domingo, 27 de dezembro de 2009

Majdanek - Uma Fábrica Nazista de Cadáveres


Majdanek — o campo de extermínio onde os alemães
sistematizaram a eliminação em massa.

William H. Lawrence*
fevereiro de 1945
(Transcrito do New York Times)

Acabo precisamente de ver o lugar mais terrível do mundo — o campo de extermínio alemão em Majdanek, na Polônia, que foi, em verdade, uma fábrica para a produção de morte. As autoridades soviéticas e polonesas calculam em 1 milhão e 500 mil o número de pessoas, de quase todos os países da Europa, que os nazistas ali mataram nestes últimos três anos.

Há que ver para acreditar! Já estive presente a numerosas investigações acerca de atrocidades cometidas pelos alemães; nunca, porém, vi tão clara a evidência dos seus crimes. Depois da inspeção de Majdanek, estou propenso a dar como verídico tudo o que me contem em matéria de barbaridades germânicas, por mais selvagens, cruéis e depravadas que sejam.

Percorri todo o campo; examinei as câmaras de gás, fechadas hermeticamente, em que muitas das vítimas morreram asfixiadas, e os fornos em que os seus restos foram cremados; vi grande número de esqueletos, e mais de 20 cadáveres que os alemães não tiveram tempo de queimar, antes da chegada do Exército Vermelho às imediações de Lublin; vi muita cinza de ossos, amontoada nas proximidades dos fornos, afim de ser levada para os campos, e aí espalhada como adubo para as plantações de couve. Em Krempitski, a uns quinze quilômetros a leste, vi reabrirem-se túmulos onde se haviam feito sepultamentos em massa, e contei 368 corpos, decompostos parcialmente, de homens, mulheres, e crianças, executadas em Maidanek por vários meios e modos, cada qual mais desumano. Só naquela floresta, ao que estimam as autoridades, o número de sepultados é maior de 300 mil.

Fazendo parte de um grupo de correspondentes estrangeiros que foi à Polônia a convite do Comitê Polonês de Libertação Nacional, sentei-me com a comissão Russo-Polonesa de Investigação de Atrocidades, e interroguei testemunhas, entre as quais três oficiais alemães que serviram no campo. Estes homens admitiram francamente que Majdanek era um posto para eliminação altamente sistematizada — embora negassem, como era de esperar, qualquer participação pessoal nos homicídios, o que os não livrará, provavelmente, do devido processo pela parte que tiveram no monstruoso episódio.

Segundo o depoimento das testemunhas, a produção de morte culminou no dia 3 de novembro de 1943, quando o número de execuções subiu a 18 e 20 mil, a tiro, gás, forca, e por outros meios.

Quem se aproxima de Majdanek tem a mesma impressão, mais ou menos, que os filmes americanos nos transmitem, quando figuram na tela um campo de concentração. O que primeiro se vê, é uma dupla cerca de arame farpado, de 3 a 4 metros de altura, que estava carregada de eletricidade. Dentro, um após outro, grupos de edifícios verdes, de aspecto austero — mais de 200 construções, ao todo. Do lado de fora da cerca, 14 altas torres de metralhadoras, e, a uma extremidade, canis, com capacidade para acolher uns 200 cães bravos, especialmente treinados para perseguir prisioneiros que tentassem fugir.



Perto da entrada, encontra-se a casa de banho, onde os presos, que tinham de ser mortos mediante inalação de gases venenosos, tiravam as roupas, e tomavam um banho de "chuveiro". Era costume, em tais casos, aplicar um banho às vítimas, antes da execução, porque a água quente abria os poros, e assim se tornava mais rápido o efeito dos gases. Alguns passavam dali à sala imediata, hermeticamente fechada, e de onde saiam para a cremação. Através de aberturas no telhado, os alemães despejavam latas abertas de um gás venenoso (Ziklon B) à base de ácido prússico, que mata rapidamente.




– Um soldado soviético, no campo de extermínio de Majdanek, tira a tampa da abertura no teto de uma câmara de gás, onde pela qual o Zyklon B era jogado. London Press, outubro de 1944.

Vizinhas à casa de banho, há mais duas câmaras de morte, apropriadas para este gás, ou óxido de carbono. Uma delas mede, em área, 17 metros quadrados, e lá, ao que nos disseram, 100 a 110 pessoas eram executadas de uma vez. Ao redor do piso das salas, estende-se um tubo de aço, com aberturas a intervalos de 25 centímetros, para dar escapamento ao óxido de carbono. Nestas câmaras de morte, há também espaços abertos, com cobertura de vidro, pelos quais os alemães podiam observar o efeito do gás nas vítimas, e determinar o momento de remover os cadáveres.


A cerca de quilômetro e meio das câmaras de gás, vê-se um enorme crematório de tijolo. Dir-se-ia um pequeno alto-forno para uma usina de aço. O combustível (carvão) era atiçado por um fole, de funcionamento elétrico. Havia de cada lado cinco aberturas; por um lado entravam os corpos, e por outro saiam as cinzas, e acendia-se o fogo. A bateria de fornos tinha uma capacidade, só que se calcula, para cremar 1.900 cadáveres por dia.

Não longe dos fornos, havia uma grande quantidade de urnas de barro que, segundo disseram testemunhas, eram destinadas a receber as cinzas de algumas das vítimas, que os alemães vendiam às respectivas famílias, por preços que subiam até a soma de 2.500 marcos.

Vimos ainda uma mesa de concreto, onde se depositavam, antes da cremação, os cadáveres, para o fim de tirar o ouro que acaso tivessem nos dentes. Nenhum corpo era aceito no forno, se não trouxesse no peito a marca indicadora de ter passado pelo exame dos dentes.

Estive num imenso armazém, onde se espalhavam pelo chão dezenas de milhares de sapatos, inclusive de crianças, até de um ano, e todos em mau estado. É que os alemães usavam o campo, não só para exterminar as suas vítimas, senão também como um meio de obter vestuário, de modo que, se aqueles sapatos ali ficaram, terá sido talvez pelo fato de os não julgarem, os nazistas, suficientemente bons. Alguns aliás eram evidentemente dos mais caros.

Noutro armazém, em Lublin, vi outras dezenas de milhares de peças de roupa, que haviam pertencido aos mortos. Interroguei um oficial alemão, e ele me declarou que tinha dirigido a expedição, para a Alemanha, durante um período de dois meses, de roupas das vítimas de Maidanek, em proporções que deram para encher 18 vagões.

A identidade dos nazistas, responsáveis pelos crimes aqui mencionados, é perfeitamente conhecida. Os poloneses, com quem conversamos, são todos de opinião que eles devem ser executados no mesmo campo terrível onde cometeram as atrocidades. O vice-presidente Andrey Vitos, do Comitê Polonês de Libertação Nacional, lamenta que certos círculos americanos, favoráveis a uma paz de suavidade com o Reich, não tenham uma oportunidade de examinar mais de perto a brutalidade germânica. O comitê pretende conservar, tal como está, a parte principal de Majdanek, para que perdure pelo tempo, através das gerações, aquela prova incontestável da crueldade alemã.

Curiosidades

-Adolf Hitler era abstêmio, vegetariano e um não fumante.


-O Brasil foi o único país da América Latina que participou diretamente da guerra (participando de batalhas).

-A Alemanha leiloou no dia 23 de setembro de 2004, o prédio que serviu de sede ao centro de desenvolvimento e produção nazista dos temíveis foguetes V2, uma das armas secretas de Hitler. O imóvel fica em Peenemuende, na ilha de Usedom, no mar Báltico. São 11 hectares que abrigam o edifício, no qual estava instalada a fábrica de oxigênio líquido que servia de combustível para os foguetes. O centro pertencia ao Instituto de Experimentação do Exército alemão, cujo diretor técnico entre 1937 e 1945 foi o cientista Wernher von Braun (1912-1977). Depois da 2ª Guerra, Von Braun continuou nos Estados Unidos seus trabalhos científicos iniciados em 1932 e dirigiu a Nasa entre 1959 e 1972.

-A Alemanha, em 1944, montou mais de 1.000 jatos ME-262, que atingiam 512 milhas por hora (cerca de 120 milhas a mais que os jatos aliados), mas, como Hitler queria bombardeiros e não jatos de defesa, somente 100 foram aos céus, no final do mesmo ano.

-A fabricante de alimentos Heinz Ltda. criou, durante a guerra, uma sopa de letrinhas com suásticas para o exército alemão.

-A Gestapo escolhia algumas crianças e lhes davam apitos e um fardamento da polícia, para que quando eles encontrassem um judeu, apitassem e o segurassem até que a polícia viesse prendê-lo. E também, em 1945, formou-se o Volksturn, o "Exército do Povo", composto de crianças de 12 a 16 anos e idosos.

-A primeira bomba derrubada pelos Aliados em Berlim durante a Segunda Guerra matou o único elefante do Jardim Zoológico de Berlim.

-A saudação nazista de estender o braço e gritar "Heil Hitler" era usado apenas entre os membros do partido, o povo, as SS e a Gestapo. As forças armadas não, mas o exército (As SS não faziam parte do exército) foi obrigado a fazê-lo depois do atentado a Hitler em 1944.

-A Tropa americana que dividiu acampamento com a FEB (Força Expedicionária Brasileira) em 1944, nem imaginava o pelotão casca-grossa que estava a seu lado. O pelotão da FEB chega a uma clareira no Vale Garfagnana, no Norte da Itália. O acampamento fica próximo a outro pelotão aliado, formado por uma divisão americana e alguns poucos soldados ingleses. As barracas brasileiras estão a cerca de 200m do acampamento aliado, mas há liberdade total de ir e vir entre os soldados, que tentam se enturmar. Os brasileiros percebem que coisas estão sumindo da dispensa da tropa. Caixas com latas de comida, rapadura, cachaça, cobertores e até munição desaparecem. Os responsáveis pela cozinha pedem para falar com o comandante e reclamam. Soldados americanos foram vistos rondando as barracas. O coronel brasileiro foi falar com os oficiais americanos e recebe como resposta risadas "Isto aqui é uma guerra, não um colégio. Os homens estão tensos, precisam extravasar seus instintos. Vocês que saibam proteger seu material e pronto" e a reunião é encerrada. Contrariado, o comandante brasileiro retorna e relata o encontro a seus soldados. Ao terminar, fica um pouco em silêncio, enquanto os homens resmungam e cochicham. "Essas são as regras. Quer dizer, não há regras aqui. Façam então o que devem fazer", conclui o comandante. Dias depois, o oficial americano visita os brasileiros e, humilde, pede: "Quanto aos alimentos, às roupas e às munições, tudo bem. Mas, por favor, devolvam nosso TANQUE!" O coronel brasileiro, que soube do roubo do veículo na noite anterior, viu que o americano finalmente descobrira com quem estava se metendo.

-Adolf Hitler ficou radiante com a notícia do bem-sucedido ataque japonês a Pearl Harbor. Sua alegria se transformou em ataque histérico ao descobrir que nenhum de seus conselheiros militares sabia onde se situava este porto.

