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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Regimento Brandenburger - As Forças Especiais do III Reich



Numa época em que a expressão Forças Especiais ganha cada vez mais espaço, não só entre os militares, mas também na mídia, é interessante examinarmos os feitos de uma das primeiras unidades militares a agirem como tal.
Dentro da mística que envolve as Forças Armadas Alemãs durante a II Guerra Mundial, conhecemos os nomes de unidades famosas como o Afrika-Korps, as temidas Waffen SS, as unidades Panzer ( blindadas ) e os Fallschirmjaeger ( Pára-quedistas). Porem fora do âmbito militar, quase ninguém ouviu falar de uma das mais espetaculares unidades militares da II Guerra, não ficando a dever nada a seus companheiros mais famosos.

Trata-se do Regimento Brandenburg, criado como braço armado da Abwehr, o Serviço de Inteligência Militar alemão, e com a finalidade especifica de operar atrás das linhas inimigas, numa mistura de comandos e unidades de sabotagem. Seus sucessos tornaram-se lendas dentro do Exercito Alemão e de outros que estudaram seus feitos.


Fundação do Brandenburger Regiment Abwehr II 25 de Outubro de 1939.
Desmobilização Oficial 11 de Setembro de 1944
Quartel/General Berlin ( Generalfeldzeugmeister/Kaserne)
Unidades em Rathenow/Havel ( aerotransportados)
Admont/Stelemark (Montanha)
Swinemunde( raids fluviais e costeiros).
Pessoal 320 em Outubro de 1939 
Divisão completa com várias unidades independentes em 1944.


A expressão Brandenburger (homens de Brandenburgo) é usada aqui para designar uma unidade de forças especiais do Exercito Alemão, que foi continuadamente alterada em sua composição durante sua curta historia.

Esta unidade tem suas origens em diversas pequenas formações secretas que operaram nos estágios iniciais da guerra, notadamente nas invasões da Tchecoeslováquia e da Polônia. Consistiam principalmente de homens nascidos e criados em minorias raciais alemãs nestes paises, e operavam atrás das linhas inimigas, antes da chegada das forças regulares.

Diferente das Waffen SS, que buscavam a aparência superior ariana, altos, louros e de olhos azuis, os Brandenburger eram escolhidos justamente por características físicas que não os fizessem chamar a atenção em território inimigo.

A essência de seu sucesso era principalmente a capacidade de misturarem-se com a população local, tornando-se invisíveis aos olhos das forcas inimigas, o que permitia seu deslocamento e o cumprimento de suas missões.

A forca impulsionadora por trás da criação dos Brandenburger foi o Almirante Wilhelm Canaris, chefe da Abwehr (Serviço de Inteligência Militar) que operava sob as ordens da Wehrmacht. O Abwehr Abteilung II/Ausland, departamento responsável por operações, inteligência e sabotagem alem das fronteiras alemãs, criou a Verwendung 800, (companhia de construção e treinamento para missões especiais 800), pouco antes do inicio das hostilidades, incorporando homens de outras unidades e voluntários. A unidade logo tornou-se uma valiosa ferramenta para a Abwehr. O comando operacional continuava nas mãos da Wehrmacht, embora muitos oficiais transferidos para lá não tivessem a mínima idéia do que era e o que fazia a Verwendung 800.

Von Canaris (centro) e Von Hippel (a direta, com o capacete), inspecionam uma unidade Brandenburger.

No inicio, cada membro deveria ser fluente em pelo menos uma língua estrangeira, e treinado em operações militares especiais.O treinamento era feito numa área pertencente a Abwehr, perto de Berlim, onde também eram treinados espiões e sabotadores. O currículo concentrava-se em línguas estrangeiras, demolições, comunicações, penetração em território inimigo em segredo, incluindo por pára-quedas, e táticas de combate de pequenas unidades. Mais tarde, surgiram cursos de equitação, direção e pilotagem. Familiarização com armas incluía todas as armas não-alemãs, desde pistolas a tanques Sherman e T-34. Alguns homens eram pilotos, e numa ocasião na África do Norte, usaram um Spitfire inglês capturado para vôos de observação. Outros receberam instrução especializada nos laboratórios da Abwehr em Berlim-Tegel, onde aprenderam a lidar com equipamentos secretos, como detonadores de tempo, explosivos plásticos, documentos falsificados, disfarces, etc.



Unidades Básicas


1.zbV Deutsche Kompanie - Formada por alemães raciais, notadamente gente do Leste da Europa, Sudetos e Silesia. Alem do alemão, deveriam ser fluentes nos idiomas e dialetos falados nestas regiões. Foram usados com sucesso na defesa dos poços petrolíferos de Ploesti, na Romênia, contra sabotagens aliadas.


2. zbV 800 Brandenburg - Alemães raciais, possuía quatro companhias, um pelotão de motociclistas, um pelotão de pára-quedistas, e outras unidades especializadas, como a Cia. Afegã, fluente em farsi, pushtu e urdu.


3. BaltenKompanie - Alemães étnicos da Estônia, Finlândia, Letônia, Ucrânia e Rússia. Todos deviam falar fluentemente o russo.

4. Cia formada por homens que tinham vivido fora da Alemanha, especialmente na Península Ibérica ou na África. Todos falavam Inglês, Francês, Português ou dialetos africanos, especialmente swahili.


5. Sudetendeutsche - Fluentes em tcheco.


6. Oberschlesier Kompanie- Fluentes em polonês.

Mais tarde, foram agregadas novas unidades, formadas por voluntários ucranianos, alem de voluntários fluentes em árabe e romeno.

Uma companhia (a 15a) foi formada por 127 dos melhores esquiadores da Alemanha, inclusive um Medalha de Ouro das Olimpíadas de 1936, e recebeu treinamento especializado para operar na extensa região do Circulo Ártico, que forma a área de fronteira russo-finlandesa, especialmente nas cercanias do porto russo de Murmansk. Esta unidade foi a responsável por um dos mais espetaculares raids do Front Leste. Guiados por finlandeses, os Brandenburger atravessaram os piores pântanos da Europa, durante duas semanas, assolados por milhões de mosquitos e outros insetos, pesadamente carregados com armas, explosivos, barcos e mantimentos, para atingirem a famosa ferrovia de Murmansk, por onde escoava todo o material de guerra enviado pelos Aliados aos russos.

Alemães do Comando  Brandenburger vestidos como soldados soviéticos durante a operação Barbarossa
Brandenburger - Barcos de assalto em uso


Minaram a linha numa dúzia de lugares, preparados para explodirem aleatoriamente, durante uma semana, o que forçou os russos a despenderem enormes esforços em homens e material para manterem a linha aberta. Quando os russos se deram conta de que as explosões eram sabotagem, e não acidentes, mandaram tropas da NKVD (antiga KGB) para a região, e numa ocasião estes abriram fogo indiscriminado contra uma multidão de soldados russos e civis que tinham vindo ver o que acontecia, por medo de sabotadores, causando um verdadeiro massacre.

No verão de 1942 foi criada uma companhia de raiders, para operações fluviais e ribeirinhas, formada por voluntários do Cáucaso. Sua área de atuação eram os inúmeros rios, lagos e córregos do Front Leste. A Brigada Árabe lutou a partir de 1940 no Líbano, Síria, Iraque e Irã, e mais tarde no Cáucaso, contra os russos, com aliados curdos.

