terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Direitos de publicação de 'Mein Kampf' vencem em 2015: um perigo para o mundo?


"Eles queriam substituir a Bíblia". Sussurrando em uma silenciosa sala da Biblioteca Pública da Baviera, o especialista em livros raros Stephan Kellner descreve como os nazistas transformaram um calhamaço longo e praticamente incompreensível ─ parte memória, parte propaganda ─ em uma peça central da ideologia do Terceiro Reich.

No ano em que Mein Kampf (“Minha Luta”, em português), de Adolf Hitler, passa a ser uma obra de domínio público ─ o que, em tese, significa que qualquer pessoa pode publicar sua própria edição na Alemanha ─ um programa da Rádio 4 da BBC explorou o que as autoridades podem fazer em relação ao livro, que é um dos mais famosos do mundo.

Segundo John Murphy, produtor do programa Publish or Burn ("Publicar ou queimar", em tradução livre), o livro ainda é um texto perigoso. "A história de Hitler é uma história de submestimação; e as pessoas subestimaram este livro", diz Murphy, cujo avô traduziu a primeira versão integral em inglês de Mein Kampf, em 1936.

"Há um bom motivo para se levar a obra a sério porque ela está aberta a erros de interpretação. Apesar de Hitler tê-la escrito nos anos 20, ele colocou em prática muito do que está escrito ali – se as pessoas tivessem prestado um pouco mais de atenção ao livro na época, elas talvez tivessem identificado uma ameaça", afirma Murphy.

Mein Kampf continua a ser impresso em outros países, como o Egito
Folheado a ouro

Hitler começou a escrever Mein Kampf em 1925, quando estava preso por traição à pátria, após ter participado do fracassado 'Putsch' da Cervejaria em Munique, em 1923. Ali ele expressava suas ideias racistas e antissemitas.

Quando chegou ao poder uma década depois, o livro tornou-se um texto fundamental para os nazistas, com 12 milhões de cópias impressas. Era um presente que o governo dava a casais recém-casados, enquanto os principais membros do partido exibiam em suas casas edições folheadas a ouro.

No fim da Segunda Guerra Mundial, quando o Exército americano assumiu o controle da editora nazista Eher Verlag, os direitos autorais de Mein Kampf passaram para as autoridades da Baviera. Elas garantiram que o livro só fosse reimpresso na Alemanha sob circunstâncias especiais.

Mas a proximidade da expiração dos direitos autorais em dezembro de 2015 deu início a um debate acirrado sobre como conter uma possível onda de publicações da obra.

'Auto-ajuda'

Alguns questionam se alguém realmente teria interesse em reeditar a obra. Segundo a revista New Yorker, o livro "é cheio de frases empoladas e de difícil compreensão, com minúcias históricas e linhas ideológicas emaranhadas". "Tanto os neonazistas quanto os historiadores sérios tendem a evitá-lo", diz a revista.

Mesmo assim, a obra se tornou popular na Índia entre políticos hindus de inclinação nacionalista. "Ele é considerado um livro de auto-ajuda bastante significativo", afirmou à Rádio 4 Atrayee Sen, professor de religião contemporânea e conflito na Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha.

"Se você remover o elemento do antissemitismo, o que se tem é um texto sobre um homem de baixa estatura que estava na cadeia, que sonhava em conquistar o mundo, e que saiu dali para fazer isso".

Mas a remoção do contexto é uma das preocupações daqueles que se opõem à reimpressão da obra.

Ludwig Unger, porta-voz da secretaria de Educação e Cultura da Baviera, disse à BBC: "O resultado desse livro foi milhões de pessoas mortas, milhões de pessoas sofrendo maus tratos, e áreas inteiras destruídas pela guerra. É importante ter isso sempre em mente. E você pode fazer isso quando lê algumas passagens de Mein Kampf junto com comentários críticos adequados".

Quando a obra se tornar de domínio público, o Instituto de História Contemporânea de Munique planeja publicar uma nova edição de Mein Kampf que combina o texto original com comentários que evidenciam omissões e distorções da verdade.

Algumas vítimas do nazismo são contra essa abordagem, e o governo da Baviera retirou o apoio ao instituto depois de receber críticas de sobreviventes do Holocausto.

Incitação ao racismo

Ainda assim, suprimir o livro pode não ser a melhor tática.

Um editorial no jornal americano The New York Times recentemente argumentou: "A inoculação da geração mais jovem contra o bacilo nazista será mais eficiente com a confrontação aberta às palavras de Hitler do que manter seu panfleto revoltado nas sombras da ilegalidade".

Murphy reconhece que uma proibição mundial ao livro é impossível. "Isso está relacionado com a vontade das autoridades da Baviera de fazer valer sua opinião, mais do que simplesmente ter o controle sobre a obra. Eles têm que tomar uma posição, mesmo se no mundo moderno ela não vai evitar que as pessoas tenham acesso ao texto", afirma o produtor.

