quarta-feira, 17 de junho de 2009

Luta na Birmânia - 10.000 ingleses descem em plena selva


Enquanto a ofensiva americana no Pacífico se desenvolvia com extraordinária intensidade, na Ásia continental as forças aliadas também se dispunham a passar ao ataque, em princípios de 1944.

A conferência realizada em agosto de 1943, em Quebec, por Winston Churchill e Roosevelt, decidira dar uma nova organização às forças que enfrentavam os japoneses na frente da Birmânia. Foi criado então o chamado Comando Aliado do Sudeste da Ásia, que ficou sob as ordens do Almirante Lorde Louis Mountbatten. Este exercera, até aquele momento, o direção das forças de comandos. Era considerado, portanto, um especialista na guerra anfíbia.


General Wingate em um C-47

A decisão de dar maior importância às operações na Birmânia fôra determinada, em grande parte, pelos entusiastas argumentos de Orde Wingate, o célebre chefe dos chindits. Este chefe, em reuniões mantidas com Churchill, em Quebec, conseguira convencer o líder britânico, inclinando-o a favor dos seus planos. Wingate, em suas conversações com Churchill, declarou que a chave da luta na selva estava no céu, isto é, que era necessária uma poderosa força aérea para alcançar o triunfo. Mountbatten secundou com entusiasmo as idéias de Wingate e obteve, por parte do General Arnold, chefe da Força Aérea norte-americana, a cessão de importantes efetivos aéreos de transporte. Nasceu assim o Comando Aéreo n° 1, denominado também pelas tropas "O circo de Cochran", em homenagem ao seu chefe, o Coronel americano Philip Cochran, um jovem e audaz aviador de 33 anos. Este seria um digno auxiliar de Wingate na luta que se avizinhava.

Sob o condução de ambos os chefes, os Aliados levariam a cabo, na Birmânia, uma dos operações aerotransportadas mais brilhantes de toda a guerra.


Mountbatten assume o comando.
Quando chegou à Índia, o Almirante Mountbatten dedicou-se com toda a energia à reorganização das forças aliadas ali estacionadas. A ordem que havia recebido era manter e ampliar as comunicações com a China. Esta missão compreendia o desencadear de uma campanha destinada a assegurar a reconquista de todo o território norte da Birmânia. Neste plano emprestava-se um papel decisivo à invasão aerotransportada das tropas de Wingate na retaguarda inimiga. Ao mesmo tempo, Mountbatten tinha que tomar todas as medidas necessárias para proteger a Índia de uma eventual invasão japonesa. Em cumprimento desse objetivo, a primeira tarefa que o chefe britânico enfrentou foi aumentar a corrente de abastecimentos para os exércitos localizados na fronteira birmânica.

Procurou-se então intensificar o tráfego por via ferroviária. Nessa tarefa representaram um papel importantíssimo os batalhões de engenharia americanos.
Em princípios de 1944 iniciaram os seus trabalhos nas províncias fronteiriças de Bengala Assam. Os resultados foram extraordinários. Em menos de um ano conseguiu-se aumentar o volume do tráfego da rede ferroviária hindu nessa zona, de 90.000 a 200.000 toneladas mensais.

Outra empresa de gigantesca envergadura foi o início de uma nova estrada para a China, para substituir a rota da Birmânia, capturada pelos japoneses. Esta obra foi estimulada pelo General americano Stilwell e exigiu sacrifícios imensos das unidades que intervieram na sua construção, pois a estrada atravessava terrenos selvagens e montanhosos, praticamente inacessíveis. Apesar das terríveis dificuldades, o caminho ficaria praticável nos primeiros meses de 1945.

Louis Mountbatten
Enquanto se levavam a cabo essas tarefas prévias, Mountbatten percorria incansavelmente os acampamentos das tropas, interessando-se pelo seu treinamento, preparação e conversando com os homens. Estas visitas tinham por objeto não somente comprovar o nível de preparação das unidades mas também levantar e fortalecer o moral das tropas. Várias vezes exortou os soldados repetindo conceitos como este: “Se os japoneses tentarem o seu já conhecido truque de infiltrar-se por trás de vocês e cortar suas linhas de comunicações, mantenham-se firmes. Nós os abasteceremos pelo ar. Não haverá retiradas.. Não abandonaremos a luta quando chegar a época das monções. Se lutarmos somente durante seis meses no ano, a guerra durará o dobro do tempo. Os japoneses não esperam que continuemos a luta. Nós os apanharemos desprevenidos... Temos remédios para a malária e teremos o melhor sistema de hospitalização e de evacuação aérea que o Extremo Oriente jamais viu até agora. Os japoneses, que não têm nada disso, terão que lutar contra a natureza, tanto como contra nós”.




Avanço britânico

As forças encarregados da defesa da Índia estavam agrupados no denominado 14o Exército britânico, comandado pelo General Slim. Este chefe, cumprindo os determinações emitidas, resolveu realizar um ataque limitado, para desarticular os planos ofensivos japoneses. O setor escolhido foi, como em 1943, a península de Mayú, na costa do Golfo de Bengala. Ali, os britânicos haviam sido rechaçados no ano anterior, pela encarniçada resistência apresentada pelos japoneses. O General Wavell, que exercia então o comando supremo, assim julgou aquela operação: “Impus a uma pequena parte do exército uma tarefa muito além do seu treinamento e de sua capacidade”.

Os ingleses estavam dispostos agora a não cometer os mesmos erros. Atacariam com fortes efetivos e receberiam um constante apoio por parte da sua aviação.
A frente, na península de Mayú, era dominada por uma cordilheira que dividia em dois a zona de operações. Na campanha anterior, os japoneses se valeram dessa vantagem para vencer separadamente, de um e de outro lado da cordilheira, as forças britânicas.
O General Slim estava agora disposto a não repetir o mesmo erro. Em razão disso determinou o deslocamento de suas tropas não somente ao longo da cordilheira de Mayú, mas também sobre o distante flanco da selva. Desta forma, propunha-se a evitar que os japoneses, infiltrando-se, ameaçassem as linhas de comunicações do exército.

A operação de ataque foi confiada ao 15o Corpo hindu, comandado pelo General Christison. A força era integrada pelas 5a e 7a Divisões hindus, que atacariam respectivamente sobre as encostas direita e esquerda da cordilheira de Mayú, e a 81a Divisão de fuzileiros da África Ocidental, como guarda-flancos, pela selva, com a missão de frustrar um possível movimento envolvente do inimigo. A 81a foi abastecida na sua marcha pelos aviões do Comando Aéreo n° l, de formação recente.

Ao avançar sobre as vertentes da cordilheira de Mayú, as tropas britânicas tinham por objetivo dois importantes redutos japoneses, situados a leste e a oeste desse maciço montanhoso. Eram os centros de Buthidang e Moungdaw. Entre esses pontos corria a única via de comunicação transversal através da cordilheira. Originariamente, esse caminho havia sido traçado para linha ferroviária; haviam-se construído aterros, e dois túneis foram abertos na montanha. Esses túneis, portanto, constituíam o nó vital das comunicações de retaguarda inimiga. Seu valor estratégico era enorme, pois permitiria aos japoneses deslocar de um lado para outro da cordilheira as suas tropas. Os japoneses se encontravam, conseqüentemente, em condições de golpear à vontade os britânicos.

As patrulhas inglesas se aproximaram em missão de exploração da zona dos túneis e informaram que os japoneses haviam convertido essa posição numa verdadeiro fortaleza, apoiada nos flancos pelos redutos anteriormente citados de Buthidang e Maungdaw.

O chefe britânico, General Christison, propôs-se então a conquistar primeiro esses dois baluartes, isolando a guarnição japonesa da posição central dos túneis. Numa segunda etapa trataria de liquidá-los. A 5a Divisão hindu, comandada pelo General Briggs, se encarregaria da captura de Maungdaw e a 7a, sob as ordens do General Messervy, teria a seu cargo a tomada de Buthidang. Na noite de Ano-Novo de 1944, as tropas. britânicas se aproximaram do seu objetivo, depois de uma penosa marcha.

