sábado, 26 de dezembro de 2015

Feliz Natal e prospero Ano Novo

Soldado francês.

Feliz Natal atrasado e Prospero Ano Novo a todos.


Ano complicado novamente, mas bola pra frente que em breve melhora.

Daniel Moratori

domingo, 13 de setembro de 2015

"Ex-Skinhead" é acusado de matar tia e esquartejar o corpo


Guilherme Lozano Oliveira, vulgo Treze.
Fichado na polícia como skinhead e neonazista, o lutador de jiu-jítsu Guilherme Lozano Oliveira, de 22 anos, matou a tia Kely Cristina de Oliveira com um golpe chamado mata-leão - o braço em torno ao pescoço imobiliza e sufoca a vítima. Depois, esquartejou a mulher de 44 anos, retirou as prateleiras da geladeira e lá escondeu o corpo. Tudo isso há dois meses. Só na quarta-feira, 5, seu pai desconfiou do sumiço da irmã e chamou a polícia. Guilherme ainda tentou fugir, mas acabou preso.

Aos policiais militares que o detiveram, o acusado confessou o crime. "Estou arrependido", disse. A Justiça decretou sua prisão por homicídio, por ocultação de cadáver e por desobediência, em razão da fuga.

Não foi a primeira vez que o lutador foi parar na cadeia. Ele passou oito meses atrás das grades em 2011, depois de participar de uma emboscada de skinheads contra punks e de matar a facadas um dos rivais: Johni Raoni Galanciak. O crime aconteceu na frente do Carioca Club, em Pinheiros, zona oeste . Acabou solto pela Justiça. Condenado a 15 anos, apelou da sentença e aguardava o julgamento do recurso em liberdade.

Na quarta-feira, 5, o pai do rapaz, o aposentado Marco Antonio de Oliveira, de 48 anos, foi ao apartamento em que o filho vivia com a tia. Queria notícias da irmã. Como o jovem não soube explicar o sumiço de Kely, o pai decidiu chamar a polícia. Atendendo à denúncia, os homens da 3ª Companhia do 5º Batalhão da Polícia Militar foram ao apartamento do acusado. Ao notar a aproximação dos PMs, o lutador entrou em seu Escort preto, que tem nas portas uma cruz de ferro - símbolo militar alemão - e acelerou. Ele dirigiu o carro em alta velocidade até bater em um poste da esquina das Avenidas Julio Buono e Major Dantas Cortes, na Vila Gustavo, na zona norte. Eram 22 horas.


Nervoso

Preso, foi levado primeiramente para o 73º Distrito Policial e, depois, para o 39º DP. Ao delegado Milton Gomes de Oliveira, assistente do 39º DP, Lozano disse que a tia era "bipolar" e "tinha ataques nervosos". Em um desses episódios, ocorrido havia dois meses, ele afirmou que tentou controlá-la, aplicando um golpe em seu pescoço, que a matou.

O acusado disse ao delegado que usou "força desproporcional" - além de lutador, o rapaz tem 1,90 metro de altura. O lutador contou que, após perceber que a mulher havia morrido, pensou em ligar para a polícia, mas ficou assustado. Disse que saiu de casa, ingeriu bebida alcoólica, até que teve a ideia, no mesmo dia, de ocultar o corpo. Ele afirmou ter usado um facão que tinha em casa para separar a cabeça e os membros do tronco da tia. O objeto, contou, foi descartado mais tarde em uma estrada.

Em seguida, removeu as prateleiras da geladeira para guardar todas as partes. A ideia era levá-las, peça por peça, a um sítio da família em Itapevi, na região metropolitana. Só os braços foram levados e, segundo ele, enterrados em um sítio que pertenceu à família dele.

Tatuagens das runas das SS
Peritos foram ao apartamento na Vila Gustavo e acharam os restos da mulher em sacos plásticos na geladeira. O tronco estava em uma mala. Foi solicitada perícia no local e no Escort. À tarde, os investigadores foram a Itapevi tentar achar os braços no sítio, sem sucesso.

De acordo com o delegado assistente Fábio Martin, que acompanhou a busca, os braços não foram encontrados na mata apontada pelo criminoso, mas a suspeita é de que tenham sido levados por algum animal. "Acreditamos que lá era o local, uma mata fechada. Ele está colaborando com as investigações." O delegado Martin contou que o rapaz confessou ter levado só os braços porque era mais fácil de carregar.

Desemprego

De acordo com a polícia, Guilherme estava desempregado, não tinha renda e morava de favor com a tia. Além disso, afirmou ter deixado de ser skinhead. Ainda segundo a polícia, o jovem admitiu que integrava um grupo neonazista em 2011. Também afirmou ter sido punk. O lutador tem tatuagens alusivas aos dois grupos, bem como a imagem de um fuzil AK-47 desenhada na testa.

Fonte:
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2015/08/07/ex-skinhead-e-acusado-de-matar-tia-e-esquartejar-o-corpo.htm


Para entender mais sobre Guilherme Lozano Oliveira:

‘Me sinto um lixo’, diz assassino confesso que esquartejou a própria tia
http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/08/me-sinto-um-lixo-diz-assassino-confesso-que-esquartejou-propria-tia.html

Ex-skinhead matou tia com golpe de jiu-jítsu e usou facão para cortar corpo:
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/08/ex-skinhead-matou-tia-com-golpe-de-jiu-jitsu-e-usou-facao-para-cortar-corpo.html

Jovem é suspeito de matar tia, cortar corpo e congelar partes em geladeira
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/08/jovem-e-suspeito-de-matar-tia-cortar-corpo-e-congelar-partes-em-geladeira.html

Entenda as tatuagens do skinhead suspeito de matar punk em SP:
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/entenda-as-tatuagens-do-skinhead-suspeito-de-matar-punk-em-sp/n1597204167319.html

Polícia prende suspeito de ter matado jovem punk durante briga
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/policia-prende-suspeito-de-ter-matado-jovem-punk-durante-briga/n1597203285933.html

Três anos depois, skinhead neonazista é condenado por assassinar punk:
http://spressosp.com.br/2014/11/06/tres-anos-depois-skinhead-neo-nazista-e-condenado-por-assassinar-punk/

Tem até o Datena(o que quer dizer que passou para um grande numero de pessoas na TV aberta também) batendo boca com ele numa comitiva a imprensa. Nem ia colocar o link aqui, mas da pra ver o depoimento do Guilherme:
http://televisao.uol.com.br/noticias/redacao/2015/08/07/datena-promove-dialogo-tenso-ao-vivo-com-acusado-de-esquartejar-tia.htm

E por final, pra quem tiver estomago pra ver o que esse pessoal é capaz, ai está o trabalho do Skinhead neonazista:
http://www.tribunadachapada.com.br/2015/08/jovem-e-preso-sob-suspeita-de.html




sexta-feira, 24 de julho de 2015

Morre Aleksander Henryk Laks, sobrevivente do Holocausto


Polonês radicado no Brasil tinha 88 anos e tratava de infecção pulmonar. Funeral será em associação israelita, na Praça da Bandeira.