-Além dos métodos tradicionais de transporte usados pela Segunda Corporação polaca que lutavam na batalha do Monte Cassino, existia também um urso castanho chamado Wojtek que ajudava a transportar as munições.

-Antes da Segunda Guerra, a lista telefônica de Nova York tinha 22 Hitlers. Depois, não tinha mais nenhum.

-Antes da Segunda Guerra, negros não eram aceitos no Exército Americano.

As cinco regras do espião são:

1º) não falar, seja com quem for, a respeito do seu trabalho;

2º) não tomar notas por escrito;

3º) sendo obrigado a tomar notas por escrito, utilizar-se de papel de seda, de dimensões extremamente pequenas, para que possa ser introduzido num cigarro; em caso de perigo, fuma-se o cigarro;

4º) não entrar em relações com outros agentes, nem contrair amizades "verdadeiras" com quem quer que seja, ainda que o "amigo" esteja, sabidamente, às ordens do mesmo chefe;

5º) abster-se de bebidas alcoólicas; quando se torna indispensável beber - para acompanhar a pessoa que se deseja embriagar, afim de que esta preste as informações procuradas - beber de modo a não perder o controle.

-Benito Mussolini, durante a Primeira Guerra, era um editor de um jornal italiano financiado parcialmente pelos britânicos e pelos franceses. Nessa altura era um opositor aos poderes germânicos (ele também pertenceu ao exército italiano até ser ferido).

-Caso houvessem casamentos durante a guerra, as noivas não podiam usar vestidos feitos de seda, pois eles eram utilizados para fazer os pára-quedas dos militares (lembre-se de que a década era de 40 e ainda não existiam essas malhas usadas hoje em dia).

-Conta-se que dois pára-quedistas britânicos estavam nas ruínas de Arnhem, durante a batalha de Market Garden, cercados pelas tropas alemãs. Estavam escondidos no andar inferior de uma casa protegendo-se de um intenso bombardeio de artilharia. um deles volta-se para o seu camarada e diz: "Estão jogando tudo em cima da gente, só falta jogarem o fogão!" Mal termina esta frase e eles ouvem um estrondo, o piso superior cedeu e os Red Devils ficaram cobertos de entulho e, quando a poeira abaixa, eles olham estarrecidos e diante de seus olhos está um fogão perfeitamente intacto sobressaindo-se entre os destroços. O soldado que havia dito a frase acima olha mais uma vez e diz: "Eu sabia que os alemães estavam perto, mas não que estivessem escutando a nossa conversa."

-Depois de ter sofrido grandes perdas durante o assalto e a captura de Creta, Hitler nunca mais comprometeu as suas tropas aerotransportadas em operações de larga escala, usando-os em vez disso como infantaria.

-Devido à escassez de metal, as estatuetas do Oscar entregues aos vencedores durante a Segunda Guerra eram feitas de madeira.

-Durante a batalha da inglaterra, um piloto de Hurricane estava em combate com um 109 alemão, e teve seu avião atingido, não conseguindo mais lutar. A alternativa do piloto ingês era um mergulho no gelado canal da mancha, o que fatidicamente significaria a morte, mas o piloto alemão, percebendo a dificuldade do Hurricane, emparelhou com ele e "escoltou" a sua aeronave até a costa da Inglaterra, permitindo ao piloto escapar com vida. Algum tempo depois, este mesmo 109 estava em apuros depois de um combate. Desta vez um grupo de Hurricanes retribuiu a gentileza, escoltando o 109 até a costa da França.

-Durante a guerra, aviões da Força Aérea Norte-Americana sobrevoavam céus alemães quando teriam se deparado com uma série de estranhos fenômenos aéreos na área entre Hagenau, em Alsace-Lorraine e Neustadt An Der Weinstrasse, em Rhine Valley. Eram discos-voadores que foram apelidados de Foo Fighters (afooa é uma gíria para a palavra francesa afeua, que quer dizer fogo), daí o nome da banda :)

-Em 17 de janeiro de 1942, Churchill foi quase assassinado pelo inimigo e, igualmente, pela sua força aérea. Durante a viagem de regresso dos Estados Unidos, o hidroavião onde se encontrava desviou-se da rota predefinida e aproximou-se das antiaéreas alemãs situadas em França e, após se ter dado conta do erro e ter sido corrigido, os operadores dos radares britânicos detectaram o avião onde se encontrava Churchill como sendo um bombardeiro alemão. Seis aviões da RAF estiveram praticamente a aniquilar o avião, mas felizmente não foram capazes de o encontrar.

-Em 1942, a marinha americana lançou uma camiseta de algodão como parte dos uniformes. Daí surgiu a camiseta (T-shirt. T, por causa do formato da letra que forma quando é aberta).

-Em 1944 um B-17 avariado invadiu o espaço aéreo suíço. Eles resolveram escoltá-lo para fora de lá, fornecendo uma rota que o levaria até uma região da França já liberada pelos Aliados. A escolta helvética era um par de Messerschmitts BF-109E, comprados da Alemanha antes da Segunda Guerra. Tudo ia bem, mas assim que estavam para sair do espaço aéreo suíço, um P-51 americano os atacou, abatendo os dois caças antes que eles pudessem dizer oi. Um dos pilotos morreu. Mais tarde, os americanos apresentaram um pedido oficial de desculpas e uma indenização à família do piloto abatido, mas o piloto do P-51 ficou com os dois Bf-109s em seu placar.

-Frank Foley, um agente do serviço secreto britânico salvou a vida de milhares de judeus na Alemanha e foi homenageado na embaixada da Grã-Bretanha em Berlim, sendo comparado com Oskar Schindler.

-Há uma super coincidência entre o código Morse e os quatro primeiros toques da 5ª Sinfonia de Beethoven: eles significam a letra "V", no código.

-Heinrich Himmler, a mente diabólica das SS, foi um criador de galinhas.

-John Kennedy, ex-presidente dos EUA, fazia parte da tripulação de um navio PT-109 que foi afundado pelos japoneses em 1943. JK, bastante ferido, sobreviveu e salvou a maioria de sua tripulação. Os destroços do PT-109 foram localizados em maio de 2002, numa expedição da National Geographic. O último sobrevivente do navio, Gerald Zinger, morreu em 2003.

-Mapas de fuga, bússolas e documentos foram contrabandeados dentro de caixas do jogo "Banco Imobiliário", para prisioneiros de guerra na Alemanha durante a segunda guerra, bem como dinheiro de verdade, escondido no meio das cédulas de brincadeira.

-Militares americanos retiraram os bens de um trem conhecido como "trem de ouro nazista", que se dirigia da Hungria para a Alemanha em maio de 1945. O trem estava carregado com ouro, prata, porcelana, jóias, 1.200 quadros e 3 mil tapetes orientais tomados pelos nazistas de famílias judias húngaras.

-Na batalha de El-Alamein, Rommel utilizou um motor de avião para fazer a poeira subir e dar a impressão de o grosso de suas tropas se aproximavam pelo litoral, quando na verdade, eles atacariam pelo interior. Os ingleses caíram direitinho.

-No ataque à Nagasaki, a cidade não era o alvo original - o alvo pretendido era a cidade de Kokura, que escapou pelo fato de os pilotos do bombardeiro terem ordens para só atacar a cidade caso esta estivesse claramente visível. Como Kokura se encontrava sob um denso nevoeiro, Nagasaki foi a primeira alternativa para o lançamento da bomba atômica.

-No final de 44 um dos assistentes teve a coragem de contar a Hitler uma piada que corria entre a população de Berlim: "Göering e Goebbels morreram e foram para o céu. Lá chegando, São Pedro os esperava e chegou junto a Göering e disse: - O Sr. está vendo aquela nuvenzinha lá longe? Pois bem, agora você vai correr até ela e voltar dez vezes por todas as mentiras que contou na Terra... Aí voltou-se para Goebbels e ele não estava mais lá, e então perguntou para o anjo ao lado: - Cadê o rapazinho manco que estava aqui agora há pouco? E o anjo respondeu: - Ele voltou à Terra pois disse que tinha esquecido sua moto na garagem..." Fala-se que Hitler riu muito da piada e o assistente foi enviado para o front russo.

-O clipe, desenhado em 1899 pelo norueguês Johan Vaaler, foi usado na Segunda Guerra na lapela como protesto contra o domínio nazista.

-O exército vermelho chegou a treinar cães com o intuito de destruir os tanques inimigos. Os pastores alemães (irônico não?) eram treinados a pegar comida debaixo dos tanques e nas suas costas eram presos cerca de 26 libras de explosivo. Quando estes se encontravam por baixo dos tanques era acionado o explosivo, destruindo o tanque (e, obviamente, o cão). Infelizmente isto nem sempre funcionava com previsto, uma vez que os cães eram treinados usando os tanques soviéticos, executando a tarefa mas facilmente com os tanques deles do que com os alemães, mas mais de 25 tanques alemães foram seriamente danificados desta forma durante as batalhas de Stalingrado e Kursk.

-O famoso tanque T-34, mais poderoso da guerra, era tão apertado que em caso de incêndio, quase sempre morriam todos os tripulantes. Os soldados russos usavam as cápsulas deflagradas para fazerem ali suas necessidades fisiológicas sem precisar descer do veículo.

-O líquido contido no interior de alguns cocos pode ser usado como substituto do plasma do sangue em situações de emergência. Esta propriedade foi descoberta e muito utilizada durante a Segunda Guerra.

-O nome original de Stalin era Josef Djugashvili. Em 1913 começou a usar o pseudônimo Stalin (ou Estaline) que significa "Homem de Aço".

-O quadro Guernica, de Picasso (pintado em 1937), foi transferido para Nova York durante a segunda guerra, pois recebeu do pintor a ordem de que, apenas quando a Espanha fosse um país democrático poderia ser levado para lá. Ficou sob a guarda do Museu de Arte Moderna de Nova York (MOMA). Isso ocorreu apenas em 09 de setembro de 1981, sendo a obra retirada do MOMA rumo à Madrid. Tinha chegado ao final a peregrinação da obra que os espanhóis chamavam de "el ultimo exiliado".

-O saudoso ator cômico Stan Laurel (O magro, da dupla o Gordo e o Magro), lutou na Segunda Guerra junto com a FEB. Ele operava uma engenhoca de fazer fumaça, que era usada para camuflar a passagem de tropas de um ponto para outro, confundindo os alemães.

-O significado do D em "Dia D" e H em "Hora H", é simplesmente por causa das iniciais: Dia (D) e Hora (H). Quando essas palavras são utilizadas, combinadas com sinais de mais ou menos e números, indicam quanto tempo falta ou passou de uma determinada ação. Exemplo: H-3 significa que faltam 3 horas para a Hora H (determinada anteriormente); D+3 significa 3 dias após o Dia D. H+75 significa 1 hora e 15 minutos após a Hora H.