Sobre o flanco direito, as tropas da 5a Divisão se distribuíram frente à denominada fortaleza de Razabil. Essa posição consistia em uma lombada em forma de ferradura, rodeada por outras colinas menores. Em conjunto, esse maciço rochoso formava uma natural posição defensiva de extraordinário poder. Os japoneses contavam com profundos túneis e uma intrincada rede de trincheiras. Em meio à neblina que começava a se desfazer, os canhões e morteiros britânicos desataram um vendaval de fogo sobre as posições inimigas. Deslocando-se pela espessura, os combatentes calaram suas baionetas, empunharam suas granadas e engatilharam suas metralhadoras. Um potente hurrah! se elevou das fileiras e o avanço começou. Agrupados em pelotões de assalto, os ingleses arremeteram contra as colinas, cuja superfície era martelada pelos disparos da artilharia. Aqui e acolá, porém, surgiam os japoneses dos seus refúgios, assestando rapidamente suas metralhadoras Nambu. Uma descarga cerrada recebeu as primeiras fileiras de soldados britânicos. Ao fogo das metralhadoras juntou-se o disparo dos morteiros. O assalto foi, então, desfeito. Os britânicos, porém, com sua tradicional tenacidade, voltaram uma e outra vez ao ataque. Durante toda uma semana se combateu duramente. Cada metro do terreno era cenário de encarniçados choques corpo a corpo. O fogo das armas era substituído por golpes de picaretas e baionetas. Cada reduto japonês teve assim que ser conquistado ao preço de rios de sangue. O sacrifício obteve, afinal, resultado. Dizimados, os japoneses abandonaram as colinas, batendo em retirada, largando para trás mortos e feridos.

O reduto de Maungdaw foi então ocupado pela 5a Divisão. Em seguida; a unidade iniciou um movimento de flanco, penetrando na retaguarda japonesa. Uma nova colina fortificada, a que as tropas denominaram "Tartaruga", interrompeu o avanço.


A "Operação C"



Ao ser detido o avanço, o comando aliado lançou na operação suas unidades aéreas e blindadas. A "Tartaruga" foi objeto de incessantes ataques por parte da aviação aliada. Toda a posição ficou envolvida numa gigantesca massa de fumaça, provocada pela explosão de centenas de projéteis. Em continuação, as baterias de campanha dispararam formando uma barreira de fogo. Depois então avançaram os tanques do 25° Regimento de Dragões. Movimentando-se com dificuldade pelo terreno irregular, os blindados dispararam suas peças praticamente a queima-roupa contra os japoneses, arrasando suas posições. Atrás avançou a infantaria. A investida, contudo, não conseguiu vencer a fanática resistência dos japoneses. Durante três dias e três noites, os tanques e os infantes britânicos combateram ininterruptamente, até que, afinal, conseguiram tomar a "Tartaruga". O poderio das defesas conquistadas está assim descrito nas crônicas oficiais: “Quando finalmente a “Tartaruga” caiu, encontraram-se refúgios subterrâneos situados nove metros sob o solo. Estas instalações compreendiam até sala de refeições para oficiais e tropas, unidos entre si por túneis e situados demasiado profundamente para serem alcançados pelos bombardeios que haviam convertido a colina, coberta de vegetação, num verdadeiro túmulo de poeira. O poderio dessas defesas labirínticas era um dos segredos do resistência do exército japonês na Birmânia”.

Em fins de janeiro, e embora a resistência japonesa ainda não houvesse sido rompida no flanco direito, o comandante-chefe britânico, General Christison, considerou o avanço suficientemente profundo para deslocar para o flanco esquerdo o grosso das suas unidades blindadas, para colaborar com a 1a Divisão no ataque o Buthidang.

Enquanto os britânicos se dispunham a realizar essa manobro, no setor japonês se realizavam preparativos secretos. O Major-General Sakurai, chefe de todas as forças sediadas na península de Mayú, acabava de receber a ordem de pôr em marcha o denominada "Operação C". Esse plano tinha por objetivo concretizar uma audaciosa penetração sobre o território da Índia.
Sakurai se propunha a aniquilar todas as forças britânicas que se achavam frente às suas linhas, mediante um triplo movimento envolvente.
A 55a Divisão japonesa foi, para tal fim, dividida em três forças especiais. A primeira, comandada pelo célebre Coronel Tanahashi, que já derrotara os ingleses na campanha de 1943, deslizaria através da selva sobre o flanco esquerdo da 7a Divisão britânica, até cercá-la pela retaguarda. A segunda força, com efetivos mais reduzidos, avançaria sobre a crista da cordilheira, completando assim a separação das unidades inglesas. Ao mesmo tempo, a terceira força atacaria ao longo de toda a linha, fechando as garras que aprisionariam o 14o Corpo britânico. Quando a 7a Divisão fosse aniquilada, as três forças se uniriam para destruir a 5a. Os japoneses se aprontaram, uma vez mais, a lançar-se ao assalto, confiantes na vitória.

O General Sakurai impôs às suas tropos um prazo de sete dias para exterminar o inimigo. Tal era a sua fé na superioridade dos seus homens. Apesar de contar apenas com suficiente artilharia, lançou na luta os artilheiros como simples infantes. Como derradeira prova da certeza que tinham os japoneses do êxito da sua ofensiva, foi emitida uma ordem às suas tropas para não destruir os veículos britânicos, a fim de poder utilizá-los na marcha sobre a Índia. Um escritor militar britânico assinala a respeito: “Acreditaram firmemente que Nova Delhi estaria no final da sua caminhada. Contudo, a única falha nos seus planos residia no foto de que não consideraram em seus cálculos a tenaz resistência que teriam de enfrentar”.




A batalha de "Admin Box"


Na noite de 3 de fevereiro de 1944, os japoneses se puseram em marcha. Deslocaram-se silenciosamente, com sua característica habilidade, através de um terreno que parecia intransitável. Repetiam assim suas táticas de infiltração que, a seu tempo, haviam favorecido extraordinários triunfos às armas do Sol-Nascente, na primeira campanha da invasão da Birmânia. Poucas vezes, na história da guerra, infantaria alguma ofereceu uma demonstração maior de capacidade de resistência, coragem, tenacidade e espírito de sacrifício, que a exibida pelos soldados japoneses. Sem contar praticamente com nenhum veículo motorizado, nem abastecimentos adequados ou suficientes, os soldados japoneses se locomoviam através da selva, vencendo todos os obstáculos. Seus próprios inimigos qualificaram essas incríveis marchas como verdadeiras "blitzkriegs a pé". Carregando unicamente suas armas e rações mínimas, os japoneses avançaram onde qualquer outro exército teria visto seus homens desfalecerem. Foi assim que as tropas do Coronel Tanahashi conseguiram um completo e inesperado rompimento no flanco da 7a Divisão hindu. Inesperadamente os ingleses viram surgir, pela sua retaguarda e da espessura da mata, uma força de mais de 8.000 soldados prontos para o combate. O primeiro alarma foi dado na madrugada de 4 de fevereiro. Uma coluna de abastecimento inglesa deparou de repente com um destacamento de vanguarda japonês, trocando tiros entre eles. A princípio, o comando britânico acreditou estar em presença de membros da polícia birmânica, tal foi a confusão que o encontro provocou. Posteriormente, descobriu-se que os linhas telefônicas que uniam a frente com a retaguarda haviam sido cortados. Pouco antes do amanhecer o cerco estava praticamente fechado.


7ª Divisão Indiana

Avançando pelo norte, através das colinas e dos arrozais, os soldados japoneses caíram sobre as costas das desprevenidas forças britânicas. O chefe da 7a Divisão, General Messervy, ao receber a dramática notícia, ordenou que imediatamente marchasse ao encontro dos japoneses uma brigada de gurcas que fôra mantido na reserva.
Durante todo o decorrer da jornada travaram-se intensos combates. Ao cair a noite, os japoneses concretizaram o rompimento definitivo.
O General Messervy assim relata os acontecimentos: “Fui despertado por uma explosão de gritos e queixumes, apesar de, estranhamente, ter escutado muito poucos disparos. Saltei da cama e andei, de pijama, durante uma hora mais ou menos, tratando de averiguar o que se passava. Todo o acampamento estava de pé, porém a confusão reinava em toda a parte. A escuridão era completa. De súbito, os japoneses, lançando gritos como aqueles que se escutam quando o Arsenal faz um gol em seu próprio campo, atacaram os postos de comunicações. Os soldados, junto com uma companhia de tropas hindus de engenharia, tiveram que lutar como forças de defesa do quartel-general. Os japoneses chegaram mergulhados na neblina que os ocultava parcialmente. Contudo, conseguiram cruzar em massa apenas a linha exterior da nossa posição. Nenhum japonês chegou realmente até o meu posto-de-comando. Os poucos que conseguiram aproximar-se foram mortos a tiros pelos meus assistentes. Outros retrocederam correndo”.