Alexander Laks durante cerimônia de abertura oficial da mostra
 'Tão somente crianças: infâncias roubadas no Holocausto
Aleksander Henryk Laks, sobrevivente do holocausto, foi enterrado nesta quarta-feira (22), no Rio de Janeiro. Laks, que tinha 88 anos, tratava de uma infecção pulmonar e morreu na terça-feira (21).

“Nosso pai, sogro e avô morreu hoje (terça). Agradecemos todo o carinho de vocês ao longo desses últimos dias. As correntes positivas trouxeram paz para ele e para a família", escreveram os parentes no Facebook. 
Ainda na rede social a família pediu para ninguém levar flores ao sepultamento. 

Em entrevista ao Portal RAC, em julho de 2014, Laks mostrou que por trás dos óculos e do peso da idade, havia uma história impressionante. O polonês ficou cinco anos e meio confinado em campos de concentração em seu país, de 1940 a 19 45, período em que perdeu o pai e a mãe. Dois anos depois de resgatado começou a reconstrução de sua vida no Brasil, único país onde tinha familiares vivos.

No Brasil foi presidente da Associação Brasileira dos Israelitas Sobreviventes da Perseguição Nazista e em 2000, publicou “O Sobrevivente: Memórias de um brasileiro que escapou de Auschwitz”, biografia em que narra suas memórias dos seis anos em que viveu em campos de concentração.

Fonte: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2015/07/capa/nacional/303051-morre-aleksander-henryk-laks-sobrevivente-do-holocausto.html

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Antigo oficial* nazista é condenado a quatro anos de prisão na Alemanha


"Sinceramente me arrependo", diz Oskar Groening, de 94 anos, após ouvir seu veredito; ele é cúmplice de 300 mil homicídios

Um tribunal alemão condenou hoje um antigo oficial* do regime nazista, conhecido como "guarda-livros de Auschwitz", a quatro anos de cadeia.

Com ajuda de membro da Cruz Vermelha, o ex-guarda da SS Oskar Groening
deixa julgamento após o veredito na Alemanha. Foto:AP

Oskar Groening, de 94 anos, mostrou-se impassível enquanto o juiz, Franz Kompisch, lia o veredito: "o acusado é considerado culpado de ser cúmplice de homicídio em 300 mil casos legalmente ligados de judeus deportados que foram enviados para as câmaras de gás em 1944".

Groening serviu de "guarda-livros" no campo de extermínio da Polônia ocupada pelos nazistas, onde contava dinheiro de diferentes moedas europeias, tirado dos que foram mortos ou usados como escravos. O dinheiro era, posteriormente, enviado para os chefes nazistas, em Berlim.

A sentença foi maior do que os três anos e meio que os promotores exigiram no tribunal no norte da cidade de Luneburgo, Alemanha, que julgava o caso desde abril passado.
Groening teve, na terça-feira, a última oportunidade para declarar que estava "arrependido" e que "lamentava muito" o que houve no campo de concentração, dizendo aos juízes que "ninguém devia ter participado em Auschwitz".

"Eu sei disso. Sinceramente eu me arrependo de não ter tido essa perceção mais cedo e mais consistentemente. Estou muito arrependido", disse, com "voz vacilante".

Um grupo de sobreviventes do Holocausto declarou, em comunicado, que se congratulava "com a condenação de Oskar Groening”, classificando-a como "um passo tardio em direção à justiça".

Groening reconheceu a “culpa moral”, mas disse que só o tribunal poderia se pronunciar sobre a sua culpa legal, sete décadas após o fim do Holocausto.

Fonte:http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2015-07-15/antigo-oficial-nazista-e-condenado-a-quatro-anos-de-prisao-na-alemanha.html

* OBSERVAÇÃO:
Oskar Groening era um SS-Unterscharführer, equivalente a 3ºSargento. Não era um oficial, como diz a materia.



domingo, 5 de julho de 2015

Filme raro achado no Brasil mostra vida de judeus em campo da Bulgária



Filmagem foi feita em campo de trabalhos forçados durante a 2ª Guerra.
Família descobriu material em SP e doou a museu nos EUA; veja trechos.

Quando migrou da Bulgária para o Brasil, em 1948, Licco Haim trouxe na bagagem um material que, décadas depois, revelou-se um tesouro histórico: filmes que mostram o dia a dia de judeus em um campo de trabalhos forçados na 2ª Guerra Mundial.

Judeu nascido na Áustria, Licco morava na Bulgária, que na época era aliada da Alemanha nazista. Em 1941, foi enviado para o campo de Lakatnik, a 40 km da capital, Sófia. Lá, participou da construção de uma estrada junto com outros judeus, ciganos e minorias discriminadas. Anos depois, migrou com a família para o Brasil, onde morou por 54 anos, até sua morte.

Fã de fotografias e filmes, Licco tinha uma câmera, algo incomum na época, e com ela registrou a sua rotina e a de outros prisioneiros.

As imagens, redescobertas pela família no ano passado, mostram cenas como os presos quebrando pedras, afiando ferramentas, explodindo dinamite, pegando sua ração de comida ou fumando e escalando montanhas nos momentos de folga.

Licco Haim (de óculos) no campo de trabalhos forçados
 (Foto- USHMM / Doação de Salvator Haim)
De acordo com o Museu da Memória do Holocausto dos EUA, que recebeu os filmes como doação, a gravação tem grande valor histórico por ser uma das poucas no mundo feitas sob a ótica de um prisioneiro, e não do regime que controlava o campo.