-O tanque mais pesado de todos os tempos foi construído pelas alemãs Maus II, que pesava 192 toneladas. No final da guerra este tanque ainda não tinha alcançado o estado operacional (Fonte: Livro dos Recordes do Guinness).

-O Ten. Carlos Alberto Martins Torres, integrante do 1º GAV na Itália (onde voou 99 missões), teve a honra de ser o único piloto brasileiro a afundar um submarino alemão, o U-199, ao largo da Baía da Guanabara, quando pilotava o Catalina da FAB Arará em 1943.

-O Tenente Carlos Alberto Martins Torres, integrante do 1º GAV na Itália, onde voou 99 missões, teve a honra de ser o único piloto brasileiro a afundar um submarino alemão, o U-199, ao largo da Baía da Guanabara, quando pilotava o Catalina da FAB "Arará" em 1943.

-Os dois presidentes americanos, Franklin e Theodore Roosevelt, eram primos de quinto grau.

-Os Estados Unidos pagaram US$ 25,5 milhões a famílias de vítimas húngaras do holocausto como compensação por saques de jóias e outros valores durante a guerra.

-Os pilotos kamikazes japoneses recebiam tratamento privilegiado, bem como eram considerados heróis. Todos eram voluntários, rigorosamente treinados e preparados para as missões suicidas. Se eles se recusassem a permanecer na tropa, eram executados como traidores.

-Quando os russos chegaram a Berlin, eles aprenderam a dizer a seguinte frase em alemão: "Alô, o Ivan Chegou" (algo como "Heloo, Ivan kam an"). Por pura gozação, eles entravam em algumas casa em que os telefones ainda funcionavam e ligavam aleatoriamente para outros fones em Berlim e anunciavam sua presença: "Alô, o Ivan Chegou!"

-Se você já assistiu o filme "O Pianista", viu a parte em que Wladislaw Szpilman e um oficial alemão se encontram num sótão, em Varsóvia, onde o pianista se escondia após ter escapado de um embarque para Treblinka. Depois que Szpilman toca o "Noturno", de Chopin, o oficial alemão passa a fornecer comida e a visitá-lo até que um dia ele se despede. Bem, o nome desse oficial era Wilhelm Hosenfeld e essa história aconteceu realmente.

-Um destróier alemão foi atingido pelo próprio torpedo, quando atacava comboio aliado com destino à Rússia. Ao largo da Noruega o mar estava tão frio que congelou os controles do torpedo e ele virou e atingiu o barco alemão.

-Um destróier alemão foi atingido pelo próprio torpedo, quando atacava comboio aliado com destino à Rússia. Ao largo da Noruega o mar estava tão frio que congelou os controles do torpedo e ele virou e atingiu o navio alemão.

-Um dos filhos de Stalin, Yakov Dzugashvili, serviu no Exército Vermelho e foi capturado pelos alemães em 1941. Os alemães ofereceram trocá-lo por um general alemão, mas Stalin recusou a oferta alegando que quem se rende é um covarde. Yakov foi fuzilado durante uma tentativa de fuga do campo de Sachsenhausen em 1943.

-Um piloto do 1° Grupo de Caça, Danilo Moura, foi abatido a 600Km de Pisa, base usada pelo grupo Brasileiro. Cansado de espera (após a ejeção) e desacreditado em seu resgate, resolveu voltar por conta própria para Pisa. Vivendo uma verdadeira odisséia, a mais engraçada foi quando ele disse que na Itália ninguém bebia água, toda vez que ele pedia água a alguém, davam-lhe vinho, e depois de alguns vinhos resolveu cortar o cabelo. Ao entrar na barbearia, percebeu que a mesma era do exército alemão e estava "lotada", por sinal, imediatamente o efeito do vinho passou e ele tratou de sair de lá o mais discreto e rápido possível.

-Uma bala de fuzil viaja a 2.400 km/h e demora em média 1 milésimo de segundo para acertar um alvo.

Memórias De Uma Sobrevivente de Auschwitz

Desde que retornei de Auschwitz, em maio de 1945, senti que tinha que escrever o que aconteceu com minha família e comigo – todas as minhas experiências. Só a lembrança daquilo traz-me dores e lágrimas. Tentando permanecer sã, fui adiando isto. Hoje, se passaram mais de 50 anos desde o genocídio planejado por Hitler contra nosso povo. Sinto-me forçada a registrar da forma que me lembro. O tempo está acabando. Tenho 67 anos. Meus filhos, a quem tentei educar da forma mais normal possível, e com quem tentei não falar sobre o passado, hoje são homens crescidos. E têm o direito de conhecer a história de sua família. Portanto, dedico minhas memórias a meus maravilhosos filhos e netos.



Veronika Schwartz, Montreal, 1994.



Nasci em seis de junho de 1927, na Hungria, em uma pequena cidade chamada Kisvárda, no condado de Szabolcs. A população total em 1941 era por volta de 15.000. A população judia era de cerca de 4.000. Naqueles tempos, os bebes nasciam em casa, com o auxílio de uma parteira e, provavelmente, de alguns membros da família. O meu tio Mikós Ösztreicher me disse que minha mãe tinha ficado grávida sete vezes; quatro permaneciam vivos.

O nome de meu pai era Schwartz Mór. O nome de minha mãe era Ösztreicher Irén. Meu irmão, Zoltán, era o mais velho, nascido em 19 de novembro de 1923. Minha irmã, Klára, era dois anos mais velha do que eu. Minha irmã, Éva, era dois anos mais jovem que eu.

Meus pais tinham um armazém em Fö utza, que significa a rua principal. Vendiam móveis, material de jardinagem, sapatos e roupas prontas. Trabalhavam muito duro. A vida não era fácil. Tanto quanto posso me lembrar, senti pena de minha mãe. Ambos os seus joelhos eram machucados, mas nunca desejou falar sobre uma operação, temendo que não fosse bem sucedida e que pudesse terminar pior do que antes. Só continuava a colocar bandagens nos pés o dia todo, tentando fazer o melhor para atender os fregueses e, naturalmente, sua família. Ela cozinhava antes de ir para a loja. (...)



Não me lembro de ter tido brinquedos, como uma bicicleta ou bonecas, mas não me lembro de ter sentido falta deles também. Éramos uma família. A alegria era ver minha mãe segurando as mãos de meu pai, sorrindo. Nunca estávamos entediados. Sempre havia coisas a fazer: regar flores, limpar o jardim, jogar bola ou a escola (eu era a “professora” e reunia as crianças mais jovens e brincava de escola com elas), trazer lenha para a casa, alimentar o cão, conversar com meus amigos na rua ou com nossos inquilinos ou vizinhos. Gostavam muito de nós. Estávamos em casa. Apesar de modesta, era nosso castelo. Como jovens crianças, tudo que precisávamos era de um monte de areia para ficarmos ocupados e felizes. Amávamos também nosso país. Lembro-me que quando soldados Húngaros a cavalo passavam pela rua próxima, corria para juntar um buquê de flores de nosso quintal e corria toda distância para dar-lhes flores. (...)

Tudo mudou no ginásio. Senti o anti-semitismo. Não me lembro do nome de minha professora, mas chamava as garotas gentias pelos seus nomes e as garotas judias pelo nome de suas famílias. Não podia me concentrar, isso me preocupava muito. Comecei a sentir o ódio. Isto foi em 1939 e tinha somente doze anos. Minha avó costumava dizer como era horrível para o povo judeu. Como, durante uma rebelião ou revolução, sempre colocavam a culpa nos judeus. Eu só sentia pena por terem sofrido tanto.

O ódio somente aumentava, as coisas não melhoravam. Um dia, minha avó veio a nossa casa gritando que um dos seus vizinhos tinha ameaçado matar meu tio Miklós. Eu sabia onde meu tio estava, corri todo o caminho, cinco ou seis quilômetros, para achá-lo em uma vila próxima, chamada Ajak. Ele se escondeu, mas para o Grande Feriado foi à sinagoga. Os gendarmes (a polícia de elite) estavam procurando por ele e entraram na sinagoga. Meu tio escapou por uma janela, e a Sra. Rooz, que era uma parente distante, escondeu-o em sua casa. Quando as coisas acalmaram, conseguiu embarcar em um navio e escondeu-se no carvão. Chegou ao Canada em 1939 como um clandestino, quase morto. Nunca soube porque os gendarmes queriam prendê-lo ou porque o homem (seu nome era Orgován), que supostamente era seu amigo, queria matá-lo. Tudo que sabia era que meu tio vendia terras naquele tempo. Talvez algum negócio de terras não o tenha agradado. Toda nossa família ficou contente quando recebemos uma carta do Canadá de nosso tio.

Parecia que, para a população judia, a vida estava ficando bem apavorante. Meu pai tinha que fazer trabalhos forçados. Por sorte, foi desqualificado devido a uma hérnia. Meus pais decidiram que deveríamos aprender uma profissão ao invés de continuarmos nossa educação. Pagaram a um relojoeiro bem conhecido para ensinar meu irmão a consertar relógios. Minha irmã mais velha estudou para ser cabeleireira, também de forma privada, o que era bem caro. Meu irmão e irmã terminaram seus estudos. Meus pais compraram uma bicicleta para minha irmã. Tinha fregueses particulares e pedalava para suas casas. Era muito popular, algumas pessoas gostavam muito dela. Encontraram uma costureira para me ensinar a costurar. Tentei, mas além de aprender uns poucos pontos diferentes, nunca consegui terminar um vestido.

Enquanto isso, meus pais sabiam que a vida para nós estava piorando. O anti-semitismo era muito pavoroso. Sabendo que, acontecesse o que acontecesse, precisaríamos de comida, compraram várias vacas, um cavalo, cabras, gansos, patos e galinhas. Neste ponto não fazia muitas costuras, ajudava muito com os animais. Adorava andar a cavalo. Ordenhava as vacas e alimentava o resto dos animais. Meu avô, Lajos, vinha todos os dias para ajudar e tínhamos alguns empregados.

A situação política estava piorando, especialmente para nós, o povo judeu. Minha mãe fazia visitas mais freqüentes ao Rabino, para rezar por nossa segurança e bem-estar e para termos paz. O Rabino nos abençoava, dizia-nos para rezar, e para ter fé em D-us [nota: judeus ortodoxos não escrevem o nome do Senhor de forma alguma, usando este tipo de recurso]. Sempre a acompanhava nessas visitas.

Manter o negócio aberto não era uma tarefa fácil. Mas era difícil conseguir mercadorias têxteis como seda, linho, algodão e flanela. Minha mãe nunca desistiu. Viajava para Budapeste para encontrar seus fornecedores e tinha confiança que não voltaria de mãos abanando. O nome da firma de negócios ao atacado era Mandel Gustav e Sandor. Ela não podia deixar de falar dessas pessoas, como tinham sido boas com ela. Por ter os joelhos doentes, desejavam ajudá-la de forma especial. Vendiam-lhe mercadorias têxteis. Foi convidada para a casa deles. Um dia nos disse, “vi um belo banheiro de azulejos, isto é o que teremos um dia. Vamos instalar encanamento em nossa casa”. Nunca abandonamos a esperança. De fato, tínhamos eletricidade instalada e um novo piso de cerâmica na cozinha.