Os japoneses, ao serem contidos pela desesperada resistência britânica, assestaram seus morteiros e descarregaram uma chuva de projéteis sobre as posições inimigas. Em poucos minutos, as tendas e barracas estavam envoltas em chamas. Todos os fios telefônicos ficaram cortados. Messervy decidiu, então, retirar-se até a base de suprimentos da divisão, conhecida com o nome de "Admin Box". Essa posição estava localizada em uma ribanceira, no meio da qual se erguia uma colina de noventa metros de altura. Ali se concentrariam os restos dispersos da divisão, para oferecer uma resistência maciça. O General Messervy dividiu seus homens em vários grupos. Colocando-se à frente de um deles, o chefe britânico partiu para o "Admin Box". Internando-se através da floresta, para evitar os destacamentos japoneses que bloqueavam todas as picadas, ao cabo de quatro horas de marcha extenuante, o general se achava já em seu objetivo. Havia ali reunida uma força de 8.000 soldados, pertencentes às diversas unidades da divisão. As tropas foram organizadas em unidades de combate e distribuídas pelo perímetro defensivo. Na posição central foram localizados os tanques e canhões, para proteger os postos-de-comando e os hospitais de campanha. Os japoneses acossaram incessantemente as linhas inglesas, enquanto estas se encontravam em vias de reorganização. Da Índia, chegou a Messervy uma mensagem do Almirante Mountbatten.

Nela, era informado que já havia sido dada a ordem para o envio de reforços imediatos para liberar as forças sitiadas. O comunicado terminava com a seguinte frase: “Até que cheguem, é imperativo que todos os homens permaneçam em seus postos e lutem até o fim”.
No lado japonês, entrementes, reinava um júbilo indescritível. As rádios japonesas transmitiam sem cessar informes da vitória, repetindo o estribilho de "a marcha sobre Nova Delhi começou... O Coronel Tanahashi entrará em território hindu dentro de uma semana".

"Rosa de Tóquio", a célebre comentarista que, dia por dia, dirigia mensagens para desmoralizar as tropas britânicas, em inglês, assinalou: "Por que não voltam para suas casas... Tudo já terminou...".
Contudo, um novo fator entraria em jogo, frustrando os planos japoneses. Como assinalam os cronistas do episódio "desgraçadamente para o Coronel Tanahashi a boca da rede ainda estava aberta... Esquecera-se do ar...".

De fato, os Aliados, valendo-se das poderosas unidades de transporte que haviam concentrado na Índia, haveriam de assegurar a resistência das forças sitiadas em "Admin Box". As tropas cercadas, em lugar de ceder terreno e abandonar as armas, se manteriam firmes, graças ao abastecimento que receberiam pelo ar.
Os britânicos já haviam tomado todas as providências necessárias para levar a cabo o abastecimento dos seus companheiros cercados. Nos aeródromos da Índia haviam sido embaladas e depositadas junto às pistas, rações e munições para dez dias, suficientes para 40.000 homens. Os aviões do Comando Aéreo n° 1, apoiados pelas esquadrilhas de caças que limparam o céu de aparelhos japoneses, começaram o abastecimento, numa ininterrupta corrente. Em "Admin Box", as unidades britânicas submetidas ao castigo da artilharia japonesa localizada nas colinas circundantes, se mantiveram firmes, sem ceder um palmo de terreno. A luta alcançou uma violência inusitada. Os japoneses combatiam com "garra" e tenacidade. Ao cair a noite, os japoneses vestiam capuchos e máscaras e, gritando como demônios, tentavam atemorizar as tropas inimigas.


Um Hawker Hurricane da RAF ataca uma posição japonesa


Uma idéia das terríveis condições dessa luta é fornecida pela declaração de um oficial britânico, veterano da retirada de Dunquerque: "Eu teria preferido passar duas semanas no inferno de Dunquerque a dois dias no de "Admin Box".

As baixas inglesas foram enormes. Centenas de feridos afluíam aos postos de campanha, onde os médicos e enfermeiros trabalhavam sem descanso. Um deles, o Major Liwall, realizou mais de 250 intervenções cirúrgicas no espaço de poucos dias... Finalmente, e com o apoio de reforços chegados da Índia, as tropas de "Admin Box" romperam o cerco. Na manhã de 23 de fevereiro, o Major-General Briggs, chefe da 5a Divisão, penetrou no reduto que estava reduzido a um montão de ruínas fumegantes, carregando garrafas de uísque e de rum para celebrar a libertação com os sobreviventes.

Assim se encerrou a batalha em "Admin Box", uma das mais sangrentas da luta na Birmânia. A primeiro tentativa dos japoneses para se aproximar da Índia havia sido frustrada. Mais de 7.000 soldados japoneses haviam tombado na empresa.




"Operação Assombração"


Enquanto as tropas britânicas conseguiam, na península de Mayú, essa brilhante vitória, Wingate ultimava os preparativos para levar a cabo a invasão aérea da retaguarda inimiga, no norte da Birmânia.

Dez mil homens, com armamento pesado, estavam de prontidão nas bases, para serem conduzidos em planadores e aviões de transporte aos três pontos do ataque, denominados em código: Picadilly, Broadway e Chowringhee. Tratava-se de clareiras na floresta, situadas nas proximidades do centro ferroviário e do aeródromo japonês de Myitkyina. Sobre este último ponto já avançavam, pelo norte, as forças chinesas e americanas, comandadas pelo General Stilwell. A missão do assalto britânico sob o comando de Wingate, consistia, portanto, em golpear com seus chindits as costas das forças japonesas que se oporiam à penetração de Stilwell.

O plano estava ordenado assim: uma primeira leva de planadores aterrissaria nas clareiras; as tropas dessa primeira força ocupariam as posições, as limpariam e as protegeriam contra um possível contra-ataque japonês. Uma segunda leva traria mais tropas e unidades de sapadores. Estes tratariam de abrir uma pista com celeridade, para que, na noite seguinte, os bimotores Dakota estivessem em condições de transportar para lá canhões, veículos, animais e abastecimentos.

A 5 de março de 1944, poucas horas antes do ataque, o chefe das unidades de transporte aéreo, Coronel Cochran, determinou que um avião realizasse um reconhecimento fotográfico das três clareiras. Ao serem reveladas as fotografias, os oficiais aliados constataram, desalentados, que o solo de Piccadilly estava coberto por grandes troncos derrubados, o que impossibilitava a descida de planadores.

Surgiu então a suspeita de que os japoneses estivessem à par do plano aliado. As restantes fotografias evidenciavam, no entanto, que as outras clareiras estavam limpas. Realizou-se, então, uma reunião entre Wingate e os demais altos chefes. Nela, o General Slim, sobrepondo-se à indecisão dos presentes, opôs-se terminantemente ao adiamento do ataque. Declarou que os obstáculos colocados pelos japoneses em Piccadilly podiam constituir uma simples precaução de rotina. Tomou-se então a decisão de realizar, tal como havia sido prevista, a "Operação Assombração". Estava planejado realizar o primeiro lançamento em Piccadilly. Portanto, essas forças deviam ser agora desviadas para Broadway, Ali aterrissaria a primeira leva, integrada por oitenta planadores. Conduziriam aproximadamente 1.200 combatentes.



Gurkhas avançando com tanks contra japoneses na rodovia Imphal-Kohima

Surgiu, porém, uma última dificuldade. Durante semanas, as tripulações haviam sido treinadas com mapas e modelos de Piccadilly. Agora se tornava necessário fazê-las descer em uma zona que lhes era totalmente desconhecida. Ante a necessidade de dar a conhecer aos soldados o novo ponto de aterrissagem, o Coronel Cochran expressou-se: "Direi aos rapazes que encontramos algo melhor...".


Planadores em ação



Às 18h 12m do dia 5 de março, foi dada aos chindits da 77a Brigada, sob o comando do Brigadeiro Calvert, a ordem de embarcar. Os primeiros planadores, atados aos pares aos aviões-reboque, se elevaram minutos mais tarde, rumando, então, para o território birmânico.

A "Operação Assombração" estava em marcha.

Chegou o noite e os planadores continuavam partindo ininterruptamente com intervalos de cinco minutos. A força de invasão não levava escolta alguma e voava às escuras sem luzes de posição. Sua maior arma era conseguir surpresa absoluta. Sessenta e sete planadores conseguiram subir. Deles, no entanto, apenas trinta e dois conseguiriam aterrissar no objetivo.

Balouçando no ar, em meio às sombras, onze desceram em território da Índia, nove aterrissaram dentro das posições japonesas e outros quinze não chegaram a desligar-se dos seus aviões-reboque. Em conseqüência do congestionamento que reinava na pista Broadway, os últimos planadores receberam ordem de regressar às suas bases. A maior parte das aterrissagens realizadas fora da zona assinalada se deveram a rompimento dos cabos de reboque. As descidas acidentais realizadas em território controlado pelos japoneses, tiveram, no entanto, resultados favoráveis, pois contribuíram para aumentar a confusão. Houve casos de planadores que tocaram a terra perto dos quartéis-generais japoneses, a mais de cem quilômetros de distância de Broadway.