Não se sabe como Licco conseguiu captar as imagens dentro do local. Uma das hipóteses é que os próprios guardas tenham pedido que ele levasse a câmera para filmar cerimônias oficiais e ele aproveitou a oportunidade para gravar outros momentos do cotidiano.

Após seis meses, ele foi dispensado do campo de trabalhos forçados por suas habilidades com mecânica, necessárias para o país naquela época. Sete anos depois, quando a Bulgária já era comunista, migrou para o Brasil com a família e morou em São Paulo até 2002, quando morreu.

Surpresa
Os filmes perderam qualidade e ficaram incógnitos por muito tempo, já que a família não sabia exatamente do que se tratava. “Ele trouxe para o Brasil, o que significa que dava importância ao material. Mas depois disso nunca mais deu bola e raríssimas vezes tocou no assunto”, conta seu filho, Salvator Haim.

Em 2014, quando o sobrinho dele, Ilko Minev, escreveu um romance baseado na história do tio, a família redescobriu as latas com os filmes. “Não conseguimos ver o conteúdo, porque a lâmpada do projetor queimou. Foi o que preservou, porque esses filmes antigos se desgastam cada vez que são vistos. Eles estavam dentro de uma mala e não sabíamos o que fazer com eles”, conta Ilko.

Por sugestão de um amigo, a família levou os filmes para o museu em Washington, que os recuperou, remasterizou e usou como objeto de pesquisa.

Segundo Ilko, os diretores do museu tiveram uma surpresa quando perceberam do que se tratava o material. “Foi emocionante. Não esperávamos a recepção que tivemos. Aí que nos demos conta de que nossos filmes tinham um valor extraordinário”, afirmou.

Ao G1, Lindsay Zarwell, que trabalha no Arquivo de Filmes Steven Spielberg, pertencente ao museu, afirmou que as gravações de Licco são valiosas para o acervo da instituição e para ajudar a reconstruir a história dos judeus na Bulgária.

“Filmes assim são poderosos não apenas por seu significado histórico, mas também porque chamam a atenção para a vida das pessoas comuns. É importante capturar a história de indivíduos para revelar a verdade sobre os horrores do Holocausto na esperança de um futuro mais justo”, diz.

Os filmes de Licco estão sendo incorporados a um arquivo do museu que inclui entrevistas do diretor Steven Spielberg com sobreviventes de campos de concentração e por isso foi batizado com seu nome (veja três trechos neste link)

Nazismo, comunismo e vinda ao Brasil

Licco Haim mudou-se com o pai da Áustria para a Bulgária aos 18 anos. Entendido de mecânica, prosperou no ramo automobilístico até sua empresa ser confiscada pelo governo antissemita e ele ser enviado para o campo de trabalhos forçados, como quase todos os outros homens judeus.

Graças a uma ponte que aparece nas filmagens, os familiares conseguiram localizar onde ficava o campo. A estrada construída pelos prisioneiros existe até hoje. Na Bulgária, esses campos – inicialmente administrados pelo exército do país e depois pelos alemães – não eram de extermínio, como em outros países.

“Foi um regime duro, mas a intenção não era exterminar. Era explorar, mas não matar. Por isso a Bulgária começou e terminou a guerra com o mesmo número de judeus: cerca de 50 mil”, conta Ilko, que é búlgaro e veio para o Brasil já adulto, em 1970, por perseguições políticas do regime comunista.

Depois de ser liberado do campo, Licco conseguiu recuperar a empresa, mas ela foi tomada novamente em 1948, quando a Bulgária já era comunista. “Aí ele desistiu e resolveu ir embora de lá”, conta Salvator.

Após passar pela Suíça e pela França, Licco, a mulher, a sogra e o filho (que na época tinha dois anos) pediram visto para vários países. Resolveram vir para o Brasil, onde o documento saiu primeiro. Entre sair da Bulgária e chegar ao Brasil a família levou seis meses.

Em São Paulo, Licco trabalhou em companhias de automóveis e depois fundou a própria empresa metalúrgica. Tinha vários hobbies: escalar, velejar e jogar xadrez eram alguns deles.

Ele e a mulher adoravam morar aqui. “Ai de quem falasse mal do Brasil”, afirma Salvator. "Eles se consideravam brasileiros."



Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/07/filme-raro-achado-no-brasil-mostra-vida-de-judeus-em-campo-da-bulgaria.html

terça-feira, 10 de março de 2015

Pesquisa sobre violência sexual na Segunda Guerra só está no começo

Historiadora alemã relata em livro casos de estupros de mulheres alemãs no fim da Segunda Guerra. Não só membros do Exército Vermelho cometiam crimes, como se pensa, mas também soldados aliados.
Alemãs dançam com soldados americanos no pós-guerra
No livro Als die Soldaten kamen (Quando os soldados chegaram), a historiadora alemã Miriam Gebhardt mostra que não só membros do Exército Vermelho soviético estupravam alemãs no final da Segunda Guerra Mundial, mas também soldados americanos, franceses e britânicos.

Em entrevista à Deutsche Welle, a autora conta que a forma de agir dos soviéticos era parecida com a dos militares aliados. Acima de tudo, o tema ainda é pouco pesquisado.

Deutsche Welle: Podemos falar das vítimas alemãs hoje, 70 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial? Ou o estupro das mulheres alemãs ainda é um tema tabu?

Miriam Gebhardt: Gostaria de falar menos sobre uma proibição, do que do fato de as vítimas não receberem nenhuma simpatia, nenhuma compaixão da sociedade. Acho que esse era um tema muito vergonhoso para as próprias vítimas. E, sim, também houve uma fase em que era politicamente impossível se falar de vítimas alemãs.

Em primeiro lugar, porque era importante tratar dos crimes do nacional-socialismo e da Wehrmacht e, por outro lado, devido a uma lealdade política em relação aos respectivos aliados, tanto da RFA, em relação aos aliados ocidentais, como na RDA, em relação à União Soviética.

Até hoje, o seguinte ficou gravado na memória coletiva: em primeira linha, os soldados do Exército Vermelho é que estupravam as mulheres alemãs, os soldados americanos, por sua vez, lhes davam flores e chocolates. O que há de verdade nisso?