A despeito de nossas esperanças e preces, o ódio parecia piorar. Acender velas nas noites de sexta-feira era arriscado. Nossas janelas foram quebradas. Pedras foram atiradas na casa de nossos avôs. Meu pai entaipou algumas de suas janelas. Os bandidos das cruzes flechadas ficavam nos insultando. Um homem jovem veio a nossa loja como um animal selvagem, xingando, pegando caixas de sapatos e jogando-as na rua. Minha mãe implorou-lhe para que levasse o que queria, mas o ódio era muito profundo. Tremíamos de medo.

Meu irmão foi convocado para o Exército. Meus pais não puderam vê-lo ir. Minha mãe fez uma jarra de café muito forte e ele bebeu tudo, então chamaram o doutor da família e disseram que ele não estava bem. O doutor ouviu o seu coração e escreveu uma carta dizendo que era incapaz de ir para o serviço, devido a uma doença cardíaca. (...)

Cerca eletrificada em Auschwitz

Leis e regras cruéis foram-nos impostas dia após dia. Era muito doloroso perceber que tínhamos sido extremamente otimistas por muito tempo. Era chocante quando visitava um dos nossos inquilinos, a família Posner, de origem russa. Tinham uma empregada, uma jovem cigana. Gostava de falar com ela, era sempre alegre e feliz. Perguntei, “Onde está ela?”. Disseram-me que tinha sido levada embora a força e afogada com muitos outros. “Como é possível matar pessoas inocentes. Devem ter sido enviados para trabalhar em outro local”, disse à Sra. Posner. Ela me disse suavemente, “queria que você estivesse certa”.

Não havia mais razão para ser otimista. Éramos proibidos de ouvir o rádio. Quando caminhava pela rua e tentava ouvir as notícias, fui apedrejada. Minha mãe adorava ir ao banho ritual (mikvah). Era um dos prazeres da vida dela, mas foi proibido.

Ouvia um monte de sussurros. Ouvi que falavam de uma rota de fuga, mas que não seríamos capazes de usá-la. Era muito tarde. Os judeus não podiam viajar. Minha mãe nunca concordaria com uma rota de fuga, a menos que toda a família pudesse escapar junta. Isto era impossível. Levamos para casa um monte de mercadorias (móveis, tecidos) de nossa loja. Cavamos buracos nos telheiros e enterramos os tecidos e roupas em caixas de madeira.

Sempre que meu pai ia a sinagoga, voltava para casa com péssimas notícias. Ouviu que um eminente doutor e toda a sua família tinham cometido suicídio. Em 19 de março de 1944, passou a ser compulsório usar uma estrela de David amarela. No mesmo dia, o exército alemão invadiu a Hungria. Além das expectativas dos alemães, os húngaros cooperaram integralmente e os receberam de braços abertos. Sentíamo-nos em uma armadilha.

Lembro-me do Sr. Fekete, que vinha a nossa casa ler o medidor de eletricidade. Quando entrou, olhou para todos nós. Começou a caminhar em direção de meus pais. Ele gostaria de falar-lhes, mas foi sobrepujado pelas emoções e começou a chorar. Só ficou chorando e saiu. Sabia que algo terrível iria acontecer. Certo como um relógio, poucos dias depois, um jovem veio a nossa casa e a casa de meus avós. Este jovem vivia em nossa rua. Minha avó e a avó dele eram amigas uma da outra. Seu nome era Bajor e tinha sido autorizado a inventariar nossos pertences. Não levou muito tempo para descobrir que teríamos que deixar nossas casas e ir viver juntos em um gueto, em Kisvárda. Todos tentamos nos consolar o melhor possível. Meus pais acharam que meu irmão deveria se alistar em um campo de trabalho. Talvez tivesse uma chance maior de ficar vivo. Aceitou a sugestão e partiu para se alistar. Foi de quebrar o coração vê-lo partir.

Meus pais deram nosso gado em confiança para as pessoas que usavam nossa propriedade como caminho para chegar à cidade. Mesmo que tivessem prometido tomar cuidado de todos os animais, era duro deixá-los para trás – os filhotes de cabrito que amava; o belo cavalo que adorava cavalgar; as vacas, gansos, patos e galinhas. Minha mãe trabalhou freneticamente preparando uma base de sopa, uma mistura de farinha e óleo ou gordura de galinha. Disse que enquanto pudéssemos conseguir um pouco de água, pelo menos poderíamos fazer uma sopa. Vi quando ela quebrou e começou a chorar. Implorei para que não chorasse. Ela disse: “não choro por mim, choro por todos vocês. Eu os amo muito”. Tentei dizer a que a nossa partida era só temporária. Era ingênua. Sabiam quão irracionais as pessoas ficavam com o ódio, inveja, vingança e poder, e ficaram com muito medo.

Meus pais trabalharam muito duro. Nunca fumaram ou beberam e economizavam cada centavo. O costume era dar a uma filha um dote quando se casava. Eles compravam pedras preciosas, diamantes e outro para nós três, para que quando nos cassássemos tivéssemos condições de começar uma vida nova sozinhas. Meu pai chamou-nos e todos descemos ao porão. Ali removeu alguns tijolos da parede, escondeu as jóias em uma garrafa e consertou a parede. Assim todos sabíamos onde estavam. Escondeu algumas jóias no sótão. Mesmo nossos vizinhos, os Fishers, do outro lado da rua, esconderam algumas jóias em nosso sótão.

Em meados de abril de 1944, fomos levados e aprisionados no gueto em Kisvárda. Fomos levados sob as condições mais cruéis pela gendarmerie Húngara. Todos estávamos apertados em um só quarto – minha avó, meus pais, minha tia Margit, tio Ernö e minhas duas irmãs, Klára e Éva. Abaixo de nosso quarto ficava um porão. Levavam para lá as pessoas para serem interrogadas, para descobrir onde tinham escondido o seu dinheiro e posses. Era sempre o chefe da família. Inicialmente torturaram os muito ricos e, mais tarde, a classe média. Era horrível ouvir os gritos.

Também nos preocupávamos com nosso pai. A comida era muito pouca e meu pai costumava sair escondido às 5 da manhã, antes do nascer do sol. Eu não sabia, mas uma família gentílica dava-lhe ovos, leite e pão. Ele corria um imenso risco para melhorar a qualidade de vida para sua família. As pessoas que lhe davam comida também eram muito especiais, desprendidas, gentis e desejosas de ajudar os necessitados. Era um ato corajoso, podiam entrar em grandes problemas ao ajudar judeus. Boas pessoas como elas nos davam incentivos para continuar tentando o máximo e prosseguir com nossas vidas. Era um esforço conjunto fazer o melhor que podíamos. Ajudávamos uns aos outros, compartilhando as tarefas domésticas. Éramos livres para ir para qualquer lugar dentro do gueto. Andava muito com minhas irmãs e todo mundo na família, conversando com nossos amigos e vizinhos, tentando descobrir novidades políticas. (...)

Mais uma vez, as novas eram pavorosas. Mais uma vez estraçalharam nossas esperanças que a guerra logo terminaria e que voltaríamos para nossos lares e negócios, recomeçando nossas vidas. As pessoas estavam dizendo que os alemães levariam todos para campos de trabalho. O gueto ficou como uma capela funerária. As pessoas choravam abertamente. Todos estavam apavorados. Não fazia sentido que a Alemanha quisesse avós, grávidas, bebês, pessoas doentes e crianças para trabalhar para eles. Na mente de todos havia a pergunta: “o que acontecerá a nós?” Da minha parte, fui educada no respeito a todos, seja qual for a sua religião. Assim era difícil entender a complexidade do ódio humano. Não acreditava que nos levariam para trabalhar. Minha avó, preocupada, perguntou-me: “que tipo de trabalho posso fazer para eles? Sou velha demais para trabalhar”. “Bem”, eu disse, “você pode ajudar na cozinha, descascando batatas, por exemplo ou no hospital, preparando ataduras. Todos podemos trabalhar”. (...)

Minha família e eu fomos levados em 31 de maio de 1944. Oitenta pessoas foram arrebanhadas em cada vagão. Não nos permitiram levar nada, somente as roupas que vestíamos. Havia um balde d’água, as portas fechadas e a jornada em direção a um destino desconhecido começou. Meu pai, minha mãe, minha avó, minhas irmãs, Klára e Éva, a tia Margit, tio Ernö – todos estavam muito quietos, tristes e sem palavras. Tentei muito alegrá-los. Encontrei um pequeno local de onde era possível olhar para fora e ver a paisagem. Pedi a todos para vir e ver. Não importa o quanto tentasse, ninguém se interessou. Minha avó ficava repetindo, “sou velha demais para trabalhar”. Se soubesse o que aconteceria com eles, eu teria passado cada minuto beijando e abraçando-os e fazendo o máximo para não ser separada deles.

Finalmente, o trem chegou em Birkenau, Polônia. As portas abriram. De alguma forma, fui empurrada para fora, de tal forma que me encontrei em pé sozinha e uma longa fila estava se formando atrás de mim. Olhei tudo em volta e podia ver que não havia ninguém de minha amada família. O medo e o pânico me atingiram. Chorei e me atirei ao chão, pensando que não levantaria, a menos que fosse colocada junto com minha família. Não me importava se me fuzilassem. Atrás de mim estavam as duas garotas Freed, de nossa rua, Vár utza. Estavam chorando, mas praticamente me levantaram e imploraram para que ficasse de pé ou seria fuzilada. Disseram que sua mãe estava grávida e não a podiam ver em lugar algum.

A longa fila foi formada e tivemos que começar a marchar. Era cerca de três quilômetros até Auschwitz. No caminho, vimos o arame farpado com a cerca de segurança de alta voltagem. Vimos um monte de pessoas dentro. Era um local medonho. Algumas pessoas caminhavam com longos paus e estavam batendo em outros. As roupas dessas pessoas eram trapos. Não podíamos imaginar o que este local poderia ser. Algumas pessoas diziam que deveria ser um asilo mental. Mas como podiam tratar doentes mentais de forma tão má?

Logo nossa marcha terminou e nos achamos no mesmo lugar – o Campo de concentração de Auschwitz. Este foi o pior dia de toda minha vida. A dor no coração de não saber o que aconteceria com minha família. Onde estavam? Sempre procurava com meus olhos tão longe quanto podia ver, em todas as direções, chegando a imaginar que podia ver meu pai.

As pessoas estavam exaustas mental e fisicamente. Começou a chover e estava frio. Durante todo o dia não recebemos comida, mas tínhamos que ficar na fila e esperar. Finalmente, um oficial SS veio e disse-nos que tentaria conseguir um pouco de chá. Isto não era um conforto para mim. Eu era uma alma perdida.