A descida em Broadway se realizou de forma acidentada. O planador que transportava a equipe encarregada de coordenar as aterrissagens não alcançou o objetivo, pois efetuou uma aterrissagem forçada, nas margens do rio Chindwin. Assim, não existindo um controle terrestre, muitos planadores da primeira leva de assalto ultrapassaram o local assinalado e caíram em meio à mata, destroçando-se. As baixas, contudo, foram menores que as esperadas, dadas as difíceis condições do terreno: 23 soldados mortos e outra cifra igual de feridos. Entretanto, a maioria da equipe mecânica, destinada a abrir uma pista, se perdeu. O Brigadeiro Colvert ordenou, então, a interrupção das descidas até a manhã seguinte.

Ao despontar o sol, os sapadores iniciaram o nivelamento com pás, de uma franja, à guisa de pista precária. Poucas horas depois, aterrissou o primeiro Dakota, trazendo reforços. Nessa noite, em Broadway, aterrissaram outros 55 Dakotas. Entrementes, a 111a Brigada de Chindits desembarcava seus planadores em Chowringhee. A surpresa fôra total.
A 7 de março, Wingate aterrissou em Broadway. No dia seguinte, transportou-se de avião a Chowringhee, supervisionando pessoalmente os operações. Na manhã do dia 11 a invasão estava concretizada. Os Dakotas, em 660 vôos, haviam transportado ao coração da floresta 9.052 soldados, 1.360 animais de carga e 250 toneladas de material. Na extraordinária operação não se perdera um só avião.
Poucos dias depois da sua aterrissagem, as colunas de chindits se puseram em marcha. Através da selva, deram começo à sua campanha contra os comunicações japonesas.







Chindits e os planadores


Da Índia chegou, a pé, outra brigada de chindits, somando-se ao ataque, fazendo com que as forças britânicas que operavam na retaguarda do inimigo totalizassem a cifra de 12.000 homens.
Wingate dirigiu então uma proclamação aos seus homens, que seria a última a ser firmada por esse batalhador "homem genial": “Chegou o momento de colher os frutos da vantagem que conquistamos... Damos graças a Deus pelos grandes êxitos que nos propiciou, e sigamos adiante, descarregando nosso golpe nas costas do inimigo, para expulsá-lo do nosso território. Este não é momento para calcular o risco... Mas sim o de viver para a História”. Os japoneses reagiram finalmente. Atacaram a base de Chowringhee, porém a brigada ali destacada já havia abandonado suas posições, por ordem de Wingate, instalando uma nova pista de aterrissagem mais para o oeste, que foi denominada Aberdeen. Ali, a 23 de março, aterrissou uma nova brigada de chindits.

No dia seguinte, quando efetuava um vôo dirigindo-se ao seu QG, Wingate encontrou a morte ao espatifar-se, contra uma montanha, o bombardeiro americano que o transportava.

Wingate tombou assim no momento culminante da sua carreira. Talvez a melhor definição da sua personalidade tenha sido dada por um dirigente britânico, Leopold Amery: “Sua grandeza como condutor militar se baseava em qualidades que escapavam à mera compreensão intelectual da guerra, ou à fulminante audácia, e residia em uma profunda fé”.

Vitória no norte da Birmânia


As operações desencadeadas pelos chindits deram lugar a uma série ininterrupta de sangrentos choques com as forças japonesas.
Divididos em mais de trinta colunas, que atuavam independentemente, os "fantasmas verdes" semearam o caos nas linhas da retaguarda inimiga. Várias vezes os japoneses atacaram os pontos de aterrissagem que haviam sido convertidos em verdadeiros redutos, sem conseguir apoderar-se deles. Realizando um esforço sobre-humano, a aviação de transporte manteve durante todo o tempo o abastecimento das forças de chindits e evacuou milhares de feridos. A ação dos chindits, entretanto, conseguira o seu objetivo: facilitar a penetração das tropas do general americano Stilwell. Este chefe avançara profundamente em direção a Myitkyina, utilizando como ponta de lança a 22a e a 38a Divisões chinesas. Pelo lado esquerdo, em movimento de flanqueio através da mata, marchavam os três batalhões do Regimento composto 5.307, comandado pelo Brigadeiro-General Frank Merrill. Esta unidade americana, integrada por voluntários especializados em luta na selva, logo se tornou conhecida com o nome de "os saqueadores de Merrill", e igualou em suas façanhas aos chindits de Wingate.
Marchando incansavelmente e abastecidos pelo ar, os "saqueadores" sustentaram uma campanha de quatro meses, na qual se sucederam sem interrupção as emboscadas, contra-emboscadas, cercos, sítios e infiltrações ao longo de picadas abertas a machado através da mata. Houve ocasiões que o avanço não passava de dois quilômetros diários. Contudo, Merrill nunca esteve ausente com seus "saqueadores" quando Stilwell precisou dele para golpear no flanco e na retaguarda dos japoneses.

A 19 de março, as tropas chinesas e americanas se aproximaram do vale do Mogaung, Haviam deixado para trás mais de 4.000 japoneses mortos. Nesse mesmo momento, o exército japonês havia lançado, mais para o sul, uma gigantesca ofensiva contra a Índia, na qual empenhou mais de 100.000 soldados. Era o último e desesperado intento dos japoneses para alcançar o vitória. A penetração japonesa deixava a descoberto todo o flanco direito das colunas de Stilwell e ameaçava suas linhas de comunicação com o território hindu. Era necessário, aparentemente, pôr fim à campanha, para concentrar todas as forças aliadas em defesa da Índia.

O comandante-chefe britânico, General Slim, tomou então uma resolução audaz, demonstrando a sua capacidade de condutor. Ordenou a Stilwell e aos chindits continuar com as operações no norte da Birmânia. Esta decisão trouxe um vitorioso resultado.
A 17 de maio e depois de uma exaustiva marcha de vinte dias em plena mata, os "saqueadores" de Merrill tomaram de surpresa o aeródromo de Myitkyina. Na cidade do mesmo nome se entrincheiraram 1.200 japoneses resolvidos a combater até o último homem.
Iniciou-se, então, uma batalha terrivelmente encarniçada. Durante 78 dias os japoneses combateram heroicamente, movidos por uma fanática determinação, enfrentando as forças chinesas, britânicas e americanas. Finalmente, na tarde de 3 de agosto de 1944, Myitkyina caiu nas mãos de Stilwell. Somente duzentos japoneses foram capturados, feridos em sua maioria. Dessa forma, concretizou-se a ocupação do norte da Birmânia.

domingo, 14 de junho de 2009

Resumo sobre os acontecimentos relativos ao Genocidio e Holocausto


Prisioneiros judeus em Dachau,Alemanha em 1942.

Os alemaes tinham uma grande organização que cuidava, exterminava e encobria todos os fatos e relatos sobre os campos de concentração!Uma das formas de deixarem os prisioneiros mais faceis para manejo e para facilitar sua morte era por inanição!

Resumo sobre os acontecimentos relativos ao Genocidio e holocausto:

Sob a doutrina racista do III Reich, cerca de 7,5 milhões de pessoas perderam a dignidade e a vida em campos de concentração, especialmente preparados para matar em escala industrial. Para os nazistas, aqueles que não possuíam sangue ariano não deveriam ser tratados como seres humanos. A política anti-semita do nazismo visou especialmente os judeus, mas não poupou também ciganos, negros, homossexuais, comunistas e doentes mentais. Estima-se que entre 5,1 e 6 milhões de judeus tenham sido mortos durante a Segunda Guerra, o que representava na época cerca de 60% da população judaica na Europa. Foram assassinados ainda entre 220 mil e 500 mil ciganos. O Tribunal de Nuremberg estimou em aproximadamente 275 mil alemães considerados doentes incuráveis que foram executados, mas há estudos que indicam um número menor, cerca de 170 mil. Não há dados confiáveis a respeito do número de homossexuais, negros e comunistas mortos pelo regime nazista.

Judeus holandeses marcham para o campo de concentração de Amersfoot,sobre vigilância das SS.

A perseguição do III Reich começou logo após a ascensão o de Hitler ao poder, no dia 30 de janeiro de 1933. Ele extinguiu partidos políticos, instalou o monopartidarismo e passou a agir duramente contra os opositores do regime, que eram levados a campos de concentração,em 1933 já havia 25 mil presos no campo de Dachau, no sul da Alemanha.O Führer tinha o hábito de reprimir violentamente qualquer manifestação de protesto. Os condenados sofriam torturas, eram obrigados a fazer trabalhos forçados ou acabavam morrendo por fome ou doença. Eram também considerados inimigos do III Reich os comunistas, pacifistas e testemunhas de Jeová. Um após Hitler ter assumido o poder foram baixadas leis antijudaicas iniciando o boicote econômico. Desde 1933, quando os primeiros campos de concentração de presos em massa foram construídos em Boyermoor e Dachau (Alemanha), milhões de pessoas perderam seus nomes, ganharam números, foram escravizadas, transformadas em cobaias, ou simplesmente eliminadas pelas doenças, torturas e câmaras de gás numa organização civil e militar, cujos objetivos transcendiam a questão racial ou política, revelando os fins ideológicos de uma sociedade voltada para exploração e extinção de tudo que fosse diferente daquilo considerado correto segundo seus critérios subjetivos e exclusivistas.