Esta é, de fato, a grande imagem distorcida que temos hoje. Ela se baseia no fato de que as mulheres alemãs já tinham sido preparadas pela propaganda de guerra nazista, antes do fim da guerra, para serem estupradas por soldados soviéticos. Uma expectativa que então também se confirmou. Portanto já havia uma linguagem para esses crimes.

O que, no entanto, não se confirmou foi a expectativa de que os soldados aliados ocidentais não fariam uma coisa dessas. Mas também eles estupravam. Encontrei provas nesse sentido, mas só poucos testemunhos das próprias mulheres que relatassem estupros pelos soldados ocidentais.

Então, não é verdade que a maioria dos casos de estupro era cometida na zona de ocupação soviética?

É verdade, sim. Mas também tem algo a ver com o desenrolar da guerra. O que realmente foi surpreendente para mim foi ver que, estruturalmente, os estupros pelos soldados ocidentais obedeciam ao mesmo esquema. Geralmente eram antecedidos por saques: os soldados invadiam as casas e primeiro confiscavam coisas de valor, roubavam bicicletas, tomavam os relógios de civis. E em seguida se atiravam sobre as mulheres, a maioria das vezes em grupos. O procedimento em si e também a violência dos estupros, a meu ver, quase não se distinguiam entre os GIs e os soldados do Exército Vermelho.

Sua estimativa é de que 860 mil alemãs foram estupradas. É muito inferior a algumas estimativas anteriores, que falam em cerca de 2 milhões, só de violentadas pelo Exército Vermelho. Como chegou a esse número?

Havia até agora somente estimativas sobre as vítimas do Exército Vermelho, variando de 1 a 2 milhões. Esses números são baseados numa estimativa de amostragem aleatória dos registros hospitalares de um único hospital em Berlim. Eu tomei um caminho totalmente diferente: descobri quantos assim chamados besatzungskinder (filhos da ocupação) havia, pois temos números bem precisos sobre isso. Sabemos muito bem que 5% deles foram concebidos num ato de violência. Partindo-se do pressuposto um em cada dez estupros leva a uma gravidez e que um décimo delas foi levado até o fim, chegamos à seguinte conclusão: um em cada 100 estupros resultou numa criança.

Um outro preconceito diz que as principais vítimas de violência sexual eram jovens. O que há de verdade nisso?

Eu encontrei casos de meninas muito jovens que antes não eram sexualmente ativas, e para quem essa deve ter sido uma experiência terrível, mas também de mulheres mais velhas e homens e meninos. Há uma história que acho particularmente triste: uma mulher de seus 50 anos foi estuprada por cinco soldados franceses, na área de Freiburg, ficando gravemente ferida. Ela foi levada para o hospital e, mais tarde, transferida para a psiquiatria. Todas as noites ela gritava por ajuda, mas ninguém sabia o que havia com ela. Só anos depois, após uma nova internação, é que ocorreu aos médicos e psiquiatras que pudesse ser uma consequência dos estupros.

Isso quer dizer que até hoje algumas mulheres bastante idosas ainda vivem com os traumas dos estupros na guerra.

Sabemos que, de fato, algumas idosas em asilos revivem esse trauma na hora de serem lavadas pelos cuidadores. Em casos em que são tocadas por cuidadores mais rudes ou que, por exemplo, têm sotaque russo. Até agora, há pouca compreensão para esse tipo de situação nas instituições para idosos.

Havia ordens superiores para se estuprar, seja do lado russo, americano, francês ou britânico?

Não. Houve por muito tempo o boato de que havia uma incitação ao estupro no Exército Vermelho. Mas parece ter sido propaganda de guerra por parte dos alemães. O que pode ter havido foi uma espécie de propaganda de guerra entre os soviéticos, mas também entre os americanos, apresentando a mulher alemã como sexualmente mais permissiva do que as compatriotas.

Os jornais militares do Exército dos EUA gostavam de publicar fotos de mulheres beijando e abraçando os soldados americanos. Com esse troféu sexual criou-se um incentivo para os soldados atravessarem o oceano e se envolverem na guerra. Mas isso não quer dizer que o estupro fosse permitido ou mesmo ordenado.

Estupros eram punidos?

Por parte das autoridades alemãs, não havia como. Um policial alemão não podia, legalmente, prender soldados americanos nem soviéticos. Embora os próprios militares mantivessem um regime disciplinar bem severo diante de seus soldados e alguns tenham até proferido a pena de morte. Tanto no Exército Vermelho como no Exército 

Fonte: D.W.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Direitos de publicação de 'Mein Kampf' vencem em 2015: um perigo para o mundo?


"Eles queriam substituir a Bíblia". Sussurrando em uma silenciosa sala da Biblioteca Pública da Baviera, o especialista em livros raros Stephan Kellner descreve como os nazistas transformaram um calhamaço longo e praticamente incompreensível ─ parte memória, parte propaganda ─ em uma peça central da ideologia do Terceiro Reich.

No ano em que Mein Kampf (“Minha Luta”, em português), de Adolf Hitler, passa a ser uma obra de domínio público ─ o que, em tese, significa que qualquer pessoa pode publicar sua própria edição na Alemanha ─ um programa da Rádio 4 da BBC explorou o que as autoridades podem fazer em relação ao livro, que é um dos mais famosos do mundo.

Segundo John Murphy, produtor do programa Publish or Burn ("Publicar ou queimar", em tradução livre), o livro ainda é um texto perigoso. "A história de Hitler é uma história de submestimação; e as pessoas subestimaram este livro", diz Murphy, cujo avô traduziu a primeira versão integral em inglês de Mein Kampf, em 1936.

"Há um bom motivo para se levar a obra a sério porque ela está aberta a erros de interpretação. Apesar de Hitler tê-la escrito nos anos 20, ele colocou em prática muito do que está escrito ali – se as pessoas tivessem prestado um pouco mais de atenção ao livro na época, elas talvez tivessem identificado uma ameaça", afirma Murphy.

Mein Kampf continua a ser impresso em outros países, como o Egito
Folheado a ouro

Hitler começou a escrever Mein Kampf em 1925, quando estava preso por traição à pátria, após ter participado do fracassado 'Putsch' da Cervejaria em Munique, em 1923. Ali ele expressava suas ideias racistas e antissemitas.

