Florence Farmborough (Britânica) era professora em Moscovo em 1914. Com o inicio da guerra, voluntariou-se na Cruz-Vermelha Russa, onde teve formação, e foi enviada para a linha da frente.
Na "qualidade" da sua tão nobre profissão, onde "serviu" na Polónia, Áustria e Roménia, presenciou o caos da retirada do Exercito Russo. Esta terrível retirada entre outras passagens ficou registada no seu Diário.
Florence Farmborough deixou a Rússia logo após a revolução Bolchevique de 1917.
Relatos do Diário de Florence Farmborough:
«Uma enfermeira britânica, Florence Farmborough, que estava a servir numa unidade medica com as forças russas, foi testemunha do sofrimento dos russos. Ao chegarem a um mosteiro na aldeia de Molodicz, os médicos e enfermeiras em retirada organizaram uma sala de cirurgia de emergência.«Tentar saber como e quando tinham sido infligidas as feridas era impossível; no meio de tal vaga de sofrimento, cuja gravidade era perfeitamente visível e audível, mais não podíamos fazer do que cerrar os dentes e trabalhar.» Uma dúzia de ambulâncias transportava os homens feridos com menos gravidade para a retaguarda. Mas por mais que se transportassem mais eram trazidos. As feridas que ela presenciou eram tais « que faziam o nosso coração bater com o espanto de ver como um homem podia ter um corpo tão mutilado e continuar a viver, a falar, a compreender». Um homem para que ela se voltou tinha a perna esquerda e o lado inundados de sangue. « Puxei a roupa para o lado e vi uma massa polposa, um corpo esmagado das costelas para baixo; o estômago e o abdómen estavam totalmente esmagados e a perna esquerda pendia do corpo presa por apenas alguns pedaços de carne». Um padre, que passava por ali naquele momento, fechou os olhos, horrorizado, e voltou as costas. «Os olhos vazios do soldado continuavam a olhar para mim e os seus lábios moveram-se, mas não saiu qualquer palavra. O que me custou afastar-me sem o poder ajudar, não consigo descrever, mas não podíamos desperdiçar tempo e material com casos perdidos, e havia muitos mais á espera.»
Dois dias depois, Florence Farmborough ficou totalmente atormentada quando foram recebidas ordens para recuar ainda mais, e para abandonar os feridos mais graves.
«Os que ainda conseguiam andar ergueram-se e seguiram-nos; a correr, a mancar, a coxear, ao nosso lado. Os gravemente aleijados arrastavam-se atrás de nos; pediam, imploravam que não os abandonássemos em tal situação. E na estrada havia mais, muitos mais; alguns, jaziam na poeira do caminho, exaustos. Também eles imploravam. Agarravam-se a nós; imploravam-nos que ficássemos junto deles. Tínhamos de rasgar as saias, de tal modo eles as agarravam. Depois os seus lamentos começaram a ser entrecortados por insultos; e muito atrás deles, podíamos ouvir os repetidos insultos dos nossos irmãos que tínhamos abandonado ao seu destino. A escuridão acentuou o pânico e a desgraça. Com um acompanhamento do ruído dos projecteis que explodiam, e dos insultos e pedidos dos homens feridos, á nossa volta e atrás de nos, entramos rapidamente na noite»».
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