Danae Vagliano, a mãe de uma integrante da resistência francesa, relata a um amigo da família como os nazistas trataram sua filha após a terem capturado.
Quatro dias depois de as tropas alemãs invadirem Paris, em 14 de junho de 1940, e somente algumas semanas depois de conquistar a Holanda e a Bélgica, uma voz solitária, transmitida pela rádio BBC, desde Londres, conclamava o povo francês a não se render sem luta. “A última palavra foi proferida? Deve a esperança perecer? É esta a derrota fnal? Não!”, exclamou. “O que quer que aconteça, a chama da resistência francesa não pode se extinguir e não será extinta.” O locutor era o general Charles de Gaulle, o ex-subsecretário de Guerra francês, que rejeitara enfaticamente o armistício que cedera metade da França ao nazismo alemão. (Ironicamente, o novo primeiro-ministro francês, designado para dirigir o regime Vichy, que colaboraria com os nazistas para governar a França ocupada, era o marechal Henry Philippe Pétain — o “herói de Verdun” —, que defendera seu país com grande afinco durante a Primeira Guerra Mundial.) Movidos pelas palavras de De Gaulle, inúmeros franceses arriscaram suas vidas ao longo dos quatro anos seguintes para subverter o governo Vichy e ajudar os esforços aliados, à medida que se preparavam para a libertação da França, em junho de 1944. Filha de gregos que tinham residência tanto na França quanto na Inglaterra, Elaine Vagliano foi inspirada pelo chamado às armas de De Gaulle e juntou-se à resistência. Depois que os alemães foram expulsos da França pelos aliados, quando era seguro escrever livremente sobre a ocupação, a mãe de Elaine, Danae, escreveu uma longa e emocionada carta a um amigo na Grã-Bretanha, a respeito dos acontecimentos dos últimos quatro anos. Concentrou-se particularmente nas barbaridades dos soldados da Gestapo (a polícia secreta nazista) e na coragem impetuosa de homens e mulheres, incluindo sua flha, que serviram ativamente à resistência.
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Caro sr. Andrews,
De todo o coração, desejamos agradecer-lhe pela maravilhosa carta que o senhor e a sra. Andrews nos enviaram. Ficamos muito emocionados com sua grande e sincera simpatia. Façam a gentileza de agradecer em meu nome à sua filha por sua querida e bela carta! Espero que uma amiga lhe envie esta correspondência, pois, neste momento, não posso escrever individualmente para cada um! Isso levaria ao menos seis semanas nos correios e gostaria que soubessem os detalhes agora! Agradeçam também à sra. Norman por sua delicada carta e a Ellen Wicks e Florence. Desejo que elas saibam rapidamente o quanto apreciamos a simpatia e a lembrança delas. Mais tarde, escreverei a todas pelo correio comum, uma vez que nem sempre posso incomodar essa minha querida amiga, que faz um ótimo trabalho em Paris. Ela é inglesa, e seu marido é um desses heróis que se encontram “em algum lugar” próximo às linhas de frente. Eles formam um belo casal. Não preciso repetir a todos nossa agonia e sofrimento. Afortunadamente, fomos presos no mesmo dia que nossa filha, embora não no mesmo local. Tivemos a grande sorte de ver Elaine três vezes durante nosso aprisionamento. A primeira, no pátio externo da prisão de Grasse, antes de partirmos para Nice, e as outras duas vezes no quartel-general da Gestapo em Nice ou talvez Cimiez, ao norte de Nice.
Nos separaram na prisão de Nice e cada um de nós foi jogado numa cela distinta, ao lado de outros três ocupantes. Nenhum assassino ou criminoso inglês seria colocado em lugares tão imundos; cheios de insetos e quase sem comida. Ninguém poderia tolerar tal tratamento por muito tempo e muitos prisioneiros morreram depois de alguns meses. A Gestapo sabia que éramos pró-Inglaterra e partidários de De Gaulle e talvez soubessem que fazíamos trabalho de propaganda. Acho que a verdadeira razão para nossa prisão foi torturar minha filha ainda mais e machucar-nos, a fim de dobrá-la. Fomos espancados diante dela e, embora ela nos adorasse, jamais delatou os nomes de seus companheiros. Mesmo agora posso ver seu pobre rostinho contraído, com duas enormes queimaduras, e com os olhos aflitos. As lágrimas escorriam pela face, mas nada falou. Rezei para que ela não cedesse por causa do amor que sentia por nós. Ela não abriu a boca, pois se tivesse revelado o nome de seus companheiros ou se indicasse a localização de seu quartel-general, a maior parte dos grupos de resistência seria encontrada, torturada e fuzilada. Tudo isso ela me contou, com muita calma e simplicidade, no porão da Gestapo, em Cimiez.