Mais tarde tivemos que ser desinfetados. Neste lugar, aparavam nossas cabeças. Tínhamos que nos despir. Faziam-nos passar por torturas humilhantes. Nossas roupas foram levadas e tínhamos que nos vestir de uma pilha de trapos. Enquanto andava por aquela área de desinfeção, como um milagre, observei minha prima em primeiro grau do lado paterno, Klein Magda. Ela reparou em mim ao mesmo tempo. Me disse que não tinha ninguém da sua família e que deveríamos tentar ficar juntas. Esperava que pudéssemos fazer isso.

Mais tarde fomos levadas para o C Lager (campo C). Permanecemos fora. Uma kapo (isto é, uma prisioneira feitora, designada para supervisionar um determinado grupo de trabalho de prisioneiras) veio falar conosco. Nos disse o seu nome, Toska. Acredito que fosse uma garota polonesa. Parecia ser muito honesta. Perguntou se tínhamos alguma pergunta. Muitas pessoas fizeram a mesma pergunta, “quando nos reuniremos com os membros de nossas famílias?” Com lágrimas nos olhos, apontou para o crematório. Passou um momento difícil ao falar. Depois de recuperar a compostura, continuou: “como vocês, fui trazida aqui com minha família, mas agora, estou sozinha”. Nos alertou para ficarmos alertas; não seria fácil ficar vivas. Depois disso, fomos arrebanhadas para dentro do barracão. Ali estava outra Kapo; seu nome era Éva. Era malvada. Uma garota judia bem apessoada, se comportava de forma desavergonhada, usando um pau para controlar as pessoas.

Fomos espremidos em uma posição sentada muito apertada para a noite. Em minha miséria, decidi seguir o conselho do Rabino: ter esperança e rezar. A cada noite, recitava preces em hebreu. Sabia-as bem e incluía cada membro de minha família e, naturalmente, Aisnley [o namorado de Vera]. De alguma forma, meu passado religioso deu-me forças. Mas também tinha um sentimento de culpa, “por que eu? Por que estou viva e minha família não?”. Me atormentava.

Antes do alvorecer, fomos acordadas por um alto som de apito. Tínhamos que correr e nos alinhar para inspeção. Duas vezes por semana, tínhamos que marchar nuas para dentro de um barracão, em frente a médicos, Mengele e alguns outros, para a seleção. Se alguém fosse removido da fila, isto significava a morte. Assim, tentávamos parecer o melhor possível.

Recebíamos uma fatia de pão e cerca de uma colher de chá de marmelada na manhã. À tarde, fazíamos um turno para pegar uma panela de comida, que não tinha sabor, muito pouco. Não havia pratos nem talheres. Desta forma, fazíamos uma fila e uma depois da outra bebíamos do mesmo copo. Muitas pessoas, inclusive eu, estavam pegando a doença das gengivas [escorbuto]. À tarde, novamente, tínhamos que ficar em fila por duas horas para sermos contadas. Algumas vezes vi corpos queimados, como carvão, contra a cerca. Era uma visão horrível.

Uma manhã, depois da contagem, deitei no chão. Um soldado SS pisou no meu estômago. A sobrevivência por mais um dia era uma conquista.

Cerca de três ou quatro semanas mais tarde, numa manhã, estávamos entrando em uma fila para termos nossos números de identificação tatuados nos antebraços, quando minha prima Magda foi removida da fila. Mais uma vez me senti perdida. Queria muito ficar com ela, era muito boa comigo. Ajoelhei-me e fui até uma janela, passei por ela e achei Magda. Entrei na fila atrás dela. Não tínhamos idéia do que aconteceria conosco, mas estávamos juntas mais uma vez e isto significava muito para ambas. Havia dezesseis pessoas. Entramos em pequenos vagões puxados por um trator. Depois de viajar por cerca de três horas e meia, chegamos em uma fazenda.

Foi-nos dado abrigo em um telheiro. Dormíamos na palha no chão. Mais tarde, colocaram alguns catres para nós. Quando estava ficando escuro, a porta era fechada e ficávamos trancadas. As 6:00 da manhã as portas abriam de novo. Recebíamos alguma comida e eram levadas por um caminhão até os campos, para trabalhar. Tínhamos que colher trigo e aveia, arrumar em feixes, amarrá-los e colocá-los em pé, como se formando pirâmides. Tínhamos dois supervisores: um homem, que era gentil. Se alguém tivesse dificuldade em fazer o trabalho, tentava ajudar e nunca ficava zangado. A mulher não gostava de nenhum de nós. Ouvi-a dizer ao supervisor que éramos judeus e que não merecíamos nenhuma ajuda. Todos tentamos dar o máximo de nós, este local era definitivamente melhor que Auschwitz. Aos domingos, para o jantar, nos davam purê de batatas com uma fatia de presunto, em um prato normal. Isto significava muito para todos.

Um dia, o proprietário cavalgou até o lugar onde trabalhávamos. Me chamou e outra garota para falar com ele. Nos disse que ao invés de trabalhar nos campos, iríamos trabalhar na cozinha. A outra menina tinha só treze anos. Normalmente eu a via engraxando sapatos. Acabei ajudando às duas empregadas, descascando vegetais, frutas e assim por diante. Era melhor que trabalhar nos campos. Enchia minhas roupas com as cascas das maçãs que descascava. Algumas vezes conseguia esconder algumas cenouras ou pequenas maçãs; eram compartilhadas com todos.

Via a família indo para a igreja nas manhãs de domingo. Lembrava-me de como costumava ir para a sinagoga junto com meus pais, irmão, irmãs e outros membros de minha família. Não tinha inveja deles, mas me magoava muito. A injustiça era tão horrenda. Aqui estava eu, trabalhando como uma escrava. Por quê? Não tinha feito nada de errado. Tinham nascido na fé cristã. Por acaso, eu nascera na fé judaica. Tinham tudo que possuíam. Tudo tinha-nos sido confiscado. Tinham sua família viva. Não sei o que aconteceu com a minha. Como se podia permitir que todos esses crimes acontecessem no século XX, sem que nem uma só nação tentasse nos salvar? Onde estava Deus? Teria Ele dormido? Estava perdendo minha fé na humanidade. Questionava a existência de Deus. Afinal de tudo, tinha visto o crematório soltando fumaça o dia todo em Auschwitz. As crueldades sádicas que testemunhara davam-me razões para acreditar que havia muito poucas chances de que veria todos de minha família de novo.

Depois de trabalhar na cozinha por cerca de três meses, escutei as duas empregadas mostrando preocupação sobre o quão próximo os russos estavam e sobre o que aconteceria com eles. Para nós, isto significava uma esperança, de que nossa liberdade se aproximava. (...)



Os russos estavam se aproximando. Tínhamos visto explosões de artilharia bem próximas. Nossas vidas estavam sob risco elevado. Todos estavam com medo. Continuamos a trabalhar mais umas duas semanas, mas uma manhã, ao invés de sermos levados para o trabalho, fomos transportados de volta para Auschwitz. Era muito difícil ainda ter esperança. As pessoas em Auschwitz pareciam esqueletos e tinham inveja por termos passado tempo trabalhando em uma fazenda. Nos disseram que tinha irrompido uma epidemia de tifo. Alguns dos barracões tinham sido queimados até as fundações. As pessoas morriam como moscas. Não podia achar palavras para explicar a intensidade do crime. Por aquela época, parecia que éramos os remanescentes de uma raça. Ficava dizendo a mim mesma para não desistir – se alguém de minha família tivesse sobrevivido, poderiam precisar de mim. Este sentimento de responsabilidade para minha família e com nossa raça mantinha-me lutando para ficar viva.

A fome, sujeira e tortura continuavam. Uma manhã, para meu espanto, recebi um pequeno pacote. A Kapo que me deu, disse que tinha que levar de volta uma resposta. Eu o abri: havia um pouco de pão, um lápis e um bilhete. O conteúdo do bilhete era o seguinte: “nasci na Polônia. Não sou judeu. Expressei publicamente a oposição ao governo; por isso fui enviado para Auschwitz. Sou um médico. Gostaria de saber se você se casaria fora de sua fé”. Não demorei muito a responder. Em meu coração, sabia que não casaria fora de minha fé, por respeito aos meus pais. Também, não tinha ainda abandonado a esperança com relação a Ainsley. Assim, expressei meus agradecimentos a ele e disse minhas razões. Nunca mais ouvi dele de novo, mas foi um tremendo apoio moral acreditar que havia algumas pessoas decentes lá fora e que eu deveria fazer o máximo para sobreviver.

Umas poucas semanas depois, Magda e eu, junto com muitas outras pessoas, fomos levados para outro campo de concentração. Quando chegamos, dois Kapos estavam encarregados de levar-nos para dentro do campo. Para nosso azar, tomaram liberdades por sua posição de superioridade, nos abraçando e agarrando. Foi embaraçoso e fiquei apavorada. Disseram que lembrávamos-lhes suas irmãs. Logo uma fila foi arrumada e caminhamos para o campo.

Quando entramos no campo, foi uma experiência pavorosa. No meio do terreno havia uma imensa vala. Tivemos que nos alinhar em um dos lados. Em nossa frente, no outro lado, os soldados SS estavam de pé, com seus fuzis apontando para nós. As pessoas ficaram em pânico, temendo que estivéssemos em frente a um pelotão de fuzilamento. Tentei acalmar as pessoas na minha frente com a explicação de que, se quisessem nos matar, isto teria sido feito em Auschwitz. No fim, era só um treinamento militar.

Fomos levados a um prédio onde tivemos que tomar uma ducha e foram-nos dados outras roupas, uniformes com listras cinzentas e azuis. Nós fizemos uma fila para a comida, que foi dada em um prato. Era mais no estilo militar e parecia muito melhor que Auschwitz.

Cedo a noite senti-me cansada e deitei-me em uma dos catres debaixo de um beliche. Enquanto descansava, minha prima correu e estava excitada. Disse-me que dois dos Kapos tinham trazido pão para nós. Não pretendia ir e implorei para não ir, mas ela só correu para fora, dizendo que precisávamos do pão. Apesar de não querer ir, corri atrás dela, para que não ficasse sozinha. Os dois jovens rapazes ficaram felizes em nos ver. Um deles estava segurando minha mão quando de repente as luzes apagaram. Diversas pessoas entraram. Fomos escoltadas de volta ao nosso barracão, mas levaram Magda com eles. Teve que se despir totalmente e esperaram. Pouco depois um oficial SS chegou e minha prima foi surrada com um bastão de borracha. Ouvi-a gritar e senti a sua dor. Em meu coração, sabia que ela queria apenas o bem para nós. Só queria um pouco de pão. Quando terminaram com ela, esperava que viessem me pegar, mas isso não aconteceu. Magda disse-lhes que eu só tinha corrido para lá para chamá-la de volta. Podíamos ver os dois Kapos fora, havia dois postes com uma corda grossa no meio. Cada homem estava amarrado pelos pés e braços e foi deixado lá, pendurado no poste, por horas.

