. 

A imprensa explorava os casos mais escandalosos da espionagem eletrônica, principalmente os que afetavam as embaixadas de países ocidentais atrás da Cortina de Ferro. Entre eles houve um que se destacou por sua audácia e pela extraordinária perícia técnica posta em prática, dando origem a uma competição entre os Estados Unidos e a União Soviética no campo da eletrônica. Nos referimos ao descobrimento de um minúsculo microfone colocado no escudo dos Estados Unidos, situado atrás da cadeira do embaixador americano na União Soviética. 

Um especialista na matéria, que participou da busca do microfone, declarou, confidencialmente: "Os russos haviam progredido muito nesta arte. Não estávamos equipados para detectar o aparelho, porque os russos haviam instalado, no edifício em frente, um enorme transmissor sintonizado para interferir nas ondas de nossos detectores, quando estes aproximavam-se da cavidade do microfone; esse transmissor funcionava num espectro de freqüência ultra-elevada, que não estávamos em condições de captar". 

Para descobrir este microfone foi necessário demolir o escritório do diplomata, e talvez nunca os americanos houvessem suspeitado de sua existência se os ingleses não houvessem percebido em sua própria embaixada um sinal de rádio que não puderam identificar. 

Espionagem fotográfica 

Em meados de junho de 1942, o Serviço de Informações da Marinha italiana comemorava a aquisição de um dado de capital importância com respeito aos comboios britânicos e à proteção dos barcos de guerra. Tanto uns como outros estavam protegidos por redes de defesa contra torpedos. A informação, de grande importância, não havia sido obtida pelos clássicos meios da espionagem. Nenhum espião poderia proporcionar a rigorosa exatidão e o preciso realismo da imensa ampliação fotográfica, em cores, que se estendia ante os olhos dos oficiais italianos. 

O progresso técnico das últimos décadas abria novas possibilidades aos antigos métodos de espionagem (clandestinidade, risco e intriga), com o acervo de outros métodos de informação, mais seguros e diretos: a fotografia aérea, a interceptação de mensagens radiotelegráficas e, mais tarde, o radar. 

Os alemães, possuidores de uma tradição na indústria de instrumentos de precisão, dispunham, nessa época, de meios mais avançados para a obtenção de fotografias aéreas. 

A Luftwaffe atacava silenciosamente, acionando o disparador de suas poderosos câmaras, ao mesmo tempo que abria as escotilhas das bombas. Foi a Luftwaffe que, ao chegar ao Mediterrâneo, começou a prover a marinha italiana de fotografias aéreas das bases navais e das formações inimigas. 

Dia a dia, os posições da frota britânica eram fotografados e estudadas comodamente, graças às gigantescas ampliações, em cores, que eram recortadas e preparadas de tal maneira que, ao serem observadas através de lentes especiais, ofereciam uma visão panorâmica, estereoscópica e tridimensional. 

Assim, antes de lançar-se ao ataque contra os encouraçados de Alexandria, a marinha italiana conhecia com precisão todos os pormenores da rota a seguir e estava em condições de averiguar todas as variações que se produzissem na mesma, eventualmente.

Fonte: http://adluna.sites.uol.com.br/400/499-09.htm


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