A Legião Árabe operava basicamente na Tunísia, contra os franceses. A partir de Maio de 1943, surgiram a Legião Montenegrina e a Legião Muçulmana, ambas formadas por Albaneses, Bósnios, Macedônios e Montenegrinos de fé islâmica. Combateu principalmente nos Bálcãs, caçando guerrilheiros.

A Asad Índia (Índia Livre) era uma unidade de tamanho regimento, formada por voluntários indianos e prisioneiros de guerra. Treinada na Alemanha, uma parte foi atuar na Índia contra os ingleses, enquanto a outra serviu na Alemanha em unidades antiaéreas.


1-Insígnia divisional do batalhão

2-Insígnia da Compania Tropical Koenen

3-Insígnia Divisional de Veículos - combinando a águia de Branderburg com o capacete da Grossdeutschland Panzer Corps.

4-Insígnia do batalhão de paraquedistas.


Equipamento 

No inicio, os Brandenburger foram equipados com armamento já não mais utilizado pela Wehrmacht. Usaram submetralhadoras Schmeisser MP28/II e Steyr MP16, armas obsoletas para os padrões da Wehrmacht. Mais adiante, quando seu desempenho passou a ser notado, passaram a receber armas e equipamentos conforme pedidos especiais, como submetralhadoras MP40 e pistolas equipadas com silenciadores. Preferiam as pistolas Luger P.08 em lugar das mais modernas Walther P.38, pois a precisão das P.08 era superior, porém na prática usavam muito mais equipamento inimigo do que propriamente alemão.

Especialmente no front russo, onde as PPSh M41 russas e as Suomi M.1931 finlandesas estavam sempre presentes, unidades inteiras de Brandenburger eram armadas com equipamentos inimigos.

Usaram também submetralhadoras inglesas Sten Mk.IIS silenciadas, capturadas dos estoques lançados pela RAF para a resistência. Em missões de longa penetração em território inimigo, os homens recebiam uma pílula de veneno, para evitarem a captura.

Operações típicas incluíam reconhecimento de longo alcance, destruição de objetivos e proteção de centros de comunicação, pontes e suprimentos, como refinarias e depósitos. Eram também usados para criar cabeças-de-ponte pela inserção via terrestre, pára-quedas, lanchas rápidas ou submarinos, além de outras missões especificas, a critério do comando. O homens normalmente operavam disfarçados, usando roupas, armas e veículos do inimigo.

Os Brandenburger foram usados todas as frentes onde os alemães lutaram. Operaram na Dinamarca e Noruega, durante a invasão destes paises; Finlândia, em conjunto com tropas finlandesas, em alguns dos mais espetaculares raids da guerra; na Espanha (Plano Félix, a projetada tomada de Gibraltar); Franca, Bélgica, Holanda, Inglaterra (na preparação da abortada Operação Seelowe); Itália, Grécia (especialmente no ataque aerotransportado a Creta); Romênia (onde defenderam os poços e refinarias de petróleo de Ploesti de sabotagem), Bulgária, Iugoslávia e Bálcãs, Rússia, Líbia (como parte do Afrika-Korps), Tunísia, Egito, Jordânia, Síria, Irã (fomentando um levante contra a ocupação inglesa), Iraque e outros paises do Oriente Médio, Afeganistão, Índia e África do Sul.

O tamanho das unidades variava de acordo com a missão, de grupos de 2 homens ate unidades de mais de 300 homens. Uma esquadra tinha doze homens. Métodos de inserção variavam, alguns de forma bizarra - o vôo da Cia. Afegã (cerca de 20 homens) via avião comercial neutro da Áustria ao Afeganistão, levando cerca de duas toneladas de equipamento, incluindo um canhão AA Flak 30 desmontado, dentro de trinta malas diplomáticas!

Outra jogada interessante foi a inserção em 1940 de cinco homens via submarino na África do Sul, para provocar um levante das tribos contra o domínio branco.

Embora o Almirante Canaris e outros lideres da Abwehr acreditassem haver criado uma espécie de exercito privado, logo se desiludiram - muitos membros desta unidade, embora não necessariamente fanáticos e leais a Hitler e sua ideologia nazista, eram extremamente patrióticos e nacionalistas. Inúmeros viviam no exterior quando a guerra começou, e partiram para a Alemanha em perigosas e aventurescas viagens, rompendo o bloqueio marítimo inglês, apenas para servirem seu Pais. Estes homens não eram leais ao chefe da Abwehr, mas apenas a seu Pais e seus comandantes de unidade. Lutaram pela Alemanha, e não pelo Partido Nazista em geral ou os desejos do Almirante Canaris, em particular. Em 1943, quando a unidade foi elevada ao status de divisão, sua missão foi mudada para a de serem uma força sempre disponível, pronta a resolver problemas urgentes e de difícil sucesso, sob as ordens diretas do Alto Comando do Exército (OKH).

Homens de Batalhão Ebbinghaus posa para uma foto. De uniforme, o Oberleutnant Dr.Herzner. Polónia, Setembro de 1939
No verão de 1941, a imagem mostra uma ponte sobre um rio no setor norte da frente oriental, que é tomada intacta e protegida por uma flak 2cm e um tanque.
Após o fracassado atentado contra Hitler em 1944, as operações da Abwehr foram delegadas ao SD, pois rapidamente foi provado que o Almirante Canaris estava envolvido. Em tempo, foi preso, condenado e executado. Em setembro de 1944, decidiu-se que a Divisão Brandenburger não era mais necessária, sendo então transformada numa simples divisão motorizada da Wehrmacht, embora cerca de 1800 homens tivessem se juntado a Otto Skorzeny e seu Jagdverbande, unidade com missões similares aquelas da Divisão Brandenburger. Alguns destes homens estavam entre os da Brigada 150, que na ofensiva das Ardenas foram enviados para missões atrás das linhas aliadas, causando verdadeiro caos, e criando a idéia, até hoje não provada, de que tinham como missão assassinar o General Eisenhower, Comandante-em-Chefe Aliado na Europa. Eventualmente, foram capturados e executados como espiões e sabotadores, pois usavam uniforme aliado, o que lhes negava o direito de apelarem para a Convenção de Varsóvia sobre o tratamento de prisioneiros de guerra.

Quando a guerra terminou, alguns dos sobreviventes com bom domínio de inglês foram absorvidos pelos Comandos Britânicos, e receberam mais tarde documentos britânicos. Muitos emigraram para a África, a serviço dos ingleses, enquanto outros juntaram-se à Legião Estrangeira Francesa. Lutaram com bravura ao lado de seus ex-inimigos, especialmente na Indochina e na Argélia.

A história de seus feitos merece ser melhor contada, pois suas teorias e experiências práticas forneceram a base da formação de modernas unidades de Forças Especiais, como os SEALs da US Navy e muitos outros ao redor do mundo.

Os russos, sempre atentos às novidades, usaram muito do conhecimento aprendido dos Brandenburger em missões de "imersão" entre populações estrangeiras, para criarem técnicas aplicadas por suas famosas unidades Spetznaz.

Literatura recomendada:
Twilight Warrios - 22Book, England
Corpos de Elite - Editora Abril


Materia: Fernando Diniz - Especialista em Armas e Tropas Especiais
Fonte: http://www.defesanet.com.br/sof/brandenburgo/ (Fonte original)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Batalhão Nachtigall

O Batalhão Nachtigall , oficialmente conhecido como Grupo Especial Nachtigall, era uma subunidade sob o comando do Abwehr da unidade especial Lehr Regiment "Brandenburg" z.b.V. 800. Juntamente com o Batalhão Roland foi uma das duas formações militares formadas em 25 de Fevereiro de 1941 pelo chefe do Abwehr Wilhelm Franz Canaris, que autorizou a criação da "Legião Ucraniana" sob o comando alemão. A maioria dos seus membros eram os cidadãos da Polónia de origem ucraniana, leais à Organização dos Nacionalistas Ucranianos liderada pelo Stepan Bandera.

