Pré-história do projeto Madagáscar.
Pré-história diplomática
Um conjunto de circunstâncias históricas tinha preparado a opinião mundial e a diplomática internacional para considerar a ilha de Madagáscar associada à ideia de uma transferência de população judaica.
Desde 1937, iniciativa tomada pela Polônia(188), são considerados planos para organizar a deslocação de alguns milhares de famílias judaicas da Polônia sobrepovoada para a ilha, que se tornara numa colônia francesa no final do século XIX. (É preciso notar que a conquista militar de Madagáscar pelos Franceses em 1883 tinha chamado a atenção do mundo para essa ilha africana finalmente colonizada. Foi assim que desde 1885 "problema judaico".) (189)
Paul de Lagarde pensou em Madagáscar como solução parcial do
Paul de Lagarde pensou em Madagáscar como solução parcial do
Em 1937, quando o Governo polaco começa a estudar o projeto de uma transferência de população polaca judaica para Madagáscar, retoma em suma um tema bastante simples: existe território capaz de receber colonos. Em relação aos judeus, a ilha interessa não só a Polônia, mas em breve também os ingleses que a vêem como solução para substituir a Palestina, e os franceses que queriam ver-se livres de um excesso de judeus chegados a França.
Assim, de janeiro de 1937 a janeiro de 1939, vemos intervir a vários níveis e segundo diferentes pontos de vista, neste tema da transferência de Judeus para lugares coloniais, e especialmente Madagáscar, pessoas como Léon Blum, primeiro-ministro da França, Montet, o seu ministro das Colônias(190), um pouco mais tarde (Dezembro de 1937) Delbos, ministro dos Negócios Estrangeiros da França (191).
Alan Graham pede explicações ao Governo britânico no Parlamento acerca da eventual transferência dos judeus da Europa central e oriental para Madagáscar, com intento de salvaguardar a situação na Palestina. O secretário dos Negócios Estrangeiros britânico, Halifax, interroga o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bonnet (no dia 26 de abril de 1938) (192), que promete examinar "o assunto desejando tomar-se útil". (193)
De 11 a 14 de janeiro de 1939, Ciano, o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Mussolini (este último tinha, no dia 3 de janeiro de 1939, por ocasião de uma conversa com William Philips, o embaixador dos Estados Unidos, rejeitado a idéia de receber uma grande colônia judaica na Etiópia, mostrando-se porém a favor da criação de um Estado judaico independente em qualquer outra parte menos na Palestina(194), Chamberlain e Halifax encontram-se e durante esses encontros falam, entre outras coisas, dos Judeus que devem ser enviados para colônias e principalmente para Madagáscar. (195)
A Alemanha, como se vê, não participa nessas negociações obscuras. No entanto, a diplomacia e o Governo alemães são informados da sua ocorrência. Refere-se em relação a isto a investigação do assunto Judeus-Colónias numa conversa entre Chamberlain e Hitler. (196)
Pirow, então ministro da Defesa da África do Sul, conta que teria tido em 1938 uma conversa com Hitler em que lhe teria sugerido a possibilidade de autorizar a emigração dos judeus para um dos três países seguintes: a antiga África oriental alemã, a ilha da Guiana inglesa, ou Madagáscar. Hitler teria durante essa conversa demonstrando a sua preferência por Madagáscar, acrescentando que estava pronto a oferecer à França compensações pela ilha.(197) (o que leva a crer que os alemães teriam eles próprios "protegido" estava "colônia judaica".)
No dia 5 de março de 1938 um dos membros da equipa de trabalho de Heydrich comunica a Eichmann a ordem seguinte: "Peço que brevemente se reúna material para um relatório sobre C [C=chefe=Heydrich]... Deverá expor-se com clareza que a questão judaica na base atual (emigração) não pode ser resolvida (dificuldades financeiras, etc.) e que por isso deviam ser feitos esforços para encontrar uma solução de política estrangeira, tal como já fora negociado entre polônia e a França." (198)
(Tratava-se, entre a Polônia e a França, de Madagáscar.)