Sussurramos, pois sabíamos que os alemães nos mantinham todos juntos e tinham microfones no lugar. Isso aconteceu na prisão de Cannes.Ela me falou também o nome da “grande amiga” que a denunciara.
Elaine era tão fel aos amigos que não podia acreditar nisso, até que viu o testemunho assinado por essa mulher e uma lista de nomes. Também me deram a lista com o nome das pessoas que vieram me ver no domingo e aquela mulher também estava naquele dia! Me recusei a assinar e os denunciei, é claro. Isso me custou quatro dentes, pois o homem da Gestapo pensou que eu pudesse dar detalhes a respeito deles, que fossem ignorados por essa mulher tão vil, embora ela soubesse que eles eram violentamente anti-alemães. Ela, no entanto, traiu aqueles que conhecia. Felizmente, não estava a par das organizações de resistência (seus quartéis-generais) e dos nomes de alguns dos agentes. Ela mencionou aqueles a quem fora apresentada e disse que, por duas vezes, Elaine a enviara com algumas cartas a certos locais. Elaine confava nela, mas jamais lhe falou a respeito de sua “grande obra”.
Em 25 de julho, minha filha ficou ansiosa, queimou todos os seus papéis e alertou os colegas. (Isso ela me falou na prisão e acrescentou: “Nada podia ser encontrado ou usado contra mim, pois nenhuma prova existia. Foi apenas por meio de Antoinette R.C. que a Gestapo soube que eu enviara aquelas cartas. Ela havia me implorado para que eu salvasse o filho dos alemães e consegui que ele fosse enviado para longe. Essa foi a primeira coisa que Antoinette revelou em seu depoimento e acrescentou (suponho que para impressionar os alemães) que a partida de seu filho fora contra a vontade dela!!!” Então minha filha chorou e me disse: “Oh, mamãe, eu gostava dela! Por que ela fez isso comigo?” Eu poderia ter respondido que Judas existe e que seus seguidores ainda vivem nesta terra.
Essa mulher terrível está agora na prisão em Cannes desde o final de agosto. Algum dia será julgada. Ela disse ao interrogador francês que havia denunciado minha flha depois de ela (Mme. R.C.) ter sido capturada pela Gestapo, por uma denúncia menor, porque estava “mentalmente cansada” (!) Acrescentou que não fora torturada. Alguns familiares dela dizem: “Pobre Antoinette!” Ela estava tão “mentalmente” cansada! Não é uma boa desculpa, pois Mme. R.C. é uma mulher muito forte e não um delicado botão de rosas! Por causa dela, perdi minha querida, sem a qual nossa casa está vazia. O pobre Stephen é doce, mas é homem e jovem, então, aos poucos, está superando tudo isso. É natural, mas, para Marino e para mim, é diferente. Elaine era a mola propulsora em nossa casa. Era tão cheia de vida, tão pouco egoísta e, para nós, mais do que uma filha – uma amiga que sempre me ajudou e me manteve viva durante esses últimos quatro terríveis anos. Meu marido tornou-se subitamente um homem velho e eu me sinto como se tivesse 100 anos! Jamais esquecerei aqueles dias terríveis, a tortura de minha menina, suas últimas palavras! “Adeus, mamãe querida”, e seu cativante e delicado sorriso. Ela disse à moça em sua cela que estava tão feliz, tão aliviada, por termos sido libertados, mas chorava toda a noite. Não pudemos permanecer em Nice. Em nosso retorno a Cannes, movemos o céu e a terra para tirá-la da prisão. Até mesmo oferecemos suborno, às vezes o dinheiro tenta esses nazistas! Como meu rosto fora cortado e estava bastante machucado, fiquei muito doente ao voltar, por causa de uma toxemia que se instalou e alcançou os olhos. Tudo isso não me incomodava, pois eu continuava pensando em minha querida, sozinha com aqueles nazistas! Continuei a esperar que Elaine retornasse que tudo não passasse de um blefe alemão, que não mais a machucariam, visto que não havia provas (mesmo então, eu não podia acreditar que eles a matariam!).