Em Novembro de 1941 na Alemanha o pessoal ucraniano da Legião foi reorganizado em 201° Batalhão Schutzmannschaft. O batalhão contava com 650 pessoas, que serviram um ano em Belarus, antes do desmembramento da sua unidade.

Muitos dos seus membros, especialmente os oficiais se juntaram ao Exército Insurreto Ucraniano, outros 14 membros se juntaram à SS-Freiwilligen-Schützen-Division «Galizien» na primavera de 1943.


Formação e treino


Na Primavera de 1941 a Legião Ucraniana foi reorganizada em duas unidades. Uma das unidades foi conhecida como Batalhão Nachtigall, a segunda unidade recebeu o nome de Batalhão Roland.

O Batalhão Nachtigall recebeu o seu treino na cidade de Neuhammer nos arredores de Schlessig. O seu comandante ucraniano era Roman Shukhevych e o comandante alemão Theodor Oberländer. Mais tarde, Oberländer tornou-se o Ministro de Imigração da República Federal da Alemanha. O Batalhão Nachtigall usava a uniforme padrão do Wehrmacht. Antes da sua entrada em Lviv, os soldados e oficiais colocaram a faixa azul – amarela em um dos braços.

Guerra contra a URSS

Quatro dias antes de ataque contra a URSS, o Batalhão aproximou-se à fronteira entre a Alemanha e URSS. Na noite de 23–24 de Junho de 1941, o Batalhão atravessou a fronteira nas arredores de cidade de Przemyśl e marchou até Lviv.

O Batalhão Nachtigall viajou na companhia da Divisão Panzer-Jaeger e alguns tanques do Batalhão seguiram em direção à Radymno-Lviv-Ternopil-Proskuriv-Vinnytsia.

Lviv

Como parte do 1° Batalhão Brandenburg, os primeiros soldados do Batalhão Nachtigall entraram em Lviv no dia 29 de Junho.

O Batalhão se encarregou de assegurar a guarnição de objetos estratégicos, como a estação de rádio na colina de Vysoky Zamok no centro de Lviv. À partir desta estação de rádio, foi proclamado o Acto de Independência da Ucrânia.

Os soldados e oficiais do Batalhão Nachtigall participaram e organizaram a Declaração da Independência da Ucrânia de 1941 proclamada pelo Dr. Yaroslav Stetsko no dia 30 de Junho de 1941. O capelão de Batalhão Ivan Hrynokh discursou no fim da proclamação da Independência. A administração alemã não apoiou a iniciativa, mas não desencadeou a repressão contra os ucranianos até os meados de Setembro de 1941.

A primeira companhia do Batalhão Nachtigall deixou Lviv juntamente com o Batalhão Brandenburg no dia 7 de Julho em direção de Zolochiv. Os restantes camaradas se juntaram a unidade durante a sua marcha até Zolochiv, Ternopil e Vinnytsia. A unidade participou nos combates na Linha de Stalin, onde alguns membros do Batalhão foram condecorados pelas medalhas alemãs.

Os alemães se recusaram a aceitar a proclamação da independência da Ucrânia do dia 30 de Junho de 1941, sob os auspícios de OUN(B). Como resultado, o Batalhão foi conduzido até Cracow e desarmado no dia 15 de Agosto de 1941. Mais tarde, juntamente com Batalhão Roland foi transformado em 201° Batalhão Schutzmannschaft.



Avaliação



O historiador russo Sergey Chuyev defende que OUN conseguiu o seu objectivo principal – os 600 pessoas receberem o treino e a experiência militar, tornando-se mais tarde os instrutores e comandantes do recém-formado Exército Insurreto Ucraniano.

Durante a sua história, o Batalhão Nachtigall teve 39 baixas e 40 soldados foram feridos.

Crontovérsia

Investigação Canadiana: Envolvimento do qualquer membro do Batalhão Nachtigall nos crimes de guerra não foi estabelecido. A Comissão Canadiana de Criminosos de Guerra em Canadá (Deschênes Commission) estudou as alegações contra os cidadãos residentes em Canadá e não pronunciou nenhum ex-membro do Batalhão Nachtigall. Além disso, concluiu, que as unidades que colaboraram com os nazis não deveriam ser indiciados como um grupo e mera participação em tais unidades não é suficiente para justificar o procedimento criminal.
Os documentos falsos daKGB na ação contra
Theodor Oberländer e Nachtigall ucraniano (1959)
Opinião Mundial: Uma Comissão Internacional sediada em Haia na Holanda em 1959 conduziu uma investigação independente. Os seus membros eram quatro ativistas anti-nazi, o advogado norueguês Hans Cappelen, ex – Ministro dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca e chefe do Parlamento dinamarquês Ole Bjørn Kraft, socialista holandês Karel van Staal, professor do Direito da Bélgica Flor Peeters e jurista e membro do parlamento suíço Kurt Scoch. Após as entrevistas com várias testemunhas ucranianas entre Novembro de 1959 e Março de 1960, a Comissão concluiu: "Após quatro meses de investigações e da avaliação de 232 declarações de testemunhas em todos os círculos envolvidos, pode ser estabelecido que as acusações contra o Batalhão Nachtigall e contra o Tenente e actual Ministro Federal Oberländer não estão baseados nos fatos."

Opinião Ucraniana: A prioridade principal do Batalhão foi a segurança de estação da rádio, jornais e a proclamação da Independência da Ucrânia.

O selo postal ucraniano (2007) em honra do Roman Shukhevych no seu 100° aniversário

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalh%C3%A3o_Nachtigall

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Abwehr - Os bastidores da espionagem



Abwehr

A guerra, como fenômeno doloroso mas inevitável, mostra duas faces diametralmente opostas: a pública, difundida pelas crônicas periódicas, e a oculta, somente conhecida por grupos selecionados de combatentes e, às vezes, por um só homem. A primeira compreende a ação a céu aberto, a luta de homens e máquinas, o bombardeio, o duelo aéreo e o assalto à baioneta; a segunda vive e se desenrola nas sombras, num silêncio só interrompido quando um homem, ou mais, cai numa ruela silenciosa, baleado na escuridão. Nesse mundo de silêncio é onde a guerra atinge o máximo de dramatismo, um dramatismo que supera o duelo aéreo ou o assalto à baioneta. Nesse mundo, os combatentes jogam sua vida numa cartada, sem nenhuma recompensa, tendo como cúmplices, apenas, um silêncio e uma obscura solidão. Nesse mundo não existem medalhas nem menções. É o mundo da espionagem.

A literatura de ficção tem familiarizado o homem moderno com a figura do espião. E o tem feito alterando fundamentalmente a verdade. A novela e o cinema têm transformado o espião num ser impassível, provido de nervos de aço e dotado de particularidades incomuns. E é aí que a verdade é alterada. Porque o espião não é senão um ser humano, com suas paixões e fraquezas. E também com seus temores, que convertem sua vida diária num longo sofrimento, que termina, invariavelmente, na morte.