Na manhã seguinte fomos amontoados como sardinhas em um vagão e fomos enviados para um campo de trabalhos forçados. Levou muitas horas para chegar lá. Lembro-me de dizer a Magda que as pessoas eram muito boas, pois tinha caído no sono em cima delas. O que não tinha percebido é que estava dormindo em cima de corpos mortos. Minha prima sofria de dores terríveis da surra. Quando o trem parou, finalmente, no destino designado e a porta abriu, fomos forçados a carregar os cadáveres.

Dormimos no chão em um barracão, com somente um pouco de palha espalhado em volta. A comida era horrível e muito pouca. Para descrever a extensão da fome, uma vez retirei uma migalha de pão da parede da latrina e a comi. Homens e mulheres usavam a mesma latrina. Não havia nada parecido com dignidade humana.

O trabalho era duro. Recebemos uma picareta e tínhamos que cavar uma área montanhosa, para construir uma trincheira. Não recebemos roupas quentes. Embrulhávamos os pés em pedaços de trapos, tínhamos medo de congelamento. Algumas vezes gostaríamos de poder falar com alguém, mas um soldado SS aparecia imediatamente, gritando para parar de falar e continuar trabalhando.

Um dia, Magda ficou doente. Não conseguia ir para o trabalho. Fiquei preocupada o dia todo, o que aconteceria com ela? A mesma coisa aconteceu comigo também. Não havia um médico. Por sorte nossa, no dia seguinte conseguimos ir para o trabalho. As pessoas que ficavam afastadas do trabalho mais de duas vezes, nunca víamos de novo.

Eventualmente, à medida que os russos estavam avançando, este campo teve que ser eliminado. A marcha começou. Ainda era o inverno e estava muito frio. Marchamos o dia todo. Quando algumas pessoas estavam próximas do colapso e os próprios guardas estavam muito cansados, normalmente encontravam um local para nós onde podíamos passar a noite, normalmente em baias, como animais. Estávamos famintos. Lembro que, uma vez, quando marchávamos, reparei em algumas cascas de batatas congeladas na neve. Peguei algumas rapidamente e as comi.

Uma noite, depois de termos sido trancadas em uma baia, uns poucos de nós decidiram que deveríamos tentar escapar. Subimos ao sótão. Estava cheio de forragem. Nos enterramos na forragem. Na manhã, quando os guardas SS vieram nos levar, ficamos no sótão. Na primeira noite, alguém atirou algumas cenouras e foi isso que comemos. Mas na manhã seguinte, um grupo de rapazes, adolescentes fanfarrões, vieram até o sótão. Um a um, nos jogaram pela janela, gritando, “Juden, Juden!” [Judeu, Judeu!]. Caindo dois metros e meio, me concentrei em cair sobre meus pés. Todos ficamos doloridos e machucados. Em pouco tempo, um guarda SS veio e levou-nos de volta para o grupo, e mais uma vez a marcha continuou.

Uma noite, era bem tarde. Estávamos extremamente cansadas e minha prima sentia-se doente. Implorei-lhe para continuar a caminhar. Ela virou-se e disse: “Vera, continue você. Não posso caminhar mais” e caiu. Naquele momento, deitei-me ao lado dela, dizendo-lhe para fingir que estávamos mortas. O primeiro guarda gritou para que levantássemos, continuássemos a caminhar. Quando um segundo guarda veio e quis disparar contra nós, lhe disse, “estão mortas, não desperdice suas balas”.

Imóveis, ficamos ali até que não houvesse mais sons. Naquele momento, disse a Magda que tínhamos que continuar caminhando, ou congelaríamos até a morte. Lentamente rastejamos para fora da sarjeta. Com Magda se apoiando em mim, lentamente caminhamos. De repente percebemos uma luz. Logo percebemos que era uma casa. Neste ponto, não tínhamos escolha. Ninguém disse uma palavra para nós. Ficamos encolhidas embaixo de uma cama e caímos no sono ali. Na manhã, um homem nos cutucou com uma vassoura, gritando, “Juden heraus” (judeus, caiam fora). Rastejamos para fora. Após deixar a casa, jogou algumas migalhas de pão para nós. Parei para pegá-las e comemos tudo. Lembro de pensar que ainda havia alguma humanidade restante nele.

Continuamos a caminhar. Andamos por uma área mais povoada e de repente vimos um policial dirigindo o tráfego. Rapidamente fizemos uma volta e entramos em uma casa. Uma mulher veio a nós e perguntou se queríamos alguma comida. Naturalmente queríamos, estávamos famintas. Ela voltou com duas porções de presunto e purê de batata em pratos de porcelana, com talheres. Não sabíamos exatamente porque estavam sendo tão bons, mas logo outra mulher veio e nos disse que os russos tinham chegado na área e que, se os russos viessem até a casa, queriam que disséssemos que eram boas pessoas, que nos tinham protegido e dado comida. Agora entendíamos a situação em que estávamos. Ficamos felizes, pois finalmente ficaríamos livres.

Passados alguns minutos, soldados russos entraram na casa. O pai ou avô estava sentado com todas as suas condecorações militares em seu uniforme. Um soldado russo fuzilou-o imediatamente. Ficamos com medo. Não sabíamos o que aconteceria a nós. Uma das mulheres veio a mim, implorando para salvar a sua filha, dizendo que um soldado russo a tinha levado para um quarto e que a mataria. Pensando como nos tinham tratado bem, corri para o quarto. Ainda era muito ingênua, não percebia que estava estuprando-a. Comecei a explicar que essas pessoas nos tinham dado comida. Ia pegar sua arma. Minha prima correu para o quarto, me agarrou, deu um tapa na minha cara, e puxou-me para fora. Ela estava tremendo. Perguntou-me: “você não sabe a razão porque ele levou a garota para aquele quarto?” Naquele momento, eu não sabia. Estava tentando salvar uma vida, mas estava em estado de choque. Se não fosse por Magda, teria sido morta.

Também percebemos que corríamos perigo. A liberdade pela qual esperávamos não veio. Não havia lei e ordem. Estávamos sozinhas. Quando a noite veio, dormimos com nossas cabeças cobertas por um xale, para parecer menos atrativas. Mesmo assim, uma noite enquanto ambas dormíamos, um soldado me acordou. Com sua lanterna brilhando nos meus olhos, ordenou para ficar de pé e segui-lo. Eu estava aterrorizada. Gritei e chorei. Minha prima tentou explicar que tínhamos estado em um campo de concentração, que éramos judias. Ele disse que judeu era bom. Então Magda disse-lhe que eu era só uma criança. Neste momento ficou zangado e disse a Magda, “você não é uma criança”, e a forçou a ir com ele. Fiquei esperando atormentada, sem saber o que aconteceria com ela. Voltou logo e disse que não tinha conseguido estuprá-la, pois chorara e gritara muito. Ficou zangado e bateu nela com seu fuzil e deixou-a ir. O medo continuava todos os dias.

Continuávamos procurando por comida. Encontramos uma jovem garota e sua mãe de origem polonesa. Acharam algumas batatas, as cozinharam e insistiram em partilhá-las conosco. Também eram sobreviventes. Nunca pude esquecer delas. Uma vez nos escondemos em uma pilha de forragem para evitar alguns soldados. Devem ter reparado em nós e incendiaram a forragem, para forçar-nos a sair. Um oficial russo mais velho reparou na gente. Disse que parecia com sua filha. Ele mantinha uma camaradagem com uma mulher da mesma casa onde ficávamos. Tivemos sorte dele notar a situação em que estávamos.

Uma tarde encontramos uma jovem garota, também uma sobrevivente. Vinha de uma família muito religiosa. Disse-me como era grata por ter sobrevivido e que quando fosse para casa, esperava achar sua família. Bem, isso não aconteceu. Um soldado russo bêbado a estuprou durante a noite. Na manhã seguinte a garota estava morta, tinha sangrado até a morte. O soldado ainda estava ao lado dela, bêbado.

O oficial russo mais velho se tornou um bom amigo para nós. Algumas vezes trazia alguma comida. Lembro claramente do casaco de inverno bege e branco que me deu, também sapatos, mas, acima de tudo, lembro que provavelmente salvou nossas vidas. Cedo numa manhã, pessoas jovens foram reunidas. Magda e eu fomos escolhidas. Disseram para entrar em um caminhão do exército. Ambas tentamos explicar que não éramos o inimigo, que não éramos alemãs, que éramos sobreviventes judias, mas não fez diferença. Fomos forçadas a entrar no caminhão. Enquanto esperávamos no caminhão, reparamos que nosso amigo, o oficial russo, estava falando com os soldados, e logo depois vieram nos dizer para sair do caminhão. Não sabíamos como lhe agradecer o suficiente. Mas, este homem tinha um coração. Sabia de nosso sofrimento e só queria nos ajudar. Não esperava nada de nós. (...)

Semanas passaram, o clima estava ficando mais brando. Magda achou uma bicicleta. Decidimos procurar em dupla por comida nela. Conseguimos encontrar um pouco de comida e estávamos voltando quando em uma estrada de terra deserta quando ouvimos soldados russos nos chamando. Magda acelerou, pedalando o mais rápido que podia. Os soldados começaram a atirar. Se estavam só atirando para o ar ou se erraram o alvo, não sabíamos. O fato importante é que conseguimos fugir ilesas.

Várias semanas mais passaram, era a primavera. Estávamos imaginando como e quando seríamos capazes de voltar para a Hungria. Tinha medo, mas ainda esperava e rezava por algum milagre que fizesse ver minha família de novo. Em minha mente, não queria acreditar que o mundo permitiu o genocídio sem razão de nosso povo, somente por sermos membros da fé judia. Parecia ser criminoso, tão inacreditável mas, naturalmente, dado o que tinha visto e pelo que tinha passado, havia muitas razões para estar temerosa.

Em um dado momento em maio, nosso amigo, o oficial russo, veio ver-nos. Disse que a ferrovia para a Hungria tinha sido consertada. Disse o momento exato quando um trem estaria saindo. Aconselhou a tomá-lo e seguimos o seu conselho. Sabíamos que só queria o nosso bem. Queríamos muito voltar, apesar de que nunca mais pude chamar novamente a Hungria de lar. Amava o país; era bonito, mas ficava me lembrando da cooperação do governo húngaro com os alemães, e a vontade deles em fazer todas aquelas atrocidades horríveis contra nós.

Chegamos no trem. Foi difícil entrar no vagão de carga. Não havia plataforma; tínhamos que puxar-nos para dentro. Estava repleto de soldados russos, muitos deles bêbados. Com nossas cabeças cobertas – parcialmente cobríamos também nossos rostos – não olhávamos para nada, a não ser para o chão. A única cisa que vimos: soldados bêbados urinando no piso. Depois de várias horas, o trem parou em uma pequena cidade. Saltamos e nos transferimos para um trem de passageiros. Enquanto caminhávamos, procurando um assento, uma mulher cuspiu em frente a nós e disse o seguinte: “esses judeus sujos estão voltando”. Naquele momento fiquei muito feliz por termos sobrevivido e que os anti-semitas sentiam a derrota. (...)