O desembarque aconteceu (tudo já acabou, portanto espero poder mencionar isso agora). Ficamos completamente isolados. Não tínhamos luz (apenas quatro velas!), água, comida o bastante e vivíamos em nossos porões – mas estávamos tão entusiasmados! Continuávamos a mencionar como Elaine faria satisfeita. Ela desejava tanto ver todas as nossas bandeiras no alto das casas! As pontes foram destruídas e as estradas, bombardeadas. Nem uma notícia sequer chegava. Esperamos, e Nice foi tomada! Esperamos, mas Elaine não chegou. A polícia sabia a verdade e alguns de nossos amigos também – até que, no dia 22, Stephen entrou chorando e nos falou que Elaine fora fuzilada! Em 3 de outubro, seu corpo foi trazido de volta, pois há uma lei na França que proíbe o transporte de corpos. (Tivemos de enfrentar a polícia, que, finalmente, desistiu e conseguimos ter nossa filha de volta. Foi horrível!) Tivemos de esperar até mesmo por isso!
Como um soldado, ela regressou em uma carreta de canhão e seu caixão estava coberto por uma bandeira da França. (E ainda está, enquanto jaz em seu túmulo!) Ela não voltou para casa. Foi levada a Mairie e, todas as noites, havia uma guarda de honra a seu redor, com soldados em posição de sentido. No dia seguinte, houve um funeral com honras de Estado tão grandioso que lhe deram tous les honneur e muitas, muitas flores! Todos permanecemos fixos como estátuas de pedra, pois nem ao menos conseguíamos chorar. Cannes tirou-a de nós. Ela foi a heroína deles. “Notre Helen!” (Uma rua próxima da rue d’Antibes foi batizada como “rue Helene Vagliano – Heroine de la Resistance”). A única pessoa a me ajudar foi uma mulher da resistência, quando veio me ver após o funeral de Elaine. Ela lutou ao lado dos soldados e, antes, ajudara a esconder armas. Foi presa, mas escapou por milagre. O marido dela foi aprisionado, torturado e morto. No dia anterior ao funeral de Elaine, ela soube que seu único filho fora morto pelos alemães. Ela me contou tudo isso com bastante simplicidade e, quando tentei consolá-la e dizer-lhe quão corajosa era, ela disse. “C’est affreux, mais je n’ai pas le temps de pleiner!” (É terrível, mas não tenho tempo para chorar!) Vi a angústia em seus olhos! Nos tornamos grandes amigas. Ela pertence ao grupo Les Femmes de France, cuja presidência, como dizem por aqui, é ocupada por mim. Procuramos recolher roupas etc. para as famílias dos membros da resistência; para as famílias ou somente para os filhos das vítimas da Gestapo; e para as famílias dos homens que foram forçados a ir trabalhar na Alemanha. É um bom trabalho, pois essas mulheres são maravilhosas! No Natal, organizamos festas e montamos uma árvore para todas essas crianças, mais de mil; uma para os bichinhos de Elaine (os filhos dos prisioneiros). (Ela batalhou tanto por eles.) E outra para os filhos dos soldados que estão “em algum lugar” nas montanhas. É bom estar ocupada, mas, ao voltar para casa, as feridas se abrem novamente! Pediram-nos que enviássemos para a Inglaterra fotos daqueles que foram mortos pela Gestapo. Tivemos que reunir tudo isso. Em primeiro lugar, fomos à prisão de Mont-feury, em Cannes. Lá, em 14 de agosto, os seguidores de Himmler (um dos quais confessou depois de preso) fizeram uma festa regada a champanhe, então esses Herrenmensch* tiraram seus casacos e foram para o porão. Lá, atiraram em todos os prisioneiros indefesos, incluindo duas garotas de 19 e 20 anos, entre outros. Vimos sangue pelo chão – no colchão (aquele que ocupei em 29, 30 e 31 de julho estava empapado de sangue!). Vimos excrementos revirados e, nas paredes, marcas de mãos ensangüentadas. Em 15 de novembro, fomos a L’ariane, próximo a Nice, onde minha filha fora assassinada! Encontramos o fazendeiro que, por ser o dono daquelas terras, testemunhara tudo. Em 15 de agosto, viu prisioneiros desembarcarem. Viu agentes da Gestapo e os soldados alemães empurrarem esses prisioneiros para o alto da faixa de terra próximo à margem do rio. Ouviu esses brutamontes gargalharem, enquanto aquelas pessoas tombavam indefesas. Às pressas, atravessou a ponte em direção à sua casa. Ali perto, viu duas metralhadoras. Antes de fechar as janelas, viu todos os prisioneiros em fila, de frente para as metralhadoras, logo acima do riacho. Ouviu as armas dispararem três vezes, e pouco depois o som de disparos de revólveres. Mais tarde, um vizinho veio até ele e disse que uma tragédia havia acontecido e os dois correram até a ponte. Viram algo terrível. Corpos de homens e mulheres estavam espalhados por todos os lados. Alguns prisioneiros tentaram escapar e foram cruelmente assassinados e até mesmo chutados enquanto permaneciam prostrados!