O espião, no contexto de uma conflagração mundial, deve ser aceito como mais um combatente; um combatente sem a proteção das convenções e dos tratados internacionais. Para ele não há quartel nem piedade. E assim, como mais um soldado, deve ser estudado em sua trajetória e seus métodos de luta, em sua vida e sua morte, despojado das falsas auréolas de romantismo e das pejorativas definições.


O que é um espião?

Poderíamos definir o espião dizendo que é um homem, ou uma mulher, que vende ou cede informações de importância vital para um Estado. A definição, porém, seria inexata. Com efeito, a informação geralmente é obtida através de pequenos detalhes aparentemente sem importância; porém, esses dados, agrupados e complementados com muitos outros, podem chegar a configurar uma informação de máxima importância. Além disso, vender ou ceder informações implica em considerações e conseqüências diametralmente opostas. Devemos destacar que o Abwehr (Serviço de Informação alemão), em sua seção de espionagem, selecionava, especialmente, voluntários que colaboravam espontaneamente, por simpatia ou por convicções políticas; os espiões mercenários constituíam somente um reduzido grupo, pois o comando alemão achava que o melhor serviço de informação não pode ser comprado.



Como é um espião?

A literatura especializada e a arte cinematográfica têm apresentado o espião, quase sempre, como um personagem de valor infinito, que vive deslumbrantes aventuras, em hotéis luxuosos e automóveis esporte, valendo-se simplesmente de seu valor e de sua força física. Porém, a realidade não é esta.

Um espião é, sempre, um homem ou uma mulher que reúnem, invariavelmente, um valor pessoal e uma série de qualidades individuais indispensáveis ao desempenho de sua tarefa. Quais são? Primeiro, o espião deve possuir uma extraordinária memória. A mesma, inata em muitos seres humanos, pode ser encontrada em muitos outros, atingindo limites inimagináveis. Os métodos e as chaves mnemotécnicas têm especial importância. De qualquer maneira, um espião deverá estar em condições de ler duas, três ou quatro páginas de termos técnicos e repeti-los sem erros nem vacilações. Deverá, ainda, ver um rosto humano e não esquecê-lo nunca mais; para isso, aprenderá a reter em sua memória certos traços determinados, invariáveis e impossíveis de dissimular ou ocultar, e nunca o rosto em sua totalidade. Deverá, finalmente, estar em condições de receber complicadas instruções verbais e recordá-las minuciosamente. Em segundo lugar, deverá conhecer vários idiomas, além do seu. Deparará, em muitas ocasiões, com documentos que estarão redigidos em outro idioma, ou seres que falarão uma língua que pode ser-lhe estranha. Deve estar em condições de entender esta língua, ainda que não totalmente. Um profundo conhecimento de psicologia será imprescindível a um espião, pois o ajudará a prever reações alheias, o porá em guarda e evitará, inclusive, que dê passos em falso. Deverá conhecer muito bem sua zona de operações: ruas, hotéis edifícios públicos, transportes e costumes locais, expressões idiomáticas, etc. O espião deverá estar em condições de responder sem vacilar a um pedido de informação de qualquer desconhecido que o aborde em plena rua, desconhecido este que pode ser, neste caso, um agente da contra-espionagem. Deverá ser, finalmente, um ator consumado, capaz de demonstrar surpresa, dor ou alegria, segundo as circunstâncias o exijam, dominando suas emoções e aprendendo a viver em plena simulação. É necessário destacar uma qualidade que está intimamente ligada à sua profissão: o valor. O espião sabe que para ele não existem convenções internacionais nem piedade. Sabe que sua vida está por um fio. E sabe, principalmente, que ninguém, nem o governo para quem trabalha, dará um passo em seu favor. Ele sabe que está só e isto constitui seu verdadeiro drama.

Almirante Canaris, comandante do Abwehr


Espiões alemães

Em 31 de agosto de 1939, os comandos alemães viviam a excitação do momento histórico que começavam a protagonizar. Somente um alto chefe permanecera despachando em Berlim. Era Wilhelm Canaris, o homem que mais dera de si e de seus homens, até este momento, para o êxito da empresa que a Alemanha estava prestes a empreender. Seus agentes já haviam feito sua guerra, uma guerra silenciosa, subterrânea e sutil, secreta e angustiosa: a guerra da espionagem.

Quem era Canaris? Para alguns, o maior agente alemão de todos os tempos; para outros, um simples intrigante...

Canaris nasceu em Aplerbeck, perto de Dortmund, no coração do Ruhr, em 1o de janeiro de 1887, e era o mais novo dos três filhos de um engenheiro do lugar. Na Primeira Guerra Mundial serviu no Serviço de Informação, esteve no comando de um submarino e no fim do luta passou a comandar o cruzador Schlesien. Depois de desempenhar várias funções no frota alemã, em 1o de janeiro de 1935, surpreendentemente, substituiu o Capitão Konrad Potzig no chefia do Abwehr, Em 1o de setembro de 1939, ao estalar a Segunda Guerra Mundial, Canaris tinha sob seu comando cinco seções: a Seção Central, sob o comando do Coronel Hans Oster, oficial que se destacaria mais tarde como ferrenho antinazista; a Seção Estrangeira, sob o comando do Capitão Buerkner, que mantinha relações com as potências estrangeiras; a Seção II, sob o comando do Coronel von Lohousen, que era responsável pelas ações de sabotagem e outras operações secretas; a Seção III, encarregada dos serviços de segurança, contra-espionagem e contra-sabotagem, e a Seção I, que merece ser estudada detalhadamente.

A Seção I tinha a seu cargo a informação secreta originada da espionagem. Estava organizada em três subseções, pertencentes ao exército, à frota e à aviação, e, além destas, havia cinco grupos. Entre estes, o Grupo I-G, que destinava-se à criação de armas secretas, microfotografias, tintas secretas, etc.; era ali onde se falsificavam passaportes e todo tipo de documentos indispensáveis para o funcionamento da rede de espiões e sabotadores. O Grupo I-I cuidava das telecomunicações, incluindo a fabricação de equipamentos clandestinos de rádio para os agentes, e da organização de redes secretas de rádio. A Seção I, no quartel-general de Berlim, estava instalada num edifício de cinco andares e contava com pessoal relativamente reduzido. Fora dali, ao contrário, seu pessoal era numerosíssimo e integrava a rede de "homens V" (V de "Vetrauen", confiança). Na sua maioria, os homens V eram voluntários a serviço do regime nazista por simpatia ou simplesmente por patriotismo. Havia muito poucos mercenários.

A principal função do Abwehr era defender a Alemanha dos adversários estrangeiros por meio da espionagem agressiva e da contra-espionagem defensiva.

Paralelamente às funções de Canaris e de seus homens, existia na Alemanha outra organização, sob o comando direto de um jovem ex-marinheiro alemão, Reinhard Heydrich. Era o Serviço de Segurança (Sicherheitsdients) para defender a Alemanha dos inimigos internos.

O Serviço de Segurança de Heydrich estava organizado em várias seções. As Seções IV e V eram especializadas em funções policiais. A IV era a temida Gestapo, que operava sob o comando de Heinrich Mueller e destinava-se a combater todos os inimigos do regime. A Seção V era o Kriminolpolizei, ou Kripo, sob o comando de Arthur Nebe.

O Serviço de Informação e o de Espionagem concentravam-se no SD, Seções III (Nacional) e VI (Estrangeira), dirigidas por Reinhard Heydrich. A espionagem agressiva estava a cargo da Seção VI, a famosa Amt Sechs.
A Seção VI desenvolveu-se passo a passo, até converter-se num outro Abwehr no seio da Wehrmacht.