Humilhação aos judeus.
Mulher: Sou a maior porca da cidade,eu tenho relacionamento somente com judeus.
Homem:
Eu levo só garotas alemães para meu quarto.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A Derrocada da França


E a França caiu...

A decisão da França de abandonar seus aliados e buscar uma paz em separado era algo que deixou, a 17 de junho, de conter qualquer elemento de surpresa. Já durante algum tempo antes, apesar das afirmações periódicas de imperturbável união entre a Grã-Bretanha e a França, a probabilidade de tal passo tinha estado a aumentar gradualmente. Na verdade, os próprios tons desses pronunciamentos emprestavam côr à possibilidade. Churchill, por exemplo, afirmou a 19 de maio: "Recebi dos chefes da República Francesa e em particular de seu indomável primeiro ministro sr. Reynaud as mais sagradas garantias de que, houvesse o que houvesse, eles lutariam até o fim." Mas o próprio caráter premente dessa afirmativa concorria para que ela fosse de menor eficiência para o reforço de confiança do que para o despertar de especulações em torno de sua necessidade. E em seu discurso de 4 de junho, Churchill se utilizou de uma frase cujo significado cedo se percebeu. "Tenho plena confiança em que... nos mostraremos novamente capazes de defender a nossa pátria insular e de dominar a tempestade da guerra e sobreviver à ameaça da tirania, por anos se for necessário e se necessário sozinhos."
Mas uma coisa era explicar satisfatoriamente um acontecimento que já se verificara, e outra era prever que tal acontecimento se realizaria. A busca de explicações tendia quase inevitavelmente a transformar-se numa busca de evasivas. A culpa era atribuída de vários modos aos generais, aos políticos, ao soldado raso do exército francês e ao povo francês em geral.

Nenhuma dessas explicações era completamente satisfatória em si mesma. Nenhuma, todavia, podia ser inteiramente desprezada. Os políticos indubitavelmente contribuíram, se não para a própria derrota, pelo menos para uma situação que tornara a derrota possível - se bem que nesta questão havia uma tendência dominadora em certos círculos para sublinhar os erros de cálculo da Esquerda, ignorando ao mesmo tempo as atividades mais sinistras ou mais mal orientadas da Direita. Até certo ponto, entretanto, os conflitos dos políticos franceses contribuíram para a falta de preparo da França. Já desde 1918, as questões sociais vinham aumentando de agudez. A impaciência crescente das massas pela intransigência dos grupos dirigentes tinha sido respondida por uma resistência gradualmente mais inflexível das classes favorecidas a qualquer medida que envolvesse reforma social ou econômica. Essa crescente preocupação pelas questões internas afetou sem dúvida a probabilidade da França adotar um rumo vigoroso e decisivo de política externa. Isto era particularmente verdadeiro depois de 1935, quando os reflexos da luta social se estenderam à esfera internacional, e Berlim e Moscou vieram a simbolizar as principais ameaças ou refúgios das facções que se degladiavam. O resultado foi uma semiparalisia de decisão nos problemas externos, a qual contribuiu para o preparo dos fundamentos diplomáticos - e talvez também militares - da catástrofe final.
Grupo anti-tanque com um Hotchkiss 37mm

Então, subitamente, alguns observadores descobriram a existência de um sentimento muito difundido de derrotismo entre o povo francês. A descoberta não era totalmente convincente, mas indicou talvez certas características do moral nacional. Poucos afirmariam que a guerra foi saudada na França com grande entusiasmo. Ela entrou na guerra não para repelir qualquer invasão iminente, mas sim para subjugar um inimigo potencial antes que se tornasse tão forte que lhe fosse impossível resistir militarmente. Um Hitler que dominasse a Europa oriental poderia significar uma França subjugada sem travar sequer uma batalha. Este era o ponto de vista daqueles que se mostravam partidários de uma resistência a favor da Polônia. Mas era um ponto de vista passível de ser debatido e em torno do qual certos grupos franceses estavam prontos para entrar em debates. As dúvidas sobre a sua validade podem ter concorrido para o aumento do desencorajamento nacional quando a guerra começou a tomar um rumo desfavorável, auxiliando assim os agentes de Hitler e seus aliados no país na tarefa do enfraquecimento da resistência popular. O que tornava tudo isso difícil de ser avaliado era a falta de qualquer direção eficiente do espírito de resistência no momento crítico. Nenhum Gambetta se ergueu para conclamar a nação para novos e heróicos esforços; e o refrão Il faut en finir que marcara a atitude da nação em relação à luta era uma base inadequada para esforços espontâneos em face de tão rápida e arrasadora derrota.
Infantaria de assalto alemã avança pela França
Mas quando tudo isso era tomado em consideração, ressaltava um fato central. Este era a derrota militar. O exército francês, de tão alto prestígio ao começo da guerra, tinha sido esfacelado por um inimigo superior. Fosse com que fosse que a situação geral da França tivesse contribuído para esse resultado, era ainda a derrocada militar que mais carecia de uma explicação.

O colapso militar
Não poderia ser explicado como sendo devido à qualidade do soldado francês. Este pelo menos não era responsável pela inferioridade no equipamento e pela falha disposição de reservas que se tornaram perfeitamente clara depois de 10 de maio. O mais que se poderia dizer contra ele era que o seu espírito de luta carecia daquele desespero que poderia parcialmente contrabalançar essas deficiências e dar ao Alto Comando um pouco de tempo extraordinário para retificar alguns de seus erros. Ele tinha sido preparado para uma espécie de guerra; viu-se numa outra diferente, que absolutamente não lhe era familiar. Foi submetido a uma concentração de fogo sem precedentes, que fazia com que se parecesse inútil tudo que fizesse em resposta. Viu-se a lutar por dez dias sucessivos contra forças alemães que eram renovadas cada dois ou três dias. Sobretudo, sentia que estava sendo sobrepujado constantemente sem que pudesse travar luta direta com o inimigo. Começou, por fim, a sentir que o seu próprio destacamento estava sendo deixado sozinho e sem apoio para aparar todo o peso do assalto. Quando a luta se apresentava quase sem esperança, seu moral em muitos casos não estava convenientemente preparado para prosseguir o combate e dai vinha a desagregação. Se, entretanto, este era o caso em geral, havia também muitas exceções, e exemplos de tropas francesas mantendo uma resistência corajosa e tenaz não faltaram mesmo depois do começo das negociações de armistício. Um comentarista britânico, escrevendo na The Fighting Forces, pagou-lhes generoso tributo: "As falhas que motivaram a derrota não podem ser atribuídas ao soldado francês. Não há homem algum mais preso ao seu solo natal que o campônio francês, ninguém mais verdadeiramente patriota... A verdadeira causa reside na preparação falha e ineficiente."