Agora é outubro de 1999. Estamos nos preparando para passar os duros meses de inverno na Florida. Estou terminando minhas memórias. Foram muito difíceis de escrever. Estou cansada mental e fisicamente. É impossível aceitar esta indescritível tragédia que a humanidade deixou acontecer. A despeito de todo nosso sofrimento, sou grata às garotas Freed de Vár utza, Kisvárda. Elas me levantaram e me encorajaram a continuar a caminhar de Birkenau para Auschwitz. Elas tiveram suas grandes perdas, mas ainda assim se preocupavam com outro ser humano.

Na medida em que entramos em um novo milênio, desejo saúde, paz e prosperidade; liberdade para todas as religiões; igualdade para todos.

 
Fonte: Montreal Institute for Genocide and Human Rights Studies - Holocaust Survivors Memoirs

A ultima bateria


O último avanço alemão sobre Sebastopol foi precedido por um furacão de fogo e aço. Os atacantes lançaram sobre os defensores da cidade toda a massa dos seus recursos. Tanques, lança-chamas,. Bombas, granadas, tudo foi arrojado sobre as linhas russas, violentamente. Um dilúvio de ferro e fogo se abateu sobre os restos informes das defesas russas. Os aviões alemães, por sua vez, descarregaram implacavelmente todo o poder de suas bombas e metralhadoras. E então, por trás de todo aquele caos de disparos, explosões, lamentos, silvos de bombas, surgiram os carros de assalto. De frente para as linhas alemães se encontrava uma divisão russa. Uma divisão que resistiu firmemente ao ataque alemão. Um a um, seus homens estavam tombando. Companhias inteiras haviam sido tragadas. Batalhões desapareceram. Porém, os restos da divisão não davam um passo atrás. Ao produzir-se o ataque final, ao cair sobre eles uma massa de ferro e fogo, a divisão estava reduzida a 130 homens. Nem um mais. As unidades alemães, avançando cautelosamente se aproximaram daquele punhado de homens. Os russos, por sua vez, agrupando-se, entrincheiraram-se em redor de uma bateria. A última bateria. O combate desproporcionado, grotesco quase, entre uma força 100 vezes superior, e uma companhia esgotada, travou-se, furioso. Aquilo não podia durar. Era impossível. Não era humano resistir numa proporção de um contra cem. E a ordem chegou: - Abandonar posição! - foi gritada com voz rouca entre o troar dos canhões e o estouro das granadas. Porém, nenhum homem abandonou sua trincheira. Nenhum soldado deu um passo atrás. Todos continuaram carregando e disparando suas armas, ininterruptamente, sem descanso. Nenhum combatente admitiu aquela ordem que podia salvá-los. Todos preferiram morrer combatendo. Três dias e três noites durou aquela luta desproporcional, irreal. Três dias e três noites de sucessivos ataques alemães.
Quando, vencida a resistência dos defensores, os primeiros soldados alemães puseram o pé no reduto, os últimos 40 homens que defendiam a bateria, fizeram-na voar pelos ares. Foi seu último gesto de renúncia. Terminara a epopéia da última bateria..

Heroismo


Os soldados alemães movimentavam-se lentamente ao longo das ruas do povoado. Uma coluna de caminhões e alguns veículos blindados já haviam cruzado por ali e estavam estacionados na praça principal. Tratava-se, sem dúvida alguma, do local mais bem protegido da cidadezinha, por estar rodeado de edifícios que impediam a visão direta das trincheiras russas. Horas depois, distribuídas as sentinelas, grande parte dos homens receberam permissão para um rápido descanso. Os alemães, sem esperar repetição da ordem, dispersaram-se pelos lugares protegidas e caíram, em poucos minutos, no mais profundo sono.

Duas horas se passaram. Algumas sentinelas passeavam lentamente pelas ruas desertas. Outras vigiavam do alto dos tetos das casas. O silêncio era total. De súbito um silvo fez com que os homens se lançassem rapidamente ao solo. Foi apenas um instante. Ouviu-se em seguida a explosão atroadora no silêncio reinante. Depois da primeira, produziu-se outra e mais outra.
Os alemães compreenderam. A artilharia russa havia começado a bombardear o lugarejo. Os oficiais logo distribuíram suas ordens. Pequenos grupos de soldados correram pelas ruas e tomaram posições.
Um cinturão de homens e metralhadoras rodeou os caminhões e tanques estacionados na praça central. Porém o assalto esperado não se produziu. Em troca, um certeiro fogo de artilharia começou a martelar os arredores da praça, aproximando-se mais e mais dos caminhões e tanques. Minutos depois, o tiro da artilharia russa, evidentemente dirigido por um observador, atingiu os veículos e a zona circundante. Às pressas, tanques e caminhões foram removidos para outro local. Os projéteis, enquanto isso, continuavam caindo sem interrupção no lugar onde os veículos haviam estado parados. Pouco depois, seguindo as evidentes instruções do observador, os disparos começaram a cair na nova localização dos veículos.
Duas horas depois o bombardeio estava terminado. Vários tanques destruídos eram testemunhas da orientação precisa proporcionada aos artilheiros russos pelo observador desconhecido.

Sem perda de tempo, os oficiais alemães estudaram minuciosamente a situação. Seguindo a trajetória dos disparos, foi possível determinar a posição das baterias russas que haviam bombardeado a região. Posteriormente, marcando sobre um mapa as duas posições que os veículos haviam ocupado dentro da cidade, localizou-se um pequeno setor que sem dúvida, devia estar os informantes. Várias patrulhas foram logo enviadas. E a rápida operação foi coroada de êxito. Diante deles erguia-se a torre de uma antiga igreja. Aquele era o único lugar de onde se divisaria o movimento dos tanques alemães. Um oficial aproximou-se da torre, e munido de um megafone, em russo, intimou à rendição os seus prováveis ocupantes. Depois de alguns instantes de silêncio, uma cabeça assomou no alto, por uma janela. E o homem falou de dentro da torre, identificando-se como um oficial russo. Sem a menor alteração na voz, respondeu às ordens do oficial alemão, lamentando ter que negar-se a se entregar.
Surpreendido com aquela demonstração de coragem, o oficial alemão renovou o pedido de rendição, dizendo, ao mesmo tempo, que não podia ordenar que um homem corajoso fosse morto naquelas condições, sem a menor possibilidade de salvar a vida. Um ou dois segundos passaram, e novamente a mesma cabeça assomou no alto da janela. Com uma linguagem semelhante à da primeira oportunidade, o oficial russo respondeu, cortêsmente, que não se entregava.
Depois de um instante de vacilação, lamentando-se intimamente, o oficial alemão deu uma ordem. Uma granada cruzou o ar em direção à torre. Um segundo depois uma tremenda explosão encheu a praça de logo um montão fumegante de escombros era rodeado pelos soldados alemães. Entre as ruínas, os corpos de dois oficiais soviéticos se destacavam. A uma ordem do oficial alemão que comandava o grupo, os soldados alemães apresentaram armas, rendendo homenagem à coragem dos que morreram.

As sebes da Normandia

Aspectos da luta entre as tropas americanas e alemães nas sebes normandas, após os desembarques do Dia D, na França.



Sob nenhum aspecto, os soldados alemães que lutavam na Normandia eram combatentes indecisos. Muitos lutaram efetivamente; alguns combateram magnificamente. Em St.-Marcouf, a cerca de dez quilômetros ao norte da praia de Utah, os alemães tinham quatro casamatas enormes, cada uma abrigando um canhão de 205mm. No Dia D, essas armas travaram duelo com navios de guerra americanos. No dia seguinte, soldados da 4ª Divisão de Infantaria cercaram estas casamatas. Para mantê-los afastados, o comandante alemão solicitou cobertura de outra bateria de canhões de 205mm, localizada a cerca de 15 quilômetros ao norte dali, bem acima de sua própria posição. Isso manteve os americanos longe por mais de uma semana, enquanto o canhão alemão continuou a disparar esporadicamente contra a Praia de Utah.

Os disparos contra a casamata foram precisos e a atingiram diversas vezes em cheio, sempre com projéteis de grande calibre, mas estes produziram apenas pequenas concavidades no concreto. Essas casamatas ainda existem - ficarão lá por décadas, senão séculos, de tão bem construídas que foram. São um mudo testemunho da resistência dos alemães. Durante oito dias, as guarnições de seus canhões ficaram confinadas nelas - sem nada para comer, exceto pão dormido e água de má qualidade; nenhum lugar para o alívio das necessidades; barulho ensurdecedor, vibrações, concussões, poeira em toda a parte. Apesar de tudo, eles continuaram com os disparos. Desistiram somente quando sua munição se esgotou.

Entre outros grupos de elite alemães na Normandia havia o dos pára-quedistas. Eles formavam um corpo de combate inteiramente diferente das tropas alemães lotadas na União Soviética e na Polônia. Partindo da Bretanha, a 3ª Divisão de Fallschirmjäger travou combate pela primeira vez na Normandia em 10 de junho, depois de dez dias de viagem de caminhão. Era uma divisão completa , com 15.976 homens em suas fileiras, formada por jovens voluntários alemães em sua maioria. Embora inexperiente em matéria de combate, tinha sido organizada e treinada por um experiente batalhão de pára-quedistas da campanha da Itália. Seu treinamento fora rigoroso, e a ênfase dada à iniciativa e à improvisação. Seu equipamento era notável.

Os Fallschirmjäger eram, talvez, os mais bem armados soldados de infantaria do mundo em 1944. Sua unidade, a 3ª Divisão, tinha 930 metralhadoras leves, 11 vezes mais do que seu principal oponente, a 29ª Divisão de Infantaria Americana. Suas companhias de fuzileiros tinham 20 metralhadoras MG 42 e 43; as companhias de fuzileiros na 29ª Divisão tinham duas metralhadoras e nove BARs. No âmbito dos esquadrões, os soldados americanos tinham um único BAR; o esquadrão de pára-quedistas alemão tinha dois MG42 e três submetralhadoras. Os alemães tinham três vezes mais morteiros que os americanos, e de maior calibre. Portanto, em qualquer encontro entre números semelhantes de americanos e Fallschirmjäger, os alemães tinham um poder de fogo de seis a vinte vezes maior.


E esses combatentes alemães estavam bem preparados para o combate:

- Esses alemães são os melhores soldados que já vi. São inteligentes e ignoram o significado da palavra "medo". Eles avançam e continuam vindo até que façam seu trabalho ou você os mate - disse, como comentário, um dos comandantes de batalhão da 29ª Divisão a um colega de outro regimento.

Esses eram os homens que tinham que ser arrancados das sebes. Um por um. Havia, em média, 14 sebes por quilômetro na Normandia. O custoso e enervante processo de preparação para o ataque, a realização dele, seu eventual sucesso e a subseqüente operação de limpeza levavam meio dia ou mais. E, no fim da operação, outra sebe os aguardava a cerca de 200 metros de distância. Ao longo de toda a Península de Contentin, do dia 7 de junho em diante, os soldados americanos penaram no afã de superar estas sebes. Puxaram e empurraram apetrechos e equipamentos e lutaram e morreram fazendo isso, para a conquista de duas sebes por dia.