Quando a proteção dos direitos autorais expirar, o Estado planeja iniciar processos contra a obra usando a lei contra a incitação ao ódio racial. "Do nosso ponto de vista, a ideologia de Hitler corresponde à definição de incitação", diz Ludwig Unger. "É um livro perigoso se cair em mãos erradas".

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/02/150204_vert_cul_mein_kampf_ml

Tem mais matérias anteriores sobre a reimpressão do livro no Holocausto Doc. :

"Mein Kampf" de Hitler será reeditado na Alemanha
"Mein Kampf", de Hitler, volta às bancas da Alemanha

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

'Contador de Auschwitz' será julgado na Alemanha


Oskar Groning,

Oskar Groning, de 93 anos, deve ser um dos últimos nazistas a se sentar no banco dos réus na Alemanha

Um ex-cabo(SS - Rottenführer) do campo de extermínio de Auschwitz, nonagenário, será julgado na Alemanha a partir de 21 de abril por cumplicidade no assassinato de 300 mil pessoas, anunciou nesta segunda-feira (2) um tribunal.

Oskar Groning, de 93 anos, deve ser um dos últimos nazistas a se sentar no banco dos réus na Alemanha. Foi o "contador de Auschwitz" entre 16 de maio de 1944 e 11 de julho de 1944, segundo o comunicado do tribunal.

Durante este período, 425.000 pessoas foram deportadas a este campo nazista situado na atual Polônia, 300.000 das quais morreram nas câmaras de gás.

Cinquenta e cinco pessoas, sobretudo sobreviventes e familiares das vítimas, formarão a acusação popular no julgamento, que será realizado em um tribunal de Luneburgo, ao sul de Hamburgo.

Groning, que era membro das Waffen SS, se encarregava de contar o dinheiro encontrado nas malas dos prisioneiros e transferi-lo às autoridades nazistas de Berlim, segundo o Ministério Público de Hannover (norte).

O acusado também se desfazia dos pertences dos prisioneiros para que não fossem vistos pelos recém chegados, indicou a mesma fonte.

Segundo a acusação, era consciente de que os prisioneiros declarados inaptos para o trabalho "eram assassinados diretamente após sua chegada nas câmaras de gás de Auschwitz".

Em 2005, Oskar Gröning indicou ao jornal Bild que se arrependia de ter trabalhado no campo de extermínio, declarando que ainda ouvia os gritos provenientes das câmaras de gás.

Fonte:http://correio.rac.com.br/_conteudo/2015/02/capa/mundo/238383-contador-de-auschwitz-sera-julgado-na-alemanha.html

OBSERVAÇÃO:
Oskar Groening era um SS-Unterscharführer, equivalente a 3º Sargento.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Morreu Martin Gilbert, biógrafo de Churchill

Historiador escreveu vários volumes sobre o Holocausto, a I e II guerras mundiais e o século XX.

Martin Gilbert, biógrafo do primeiro-ministro britânico Winston Churchill, historiador do Holocausto e membro da comissão de inquérito sobre a guerra no Iraque, morreu na noite de terça-feira, aos 78 anos, anunciou esta quarta-feira John Chilcot, presidente deste organismo do Parlamento britânico.

Martin Gilbert “morreu tranquilamente”, após “uma longa e grave doença”, precisou John Chilcot, descrevendo-o como “um historiador extraordinariamente importante”, de cuja “sabedoria e perspicácia” o inquérito beneficiou, e transmitindo as suas “condolências pessoais” à família.

John Chilcot informou os membros do Parlamento britânico da morte de Sir Martin Gilbert (nascido em Londres em 1936), ao comparecer perante uma comissão da Câmara dos Comuns, à qual foi chamado para explicar o atraso na divulgação do relatório oficial do inquérito.

O Fundo de Educação sobre o Holocausto também reagiu à morte de Martin Gilbert com uma mensagem inserida na rede social Twitter: “Muito triste por saber da morte de Sir Martin Gilbert, destacado historiador do Holocausto e nosso grande amigo. Os nossos pensamentos estão com a sua família”.

Além de ter sido o biógrafo oficial de Churchill, cuja última versão foi publicada em oito volumes, Martin Gilbert escreveu perto de uma centena de livros de História, com destaque para a primeira e segunda guerras mundiais, o Holocausto, o Judaísmo e a História de Israel – títulos disponíveis em português em sucessivas publicações da Bertrand, Dom Quixote, Alêtheia e Edições 70.

No obituário que dedica ao historiador no jornal The Guardian, Richard Gott, que o conhecia desde o final dos anos 50, diz que ele era “um assumido sionista, embora fosse hoje bastante crítico do poder em Israel e do domínio do partido Likud”.

O interesse de Martin Gilbert pela biografia de Churchill surgiu em 1962, quando, enquanto investigador da Universidade de Oxford, iniciou o seu trabalho sobre a vida do chefe do governo britânico no tempo da guerra.

Este trabalho respondeu a um desafio do filho de Churchill, Randolph, que um ano depois de ter sido nomeado investigador júnior na Merton College, naquela Universidade, convidou Martin Gilbert a juntar-se à sua equipa para a pesquisa da biografia do ex-primeiro ministro britânico.

