A têmpera do verdadeiro combatente
Soldado João Martins da Silva - do 1º RI , natural do Estado do Rio de Janeiro.
"Durante o bombardeio de seu posto em Belavista, foi atingido por três estilhaços de granada. Assim ferido , deixou-se fica no mesmo lugar, sem uma queixa sequer. E ali permaneceu cerca de oito horas. Sabedor dos fato pelos companheiros do soldado ferido, o Comandante do pelotão determinou sua evacuação. No Posto de Socorro, interrogado pelo médico porque resolverá calar sobre seu estado de saúde, respondeu-lhe simplesmente que, ciente que os alemães iriam lançar contra-ataques, decidira não se afastar do posto para ajudar a repeli-los, uma vez que o Pelotão se encontrava desfalcado e ainda se sentia forte. Possuía realmente o soldado Martins a têmpera do verdadeiro combatente. O seu exemplo, pela sua grandeza e pelo estoicismo, envaidece a tropa brasileira."
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Fugindo do depósito
Um fato bastante curioso, por exemplo, era a fuga de soldados do Depósito de Pessoal para as unidades em linha. Isso se passava da seguinte maneira. Todo soldado que, por qualquer motivo baixasse ao hospital, ao ter alta não regressava à unidade, mesmo porque sua vaga já havia sido preenchida por outro elemento.
Os militares ao sairem dos hospital, iam para o Depósito de Pessoal, em Staffoli, onde aguardava sua vez. Pois bem, quase diariamente, soldados nessas condições, abandonando a segurança e o conforto do Depósito, que ficava bem à retaguarda, apanhavam a primeira condução que fosse para o "front" e iam juntar-se aos seus companheiros, que andavam metidos em "foxholes", ao sabor das balas inimigas.
Isto era uma indisciplina, atrapalhava o sistema de recomplemento adotado pelo Estado Maior, mas era sobretudo uma prova de destemor, de apego ao seu batalhão, de solidariedade com seus camaradas.
Foram homens dessa têmpera, que depois de feridos continuavam a lutar com mais denodo e, depois de exaustos, ainda faziam um derradeiro esforço, até serem ceifados pela morte; cuja serenidade e sangue frio não perturbavam diante dos estrondos do canhoneiro; homens que disputavam um lugar na vanguarda e partiam satisfeitos para desafiar o inimigo em suas tocas; foram homens dessa fibra que dobraram a resistência alemã e contribuíram de modo decisivo para a conquista da vitória aliada.
Se numa guerra são indispensáveis os recursos materiais, entretanto é inegável que o elemento humano continua a ser o fator predominante. A mecanização dos meios de combate não chegou ainda a prescindir das qualidades morais do homem. A metralhadora mais moderna de nada vale se não tiver um pulso para manejá-la e um vontade para dirigi-la após os grandes bombardeios de aviação e de artilharia, são ainda a coragem e a tenacidade que vencem no terreno. E felizmente essas qualidades morais não faltaram aos nossos homens, como vimos nas citações acima.
O Brasil pode orgulhar-se dos filhos que o representaram no grande conflito mundial, lutando nos campos de batalha europeus. Eles se mostraram dignos herdeiros de seu passado militar e acrescentaram novas glórias à História de nossa Pátria.
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Conduta dos brasileiros no "front" italiano
Até mesmo chefes alemães atestaram, no pós-guerra, a excepcional conduta dos brasileiros no "front" italiano.
Um deles foi o Coronel Rudolf Bohmler, veterano de várias batalhas, participante inclusive da Batalha de Stalingrado e da demorada e sangrenta batalha de Monte Castello. Em seu livro, assim ele se referiu aos soldados brasileiros:
"Sabe-se que não é fácil, para uma tropa não acostumada ao combate, ter de lutar contra veteranos experientes, como os das divisões e regimentos alemães na Itália. O soldado brasileiro, no entanto, mostrou extrema boa vontade e satisfação, demonstrando, juntamente com os seus oficiais, um grande desejo de lutar".
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Citação do Capitão de Infantaria ERNANI AIROSA DA SILVA, da Força Expedicionária Brasileira.
Por serviço meritório em combate, em 19 de setembro de 1944 e 30 de outubro de 1944 na Itália. Em 19 de setembro, durante o ataque e ocupação da cidade de Camaiore, Itália, o Capitão SILVA comandou uma fôrça composta de um pelotão de sua Companhia, um pelotão de carros e um pelotão de reconhecimento. Com completo desprezo pela sua segurança pessoal, o Capitão SIVA comandou suas forças através intenso fogo inimigo de artilharia, morteiros e armas portáteis, destruiu a oposição inimiga e tomou seu objetivo. Em 30 de outubro, durante o ataque a Lama e Lama di Sotto, Itália, o Capitão SILVA ocultou o fato de estar ferido a fim de permanecer no comando de sua companhia e manter-se na posição até receber ordem de retrair do comandante de Regimento. O Capitão SILVA pela sua bravura, comando exemplar e devotamento ao dever, merece um elevado louvor e está de acordo com as altas tradições dos exércitos aliados. Entrou para o serviço militar no Rio de Janeiro, Brasil. ( a ) MARK W. CLARK, Tenente General do Exército dos Estados Unidos, Comandante.
( " A Epopéia dos Apeninos" - JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS - Gráfica Laemmert, Limitada - Rio )