Nenhum terreno do mundo foi mais apropriado ao combate defensivo com as armas da quarta década do século XX do que o formado pelas sebes da Normandia, e somente a lava e os corais, as cavernas e os túneis de Iwo Jima e Okinawa lhe foram tão favoráveis.

As sebes normandas remontavam à época dos romanos. Eram cercas de terra para confinar o gado e demarcar limites. Tipicamente havia apenas um local de acesso a cada um dos pequenos campos fechados pelas sebes, as quais eram irregulares, tanto no comprimento, quanto na altura e cuja disposição formava estranhos ângulos. De um modo geral, a galhada de suas árvores e de seus arbustos se encontrava por sobre as vielas, o que dava aos soldados a impressão de estarem presos num túnel de vegetação. Para onde quer que olhassem, sua visão era bloqueada por paredes de folhas e galhos.

A realização de uma ofensiva nas sebes era um empreendimento arriscado, oneroso, demorado, acompanhado por vezes de muita frustração. Era como combater em um labirinto. Pelotões viam-se completamente perdidos passados alguns minutos do lançamento de um ataque. Esquadrões se separavam involuntariamente. Não raramente, dois pelotões da mesma companhia podiam ocupar campos adjacentes durante horas antes de descobrir a presença de cada um. A pequenez dos campos limitava a disposição de tropas; pouquíssimas vezes, durante a primeira semana de combate, uma unidade como uma companhia iniciava um ataque sem sofrer baixas.

Onde os americanos se perdiam, os alemães se sentiam em casa. Havia meses que a 352ª Divisão Alemã estava na Normandia treinando para enfrentar os inimigos nas sebes. Além disso, os alemães eram geniais na utilização das possibilidades de fortificação desses obstáculos. Nos primeiros dias da batalha, muitos soldados foram feridos ou mortos, pois irrompiam pelas aberturas nas sebes em demanda dos campos, em seguimento da tática de batalha agressiva que lhes fora ensinada, e eram detidos pelo fogo de metralhadoras ou morteiros (os morteiros foram a causa de três quartos do total de baixas na Normandia).

Os manuais de táticas de guerra do exército americano enfatizavam a necessidade de cooperação entre unidades blindadas e de infantaria. Mas na Normandia, as guarnições de tanques não gostavam de entrar nas encovadas ruelas, em razão do espaço insuficiente para girar a torre de tiro e visibilidade deficiente para empregar o poder de fogo do canhão e das metralhadoras de longo alcance. Mas a permanência nas estradas principais mostrou-se algo impossível; os alemães ocupavam as elevada regiões interioranas e tinham seu canhão de 88 mm posicionado para cobrir, com seu poder de fogo, grandes extensões ao longo das estradas. Assim, por força das circunstâncias, os tanques entraram nas vielas, mas se viram restringidos em sua mobilidade. Tentaram sair para os campos e não conseguiram. Quando apontavam em uma abertura que dava acesso a um deles, o fogo dos morteiros e dos Panzerfaust (lançadores portáteis de granadas-foguete antitanque) os tirava de combate. Na verdade, freqüentemente os faziam "ferver" ou incendiar-se - seus operadores começaram a descobrir que seus tanques tinham a angustiosa tendência de pegar fogo.

Algumas guarnições tentaram superar ou romper as sebes com seus veículos, mas elas se mostraram obstáculos quase insuperáveis pelo tanque americano M4 Sherman. Incontáveis foram as tentativas para se tentar fazer isso, mas o Sherman não era suficientemente forte para romper sua base, de consistência semelhante ao concreto, e, quando conseguia escalar o paredão da sebe e lhe alcançava o topo, seu chassi desguarnecido de blindagem ficava exposto ao Panzerfaust. Ademais, a coordenação entre as guarnições dos tanques e as infantarias era quase impossível naquelas condições de combate, já que não dispunham de um meio fácil ou confiável de se comunicarem uns com os outros.

O Tenente Sidney Salomon, do 2º Batalhão de Tropas de Assalto, um dos heróis do Dia D, descobrira isso no dia 7 de junho. Então, ele estava conduzindo os sobreviventes de seu batalhão, o qual desembarcara em Omaha, no flanco direito do inimigo e estivera envolvido em um tiroteio que durara um dia inteiro, no Dia D, em direção ao oeste, pela estrada litorânea que levava a Point-du-Hoc. Três companhias do 2º de Topas de Assalto haviam tomado a plataforma da artilharia alemã assentada aí e destruído a artilharia de costa, mas enfrentavam agora grande contra-ataque e sofriam preciosas baixas. Salomon tinha pressa em destruir o inimigo.

Mas essa coluna, marchando em formação de combate, começou a sofrer ataques de artilharia pesada. À direita Salomon avistou uma igreja normanda, seu campanário era o único ponto elevado nas redondezas. Estava certo de que os alemães tinham um observador vigiando dali as peças de artilharia. Por trás de Salomon, um Sherman se aproximava, o único tanque americano que seria visto ali. O tenente queria que o veículo elevasse seu canhão de 75mm em direção ao campanário para destroçá-lo, mas com o tanque inteiramente fechado, não conseguiu chamar a atenção da guarnição, mesmo quando golpeou o lado do blindado com a coronha de seu fuzil. "Assim, numa atitude extrema, pus-me no meio da estrada, agitei os braços e apontei em direção à igreja. Deu resultado. Depois de alguns disparos do canhão e de algumas rajadas de .50, o guardador de artilharia alemã não existia mais.

Em que pese a ousadia de Salomon, era óbvio que o exército teria que engredar um bom sistema de comunicação tanques-infantaria, ao invés de fazer com que seus oficiais pulassem na frente dos blindados americanos para se comunicar. Até que isso fosse feito, os tanques desempenhariam apenas um papel secundário de apoio à infantaria, entrando no próximo campo depois que os soldados o tivessem ocupado.

O I Exército Americano não tinha produzido nada que se aproximasse de um corpo de instruções de ofensiva nas sebes. Despendera grande energia para enviar tanques em grande quantidade à Normandia, mas não tinha nenhuma doutrina militar para desempenho do papel destes nas sebes. Em tempos de paz, o exército teria lidado com o problema estabelecendo comissões e conselhos técnicos, realizando manobras experimentais, testando idéias, antes de criar um manual de preceitos de combate. Mas, na Normandia, o tempo era um luxo de que o exército não dispunha. Portanto, enquanto a infantaria avançava em Contentin, depois de lançar ataques frontais às zonas mortais do domínio inimigo, os tanques começavam a experimentar meios de utilização de suas armas nas sebes.



Fonte: Soldados Cidadãos - Stephen E. Ambrose - Bertrand Brasil

sábado, 26 de dezembro de 2009

Sebes na Normandia

Aproximarmos-nos e mantermo-nos a cerca de 30 metros do inimigo era o que chamávamos de combate corpo a corpo – conta-nos Adolf Rogoseh soldado da 353º Divisão do Exercito Alemão. Treinávamos duro, arremessávamos granadas, fazíamos o reconhecimento do terreno. E entrecruzamento das sebes nos enganava a visão. Treinávamos para luta individualmente, sabíamos que, quando o ataque viesse, ficaríamos isolados um do outro. Deixávamos o inimigo avançar e passar pela sebe. Depois, acabávamos com eles. Essa era nossa tática: esperá-lo superar a sebe e depois atirar. Demais os alemães haviam posicionado morteiros e artilharia na únicas brechas que possibilitavam acesso aos campos. Atrás da sebes, fizeram trincheiras para atiradores de fuzil, e, em cada uma de suas quinas, abriram buracos para o emprego de metralhadoras."


Soldados Cidadãos – Stephen E. Ambrose – Pag.22

Episódios da retirada alemã, em dezembro de 1941, tomados de narrações de soldados e oficiais.



“Todos os hospitais e lugares de reuniões de enfermos aos quais cheguei estavam congestionados e sempre fui despachado em condições que dificilmente podem ser escritas. Não se notava preocupação pelos feridos. Por isto, num trem-hospital auxiliar, passamos 18 horas sem café e alimentos; o chefe do tem, um cirurgião da aviação, que não se havia interessado por nenhum dos prisioneiros, desaparece em Lyblin porque a sua licença começava no dia seguinte... Uma parte dos que andavam vagando pelos hospitais devia estar na frente; isto se aplica não somente ao pessoal da tropa mas também aos oficiais; é assombrosa a quantidade deles.”

“O quadro que apresenta o caminho da retirada, agora, não é grato; a disciplina começa a ser relaxada. Aumenta o numero de soldados que se retiram a pé e sem armas, com um novilho atado por uma corda ou com um trenó carregado de batatas atrás deles; emigram, assim, sem chefes, para o oeste. Os soldados mortos devido aos bombardeios já não são enterrados. As colunas, freqüentemente sem chefes, aparecem pelos caminhos, enquanto as tropas combatentes de todas as armas, inclusive as antiaéreas, mantêm-se adiante, empenhando suas ultimas energias. Todo o complemento das unidades (formação de exército, aviação, serviço de abastecimento) volta para a retaguarda sem condução, como se fosse uma fuga. Uma psicose, quase um pânico, apoderou-se das colunas que não conheciam este quadro, habituadas somente a avanços impetuosos. Sem alimentação, com frio, sem direção, retrocedem. Entre eles há também feridos que não puderam ser evacuados.”

“O transporte ferroviário foi terrível. Depois da partida de Kaluga, em vagão de carga, fomos desembarcados até o meio dia. Ao anoitecer, continuamos a viagem num caminhão aberto. Depois em uma hora, fomos desembarcados numa escola de calefação. Ali permanecemos dois dias. Não houve comida quente e a fria era insuficiente. Depois, fomos num trem-hospital russo até Viasma. Lá, permanecemos 89 horas na estação. Enquanto isso, os aviões russos atacaram. Finalmente, fomos transportados para o trem-hospital alemão que fazia 48 horas que estava ao lado no nosso. Desgraçadamente, também ali a situação era pouco agradável; eram carros de 3ª classe; com três cobertores, em cada banco havia um soldado, o terceiro no corredor em cima do chão...”

“Quanto mais nos aproximávamos de Kaluga, tanto maior era a quantidade de armas e materiais uqe se achava sem dono pelos caminhos e pelos campos. Haviam sido abandonadas peças leves e pesadas, pedaços de pontes novas, inúmeros caminhões e automóveis e até colunas inteiras de caminhões. Se as intensas tempestades de neve, sobretudo nos dias 22 e 23 de dezembro, não houvessem “tapado” - no sentido literal da palavra – estes sinais de uma retirada precipitada ao olhos das unidades da frente que passavam em sua proximidade, a impressão da derrota – da qual é culpado o comando supremo – teria sido ainda mais dolorosa.”