Heydrich, por sua vez, foi reconhecido como um dos mais hábeis chefes do Serviço Secreto de todos os tempos.

As atividades do Abwehr

Hans Pieckenbrock era um alemão de caráter jovial, com um aspecto exterior de comerciante próspero. Porém, sob esta capa simples e sorridente, ocultava-se a verdadeira personalidade de um coronel do Estado-Maior alemão e do chefe da Seção I do Abwehr, dedicada à espionagem. Pieckenbrock, em quem Canaris confiava cegamente, guardava em seus arquivos segredos vitais de várias grandes potências e manejava com pulso firme uma imensa rede de espiões que abarcava dezenas de países. Enfrentava, paralelamente, problemas de toda espécie que se originavam nos serviços repressivos dos citados países e ainda pressões de órgãos alemães. O Ministério de Relações Exteriores alemão, por exemplo, nos anos anteriores à guerra, empenhara-se intensamente em impedir desgastes com a Grã-Bretanha, França e Estados Unidos; isto, logicamente, perturbava profundamente as atividades da espionagem alemã. Em 1937, por ordem expressa de Hitler, o Abwehr organizou, na Inglaterra, uma rede de espionagem de grandes dimensões. Em menos de dois anos, o Abwehr organizou o serviço e completou seus arquivos com detalhes minuciosos acerca da potencialidade do exército inglês e também da RAF e da frota britânica.

Porém, o principal objetivo do Abwehr não era a Inglaterra, e sim a França. Na Seção I foi organizado um ramo especial, com o objetivo de investigar e descobrir tudo sobre as defesas da Linha Maginot. Apesar de haver perdido, nesta empresa, numerosos agentes, o Abwehr obteve, finalmente, a informação precisa dessas defesas. Foi conseguida através de oficiais franceses, comprados pelos agentes do Abwehr; um deles era o Capitão Credle, ajudante do comandante das fortificações do setor de Metz, que forneceu um plano da linha; o outro era o Capitão Forge, encarregado dos abastecimentos na Maginot, que simpatizava com o movimento nazista e cedeu sua informação aos agentes do Abwehr.

Serviço secreto de rádio na OKW(Amt Ausland-Abwehr)
O segundo objetivo importante, para o Abwehr, era a frota de guerra da França. A Seção I-M, divisão de informação naval de Pieckenbrock, reunia os informes que alimentavam uma rede de espiões especialmente adestrados. Um destes últimos era um tenente da marinha francesa, relacionado com uma agente alemã. Este tenente tinha acesso direto ao arquivo e à documentação do Almirante Darlan. Foi assim que a ordem de mobilização chegou ao conhecimento do comando alemão quatro horas antes que às bases e barcos franceses... Outro dos agentes alemães - neste caso, da força aérea francesa - era um capitão da aviação francesa, colaborador de Pierre Cot, Ministro do Ar. Como muitos outros, tornara-se traidor devido a uma agente alemã. Nem todos os espiões alemães, porém, arriscavam suas vidas a troco de dinheiro ou sob a influência de uma mulher mais ou menos atrativa. Como já se havia dito, o serviço de espionagem alemão preferia, acertadamente, aqueles agentes que colaboravam por patriotismo ou simpatia pelo regime. Se déssemos exemplos, teríamos centenas de nomes, mas a descrição minuciosa de somente um deles demonstrará quão árdua e perigosa foi, e é, a missão dos homens que arriscaram, e arriscam, a própria vida pelo amor à pátria.

Num domingo do mês de outubro de 1939, no gabinete do Almirante Karl Doenitz, comandante da frota submarina alemã, o alto chefe dialogava com um jovem oficial, comandante de um submarino. Este último - que não era outro senão o mais tarde famoso Gunther Prien - escutava em silêncio as palavras de seu superior. Doenitz, debruçado sobre um grande mapa de operações, disse: "Tudo depende de um ataque rápido e de surpresa. Scapa Flow tem sete entradas. Se um submarino fosse capaz de penetrar nela, apesar da rápida e traiçoeira corrente... Isto pode ser feito e creio que você é o homem indicado... ".

Almirante Canaris
Em seguida, Doenitz entregou ao Comandante Prien algumas folhas de papel datilografadas, e vários diagramas e mapas. Aquela documentação de valor inapreciável havia sido entregue ao Alto-Comando alemão da frota por um dos melhores agentes alemães que operavam na Grã-Bretanha. O espião, Albert Oertel, havia chegado à Inglaterra em 1927, procedente da Suíça. De acordo com o declarado às autoridades inglesas, era um relojoeiro que desejava radicar-se na Escócia.

Na realidade, aquele relojoeiro suíço não era uma coisa nem outra. Tratava-se, na verdade, de um ex-oficial da marinha alemã, chamado Alfred Wehring, especialmente treinado para espião.

Depois de sua chegada à Grã-Bretanha, Wehring radicou-se definitivamente na cidade de Kirkwall, em Orkneyes, perto de Scapa Flow, a importante base naval.

Oertel - Wehring, na realidade tornou-se um ótimo vizinho dos habitantes do lugar. Era amável, cortês e sumamente inclinado a criar amizade com seus clientes. Porém, no segundo andar de seu pequeno negócio, Oertel ocultava um minúsculo rádio de onda curta, com o qual se comunicava regularmente com o continente; através daquelas mensagens, o serviço de informação alemão tinha observações detalhadas dos movimentos dos barcos ingleses, as particularidades da base e um sem-número de detalhes técnicos que o relojoeiro suíço averiguava por meio de suas inocentes conversações com os oficiais britânicos que chegavam até ele. Paralelamente, era através da correspondência que chegava da Suíça, aparentemente de sua longínqua família, que ele recebia as instruções de seus chefes.

Ao começarem as hostilidades, Oertel recebeu uma carta na qual comunicavam o falecimento de sua velha mãe. Angustiado pela notícia, o relojoeiro apressou-se em viajar ao continente. Dois dias mais tarde, Oertel embarcava em Leith, num barco que se dirigia para Roterdã. Em seu poder, cuidadosamente cosidos no forro de sua jaqueta, levava cartas secretas, diagramas e esboços de Scapa Flow, minuciosamente detalhados. Ao chegar a Roterdã, Oertel dirigiu-se ao Hotel Comércio, onde o esperava Fritz Burler, chefe do serviço de espionagem alemão na Holanda. Juntos, imediatamente dirigiram-se para Haia, onde o Barão von Bulow, importante chefe da espionagem alemã, os esperava. Este, depois de olhar a documentação levada por Oertel, compreendeu que estava de posse de valiosíssima informação, que deveria ser enviada imediatamente ao Almirante Canaris.

Em seguida, depois de cumprir sua missão, Oertel regressou à Inglaterra, decidido a continuar com sua tarefa de informação.

No mês de outubro, Oertel comprovou que as defesas da base possuíam falhas que estavam sendo reparadas urgentemente. Era necessário agir sem vacilação, e assim o fez. Minuciosas e detalhadas investigações permitiram a Oertel comprovar qual era o setor que ainda se encontrava indefeso e exposto à penetração de um barco inimigo.

Na tarde do mês de outubro, quando conseguiu a citada comprovação, Oertel fechou sua loja mais cedo que de costume e subiu rapidamente ao segundo andar. Ali, emitiu pelo rádio a senha convencional e esperou. Depois de estabelecida a comunicação, irradiou sua preciosa informação: "Scapa Flow está indefesa... ".

