Há poucas horas, as Divisões SS, armadas com blindados e artilharia, começaram a assassinar a população restante do gueto. O gueto ofereceu resistência feroz e heroica. A Organização Judaica de Luta conduz a defesa, reunindo quase todas as tropas de luta ao seu redor. Ininterruptamente, soam explosões de canhão e fortes detonações vindas do gueto. Todo o bairro está mergulhado num imenso mar de chamas, provindo de incêndios gigantescos. Por cima da região do massacre circundam aviões. O resultado dessa luta já está previsto desde o início, naturalmente.
Telegrama da ZOB (Organização Judaica de Luta) para Londres
19 de abril de 1943
A vida pertence aa nós! Também nós temos direito a ela! Há que se saber combater por ela! Não há nenhuma mérito em viver quando eles lhe permitem viver! Há um mérito em viver quando eles quere lhe arrancar a vida!
Desperte, povo, e lute por sua vida!
Cada mãe torne-se uma leoa defendendo seus filhotes! Nenhum pai veja tranquilamente a morte de seus filhos! A vergonha de nosso primeiro ato de extermínio não deve ser repetir! Cada casa deve tornar-se um,a fortaleza! Desperte, povo, e lute! No combate pousa a sua salvação! Quem luta por sua vida tem a possibilidade de salvar-se. Elevamo-nos em nome da luta pela vida dos desamparados, aos quais queremos trazer a salvação, a quem queremos despertar para a ação!
De um panfleto ilegal
O fogo alastrava...com incrível violência. As ruas do gueto estavam impregnadas de fumaça e acre. Ficou claro que os alemães usavam a terrível tática de acabar com o gueto enfumaçando-o. Como perceberam que a resistência dos combatentes judeus não podia ser quebrada por armas, resolveram destruir as pessoas pelo fogo. Dentro das casas, milhares de mulheres e crianças queimavam em vida. Escutavam-se terríveis gritos de socrro vindos das casas em chamas. Viam-se, em muitas janelas, pessoas em chamas - como tochas vivas.
Relato da ZOB, numero 5
Não era raro os judeus permanecerem nas casas incendiadas até não aguentarem mais o calor. Por medo da morte nas chamas, preferiam saltar dos andares mais altos, após terem lançado colchões e estofados das casas para a rua. Com os ossos quebrados, ainda tentavam se arrastar pelas ruas em direção a outros quarteirões que ainda não estavam totalmente em chamas
Relato de Stroop.
Já estávamos no oitavo dia de combate pela vida e morte...O número de nossas vítimas, isto é, as vítimas dos fuzilamentos e dos incêndios, nos quais morreram homens, mulheres e crianças, é enorme. Aproximam-se nossos últimos dias. Mas, enquanto pudermos segurar as armas na mão, prestaremos resistência e lutaremos. Rejeitamos o ultimato alemão sobre a capitulação. Comovemos aproximar-se nossos últimos dias, exigimos de vocês: nada esqueçam! Virá o dia em que nosso sangue inocente derramado, será vingado. Corram em auxílio daqueles que puderam escapar do inimigo no ultimo instante, para que eles possam continuar a lutar.
Relato da ZOB, 26 de abril de 1943
Relato de Cywia Lubetkin
Relato de P. Elster
Quanto mais a resistência durava, mais duramente atuavam os homens da Waffen-SS, da polícia e do exército que, também em leal fraternidade de armas, executava sua tarefa de forma exemplar. A tarefa ia, frequentemente, desde cedo até altas horas da noite.
Relato de Stroop
Nossa máxima era: viver e morrer com dignidade!
Nos guetos e nos campos esforçávamos para cumprir essa máxima...
Apesar do imenso terror, da extrema fome e da amarga penúria, cumpríamos está máxima até a morte, como mártires do judaísmo polonês.
Relato do Movimento de Resistência Judeu
A mesma meta nos unia...todos se extremavam na resistência coletiva e em manter a dignidade. Cada um lutava por cada um nesta luta histórica pela vida e morte. Não havia diferenças entre membros dos diversos partidos, quando tratava-se de cumprir seu dever como soldado. Assim foi até o amargo fim...
Relato do Partido Social-Democrata Judeu.
Todas as fotografias foram retiradas do "Relatório Stroop" - um relatório escrito por Jürgen Stroop para Heinrich Himmler sobre a liquidação do Gueto de Varsóvia em maio de 1943.
Transcrição: Daniel Moratori (avidanofront.blogspot.com)
Fonte: SCHOENBERNER, Gerhard. A estrada amarela: a perseguição aos judeus na Europa, 1933-1945. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1994, p. 237-253