Minha filha não tentara escapar, pois estava deitada de lado. Seu rosto estava coberto de sangue (até mesmo seu lindo cabelo!), e na parte de trás da cabeça havia um enorme buraco feito por um revólver. (Quando foi colocada no caixão, sua pequenina cabeça estava despegada!) Quanto àquelas fotos horríveis, encontramos entre elas uma de minha filha, tirada depois de sua morte! Quando deixou meu quarto, em 29 de julho, às 10h30 da manhã, ela parecia tão leve e alegre. Penteara seu lindo cabelo com cuidado; usava um vestido novo e me perguntou se eu havia gostado! Reconheci apenas o vestido em sua última foto, pois os alemães desfiguraram seu rosto! Tínhamos de ver todo esse horror, pois, desse modo, podemos contar a verdade, sem sermos acusados de exagero. Se, um dia, um homem ou uma mulher na Inglaterra virem essas fotos é preciso que saibam que essa menina ou esse rapaz poderiam ser seus filhos, caso os alemães tivessem vencido a guerra! Esses horríveis assassinatos teriam ocorrido também em suas cidades e vilarejos! Não é preciso cometer exageros na França e, suponho, em todos os países ocupados pelos alemães.
As pessoas aqui não pedem apenas simpatia. Desejam que acreditem nelas, porque o que sofreram foi verdadeiro! Ouvimos no rádio pessoas fazendo discursos como: “Temos de ser gentis com os alemães depois da guerra.” “Não deve haver ódio!” “Afinal, os alemães são seres humanos!” Posso dizer que não! Não sou uma mulher histérica, enlouquecida de ódio porque minha filha foi assassinada pelos alemães! Eu simplesmente afirma que quem não vive ou viveu em cidades ocupadas por alemães não pode entender o que isso significa! “Seja gentil com os alemães” é algo que fere nossas gargantas!!! Esses alemães não são humanos! Eles votaram em Hitler; não protestaram contra a Gestapo, mesmo em seu país! Gritaram de animação quando ouviram Hitler afirmar, em seus discursos, que desejava ver em chamas cada cidade e vilarejo da Inglaterra! Para eles, mesmo derrotados, a gentileza é uma fraqueza. Quando deixaram as cidades, aqui e em Cannes, atiraram deliberadamente em todas as janelas por que passavam. Nas nossas também, e nos escondemos nos porões! Eles atiraram em civis e incendiaram casas e vilas inteiras.
Comportaram-se como selvagens. Ainda olhamos por cima dos ombros quando falamos com um amigo e ainda trememos quando a campainha da porta soa alto demais! Os carros alemães vinham com freqüência à nossa casa. Em duas ocasiões, foi para nos levar à prisão. (Na primeira vez, alegaram que meu marido era judeu!!! A acusação era tão absurda que ele logo foi liberado, mas como sofremos até tê-lo de volta.) Numa segunda ocasião, vieram para tomar a casa e disseram que voltariam. Felizmente, no dia seguinte, encontraram algumas casas, próximas à nossa, que serviam melhor a seus propósitos. Tornaram-se nossos vizinhos – por toda parte, ao nosso redor e rua abaixo. Os soldados alemães perambulavam em nosso jardim dia e noite. Cortavam nossas árvores, roubavam nossos frutos, quebravam bancos de pedra e não podíamos reclamar!