Ainda sobre o assunto, Goring acrescentava, no dia 12 de novembro de 1938, que Hitler lhe tinha dito no dia 9 do mesmo mês que ia "agora finalmente atacar as potências que tinham levantado a questão judaica para em seguida chegar concretamente a uma solução da questão de Madagáscar."(199)
Bonnet, ministro dos Negócios Estrangeiros da França, revelava confidencialmente a Ribbentrop, a7 de dezembro de 1938,que a França não podia continuar a receber refugiados judeus da Alemanha. Pedia-lhe que a Alemanha tomasse as devidas medidas para parar com aquela emigração em direção à França. E confessava-lhe que a França, por outro lado,tentava encontrar um meio para se livrar de alguns 10.000 judeus. Pensava-se, dizia, para isso na ilha de Madagáscar. (A nota de Ribbentrop que relata esta conversa devia se lida por Hitler.)(200)
Fala-se ainda de uma conversa entre Hitler e François-Poncet,embaixador da França em Berlim, em que se teria referido a idéia de Madagáscar. (201)
No dia 7 de fevereiro de 1939, durante uma conferência de imprensa, Rosenberg acrescentava alguns detalhes em relação à opinião nazi que apoiava o projeto Judeus-Madagáscar. "Aquilo que devia estabelecer-se não era um Estado judaico, mas sim uma reserva judaica", afirmava, acrescentando que "administradores experientes em questões de ordem pública" deveriam ser os responsáveis do assunto em questão.(202)
Ainda na mesma conferencia de imprensa sugeria que 15 milhões de judeus deveriam ser levados para Madagáscar ou para a Guiana,visto que os dois projetos tinham já sidos aceites nas relações internacionais. (203)
Pré-historia doutrinal
Na Alemanha, o tema da deportação dos judeus para uma colônia longínqua tinha sido abordado com interrupções por varias vezes nas esferas do "anti-semitismo" desde a época em que nascera essa doutrina. Assim, desde 1885, Paul de Lagarde pensava em Madagáscar como o local para onde se podia mandar judeus da Romênia. (204)
Em 1892, Karl Paasch publicava, no Antisemiten-Spiegel de Dantzig, um texto em que afirmava que a solução mais simples e pratica para a "questão judaica" consistia sem duvida no extermínio físico dos judeus.(205) Considerava porem que se a Alemanha se tornara talvez demasiado dócil e demasiado fraca para os exterminar fisicamente, podia pelos menos deportá-los para a ilha de Nova Guiné e deixá-los aí morrer lentamente.(206)
Em 1931, surgiu na Alemanha um folheto supostamente traduzido do holandês, intitulado Arische Rasse, christliche Kultur und das judenproblem(a raça ariana, a cultura cristã e o problema dos judeus).(207) Em 1932, esse folheto ia já na terceira edição. A argumentação incitava todos os "arianos" a unirem-se para salvar a sua cultura. O primeiro passo devia ser a eliminação dos judeus à escala internacional. O verdadeiro remédio seria "o aniquilamento corporal e a exterminação de um povo estrangeiro reconhecido como um perigo público. Esta via do combate pode, hoje,dificilmente ser percorrida."(208)
A razão pela qual aquela via não era a adequada devia-se ao fato de que aquele extermínio corporal não podia dar-se em todo o mundo e que conseqüentemente isso não seria inteiramente satisfatório. A solução alternativa consistia em forçar a concentração dos judeus do mundo inteiro numa terra colocada sob o controlo pan-ariano, enquanto lhes seriam retirados todos os seus direitos em todos os países "arianos". Indubitavelmente, o local dessa concentração devia absolutamente se uma ilha. "É lá que a possibilidade de controlo é maior e o perigo de contágio mais pequenos." (209)
Na capa do livro estava desenhado o contorno geográfico da ilha de Madagáscar. (210)
Está provado que oito anos depois,em 1939 - como um eco desse texto-, Alfredo Rosernberg declarava num programa de rádio: "É preciso juntar os judeus de todo o mundo edos seus continentes...Todos eles, com os seus Rothschild e Mandel [ministro doa França], os Tsadisks [justos] e rabinos de Belz, os Albert Eisntein com os Hore-Belisha [ministro britanico] e os Kaganovitch [comissário soviético), todos juntos,deviam ser reunidos e instalados algures numa linha selvagem com um clima mortal, como Madagáscar ou a Guiana. Isolados do mundo exterior como leprosos,que molhem com o seu suor e o seu sangue as covas das minas; quanto mais cruel for o clima, mais desumano for o trabalho,melhor será para o mundo cristão,para a civilização cristã como nós a conhecemos; a odiosa raça judaica encontrar-se-á isolada numa reserva sem regresso,de onde só existe uma saida - a morte."(211)
Continua...