Pow's franceses
A culpa dessas falhas cabe em grande parte ao Alto Comando francês. Os preparativos falhos não eram somente materiais, mas também intelectuais. A rigidez da mente foi ilustrada pela sua recusa em admitir que as lições da campanha polonesa tinham qualquer aplicação séria ao problema da defesa francesa. Sua excessiva confiança na tática defensiva fê-lo subestimar de modo fatal o poder que as novas armas e métodos tinham dado ao ataque. Contudo, apesar de centralizar o pensamento em torno da Linha Maginot, o Alto Comando deixou de desenvolvê-la de modo consistente. Com o problema da fronteira belga a exigir uma solução, ele nem estabeleceu defesas fixas adequadas, nem elaborou um eficaz contra-golpe para o caso de uma invasão alemã. E quando o êxito do avanço alemão deitou por terra todos os princípios de sua doutrina, o Alto Comando continuou a agarrar-se aos remanescentes de suas obsessões e permitiu que reservas essenciais fossem deslocadas para as fortificações orientais, quando o destino da França estava em jogo ao longo do Mosa e do Somme.
Esse era um dos fatores da fraqueza aliada, não somente quanto à defesa inicial, mas ainda mais gravemente na questão vital dos contra-ataques. Nos dias que se seguiram à ruptura alemã até o Canal, essa fraqueza era ainda mais evidente. Por vários dias, os alemães mantiveram um corredor precário de apenas 20 km. de largura. O fechamento desse corredor teria isolado substanciais forças alemães e retardado, senão impedido, o seu avanço através de Flandres.
Apenas uma tentativa séria foi feita para o conseguimento dessa finalidade. E essa foi levada a efeito pelas forças britânicas, a 22 de maio, com apenas duas divisões e sem apoio francês. Embora ganhasse algum terreno não foi suficientemente forte para provocar uma ruptura; e, carecendo de força para aproveitar as vantagens obtidas, as divisões britânicas viram-se avançando para uma armadilha e foram obrigadas a recuar. Um plano mais ambicioso, se bem que ainda limitado, foi entretanto desenvolvido ao mesmo tempo por Weygand. Ele envolvia a sincronização de uma nova investida ao norte, em que duas divisões britânicas, outra vez, tomariam parte, com o avanço do principal exército francês no sul. Foi originariamente marcado para o dia 25 de maio, mas a necessidade de repouso e de reforma das divisões britânicas provocou o seu retardamento até o dia 26. Esse dia, entretanto, era tardio demais. A essa data, o ataque alemão ao exército belga tornou iminente o colapso deste, e todas as forças britânicas disponíveis foram mandadas rapidamente para o norte a fim de apoiá-lo. Privados do esperado auxílio britânico, os franceses desistiram de seu plano, e com a rendição belga todas as possibilidades de revivê-lo desapareceram.




Linha Maginot

Túnel dentro da Linha Maginot
Soldados no interior das fortificações da Linha Maginot

A importância desse episódio consiste não somente na revelação que faz da coordenação imperfeita entre os comandantes aliados. Mostra também como havia escassez de reservas disponíveis quando em conseqüência da falta de auxílio de duas divisões britânicas o principal exército francês achou-se incapaz de lançar sequer um contra-ataque limitado. Mais alarmante ainda era a falta de habilidade francesa para reaver mesmo as posições locais de primeira importância. Isto foi demonstrado com o fracasso da tentativa de recaptura das cabeças de ponte que os alemães estabeleceram ao longo do Somme. Quando a batalha da França começou, essas serviram de vias para o assalto mecanizado alemão; e os tanques lançados dessas cabeças de ponte foram capazes de furar a linha Weygand, iniciando o desmantelamento final de toda a frente.
A Batalha da França revelava de modo cada vez mais claro a inferioridade francesa, não somente em equipamento, mas, o que era mais surpreendente, em número. Afirmou-se oficialmente que a França mobilizara entre cinco e seis milhões de homens. Mas mesmo admitindo-se que entre vinte e trinta divisões foram dispostas na fronteira italiana, era difícil imaginar-se onde esses homens poderiam estar, e aumentava a suspeita de que esses números eram em grande parte um mito. Mais tarde, num comunicado em que comparava os esforços britânicos e franceses e no qual não tinha motivos para subestimar os da França, Paul Baudoin fixou o total da mobilização em três milhões. De acordo com Pétain, os franceses no auge do avanço final puderam dispor em linha apenas sessenta divisões contra cento e cinqüenta divisões alemães. "É provável", escreveu um oficial de engenharia americano, "que a 5 de junho, quando o golpe foi desfechado, o poder combativo dos alemães entre Abbeville e Montmedy tenha sido o dobro do dos franceses. E já que os alemães retinham a iniciativa e uma mobilidade superior, essa proporção poderia facilmente alcançar quatro para um em determinados pontos. Os franceses simplesmente careciam de força para impedir uma ruptura da frente."

"O objetivo da nova fase de operações", disse o Alto Comando alemão", era romper a frente setentrional francesa, forçando o despedaçamento das unidades francesas rumo ao sudoeste e sudeste para depois destruí-las." O caminho foi aberto quando os franceses eram impelidos da linha do Somme, e com a travessia do Sena e do Marne o objetivo estava quase alcançado. Os exércitos franceses nessa região foram metodicamente cortados em pedaços. Esforços tardios para trazer reforços do setor atrás da Linha Maginot foram prejudicados pelo rompimento das comunicações, devido não somente ao bombardeio da retaguarda do front, como também ao fato de que o avanço tinha cortado as linhas ferroviárias mais diretas. A tentativa de retirada para o Loire fracassou quando as tropas encontraram as estradas atravancadas por uma torrente de refugiados e o rápido avanço mecanizado alemão ultrapassou os franceses retirantes. O Loire por si mesmo era ineficaz como linha de defesa, e a retirada permitiu aos alemães desembarcar na retaguarda da Linha Maginot e auxiliou o sucesso do ataque frontal que perfurou as defesas em dois pontos. Algumas das tropas nessa área continuaram a resistir até o fim, mas toda a esperança numa frente coerente tinha desaparecido. A 9 de junho, Weygand, com irônica ambigüidade, disse ao exército: "Este é o último quarto de hora. Agüentem firmes!" Mas quando passou o último quarto de hora, o principal exército francês deixou de existir como força combativa efetiva.


O colapso político
Quando Weygand substituiu Gamelin no comando das forças aliadas, tomou a si uma causa que sentia já estar perdida. Essa convicção foi reforçada quando a situação militar foi de mal a pior; e quando os alemães lançaram o ataque à linha do Somme, Weygand chegou à firme conclusão de que essa era a prova final, e de que se a França fosse uma vez mais obrigada a ceder caminho a rendição seria inevitável.


General Weygand
Nessa crença ele teve o apoio de um grupo crescente dentro do governo. A crise ministerial de 5 de junho resultara na eliminação dos mais ativos advogados da causa da paz em separado. Mas entre os novos membros introduzidos no gabinete para fortalecer o espírito de resistência houve alguns, como Paul Baudoin, que em poucos dias se passaram para o partido da paz; e outros de espírito firme até aquela data ficaram convencidos de que, com a rendição de Paris, nenhuma esperança mais restava. A 12 de junho, a questão chegou a uma decisão, quando o gabinete, reunido em Tours, foi informado por Weygand de que a batalha estava perdida e de que nada restava senão solicitar um armistício.

Houve ainda considerável resistência a essa proposta. Mesmo admitido que a possibilidade de resistência em solo francês estava quase no fim, havia ainda a possibilidade de se conduzir a luta nas colônias. Reynaud se fez porta-voz dos que estavam contra a rendição quando - em palavras já parcialmente falsificadas - escreveu a Roosevelt, no dia 10: "Lutaremos na frente de Paris; lutaremos atrás de Paris; fechar-nos-emos numa de nossas províncias para lutar, e se ainda dela formos afastados, estabelecer-nos-emos na África do Norte para continuar a luta, e se necessário, mesmo em nossas possessões da América continuaremos a combater."

A isso, porém, tanto Weygand como Pétain, apoiados por uma parte do gabinete, se opunham firmemente. Weygand estava visivelmente obsessionado pela crescente desorganização da autoridade civil e pelo perigo de ela conduzir a uma revolução. Alegou-se mesmo que ele dissera ao gabinete que motins comunistas tinham irrompido em Paris - informe que Mandel imediatamente desfez chamando o chefe de Polícia da Capital e obtendo um desmentido autorizado. Mas apesar de tudo, perdurava o receio de tais motins; e a acompanhá-lo havia a esperança de que, fazendo-se a paz antes que tudo estivesse perdido, alguns resquícios da independência francesa ainda pudessem ser salvos. Pierre Lazareff, diretor do Paris Soir, atribuiu a Pétain palavras que, mesmo que apócrifas. expressavam indubitavelmente os pontos de vista do partido da paz: "Solicitemos imediatamente um armistício, enquanto ainda se mantêm intactos a nossa marinha e grande parte do nosso exército e a Linha Maginot continua a resistir. Mais tarde, estaremos a mercê do vencedor... Não podemos entregar a nação a si própria e aos invasores. Fiquemos no nosso solo sagrado para tomar conta de nosso povo. E antes que soe a hora em que o vencedor, nada tendo a recear, se recuse a discutir condições, obtenhamos dele a garantia de que os nossos jovens e as nossas cidades serão poupados a ponto de termos em mãos ainda a possibilidade de um renascimento."

Mas se o futuro da França era o primeiro a considerar-se, não era pelo menos o único. A Grã-Bretanha era aliada da França, e a França lhe estava ligada por compromissos que, honradamente, não poderiam ser ignorados. A 28 de março, depois de uma reunião do Supremo Conselho de Guerra em Londres, uma declaração conjunta foi emitida pelos dois governos, nos seguintes termos:

"O Governo da República Francesa e o Governo de Sua Majestade... resolvem mutuamente que durante a presente guerra não negociarão ou concluirão um armistício, nem tratado de paz, exceto por consentimento mútuo.