As mulheres alemãs eram igualmente más; costumavam gargalhar diante dos caminhões de prisioneiros! Sei que a dor se espalhou por todos os países. Na Inglaterra, houve bombardeios e todos foram muito corajosos. Deve ter sido horrível e, ainda assim, permaneceram de pé. Todas as honras à Inglaterra. O que os ingleses não sabem, graças a Deus, é o que é ser torturado vagarosamente, estar à beira da morte e ver, por fim, o escárnio ou a felicidade no rosto de alemães que assistem ao seu fim! Minha filha sempre fora chamada de “sale Anglaise” (a inglesa suja) pelos alemães. Ao falar francês, ela apresentava um forte sotaque inglês e isso os enfurecia. Foi por causa de sua formação e educação inglesa que Elaine aprendeu a ter o autocontrole, a determinação e a coragem que a levaram à persistência e ao sacrifício. Eu gostaria que as pessoas na Inglaterra soubessem a seu respeito, e que compreendessem por que ela “se apegou a isso” (seu trabalho) até o último instante! Ela não queria honras ou condecorações, somente a lembrança de seus amigos. Ela me pediu que lhes desse toda a sua coleção de música; e especialmente Bach (uma vez que o sr. Andrews o admira muito). Ela reuniu uma grande quantidade de música antiga! Sobre Sue Harvey, me disse: “Por favor, dê a ela minha pele de raposa cinzenta – caso eu...!" Eu respondi: “Claro que darei – caso...!” Jamais terminamos a frase.
Em 13 de agosto, ela contrabandeou duas cartas para fora da prisão com a ajuda de um prisioneiro que fora libertado. Uma era para nós, e que loucura! Ela escreveu para nos avisar que, graças às nossas reclamações, os alemães viriam nos buscar para nos deter até o final da guerra. (Não reclamamos de nada, nem vimos nossos amigos ou saímos de casa, mas as pessoas viram nossos rostos no ônibus e falavam a nosso respeito em Cannes.) Felizmente, as estradas foram bombardeadas e os boches não puderam passar. A outra carta foi enviada ao “chefe” dela. Ela escreveu: “Não fique apreensivo, pois jamais falarei!” Quando ele me mostrou a carta, chorou como uma criança.
O senhor poderia enviar uma cópia de minha carta para Sue Harvey, 46 Godfrey Street, Londres, S.W.3., e dizer que, como ela gostava de minha filha, os detalhes a respeito de Elaine talvez lhe interessem. Eu gostaria de receber notícias dela também, pois era amiga de minha filha. (Por favor, peça a Sue Harvey que mostre esta carta ao tio Bill – tio de Marino.)
Seria muito trabalhoso se transmitisse alguns detalhes a Ellen e Wicks? Onde está Cliffe? Ele gostava muito de Marino! Ficamos muito tristes ao saber que vocês dois estiveram muito doentes. Que azar!
Enviamos-lhes nossos melhores votos de Feliz Ano-novo e Saúde. Quando nos veremos? Nossas melhores e mais afetuosas lembranças.
Danae Vagliano
P.S. Mamãe está bem e comportou-se como um leão, até mesmo diante dos alemães!! Será que conseguiremos livros? Como esperamos por eles!!
Por favor, me desculpem estas mal traçadas linhas, mas as lembranças voltam sempre que menciono esses acontecimentos! Espero que a recebam logo, uma vez que conheciam Elaine desde seu nascimento – então, espero que essas coisas sejam do seu interesse.
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Seis semanas depois de Charles de Gaulle transmitir seu comovente apelo à população francesa, ele foi julgado in absentia por traição à França de Vichy e condenado à morte. Quando Paris foi libertada, mais de quatro anos depois, o general De Gaulle marchou em triunfo sobre a cidade ao lado das tropas aliadas e tornou-se o líder do governo provisório. O marechal Pétain escapou do país semanas depois da chegada de De Gaulle, mas retornou à França em abril de 1945. Ele defendeu sua coalizão com os nazistas como um esforço para salvar a França da destruição (como aconteceu com a Polônia), mas o argumento provou-se pouco convincente, e um Pétain de quase 90 anos foi sentenciado à morte diante do pelotão de fuzilamento. De Gaulle comutou a pena para prisão perpétua e Pétain morreu atrás das grades em 1951.
Fonte: Cartas do front - Relatos emocionantes da vida na guerra- Andrew Carroll (Pg.245 - 253)