Livro sobre história da grife revela
que trabalhadores foram obrigados a fabricar uniformes para o regime de
Hitler. Empresa diz que financiou pesquisa para ter mais clareza sobre
seu passado.
Hugo Boss era conhecido como 'alfaiate de Hitler' |
Sinônimo de moda e elegância, a grife mundialmente famosa Hugo Boss desculpou-se por ter maltratado pessoas que trabalhavam forçadamente na fábrica de uniformes nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
O pedido de desculpas foi divulgado na última quinta-feira (22/09) após revelações feitas no livro Hugo Boss, 1924-1945 – Eine Kleiderfabrik zwischen Weimarer Republik und "Drittem Reich" (Uma Fábrica de Roupas entre a República de Weimar e o Terceiro Reich), financiado pela companhia, que conta a história da empresa e sua relação com o regime nacional-socialista.
De acordo com o pesquisador Roman Köster, autor do livro, a confecção
de Hugo Ferdinand Boss, que funcionava na cidade de Metzingen, sul da
Alemanha, empregava mão de obra forçada durante a guerra.
A firma Hugo Boss, que já foi chamada de "alfaiate de Hitler", afirma
que financiou a pesquisa de Köster com o intuito de acrescentar
"clareza e objetividade" às discussões sobre sua história.
"A empresa também lamenta profundamente por aqueles que sofreram
ofensas e passaram por dificuldades na fábrica dirigida por Hugo
Ferdinand Boss sob o jugo do nazismo", afirma a marca em sua página na
internet.
Boss Nazista
Boss entrou para o Partido Nacional Socialista em 1931, quando a empresa começou a sentir o impacto da crise econômica no país. A Hugo Boss escapou da falência graças à produção de uniformes para soldados alemães das forças paramilitares SA e SS, além da Juventude Hitlerista.
Como era difícil encontrar mão de obra durante a guerra, a fábrica se
beneficiou de 140 trabalhadores forçados – a maioria deles, mulheres.
Outros 40 prisioneiros de guerra franceses trabalharam para a Hugo
Boss entre 1940 e 1941.
"O fato de se tornar membro do partido em 1931 certamente não o
incomodou, mas se você olhar para o resto da carreira de Boss, aí fica
claro que ele não entrou para o partido apenas por causa de cálculos
financeiros. É possível ver claramente que ele era um nazista convicto",
afirma Köster, que realizou pesquisas sobre a vida de Hugo Boss na
Universidade das Forças Armadas Alemãs em Munique.
Hugo Boss começou sua carreira como um simples alfaiate. Após a
Primeira Grande Guerra, aos 33 anos de idade, ele fundou sua própria
confecção em Metzingen. Nesta época, a produção contava apenas com 30
funcionários e tinha um relativo êxito – longe do atual sucesso
internacional da grife, que veio a ser alcançado anos mais tarde.
De início, paralelamente à fabricação de uniformes, que era
compartilhada com outras alfaiatarias, a Hugo Boss também produzia
roupas normais para trabalhadores e camisas. Em 1938, conta Köster, a
situação mudou com o reinício do recrutamento militar na Alemanha. O
foco passou a ser exclusivamente a confecção de uniformes para as forças
nazistas. A empresa chegou a contar com 300 funcionários nesta época.
Outros passados
A Hugo Boss não é a única empresa a encomendar estudos independentes
para resgatar os laços com o nazismo no passado. Este ano, a Quandts,
família de industriais e acionista majoritária da BMW, quebrou seu
silêncio. Ela admitiu ter feito uso de milhares de trabalhadores
forçados e de terem fechado vários negócios com o governo nazista.
Em 1999, o Deutsche Bank encomendou uma investigação interna sobre as
práticas de empréstimo da companhia durante o período nazista. Foi
revelado que créditos do banco foram usados para erguer o campo de
concentração de Auschwitz.
O Ministério alemão de Assuntos Estrangeiros também fez uma busca
sobre seu passado e descobriu que muitos de seus diplomatas dos anos
1950 e 1960 tiveram passado nazista.
Segundo estudos, cerca de 90% das empresas alemãs se beneficiaram do
trabalho escravo ou semiescravo durante a Segunda Guerra Mundial.
Calcula-se que no final de 1944 havia, em toda a Alemanha, 7,7 milhões
de trabalhadores forçados em todo o país.
Para compensar as vítimas, o governo alemão estabeleceu um fundo de
reparação no final dos anos 1990. Empresas com passado
nazista disponibilizaram recursos para o fundo, entre elas a Hugo Boss.
Fabricação de ternos
Durante o período de desnazificação, com o fim do regime, em 1945,
Boss foi considerado como "reponsável". Apesar disso, ele foi autorizado
a continuar tocando sua fábrica, afirma o estudo de Köster.
Boss não viveu tempo suficiente para ver sua empresa virar uma grife
mundialmente famosa. Ele morreu em 1948 em Metzingen, sua cidade natal.
Gerenciada pelos filhos, a Hugo Boss, passou a se dedicar à produção de
ternos bem cortados, pelos quais atualmente é conhecida. Há alguns anos a
empresa foi vendida e seus atuais donos não têm mais relação com a
família Boss.
Autores: Friedel Taube / Mariana Santos
Revisão: Carlos Albuquerque
Revisão: Carlos Albuquerque
Fonte: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,15415050,00.html