A mensagem de Oertel chegou ao quartel-general do Almirante Doenitz, da Kriegsmarine. Doenitz compreendeu que um pequeno atraso seria fatal, pois as entradas expostas seriam logo reparadas. O golpe, pois, deveria ser dado imediatamente. Foi quando conversou com o Comandante Prien.

A conseqüência do anteriormente exposto não se fez esperar. Na noite de 13 de outubro de 1939, o submarino alemão U-47 deixou o porto de Kiel. O Capitão Prien, que estava no comando do barco, era o único que sabia do objetivo da missão e suas ordens eram para não revelá-lo, até o último momento.

Ao cruzar as perigosas correntes da entrada da imponente base naval britânica, o U-47 subiu quase até a superfície. Em seguida, o periscópio percorreu minuciosamente a área de Scapa Flow. Atracado junto à costa encontrava-se o Royal Oak. O U-47 acercou-se lentamente de sua presa, até uma distância em que era impossível errar a tiro. Uma breve ordem partiu de Prien: "Fogo!" Depois de alguns segundos deu-se uma explosão terrível. Dois torpedos mais foram disparados ainda contra o Royal Oak.

A cena que se seguiu foi dantesca. Em meio às sombras da noite, as explosões sucediam-se ininterruptamente, destroçando o enorme barco. Entretanto, velozes caça-torpedeiros e lanchas torpedeiras sulcavam as águas, buscando, com seus refletores, o agressor. Prien, porém, com maestria e com uma incrível sorte, conseguiu escapar dali sem nada sofrer. Sem dúvida, esta empresa jamais teria sido realizada se não fosse a decidida e audaz intervenção de Alfred Wehring, o oficial naval alemão que havia adotado a personalidade de Albert Oertel, o pacífico relojoeiro. Depois do episódio, Wehring abandonou silenciosamente seu negócio e desapareceu tão misteriosamente como havia chegado.

O episódio Wehring-Oertel é típico e se repetiu várias vezes, em diferentes lugares e com diversos protagonistas. Em todos, porém, houve um denominador comum de sacrifício: silêncio e tensão insuportáveis para alguém que não possua nervos de aço.


Espionagem americana

No campo aliado, paralelamente, alternativas das mais variadas dificultaram a tarefa dos serviços de informação. Vejamos o Caso Donovan. Em janeiro de 1942, numa entrevista que o então Presidente Roosevelt manteve com William Donovan, o presidente, sem preâmbulos, afirmou que os Estados Unidos careciam de um Serviço de Informação capaz e efetivo. Donovan era o chefe do Bureau Coordenador de Informação, departamento organizado antes do ataque a Pearl Harbor e integrado por várias dezenas de investigadores das mais variadas especialidades. Eisenhower, anos mais tarde, no fim da guerra, expôs uma opinião semelhante, ao dizer: "A Europa estava em guerra há um ano, quando a América alarmava-se ante o estado de suas defesas... O obstáculo maior era... a indiferença. Inclusive quando a França caiu, em maio de 1940, não tínhamos ainda conseguido despertar de nossa inércia... No Departamento de Guerra havia uma surpreendente deficiência que dificultava todos os planos construtivos no campo da informação... A posição de órfã da Seção G-2 em nosso Estado-Maior era comprovada de várias formas. Por exemplo, quase sem exceção, a G-2 esteve sob o comando de um coronel. Isto, em si, não é grave, pois era preferível colocar à frente da seção um coronel capaz do que um general medíocre; mas vê-se claramente que o exército não se dava conta da importância do serviço de informação...".

William Donovan
Porém, devemos destacar que, apesar das opiniões de Eisenhower e Roosevelt, os serviços de informação dos Estados Unidos cumpriam acertadamente suas ordens. Devemos destacar, ainda, o serviço criptográfico do exército e da marinha, que funcionava melhor do que nunca e decifrava as mensagens mais confidenciais do inimigo.


Quando começaram as hostilidades, cada uma das frotas japonesas foi provida de vários sistemas de chaves, cada um dos quais era trocado regularmente. Porém, os criptoanalistas americanos descobriram suficientes senhas, nas telecomunicações japonesas, para ter uma idéia mais ou menos exata das intenções e disposições japonesas. Estas chaves incluíam o volume do tráfego, a repetição de certas letras de chamada, a longitude das mensagens e os tipos de chaves que eram empregados. Todos estes detalhes foram catalogados até que se chegou a uma conclusão muito clara: o Almirante Yamamoto preparava-se para outra ação de grande importância. Para determinar o objetivo de seus preparativos, os japoneses faziam referência ao mesmo com os letras AF e essas duas letras podiam significar muitíssimos lugares: Midway, Havaí, as Aleútas, etc. Nestas circunstâncias, na primavera de 1942, fez-se necessário saber exatamente a que ater-se. Foi então que o Almirante Nimitz pôs em prática uma armadilha que daria o resultado esperado. Nimitz ordenou ao Comandante Cyril Simard, de Midway, que informasse pelo rádio a Pearl Harbor que o abastecimento de água potável do atol fôra interrompido. A mensagem foi transmitida numa linguagem que os japoneses puderam interpretar facilmente.

No terceiro dia aconteceu o esperado. Uma das mensagens japonesas interceptadas dizia que em AF havia dificuldades no abastecimento de água potável.

Yamamoto, indubitavelmente, havia sido derrotado pela criptografia americana. E, mais tarde, haveria de sucumbir nas mãos da mesma. Foi quando o almirante empreendeu a sua última viagem. A notícia da viagem foi interceptada pelos criptoanalistas americanos e foi preparado a armadilha fatal.

Uma nomeação implicaria num notável melhoramento na situação da espionagem americana, em maio de 1942, quando o General Strong foi designado para chefiar a Seção G-2.

Strong foi indicado pelo General George Marshall, levando em conta não somente seus merecimentos em relação às tarefas de informação, mas também sua conhecida decisão e energia indômita.

O primeiro ato de Strong foi partir para Londres para estudar o terreno e o funcionamento dos serviços de inteligência britânicos. Quando voltou, Strong montou nos Estados Unidos uma organização inteiramente nova. Um de seus principais colaboradores foi "Wild Bill" Donovan, sob as ordens do Escritório de Serviços Estratégicos (SSO). Este foi dividido em três ramos paralelos. O primeiro foi o "R e A" (investigação e análise); o segundo era o "MO" (operação Morales), que dirigia a propaganda com o fim de minar a resistência do inimigo e enganá-lo por todos os meios possíveis; a terceira era o "SI" (informação secreta), centro vital da organização, que compreendia o grupo de espiões e sabotadores.

No decorrer da guerra, o SSO empregou mais ou menos 20.000 pessoas. Os integrantes do SSO eram pessoas de todas as classes e níveis sociais e culturais; havia entre eles desde Prêmios Nobel até indivíduos de baixo caráter.

Sob a direção de Donovan, o serviço de inteligência começou a funcionar, afinal, efetivamente. Suas façanhas, ocultas no momento, viriam à luz anos depois, no fim da luta.


Os segredos da espionagem 

O que narramos a seguir ilustra bem os múltiplos e estranhos recursos que a espionagem tem que pôr em prática com o objetivo de obter a informação. "Já fazia bastante tempo que o adido militar da embaixada americana estava conversando com o funcionário russo. Uma série de assuntos haviam sido abordados, e o russo falava sobre o interessante terreno das cifras de produção. O militar americano disse a si mesmo que este era o seu dia de sorte. Conversavam num discreto recanto de um restaurante moscovita e as mesas próximas estavam desocupadas. Ninguém poderia escutá-los. O americano oferecera a seu informante uma boa recompensa em troca de futuros dados. 