Acordam ainda em não discutirem condições de paz antes de chegarem a completo acordo sobre as condições necessárias para assegurar a cada um dos dois uma garantia duradoura e efetiva de segurança.

Finalmente, acordam em manter depois da conclusão da paz uma comunidade de ação em todas as esferas até o prazo em que se mostre necessário para salvaguardar a sua segurança e efetuar a reconstrução, com a assistência de outras nações, de uma ordem internacional que garanta a liberdade dos povos, o respeito à lei e a manutenção da paz na Europa."

O gabinete, entretanto, decidiu que à Grã-Bretanha deveria ser solicitado o livramento da França desse seu compromisso; e Reynaud, capitulando diante do sentimento da maioria, obteve uma entrevista com Churchill, que, acompanhado por Halifax e Beaverbrook, voou a Tours no dia 13. Os ministros britânicos se recusaram a, nessa fase, libertar a França de seus compromissos, mas prometeram todo o auxílio disponível para barrar o avanço alemão. (A Força Aérea Britânica, de fato, empenhou-se em pesadas ações em conseqüência disso, e todas as tropas que se pôde reunir na Inglaterra, inclusive uma força de canadenses, foram mandadas rapidamente à França). Concordaram, todavia, com que Reynaud fizesse um novo apelo aos Estados Unidos, e com que, no caso de uma resposta não satisfatória, a situação fosse novamente examinada.

A anterior mensagem de Reynaud, datada de 10 de junho, solicitando "assistência nova e cada vez maior", tinha sido respondida com a promessa de que todos os esforços seriam feitos para apressar e aumentar a remessa de suprimentos. Ao "novo e final apelo" de Reynaud a 13 de junho, o presidente somente pôde responder que o governo faria todos os esforços possíveis nas condições presentes, e que se sentia impelido a acrescentar a advertência de que isso não implicava em auxílio militar, já que somente o Congresso tinha o poder de tomar tais resoluções.

No dia 16, à luz dessa resposta, a França apelou uma vez mais para a Grã-Bretanha. A resposta foi a proposta sensacional de se fundir os dois impérios, para que a guerra pudesse prosseguir em comum. Um único gabinete de guerra seria estabelecido, os dois parlamentos se associariam formalmente e a União apelaria para os Estados Unidos no sentido de "fortalecer os recursos econômicos dos aliados e dar-lhes sua poderosa assistência material, para a causa comum." Era uma garantia implícita de que a causa francesa seria defendida até o último inglês. Mas o grupo pró-paz da França achou nessa proposta um motivo mais de alarme que de entusiasmo. Achava que a França perderia a independência e cairia sob a dominação inglesa. A arriscarem-se a isso, preferiam entregar-se ao suave arbítrio da Alemanha nazista.

A Inglaterra resignou-se, pois, à perspectiva da defecção francesa. Embora deixasse claro que ela mesma estava determinada a continuar a luta, aquiesceu relutantemente com que a França negociasse um armistício. Mas a mensagem do governo britânico a esse respeito continha uma condição de capital importância. A frota francesa deveria ser enviada a portos britânicos e ali permanecer durante as negociações.

Na tarde do dia I6, Churchill estava para partir a novo encontro com Reynaud quando lhe chegou a notícia de que o ministério francês caíra. Em face da crescente pressão do partido pró-paz e das defecções a seu favor, Reynaud se viu obrigado a renunciar. Aparentemente, ele jamais considerara a tentativa de angariar apoio no Parlamento ou na nação contra os que advogavam a rendição. Pode ter tido a esperança de, por sua renúncia, dissolver o ministério existente e ganhar assim nova oportunidade para formar outro mais resoluto. Mas o presidente Lebrun estava agora ao lado do partido da paz. Ao invés de conceder a Reynaud novo mandato, voltou-se para Pétain.

O ministério organizado pelo velho marechal compunha-se não somente dos principais membros do partido pró-paz como também, predominantemente, de representantes da Direita. A figura principal era Pierre Laval, que até então se destacava como principal adversário de Reynaud e o verdadeiro arquiteto do bloco pró-paz. Todas as hesitações chegaram então ao fim. Pétain imediatamente iniciou negociações com a Alemanha, através do governo de seu velho pupilo, o general Franco. A 17 de junho, anunciou ao povo francês: "Dirigi-me ao nosso adversário para perguntar-lhe se estava disposto a firmar conosco, como entre soldados depois da luta e com honra, meios de pôr fim às hostilidades."


Os pontos do armistício

Para Hitler, a fraseologia de Pétain deve ter soado como tolice antiquada. A questão da honra provavelmente lhe importava menos que a questão prática dos fins eficazes. Ele deve ter tomado em consideração os sentimentos franceses somente até o ponto de se abster de impor condições que provocassem os franceses à luta e não à submissão. Mas pouco depois exigia o máximo - e numa base que abriria caminho para conseqüências futuras indefinidas.

A 18 de junho, Hitler discutiu as condições em perspectiva com Mussolini em Munique. A presença do Duce constituía uma recordação de que outras facções que não a França e a Alemanha estavam interessadas. Não estava bem claro se a França teve a intenção de combater a Itália, ou se - como parecia provável - o seu governo apenas encarara o fato de que a Itália era beligerante, em vista da natureza modesta de sua beligerância. Em qualquer caso, a França foi imediatamente convidada a remediar esse pouco caso; e a 20 de junho, algo retardadamente, uma solicitação de armistício foi encaminhada a Roma.

Hitler, no centro do grupo, com a mão na anca, ao lado do Reichsmarschall Hermann Goering, e seus generais, perante a estátua do marechal Ferdinand Foch antes da assinatura do armistício. À direita da imagem pode ver-se uma parte da carruagem do armistício.


Imagem da carruagem do armistício, utilizada para a assinatura deste armistício e para a do Armistício de 11 de novembro de 1918.

No dia seguinte, enquanto as tropas francesas continuavam a combater os alemães em avanço, Hitler e seu estado-maior receberam os negociadores franceses. O vagão ferroviário em que Foch se sentara foi transportado até o ponto da floresta de Compiègne em que o armistício de 1918 foi assinado. Nesse local simbólico, os representantes da França derrotada confrontaram os alemães vitoriosos. Depois de submetidos a um discurso em torno das desgraças passadas e inocência atual da Alemanha, eles receberam as exigências alemães com a garantia de que a Alemanha não teve a intenção de dar às condições "o caráter de um insulto a tão valente adversário". Discussões posteriores resultaram em modificações de certos pontos, e no dia 22 as condições foram aceitas. Mas mesmo isso não pôs fim às hostilidades, que deveriam cessar somente quando também com a Itália se chegasse a um acordo satisfatório. No dia 24, a França chegou a um acordo com Roma; e a esse tempo as tropas alemães formavam uma linha que corria, através da França, do lago de Genebra à foz do Gironda. A 1h35 da madrugada de 25 de junho, exatamente oito dias depois que seus líderes admitiram estar a sua causa sem esperanças, as tropas francesas receberam, afinal, ordem de depor as armas.


O governo francês desde o começo das negociações alegara que somente uma paz honrosa seria aceitável. "Se os franceses são obrigados a escolher entre a existência e a honra", disse Baudoin, "sua escolha está feita". Essa afirmativa foi repetida enfaticamente durante os dias que se seguiram. Mas à medida que era retardada a conclusão do armistício, e a imprensa e rádio alemães continuavam a acentuar que um país derrotado tinha de se render incondicionalmente, a perturbação do governo crescia. Uma resistência renovada foi ligeiramente considerada, mas na mente dos líderes franceses ela era um recurso desesperado que somente no último caso deveria ser tentado. Na ocasião em que as condições do armistício lhes foram comunicadas, eles estavam numa situação moral capaz de aceitar com, alívio quase todas as condições, inclusive as que privariam do caráter de independência o governo francês.

Esta foi quase a única concessão dada pelos acordos do armistício. As vantagens dadas à Itália, na verdade, eram tão pequenas que quase não passavam de um gesto aberto de desprezo da Alemanha para um associado de menor importância. Por uma bela ironia, os ganhos territoriais italianos eram limitados à ocupação das poucas milhas de solo francês que tinham sido conquistadas no lento avanço para os quatro dias que precederam o armistício. Houve um gesto em relação à segurança de suas fronteiras, entretanto, com a criação de zonas desmilitarizadas ao longo tanto das fronteiras alpinas como das coloniais africanas; e lhe foram concedidos direitos plenos ao porto de Djibuti e da secção francesa da estrada de ferro de Djibuti a Addis Abeba.