Quando chegou ao poder uma década depois, o livro tornou-se um texto fundamental para os nazistas, com 12 milhões de cópias impressas. Era um presente que o governo dava a casais recém-casados, enquanto os principais membros do partido exibiam em suas casas edições folheadas a ouro.

No fim da Segunda Guerra Mundial, quando o Exército americano assumiu o controle da editora nazista Eher Verlag, os direitos autorais de Mein Kampf passaram para as autoridades da Baviera. Elas garantiram que o livro só fosse reimpresso na Alemanha sob circunstâncias especiais.

Mas a proximidade da expiração dos direitos autorais em dezembro de 2015 deu início a um debate acirrado sobre como conter uma possível onda de publicações da obra.

'Auto-ajuda'

Alguns questionam se alguém realmente teria interesse em reeditar a obra. Segundo a revista New Yorker, o livro "é cheio de frases empoladas e de difícil compreensão, com minúcias históricas e linhas ideológicas emaranhadas". "Tanto os neonazistas quanto os historiadores sérios tendem a evitá-lo", diz a revista.

Mesmo assim, a obra se tornou popular na Índia entre políticos hindus de inclinação nacionalista. "Ele é considerado um livro de auto-ajuda bastante significativo", afirmou à Rádio 4 Atrayee Sen, professor de religião contemporânea e conflito na Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha.

"Se você remover o elemento do antissemitismo, o que se tem é um texto sobre um homem de baixa estatura que estava na cadeia, que sonhava em conquistar o mundo, e que saiu dali para fazer isso".

Mas a remoção do contexto é uma das preocupações daqueles que se opõem à reimpressão da obra.

Ludwig Unger, porta-voz da secretaria de Educação e Cultura da Baviera, disse à BBC: "O resultado desse livro foi milhões de pessoas mortas, milhões de pessoas sofrendo maus tratos, e áreas inteiras destruídas pela guerra. É importante ter isso sempre em mente. E você pode fazer isso quando lê algumas passagens de Mein Kampf junto com comentários críticos adequados".

Quando a obra se tornar de domínio público, o Instituto de História Contemporânea de Munique planeja publicar uma nova edição de Mein Kampf que combina o texto original com comentários que evidenciam omissões e distorções da verdade.

Algumas vítimas do nazismo são contra essa abordagem, e o governo da Baviera retirou o apoio ao instituto depois de receber críticas de sobreviventes do Holocausto.

Incitação ao racismo

Ainda assim, suprimir o livro pode não ser a melhor tática.

Um editorial no jornal americano The New York Times recentemente argumentou: "A inoculação da geração mais jovem contra o bacilo nazista será mais eficiente com a confrontação aberta às palavras de Hitler do que manter seu panfleto revoltado nas sombras da ilegalidade".

Murphy reconhece que uma proibição mundial ao livro é impossível. "Isso está relacionado com a vontade das autoridades da Baviera de fazer valer sua opinião, mais do que simplesmente ter o controle sobre a obra. Eles têm que tomar uma posição, mesmo se no mundo moderno ela não vai evitar que as pessoas tenham acesso ao texto", afirma o produtor.

Quando a proteção dos direitos autorais expirar, o Estado planeja iniciar processos contra a obra usando a lei contra a incitação ao ódio racial. "Do nosso ponto de vista, a ideologia de Hitler corresponde à definição de incitação", diz Ludwig Unger. "É um livro perigoso se cair em mãos erradas".

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/02/150204_vert_cul_mein_kampf_ml

Tem mais matérias anteriores sobre a reimpressão do livro no Holocausto Doc. :

"Mein Kampf" de Hitler será reeditado na Alemanha
"Mein Kampf", de Hitler, volta às bancas da Alemanha

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

'Contador de Auschwitz' será julgado na Alemanha


Oskar Groning,

Oskar Groning, de 93 anos, deve ser um dos últimos nazistas a se sentar no banco dos réus na Alemanha

Um ex-cabo(SS - Rottenführer) do campo de extermínio de Auschwitz, nonagenário, será julgado na Alemanha a partir de 21 de abril por cumplicidade no assassinato de 300 mil pessoas, anunciou nesta segunda-feira (2) um tribunal.

Oskar Groning, de 93 anos, deve ser um dos últimos nazistas a se sentar no banco dos réus na Alemanha. Foi o "contador de Auschwitz" entre 16 de maio de 1944 e 11 de julho de 1944, segundo o comunicado do tribunal.

Durante este período, 425.000 pessoas foram deportadas a este campo nazista situado na atual Polônia, 300.000 das quais morreram nas câmaras de gás.

Cinquenta e cinco pessoas, sobretudo sobreviventes e familiares das vítimas, formarão a acusação popular no julgamento, que será realizado em um tribunal de Luneburgo, ao sul de Hamburgo.

Groning, que era membro das Waffen SS, se encarregava de contar o dinheiro encontrado nas malas dos prisioneiros e transferi-lo às autoridades nazistas de Berlim, segundo o Ministério Público de Hannover (norte).

O acusado também se desfazia dos pertences dos prisioneiros para que não fossem vistos pelos recém chegados, indicou a mesma fonte.

Segundo a acusação, era consciente de que os prisioneiros declarados inaptos para o trabalho "eram assassinados diretamente após sua chegada nas câmaras de gás de Auschwitz".

Em 2005, Oskar Gröning indicou ao jornal Bild que se arrependia de ter trabalhado no campo de extermínio, declarando que ainda ouvia os gritos provenientes das câmaras de gás.

Fonte:http://correio.rac.com.br/_conteudo/2015/02/capa/mundo/238383-contador-de-auschwitz-sera-julgado-na-alemanha.html

OBSERVAÇÃO:
Oskar Groening era um SS-Unterscharführer, equivalente a 3º Sargento.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Morreu Martin Gilbert, biógrafo de Churchill

Historiador escreveu vários volumes sobre o Holocausto, a I e II guerras mundiais e o século XX.

Martin Gilbert, biógrafo do primeiro-ministro britânico Winston Churchill, historiador do Holocausto e membro da comissão de inquérito sobre a guerra no Iraque, morreu na noite de terça-feira, aos 78 anos, anunciou esta quarta-feira John Chilcot, presidente deste organismo do Parlamento britânico.