Após a morte de Churchill, em 1965, e de novo com a aprovação de Randolph, Martin Gilbert escreveu a sua primeira obra sobre o antigo líder: um só volume intitulado Winston Churchill, que foi publicado em 1966.

Dois anos depois, após a morte de Randolph, Gilbert foi convidado para retomar o seu trabalho e completar a biografia de Churchill, incluindo na obra vários documentos, o que o levou a publicá-la em diversos volumes ao longo dos 20 anos seguintes.

Apesar deste aturado trabalho sobre o líder britânico, foi o livro que Martin Gilbert dedicou ao Holocausto, ao longo de oito volumes, que viria a desencadear “de longe a maior correspondência e contacto com pessoas que, de outro modo, nunca teria conhecido”, disse o próprio historiador – agora citado no obituário da agência Associated Press –, acrescentando que tal lhe deu material e ideias que ele integraria em posteriores obras relacionadas com aquele tema.

“A minha preocupação sempre foi escrever História a partir de uma perspectiva humana, nunca esquecendo o chamado cidadão comum”, disse também Martin Gilbert, ainda citado pela AP.

Em 1990 e 1995, Martin Gilbert foi distinguido pela rainha Isabel II sucessivamente com os títulos de Comandante e Cavaleiro da Ordem do Império Britânico.

Fonte: http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/morreu-martin-gilbert-biografo-de-churchill-1685021

Segue uma lista de livros traduzidos para o português:
O Holocausto – Uma História dos Judeus da Europa durante a Segunda Guerra Mundial
A Segunda Guerra Mundial- os 2, 174 Dias Que Mudaram o Mundo
Winston Churchill – Uma Vida
História de Israel
A Primeira Guerra Mundial
História do Século XX
Os 500 anos de História e Fé do Povo Judeu
A Noite de Cristal

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Mussolini temia efeitos da ganância nazi na Grécia


Um olhar pelo diário pessoal de Galeazzo Ciano, ministro dos Negócios Estrangeiros da Itália fascista e genro de Benito Mussolini, mostra-nos os pontos de contacto entre a Grécia da Segunda Guerra Mundial e a crise que o país vive actualmente. Patrick Cockburn destaca no jornal britânico The Independent as frases retiradas dos diários de Ciano, que datam dos anos da Segunda Guerra Mundial.

No artigo de opinião, o especialista britânico critica duramente a atuação do FMI e da União Europeia e as políticas de austeridade, argumentando que a situação atual da Grécia e a tensão vivida entre os responsáveis gregos e os credores internacionais apresenta curiosas semelhanças com o país ocupado pelas forças do Eixo.

Os avisos e a pressão sobre o ‘Duce’


Em outubro de 1940, Mussolini já ocupava a Albânia desde 1939 e vinha a pressionar constantemente a fronteira do país com a Grécia. Aliada às pretensões imperialistas e a vontade de afirmação no Mediterrâneo do regime fascista italiano estava a constante pressão de Adolf Hitler sobre o duce.

Mussolini, por sua vez, lidava com grandes perdas nos territórios do norte de África e precisava de se reafirmar enquanto potência do Eixo e sair da sombra do Führer.

Apesar dos avisos e ultimatos deixados, a invasão acabou mesmo por acontecer, a 28 de outubro de 1940. As tropas gregas ainda impuseram importantes perdas aos homens de Mussolini, mas o exército helénico acabaria por cair a 6 de abril de 1941 frente às forças italianas e alemãs.

No sucessivo, a Wehrmacht defrontou-se na Grécia com os problemas habituais de qualquer ocupação em larga escala e por um período considerável, tendo tentado resolvê-los por meio de uma expropriação sistemática da população que passara a encontrar-se sob o seu controlo.

Mussolini receava, no entanto, que essa expropriação sistemática acabasse por tornar-se contraproducente e manifestou mesmo o temor de que a "estupidez política dos alemães" na Grécia pudesse tornar-se o princípio do fim e o prenúncio da derrota de ambas, Alemanha e Itália, na Segunda Guerra Mundial.

As frases são retiradas do livro “The Ciano Diaries, 1937-1943”, publicado em 1945 (sem edição em Portugal), e alertam para o desastre económico e social do país ao fim de dois anos de ocupação.

6 de Outubro de 1942:

«Clodius (director ministerial no III Reich) encontra-se em Roma para discutir a questão financeira da Grécia, que é muito má. Se continuar a este ritmo, resultará numa inflação sensacional e inevitável, com todas as suas consequências.»

8 de Outubro de 1942: (Ciano reescreve uma das respostas de Mussolini após ter exposto as suas preocupações quanto à questão grega)

«“Se perdermos esta guerra, será devido à estupidez política dos alemães, que nem sequer tentaram usar o senso comum, e transformaram a Europa num quente e traiçoeiro vulcão”.

Ele (Mussolini) pretende falar com Himmler sobre esta questão, mas não vai chegar a lado algum.»
 
 Fonte: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=801504&tm=4&layout=121&visual=49