Notas:
(188) - Cf. L. Yahil: Madagascar - Phantom of a Solution for the Jewish Question, em:Bela Vago/George L. Mosse(ed.): Jews and Non-jews in eastern Europe 1918-1945, New York,Toronto, Jerusalém 1974, p.316, Philip Friedman: The Lublin Reservation and the Madagascar Plan, em: Yivo Annual ofjewish social scince, vol. VIII (1953), p. 165; Joseph Tenenbaum: Race and Reich, New York 1956, p. 239.
(189) - Paul de Lagarde: Die nächsten Pflichten deutscher Politik (1885), cf. Yahil,p.315 sq.; cf. também sobre Lagarde supra(p.18). Em 1926 o governo polaco, em 1927 o governo japonês tinha examinado a possibilidade de transplantar algumas populações (na Polonia tratava-se de camponeses) para a ilha de Madagascar, cf. Yahil, p.316; Friedman, p.165; Tenenbaum, p.239. Nessa altura, esses dois governos abandonaram rapidamente esse projeto, tendo chegado à "conclusão de que a ilha não podia fornecer o terreno de que necessitavam e que as condições existentes não permitiam um tal estabelecimento", Yahil,p.316.
(190) - Cf. Yahil,p.317; Friedman, p.166.
(191) - Cf. Yahil, p. 318.
(192) - Cf. Yahil, p. 321.
(193) - Cf. Yahil, p. 322.
(194) - Cf. Friedman, p.168.
(195) - Cf. Tenenbaum, p.241.
(196) - Cf. Friedman, p. 241.
(197) - Cf. ibid, p. 168.
(198) - Documentos do processo Eichmann, T111;citado por yahil, p. 321.
(199) - Citado por: Hartmut Wrede: Der Fall Grynszpan und die Reichs-kristallnacht, Hamburg 1988, p.143.
(200) - Akten zur deutschen auswärtigen Politik (ADAP) 1918-1945, Serie D, Bd IV,pp 420 sg.
(201) - Cf. Friedman, p. 169.
(202) - Cf. Yahil, p. 323.
(203) - Ibid.; cf. também Friedman, p. 169.
(204) - Paul de Lagarde: Die nächsten Pflichten deutscher Politik, op. cit., cf. Yahil, p.315 sg
(205) - Karl Paasch: Eine Jüdich-Deutsche Gesandtschaft und ihre Helfer, em Antisemiten-Spiegel, Danzig 1982, cf.Graml, p.79.
(206) - Cf. Graml, p. 204.
(207) - Egon van Winghene, A.Tjoern: Arische Rasse, christliche kultur un das Judenproblem, cf Yahil, p. 319; cf. também Friedman, p. 165.
(208) - Citado por Yahil, p. 320.
(209) - Citado por ibid..
(210) - Cf. ibid.,; cf. também Friedman, p.165.
(211) - Citado por Tenenbaum, p. 347.
Transcrição: Daniel Moratori (avidanofront.blogspot.com)
Fonte: Objectivo extermínio - Vontade, resolução e decisões de Hitler - G. Miedzianagora e G. Jofer - Pg 65-69
Mais um texto pra matar "revi" de raiva. Antes eles vinham até discutir, agora ficam com raiva à distância nas pocilgas deles, rsrsrsrs.
ResponderExcluirEles só sabem repetir aquelas mesma reportagens "CRTL +C e CRTL+V".
ResponderExcluirEstou no final da 2ª parte, o que demora mais é colocar as referencias.
Eu tinha de ter postado a parte de Lublin antes(outro post a parte do mesmo livro), mas irei postar somente depois que acabar de Madagáscar.
Pois é, o famoso "crtl +c e crtl +v" vulgo copy-and-paste e ainda vem gente me encher o saco pra "discutir" com esses palermas. É como discutir com aquele Pote do Orkut, só pode ser piada (de mau gosto).
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