"O oficial americano reparou que seu copo estava vazio. Tinha sede e viu que na mesa ao lado, desocupada, havia um martini solitário. Interrompeu o diálogo e foi buscá-lo. Quando estava levando à boca a azeitona do martini, notou que algo estava para acontecer. Um garçom correu até ele, gesticulando e dizendo, atropeladamente: "Um momento... um momento... esta bebida não é para o senhor". 

"Já era tarde. O militar mordera a azeitona e um dos seus dentes estalou ao chocar-se com uma superfície metálica. A azeitona era um minúsculo transmissor de transistores. O palito era a antena. Toda a conversação que acabava de ter com o funcionário russo havia sido captada da mesa vizinha e registrada por um gravador oculto." 

Este fato foi divulgado pela revista americana Time e por várias revistas especializadas em eletrônica, demonstrando até que ponto os métodos de espionagem haviam-se aperfeiçoado, graças ao progresso da ciência. 

A imprensa explorava os casos mais escandalosos da espionagem eletrônica, principalmente os que afetavam as embaixadas de países ocidentais atrás da Cortina de Ferro. Entre eles houve um que se destacou por sua audácia e pela extraordinária perícia técnica posta em prática, dando origem a uma competição entre os Estados Unidos e a União Soviética no campo da eletrônica. Nos referimos ao descobrimento de um minúsculo microfone colocado no escudo dos Estados Unidos, situado atrás da cadeira do embaixador americano na União Soviética. 

Um especialista na matéria, que participou da busca do microfone, declarou, confidencialmente: "Os russos haviam progredido muito nesta arte. Não estávamos equipados para detectar o aparelho, porque os russos haviam instalado, no edifício em frente, um enorme transmissor sintonizado para interferir nas ondas de nossos detectores, quando estes aproximavam-se da cavidade do microfone; esse transmissor funcionava num espectro de freqüência ultra-elevada, que não estávamos em condições de captar". 

Para descobrir este microfone foi necessário demolir o escritório do diplomata, e talvez nunca os americanos houvessem suspeitado de sua existência se os ingleses não houvessem percebido em sua própria embaixada um sinal de rádio que não puderam identificar. 

Espionagem fotográfica 

Em meados de junho de 1942, o Serviço de Informações da Marinha italiana comemorava a aquisição de um dado de capital importância com respeito aos comboios britânicos e à proteção dos barcos de guerra. Tanto uns como outros estavam protegidos por redes de defesa contra torpedos. A informação, de grande importância, não havia sido obtida pelos clássicos meios da espionagem. Nenhum espião poderia proporcionar a rigorosa exatidão e o preciso realismo da imensa ampliação fotográfica, em cores, que se estendia ante os olhos dos oficiais italianos. 

O progresso técnico das últimos décadas abria novas possibilidades aos antigos métodos de espionagem (clandestinidade, risco e intriga), com o acervo de outros métodos de informação, mais seguros e diretos: a fotografia aérea, a interceptação de mensagens radiotelegráficas e, mais tarde, o radar. 

Os alemães, possuidores de uma tradição na indústria de instrumentos de precisão, dispunham, nessa época, de meios mais avançados para a obtenção de fotografias aéreas. 

A Luftwaffe atacava silenciosamente, acionando o disparador de suas poderosos câmaras, ao mesmo tempo que abria as escotilhas das bombas. Foi a Luftwaffe que, ao chegar ao Mediterrâneo, começou a prover a marinha italiana de fotografias aéreas das bases navais e das formações inimigas. 

Dia a dia, os posições da frota britânica eram fotografados e estudadas comodamente, graças às gigantescas ampliações, em cores, que eram recortadas e preparadas de tal maneira que, ao serem observadas através de lentes especiais, ofereciam uma visão panorâmica, estereoscópica e tridimensional. 

Assim, antes de lançar-se ao ataque contra os encouraçados de Alexandria, a marinha italiana conhecia com precisão todos os pormenores da rota a seguir e estava em condições de averiguar todas as variações que se produzissem na mesma, eventualmente.

Fonte: http://adluna.sites.uol.com.br/400/499-09.htm


sexta-feira, 7 de maio de 2010

Nordpol: o maior blefe da guerra secreta

Introdução:
Abwehr, nome do serviço de informação do exército alemão, ativo de 1925 a 1944. O líder da Abwehr chamava-se Wilheim Canaris e ocupava o posto de almirante. Reportava diretamente ao OKW (Oberkommando der Wehrmacht), alto comando das forças armadas alemãs. O termo Abwehr significa defesa.

Serviço secreto de rádio na OKW(Amt Ausland/Abwehr)

H. J. Giskes

Como o serviço secreto do Exército Alemão lubridiou os aliados através de suas redes de contatos subterrâneos na Holanda :

Em dezembro de 1943, os Aliados tinham uma esmerada rede de espionagem e uma organização subterrânea de cerca de 1.500 sabotadores que agiam na Holanda ocupada pelos alemães ou assim acreditavam eles. Na realidade, os rádios "subterrâneos" que respondiam aos chamados de Londres estavam nas mãos de operadores alemães há quase dois anos. Os homens e a enorme quantidade de armas e explosivos que o Serviço Secreto anglo-holandês lançara de pára-quedas na Holanda, em quase 200 operações, foram todos esperados, ao chegar, por comissões de recepção alemãs. Cinqüenta e quatro agentes secretos treinados em Londres estavam na prisão, enquanto os contra-espiões alemães inventavam histórias fabulosas sobre as atividades deles e as transmitiam para a Inglaterra. Foi uma das mais gigantescas mistificações perpetradas contra os Aliados em toda a "guerra secreta".

Na qualidade de major do Abwehr (serviço secreto do Exército Alemão), recebi ordem de apresentar-me em Haia, no outono de 1941, para assumir o comando da contra-espionagem militar nos Países Baixos. Tinham corrido boatos de comunicações radiofônicas clandestinas com Londres. Nossa função era descobrir os agentes inimigos e invalidar seus planos de levarem a guerra à retaguarda das linhas alemãs.

Nosso primeiro golpe de sorte ocorreu em fins de novembro. Um de nossos agentes secretos, que conseguira introduzir-se na resistência holandesa, informou que estava sendo organizada em Haia, por dois agentes britânicos, uma nova rede de espionagem. Tal informação foi confirmada em janeiro de 1942, quando o Tenente Heinrichs, do nosso serviço de escuta, ouviu um novo transmissor, com prefixo RLS, operando em Haia.

Começamos a controlar a RLS, anotando todos os detalhes da técnica de transmissão. Nosso objetivo não era eliminar a estação, e sim utilizá-la, isto é, operá-la nós mesmos, fingindo-nos de agentes aliados. Isso nos faria conhecer por dentro as operações do serviço secreto inimigo.

Em 6 de março, o nosso radiogoniômetro indicou a situação exata da RLS e na mesma noite nós prendemos o seu operador - um inglês, H. M. G. Lauwers. Dentro de algumas horas havíamos prendido todos os colaboradores do grupo de espionagem, de maneira a não deixar elementos que pusessem em perigo a nossa mistificação.

Com os códigos apreendidos no momento da prisão e outras informações fornecidas pelo nosso agente no grupo de espionagem, não tardamos a desvendar o código secreto de Lauwers. Mas Lauwers recusou-se a transmitir as nossas mensagens falsas para Londres, e nós relutávamos em fazê-lo nós mesmos - por enquanto.

