domingo, 1 de outubro de 2023

Revolta do Gueto de Varsóvia (1943) - Relatos, panfletos e telegramas

 


Há poucas horas, as Divisões SS, armadas com blindados e artilharia, começaram a assassinar a população restante do gueto. O gueto ofereceu resistência feroz e heroica. A Organização Judaica de Luta conduz a defesa, reunindo quase todas as tropas  de luta ao seu redor. Ininterruptamente, soam explosões de canhão e fortes detonações vindas do gueto. Todo o bairro está mergulhado num imenso mar de chamas, provindo de incêndios gigantescos. Por cima da região do massacre circundam aviões. O resultado dessa luta já está previsto desde o início, naturalmente.

Telegrama da ZOB (Organização Judaica de Luta) para Londres

19 de abril de 1943


A vida pertence aa nós! Também nós temos direito a ela! Há que se saber combater por ela! Não há nenhuma mérito em viver quando eles lhe permitem viver! Há um mérito em viver quando eles quere lhe arrancar a vida!

Desperte, povo, e lute por sua vida!

Cada mãe torne-se uma leoa defendendo seus filhotes! Nenhum pai veja tranquilamente a morte de seus filhos! A vergonha de nosso primeiro ato de extermínio não deve ser repetir! Cada casa deve tornar-se um,a fortaleza! Desperte, povo, e lute! No combate pousa a sua salvação! Quem luta por sua vida tem a possibilidade de salvar-se. Elevamo-nos em nome da luta pela vida dos desamparados, aos quais queremos trazer a salvação, a quem queremos despertar para a ação!

De um panfleto ilegal 



O  fogo alastrava...com incrível violência. As ruas do gueto estavam impregnadas de fumaça e acre. Ficou claro que os alemães usavam a terrível tática de acabar com o gueto enfumaçando-o. Como perceberam que a resistência dos combatentes judeus não podia ser quebrada por armas, resolveram destruir as pessoas pelo fogo. Dentro das casas, milhares de mulheres e crianças queimavam em vida. Escutavam-se terríveis gritos de socrro vindos das casas em chamas. Viam-se, em muitas janelas, pessoas em chamas - como tochas vivas.

Relato da ZOB, numero 5




Não era raro os judeus permanecerem nas casas incendiadas até não aguentarem mais o calor. Por medo da morte nas chamas, preferiam saltar dos andares mais altos, após terem lançado colchões e estofados das casas para a rua. Com os ossos quebrados, ainda tentavam se arrastar pelas ruas em direção a outros quarteirões que ainda não estavam totalmente em chamas

Relato de Stroop.



Já estávamos no oitavo dia de combate pela vida e morte...O número de nossas vítimas, isto é, as vítimas dos fuzilamentos e dos incêndios, nos quais morreram homens, mulheres e crianças, é enorme. Aproximam-se nossos últimos dias. Mas, enquanto pudermos segurar as armas na mão, prestaremos resistência e lutaremos. Rejeitamos o ultimato alemão sobre a capitulação. Comovemos aproximar-se nossos últimos dias, exigimos de vocês: nada esqueçam! Virá o dia em que nosso sangue inocente derramado, será vingado. Corram em auxílio daqueles que puderam escapar do inimigo no ultimo instante, para que eles possam continuar a lutar. 

Relato da ZOB, 26 de abril de 1943




Por baixo das ruínas ardentes, bem longe do dia primaveril, centenas jazíamos numa profundidade de cinco metros, em escuridão total, no chão do abrigo. Nenhum raio da luz do dia podia entrar ali. Somente o relógio nos dizia que o sol se punha lá fora. Toda noite víamos judeus que saiam dos abrigos escuros e abafados à procura de suas famílias e amigos a pelas ruas e víamos, toda noite, que nosso número diminuía. O gueto reduzia-se rapidamente. A fome e a descoberta dos abrigos por patrulhas alemãs foram responsáveis por isso.

Relato de Cywia Lubetkin




Num outro canto estava uma criança de um ano, não chorava e não gemia, certamente não havia mais forças para isso. Bracinhos e perniinhas estavam queimados. Jamais esquecerei seu rostinho, no qual espelhavam-se dores desumanas...Rosto e braços da mãe estavam totalmente queimados, ela não podia segurar a criança.

Relato de P. Elster



Quanto mais a resistência durava, mais duramente atuavam os homens da Waffen-SS, da polícia e do exército que, também em leal fraternidade de armas, executava sua tarefa de forma exemplar. A tarefa ia, frequentemente, desde cedo até altas horas da noite. 

Relato de Stroop



Nossa máxima era: viver e morrer com dignidade!

Nos guetos e nos campos esforçávamos para cumprir essa máxima...

Apesar do imenso terror, da extrema fome e da amarga penúria, cumpríamos está máxima até a morte, como mártires do judaísmo polonês.

Relato do Movimento de Resistência Judeu



A mesma meta nos unia...todos se extremavam na resistência coletiva e em manter a dignidade. Cada um lutava por cada um nesta luta histórica pela vida e morte. Não havia diferenças entre membros dos diversos partidos, quando tratava-se de cumprir seu dever como soldado. Assim foi até o amargo fim...

Relato do Partido Social-Democrata Judeu.


Todas as fotografias foram retiradas do "Relatório Stroop" - um relatório escrito por Jürgen Stroop para Heinrich Himmler sobre a liquidação do Gueto de Varsóvia em maio de 1943.

Transcrição: Daniel Moratori (avidanofront.blogspot.com)

Fonte: SCHOENBERNER, Gerhard. A estrada amarela: a perseguição aos judeus na Europa, 1933-1945. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1994, p. 237-253