Martin Gilbert “morreu tranquilamente”, após “uma longa e grave doença”, precisou John Chilcot, descrevendo-o como “um historiador extraordinariamente importante”, de cuja “sabedoria e perspicácia” o inquérito beneficiou, e transmitindo as suas “condolências pessoais” à família.

John Chilcot informou os membros do Parlamento britânico da morte de Sir Martin Gilbert (nascido em Londres em 1936), ao comparecer perante uma comissão da Câmara dos Comuns, à qual foi chamado para explicar o atraso na divulgação do relatório oficial do inquérito.

O Fundo de Educação sobre o Holocausto também reagiu à morte de Martin Gilbert com uma mensagem inserida na rede social Twitter: “Muito triste por saber da morte de Sir Martin Gilbert, destacado historiador do Holocausto e nosso grande amigo. Os nossos pensamentos estão com a sua família”.

Além de ter sido o biógrafo oficial de Churchill, cuja última versão foi publicada em oito volumes, Martin Gilbert escreveu perto de uma centena de livros de História, com destaque para a primeira e segunda guerras mundiais, o Holocausto, o Judaísmo e a História de Israel – títulos disponíveis em português em sucessivas publicações da Bertrand, Dom Quixote, Alêtheia e Edições 70.

No obituário que dedica ao historiador no jornal The Guardian, Richard Gott, que o conhecia desde o final dos anos 50, diz que ele era “um assumido sionista, embora fosse hoje bastante crítico do poder em Israel e do domínio do partido Likud”.

O interesse de Martin Gilbert pela biografia de Churchill surgiu em 1962, quando, enquanto investigador da Universidade de Oxford, iniciou o seu trabalho sobre a vida do chefe do governo britânico no tempo da guerra.

Este trabalho respondeu a um desafio do filho de Churchill, Randolph, que um ano depois de ter sido nomeado investigador júnior na Merton College, naquela Universidade, convidou Martin Gilbert a juntar-se à sua equipa para a pesquisa da biografia do ex-primeiro ministro britânico.

Após a morte de Churchill, em 1965, e de novo com a aprovação de Randolph, Martin Gilbert escreveu a sua primeira obra sobre o antigo líder: um só volume intitulado Winston Churchill, que foi publicado em 1966.

Dois anos depois, após a morte de Randolph, Gilbert foi convidado para retomar o seu trabalho e completar a biografia de Churchill, incluindo na obra vários documentos, o que o levou a publicá-la em diversos volumes ao longo dos 20 anos seguintes.

Apesar deste aturado trabalho sobre o líder britânico, foi o livro que Martin Gilbert dedicou ao Holocausto, ao longo de oito volumes, que viria a desencadear “de longe a maior correspondência e contacto com pessoas que, de outro modo, nunca teria conhecido”, disse o próprio historiador – agora citado no obituário da agência Associated Press –, acrescentando que tal lhe deu material e ideias que ele integraria em posteriores obras relacionadas com aquele tema.

“A minha preocupação sempre foi escrever História a partir de uma perspectiva humana, nunca esquecendo o chamado cidadão comum”, disse também Martin Gilbert, ainda citado pela AP.

Em 1990 e 1995, Martin Gilbert foi distinguido pela rainha Isabel II sucessivamente com os títulos de Comandante e Cavaleiro da Ordem do Império Britânico.

Fonte: http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/morreu-martin-gilbert-biografo-de-churchill-1685021

Segue uma lista de livros traduzidos para o português:
O Holocausto – Uma História dos Judeus da Europa durante a Segunda Guerra Mundial
A Segunda Guerra Mundial- os 2, 174 Dias Que Mudaram o Mundo
Winston Churchill – Uma Vida
História de Israel
A Primeira Guerra Mundial
História do Século XX
Os 500 anos de História e Fé do Povo Judeu
A Noite de Cristal

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Mussolini temia efeitos da ganância nazi na Grécia


Um olhar pelo diário pessoal de Galeazzo Ciano, ministro dos Negócios Estrangeiros da Itália fascista e genro de Benito Mussolini, mostra-nos os pontos de contacto entre a Grécia da Segunda Guerra Mundial e a crise que o país vive actualmente. Patrick Cockburn destaca no jornal britânico The Independent as frases retiradas dos diários de Ciano, que datam dos anos da Segunda Guerra Mundial.

No artigo de opinião, o especialista britânico critica duramente a atuação do FMI e da União Europeia e as políticas de austeridade, argumentando que a situação atual da Grécia e a tensão vivida entre os responsáveis gregos e os credores internacionais apresenta curiosas semelhanças com o país ocupado pelas forças do Eixo.

Os avisos e a pressão sobre o ‘Duce’


Em outubro de 1940, Mussolini já ocupava a Albânia desde 1939 e vinha a pressionar constantemente a fronteira do país com a Grécia. Aliada às pretensões imperialistas e a vontade de afirmação no Mediterrâneo do regime fascista italiano estava a constante pressão de Adolf Hitler sobre o duce.

Mussolini, por sua vez, lidava com grandes perdas nos territórios do norte de África e precisava de se reafirmar enquanto potência do Eixo e sair da sombra do Führer.

Apesar dos avisos e ultimatos deixados, a invasão acabou mesmo por acontecer, a 28 de outubro de 1940. As tropas gregas ainda impuseram importantes perdas aos homens de Mussolini, mas o exército helénico acabaria por cair a 6 de abril de 1941 frente às forças italianas e alemãs.

No sucessivo, a Wehrmacht defrontou-se na Grécia com os problemas habituais de qualquer ocupação em larga escala e por um período considerável, tendo tentado resolvê-los por meio de uma expropriação sistemática da população que passara a encontrar-se sob o seu controlo.

Mussolini receava, no entanto, que essa expropriação sistemática acabasse por tornar-se contraproducente e manifestou mesmo o temor de que a "estupidez política dos alemães" na Grécia pudesse tornar-se o princípio do fim e o prenúncio da derrota de ambas, Alemanha e Itália, na Segunda Guerra Mundial.

As frases são retiradas do livro “The Ciano Diaries, 1937-1943”, publicado em 1945 (sem edição em Portugal), e alertam para o desastre económico e social do país ao fim de dois anos de ocupação.