É todo este conjunto de considerações complexas que determinará as condições do acordo de armisticio, um texto breve de vinte e quatro artigos, que contem, entre outras, as seguintes cláusulas:
-Os prisioneiros de guerra (mais de milhão e meio de homens) ficam cativos até à assinatura de um acordo de paz.
-A metade norte, bem como a costa atlântica, ficam sob a ocupação alemã, constituindo a chamada zona ocupada, que abarca aproximadamente três quintas partes do território. O resto constitui a chamada zona livre, isto é, a não ocupada, situada principalmente a sul do rio Loire. Ambas zonas se hallaban separadas pela chamada linha de demarcação.
-França deve prover a manutenção do Exército aleão de ocupação. O importe da dita manutenção é fizado de forma quase discrecional pelos alemães, sendo, como média, de uns 400 milhões de francos por dia.
-Na zona livre, o exército francês fica limitado a 100 000 homens e ditas tropas ficam desarmadas.
-A soberania francesa se exerce sobre o conjunto do território, incluida a zona ocupada, Alsácia e Mosela, mas na zona ocupada se estipula que Alemanha exerce Os direitos da potência ocupante, o que implica que a Administração francesa colabora com ela de um modo correto.
-O império colonial francês fica igualmente sob autoridade do Governo francês.
-Os navios de guerra devem acudir a seus portos em períodos de paz, embora alguns deles, como o de Brest, esteja em zona ocupada.
-França deve entregar os refugiados políticos alemães ou austríacos refugiados em seu território fugindo do nazismo.



General Giraud com os vencedores alemães.

Quanto ao resto, as condições italianas seguiam substancialmente às do armistício alemão, que deixavam a França desarmada e desmembrada. Dois terços da França seriam ocupados - à costa francesa - por tropas alemães. Isto incluía não somente as áreas industriais da França, exceto Lyon, como também toda a costa atlântica, até a fronteira espanhola. O exército francês deveria ser imediatamente desmobilizado, a exceção de uma pequena força para finalidades de segurança interna e cujo efetivo seria indicado pelo vencedor. Todas as fortificações e todo o material bélico deveriam ser entregues. A atividade aérea, mesmo na área não ocupada, foi proibida, e nesta área os campos de aviação ficariam sob o controle germano-italiano. Toda a navegação mercante francesa deveria ser chamada à metrópole e permaneceria em portos franceses até ulterior deliberação. Os prisioneiros de guerra alemães deveriam ser soltos, mas os prisioneiros de guerra franceses ficariam nos campos de concentração alemães até a conclusão da paz. A França deveria entregar todos os cidadãos alemães designados pelo governo alemão - uma concessão particularmente vergonhosa que lançaria milhares de refugiados às mãos vencedoras da Gestapo. A frota deveria ser desarmada nos portos franceses sob controle ítalo-germânico, com a solene garantia de que essas potências não tinham a intenção de utilizá-las para si próprias.
Mas essas condições eram apenas o começo. Os detalhes de sua aplicação foram entregues a uma comissão de armistício sediada em Wiesbaden, onde os alemães podiam exercer pressão constante sobre os impotentes delegados franceses. A Alemanha e a Itália se reservaram o direito de cancelar as condições caso achassem que o governo francês deixara de cumprir suas obrigações. E as condições de uma paz permanente ficariam aguardando a consecução de completa vitória do Eixo, quando uma França desorganizada e impotente seria obrigada a desempenhar seu papel especial na servil organização da Nova Europa de Hitler.
Essas as condições a respeito das quais Pétain disse: "A honra foi salva. Nosso governo permanece livre. A França somente por franceses será governada".



A ditadura Pétain

Os franceses que governavam de Vichy estavam, todavia, determinados a que a França fosse dirigida numa base muito diferente da dos últimos setenta anos. O novo regime representava uma liquidação temporária do elemento essencial e básico da política francesa: - cumprimento ou destruição dos princípios da Revolução de 1879. As forças da Direita estavam agora resolvidas a utilizar a derrota externa para assegurar sua vitória interna. A República, com a sua divisa de Liberdade, Igualdade, Fraternidade, era para esses homens um anátema. Resolveram substituir a liberdade pela disciplina, a igualdade pela autoridade, a fraternidade por uma organização calcada na de seus vencedores totalitários. Com a nova divisa de Trabalho, Família, Pátria, eles iniciaram a tarefa de extirpar as tradições que tinham moldado o espírito da França no último século e meio.


Marechal Pétain, foi um militar francês e líder do governo fantoche instalado na França pelos nazistas durante a Ocupação

Sua primeira medida foi pôr de lado a constituição vigente. A 9 de julho, o Parlamento francês, com a ausência de cerca de um terço de seus membros, aprovara uma resolução concedendo plenos poderes ao governo Pétain. No dia seguinte, isso foi ratificado por ambas as Casas do Parlamento que se reuniram para formar uma Assembléia Nacional. A 11 de julho, o presidente Lebrun passou ao marechal Pétain seus poderes de chefe de Estado. Nesse mesmo dia, a transformação foi completada pela publicação de três decretos que aboliram os principais dispositivos da constituição existente e colocaram nas mãos de Pétain pleno poder legislativo, bem como o controle da diplomacia, do exército, das finanças e das nomeações civis e militares. Os decretos sugeriram a criação de novas assembléias legislativas, mas não lhes prescreveram forma prática. Entrementes, as Câmaras existentes continuariam legalmente a existir, mas como suas reuniões haviam sido proteladas indefinidamente e apenas poderiam reunir-se por determinação de Pétain, sua parte nos negócios públicos parecia haver efetivamente terminado.

Uma série de decretos se seguiram a esses, decretos cujo efeito seria a transformação radical da vida francesa. Eles indicavam a criação de um Estado cuja economia seria predominantemente agrícola e evitaria competir com a Alemanha industrial; a supressão dos partidos políticos e dos sindicatos trabalhistas; uma política de repressão, não apenas contra os judeus e estrangeiros, mas também visando organizações tais como a Maçonaria; e crescente autoridade à Igreja, bem como novas leis de herança destinadas a salvaguardar a base camponesa da agricultura. As próprias divisões locais - de departamentos criados pela Revolução e que serviram de base à administração napoleônica - foram abolidas em favor das províncias mais antigas. "O governo", disse Pétain, "apoiará com todas as suas forças todas as instituições que visem evitar a corrupção da moral e a proteção à real felicidade... A França deve voltar a seu caráter basicamente agrícola e camponês, e sua indústria deve tornar a descobrir sua tradicional qualidade. É portanto preciso pôr-se um fim às desordens econômicas presentes pela organização racional da produção e de organizações corporativas."

Mas essa imitação lisonjeadora, embora sincera, produziu pouca impressão na Alemanha. Pétain alimentara a esperança de que a França em paz reteria força bastante para garantir a independência da política. Laval, com seus sonhos de um Bloco Latino, acreditara em que uma orientação no sentido do sistema fascista faria com que Mussolini protegesse a França contra Hitler e a usasse como uma aliada que pudesse contrabalançar o poderio de uma Alemanha por demais poderosa. Ambos sofreram rude decepção. Nem o avanço para uma ditadura totalitária, nem a instalação de uma corte para julgar os líderes acusados da responsabilidade pela guerra serviram para aquietar as censuras persistentes dos nazistas. O governo era apressado por constante pressão em favor de novas medidas. Os recursos da França foram debilitados pelo fechamento da fronteira da zona ocupada, o que não apenas cortou as comunicações e suprimentos como deixou a área meridional ainda superlotada com a massa de refugiados. A solicitação do governo para que lhe fosse permitida a volta para Paris, embora baseada especificamente nos termos do armistício, foi rejeitada; pois que, embora a solicitação pudesse demonstrar que Pétain não tinha esperanças de fazer uma política que pudesse ofender os conquistadores, os alemães não tinham desejo algum de ver uma possível autoridade rival na zona ocupada. A organização daquela zona, e particularmente as medidas para chamar a Alsácia para mais perto do Reich, demonstravam a decisão alemã de manter a França dividida e de multiplicar as dificuldades que pudessem criar confusão contínua e evitar aquele renascimento que o governo francês tão carinhosamente acalentava. Mais e mais o regime Pétain parecia composto de velhos desesperados a lutar para firmar pé em meio as circunstâncias que jamais poderiam compreender ou controlar. A vaga percepção disto pareceu surgir para Pétain quando se queixou a um grupo de jornalistas, a 20 de agosto: "Estamos presos de modo absoluto aos termos do armistício. Os alemães seguram a corda e torcem-na cada vez que acham que o acordo não está sendo cumprido." (Um dos repórteres atribuiu-lhe uma frase ainda mais pitoresca: "A França está manietada por uma fronteira desde o Atlântico até os Alpes. Toda a vez que fazemos alguma coisa que desagrada as autoridades ocupantes, estas apertam ainda mais as correias.)