6 de Outubro de 1942:

«Clodius (director ministerial no III Reich) encontra-se em Roma para discutir a questão financeira da Grécia, que é muito má. Se continuar a este ritmo, resultará numa inflação sensacional e inevitável, com todas as suas consequências.»

8 de Outubro de 1942: (Ciano reescreve uma das respostas de Mussolini após ter exposto as suas preocupações quanto à questão grega)

«“Se perdermos esta guerra, será devido à estupidez política dos alemães, que nem sequer tentaram usar o senso comum, e transformaram a Europa num quente e traiçoeiro vulcão”.

Ele (Mussolini) pretende falar com Himmler sobre esta questão, mas não vai chegar a lado algum.»
 
 Fonte: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=801504&tm=4&layout=121&visual=49

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Auschwitz sintetiza horror do Holocausto em uma palavra


Uma Alemanha onde não haja a lembrança do Holocausto é hoje inconcebível. Mas nem sempre foi assim: décadas se passaram até que as imagens das atrocidades nazistas entrassem na memória coletiva da nação.

Soldados soviéticos retiram um jovem de 15 anos do campo de concentração de Auschwitz, em 1945

Às vezes basta uma palavra e tudo está dito. Auschwitz incorpora todo o Holocausto, os 6 milhões de judeus mortos, os milhões de seres humanos brutalmente assassinados pelos nazistas entre 1933 e 1945.

Também se poderia dizer: basta uma imagem, e o horror está de novo presente: o portão do campo de extermínio Auschwitz-Birkenau, diante dele, os trilhos ferroviários. A memória coletiva completa o quadro: os trens – sim, vagões de gado – cheios de gente, de crianças, de mulheres, de homens jovens e anciãos, chegando após dias, por vezes semanas de viagem, sem comida nem água. Nos olhos, ainda um vislumbre de esperança.

Esquerda ou direita


A maioria dessas pessoas sabia que a morte as esperava em Auschwitz. Não raramente, ela já se anunciava na plataforma entre os trilhos duplos, a assim chamada "rampa", na figura do médico do campo, Josef Mengele – mais um nome que desencadeia associações imediatas.

A sobrevivente Esther Bejarano, de 90 anos, recorda: "O Dr. Mengele ficava na nossa frente e aí fazia um gesto de mão, apontando com o polegar para um lado ou para o outro. Para a esquerda, a pessoa ainda tinha um prazo antes da execução; para a direita, queria dizer: 'Você vai para a câmara de gás.'"

Mais de 1 milhão de pessoas foram mortas nesse campo de concentração, hoje em território polonês. Cerca de 90% eram judeus, empurrados para as câmaras de gás logo após a chegada. Mas também poloneses, nômades das etnias sinto e rom, homens, mulheres e crianças de toda a Europa.

Memória mantida viva

Mas não se assassinava apenas em Auschwitz: também Majdanek, Treblinka, Belzec e Sobibor eram campos de extermínio, onde se matava com a eficiência e simplicidade de uma linha de montagem numa fábrica.

E, também em Ravensbrück, Dachau, Buchenwald, Mauthausen e muitos outros campos, os detidos morriam sistematicamente, quer em decorrência do trabalho excessivo ou das torturas, quer por fome ou fuzilamento. Isso sem falar nas execuções em massa, como na ravina Babi Yar, em Kiev, ou no bosque de Paneriai, próximo a Vilnius.

Ainda assim, Auschwitz simboliza todos esses lugares, pois lá o homicídio industrializado dos nazistas atingiu o seu ápice. Em nenhum outro lugar tantos foram assassinados em tão pouco tempo e de forma tão pérfida. Dos crematórios, a fumaça subia dia e noite: depois de uma morte horrenda, por sufocamento com o gás tóxico Zyklon B, os corpos eram incinerados.

Também essa é uma das imagens que nunca sairão da mente de Esther Bejarano, testemunha ocular das atrocidades de Auschwitz. E que ela não deixará que se extingam: assim como muitos outros sobreviventes do Holocausto, ela não se cansa de relatar os crimes que presenciou, em escolas e talk-shows. No início de 2015, um grupo deles foi recebido pelo papa Francisco no Vaticano.

Judeus húngaros aguardam transporte para campo de concentração em 1944
Anos de "esquecimento"

Mas nem sempre os sobreviventes do Holocausto mereceram tanta atenção. Em seguida à Segunda Guerra Mundial, ninguém na Alemanha queria admitir ter escutado ou visto qualquer coisa, nem ter sentido algum cheiro fora do comum.

Nem mesmo os que moravam a apenas poucos minutos a pé do campo de Bergen-Belsen, na região de Hannover. Mas o Exército do Reino Unido os fez visitarem o campo de concentração, após a libertação, para que vissem com os próprios olhos os montes de cadáveres e os prisioneiros subnutridos, antes esqueletos do que seres vivos.

Os britânicos filmaram o local, com a intenção de produzir um grande documentário, que também incluiria imagens feitas pelos militares russos depois de libertar Auschwitz. O famoso cineasta Alfred Hitchcock foi encarregado de examinar o material e começou a trabalhar com ele.

Mas, naquele início de Guerra Fria, os aliados britânicos e americanos preferiram não confrontar excessivamente os alemães com sua culpa, e o projeto foi engavetado. E passaram-se décadas até que os horrores de Auschwitz fossem publicamente expostos e discutidos na Alemanha.

Processos de Frankfurt

Os processos de Auschwitz, realizados em Frankfurt entre 1963 e 1965, acarretaram uma virada na confrontação dos alemães com os crimes dos nazismo – e com a própria culpa. Pela primeira vez ouvia-se os sobreviventes relatarem detalhadamente sobre as atrocidades e o sistema do campo de extermínio.

Lá não se visava apenas o homicídio em escala industrial, mas também a exploração total da mão de obra e dos recursos das vítimas. Conectado a Auschwitz I (onde se mantinham sobretudo presos políticos) e a Auschwitz-Birkenau (uma gigantesca área onde se concentravam tanto as barracas dos prisioneiros quanto as câmaras de gás e os crematórios), estava Auschwitz III ou Monowitz, terreno industrial em que firmas como a I.G. Farben faturavam.

Além do ouro dental e das roupas dos executados, até seus cabelos eram transformados em dinheiro para os cofres alemães. As montanhas de cabelos, sapatos e óculos em Auschwitz são outra imagem gravada na memória coletiva da nação.

Ao lado das reportagens diárias da imprensa, em 1965 o dramaturgo Peter Weiss, autor de Marat-Sade, cuidou para que a discussão sobre os processos de Frankfurt se mantivesse, mesmo após seu fim. A peça teatral O interrogatório, Oratório em 11 cantos desencadeou indignação, ao confrontar os depoimentos das testemunhas anônimas com os dos acusados que elas citavam nominalmente.
 
Cena de "Shoah", de Claude Lanzmann
  Força da realidade e da ficção

No fim da década de 70, o horror dos crimes nazistas chegou às salas de estar alemãs na forma de uma minissérie americana de TV. Dirigida por Marvin J. Chomsky, Holocausto traçava o destino da família judaico-alemã Weiss, tendo a atriz Meryl Streep no papel principal da esposa não semita.

A transmissão de seus quatro episódios suscitou entre muitos jovens alemães a discussão sobre até que ponto seus pais sabiam do "desaparecimento" de seus vizinhos judeus.

Com mais de nove horas de duração, o documentário de Claude Lanzmann Shoah, de 1985, foi outro choque para a consciência alemã. Pela primeira vez, um diretor de cinema ia com os sobreviventes dos campos de concentração até o palco de seus horrores, encorajando-os a relatar o que haviam vivenciado.

"Clava de Auschwitz"

Em seu discurso ao receber o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão, em 11 de outubro de 1989, para a surpresa de muitos o autor Martin Walser denunciou o que percebia como instrumentalização do Holocausto.
Martin Walser: contra "clava moral"

"Mas quando sou confrontado todos os dias com esse passado na mídia, noto que algo dentro de mim se revolta contra essa exibição incessante de nossa vergonha. Em vez de ficar grato [...], eu começo a olhar para o outro lado." E prosseguiu: "Auschwitz não se presta a se tornar rotina de ameaça, meio de intimidação sempre a postos, ou clava moral, ou até mero exercício de dever."

Assim cunhou-se a expressão "clava de Auschwitz", gerando clamor crítico. O Conselho Central dos Judeus da Alemanha acusou Walser de "incêndio intelectual culposo". Na realidade, a intenção do autor não fora, em absoluto, relativizar. Mas ele colocara uma questão difícil: como não esquecer o horror – e também a culpa – de Auschwitz, e ao mesmo tempo não minimizar o poder simbólico dessa palavra, ao evocá-la de forma leviana, rotineira demais?

Auschwitz está arraigado na memória cultural dos alemães, as imagens são presentes. Literatura, arte e cinema podem continuar cuidando para que elas persistam para a próxima geração, quando não houver mais testemunhas diretas. Só é preciso olhar.

O filme que os britânicos iniciaram por ocasião da libertação de Bergen-Belsen e que Hitchcock começou a montar foi agora concluído. Ele se chama Night will fall (a noite vai cair). Não é sempre fácil assisti-lo. E, no entanto, é preciso.

Fonte: http://www.dw.de/auschwitz-sintetiza-horror-do-holocausto-em-uma-palavra/a-18217169


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

"Marchas da morte", o início do fim de Auschwitz, completam 70 anos

 
Prisioneiros marcham rumo ao sul em uma Marcha da Morte iniciada no
campo de concentração de Dachau. Gruenwald, Alemanha, 29 de abril de 1945.
 Varsóvia, 17 jan (EFE).- Neste sábado completa 70 anos que os alemães começaram a evacuar o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau diante do avanço as tropas aliadas, e entre 17 e 21 de janeiro de 1945 transferiram para outros campos cerca de 56 mil prisioneiros em exaustivas marchas em que pelo menos 9 mil pessoas morreram.

 No próximo dia 27 representantes de 28 países, com vários chefes de Estado e de governo à frente junto de 300 sobreviventes dos campos, se reunirão no museu estadual de Auschwitz-Birkenau para comemorar o 70º aniversário da libertação do campo pelas tropas soviéticas.

A evacuação de Auschwitz começou a ser preparada no final de 1944, pouco depois de as forças soviéticas liberarem o primeiro campo de concentração grande da Polônia: o de Majdanek, perto de Província de Lublin, onde se estima que 200 mil pessoas podem ter sido assassinadas.

Em janeiro de 1945 as autoridades nazistas deram a ordem de transferir a maioria dos prisioneiros de Auschwitz diante da proximidade do exército soviético, e em 17 de janeiro partiram as primeiras colunas formadas unicamente por pessoas saudáveis capazes de resistir aos penosos deslocamentos, em alguns casos a pé, que hoje são conhecidos como "marchas da morte".

Sob o frio, com neve e sem alimentos nem abrigo essas colunas chegaram a percorrer até 250 quilômetros.

Embora os números oficiais falem de nove mil vítimas nestas caminhadas, alguns historiadores elevam esse número para 15 mil presos, mortos de frio, fome, esgotamento ou fuzilados pelos guardas alemães.

Um dos piores massacres aconteceu na noite de 21 de janeiro na estação ferroviária de Leszczyn, perto de Rybnik, no sudoeste da Polônia, onde ordenaram descer dos vagões 2.500 prisioneiros que eram transportados em um comboio.

Extenuados, alguns não foram capazes de sair do trem, o que fez os soldados nazistas decidissem metralhar os vagões, matando 300 pessoas antes de transferir o resto para o oeste.

Ao longo da rota destas marchas foram enterrados centenas de presos, e poucos sortudos conseguiram escapar e foram escondidos por aldeães poloneses ou tchecos até a chegada dos aliados.

Em Auschwitz ficaram apenas sete mil prisioneiros famintos e extremamente exaustos, que dias depois da partida de seus companheiros deram as boas-vindas às tropas soviéticas que libertaram o campo em 27 de janeiro de 1945.

Quando os soldados soviéticos entraram no campo encontraram muitos dos pertences das vítimas, centenas de milhares de roupas, cerca de 800 mil vestidos e mais de seis toneladas de cabelo humano.

Fonte:
https://br.noticias.yahoo.com/marchas-morte-in%C3%ADcio-fim-auschwitz-completam-70-anos-110847259.html