No terceiro domingo de março, procurei Lauwers e disse-lhe que só ele poderia facilitar o meu plano de salvá-lo e ao agente Thijs, seu colega, de condenação à morte por um tribunal militar alemão. Disse-lhe que teria apenas de transmitir as três mensagens que não pudera mandar no dia da sua prisão.

Lauwers mostrou-se interessado, mas conservou-se em silêncio. Modifiquei minha maneira de tratá-lo.

- Como soldado, respeito sua coragem e seu senso de dever - disse eu - mas deploro a missão que Londres lhe confiou, pois importa em armar civis para que nos alvejem pelas costas. Todo exército de ocupação é obrigado a sufocar tramas dessa espécie com a captura de reféns. Usarei, portanto, de todos os meios ao meu alcance para impedir o fornecimento de armas a fanáticos desse país, pois o uso delas só poderá resultar num banho de sangue para a população holandesa.

Vesti o sobretudo.

- Está na hora de se preparar a transmissão de hoje - disse eu - você vem?

Ele me olhou dentro dos olhos e respondeu:

- Vou.

Lauwers irradiou as três mensagens e depois recebeu vários despachos referentes a irradiações anteriores da RLS. Heinrichs, naturalmente, tinha um de seus agentes ouvindo a transmissão na chave de um aparelho de interferência, para o caso de Lauwers nos trair. Nada de suspeito ocorreu (1).

E assim começou o que denominamos "Operação Nordpol" (Pólo Norte).

Por quanto tempo seria possível manter essa comunicação radiofônica com Londres? Se houvesse no código sinais que desconhecíamos para confirmar a autenticidade do operador, a mistificação poderia muito bem ser descoberta na transmissão seguinte.

Na segunda vez que estivemos no ar, Londres fez um apelo urgente: preparação de uma zona onde pudesse ser lançada grande quantidade de material de sabotagem e um novo agente. A notícia perturbou Lauwers consideravelmente. Disse que não operaria mais a RLS, que não podia tornar-se responsável pela queda de camaradas seus em nossas mãos.

- Esse homem cairá nas nossas mãos, quer você coopere, quer não - disse-lhe eu. - Se você continuar as transmissões para nós, espero obter das autoridades superiores que não sejam condenados à morte os agentes que capturarmos (2).

Lauwers voltou para o transmissor.

O aviso do desembarque foi recebido em 27 de março, e às 11 horas da mesma noite uma pequena caravana de automóveis, com as luzes amortecidas, parou numa pequena mata perto do local onde deveriam cair os pára-quedistas e onde havia três homens com poderosas lanternas de luz vermelha dispostos num grande triângulo. Esperamos duas horas. Teriam os britânicos descoberto o nosso estratagema? Estariam a caminho do nosso triângulo iluminado com uma carga de bombas, para pulverizar-nos no pântano com TNT?

Finalmente ouvimos um ruído de motores e um avião passou por cima de nós a uns 200 metros de altura no máximo. De repente, bem sobre nós, apareceram, na esteira do avião, vários pontos escuros. Quatro pesados volumes, sustidos por pára-quedas, tocaram o solo com baques surdos. Um quinto pára-quedas trazia o agente. O bombardeiro ganhou altura, suas luzes piscaram numa saudação, e ele desapareceu.

Eu e Heinrichs apertamos as mãos em silenciosa congratulação.

Imediatamente após esta operação, radiografamos para Londres informando que o agente lançado de pára-quedas estava bem e em boas mãos. Seguiu-se um calmo intervalo de várias semanas. Isso nos pareceu de mau agouro, pois tínhamos provas de que o serviço secreto anglo-holandês estava realizando operações na Holanda sem o nosso auxílio. Entre outras coisas, ouviu-se um novo transmissor na área de Utrecht e em abril foi encontrado o corpo de um pára-quedista, perto de Holten, com o crânio fraturado; ao aterrar tinha batido com a cabeça numa pedra. Comecei a preocupar-me com nossas transmissões pela RLS. Teria Londres desconfiado?

A verdade é que nossa primeira vitória não poderia ter sido mantida por muito tempo se não fosse o que aconteceu depois: por mero acaso, caíram em nossas mãos todos os canais usados por Londres para controlar o serviço secreto anglo-holandês!

Sem o nosso conhecimento, seis agentes haviam descido aos pares, cada par com um aparelho de rádio. Viemos a saber depois que, nas aterragens, morrera um operador de rádio, de nome Maartens (era seu o corpo encontrado junto à pedra) e que só um aparelho chegara intacto. À vista disso, os agentes se entrosaram, transmitindo seus comunicados por esse único aparelho, que funcionava e respondia pela cifra de Trumpet. Quando Londres deu ordem para que a RLS entrasse em contato com um dos agentes da Trumpet, ficamos conhecendo toda a rede.

A Trumpet caiu em nosso poder completa, com seu plano de, sinalização e seus códigos. Utilizamo-la para iniciar uma segunda linha de comunicação Nordpol com Londres e sugerimos para esse grupo um novo local para o lançamento de pára-quedas. Aceitamos a primeira aterragem nesse ponto cerca de 15 dias depois.

Agente utilizando um aparelho de rádio
Enquanto isso, o plano de sinalização de Maartens, o operador morto, fora encontrado em poder de seu companheiro, Andringa. Anunciamos para Londres, via Trumpet, que Andringa descobrira na resistência um operador de confiança que podia servir-se da sinalização de Maartens com o aparelho deste já consertado. Londres mandou que o novo recruta fizesse uma transmissão de experiência para comprovar sua capacidade. O operador alemão que se submeteu à prova foi rapidamente aceito, e assim estabelecemos uma terceira linha de comunicação com Londres.

Em meados de maio. Heinrichs declarou suspeitar que Lauwers havia transmitido letras adicionais no fim de sua última mensagem. Esperamos ansiosamente para ver se Londres desconfiara de alguma coisa. Parecia que não. Entretanto pusemos termo às transmissões de Lauwers, propondo operadores de "reserva". Com espanto nosso, eles foram aprovados.

À medida que novos agentes iam sendo presos à chegada, nossos homens iam apanhando os transmissores e operando-os. Com isso corríamos o risco de que as características de transmissão de algum agente houvessem sido gravadas em Londres antes da partida. Se assim foi, eles nunca fizeram uma verificação cuidadosa. Em várias ocasiões, durante a Operação Nordpol, chegamos a ter 14 canais de comunicação radiotelegráfica com Londres e isso apenas com seis operadores alemães!

De junho em diante, a operação desenvolveu-se de maneira inacreditável. Os lançamentos de pára-quedas se sucediam quase ininterruptamente. A decisão tomada em Londres de mandar todos os futuros agentes e materiais por intermédio das articulações existentes foi o grande erro do nosso inimigo. Um só grupo de controle lançado às cegas, sem o nosso conhecimento, poderia ter desarticulado a Operação Nordpol.


H. J. Giskes

Em julho, Londres confiou ao grupo da RLS uma tarefa especialmente importante: um reconhecimento para ver se era possível fazer explodirem as torres do transmissor de Kootwijk, pelo qual o Almirantado Alemão se comunicava com os submarinos no Atlântico. O agente Thijs deveria comandar a turma encarregada da demolição. Mandei uma patrulha de reconhecimento e depois radiografei as conclusões exatas a que chegara: a demolição das torres não apresentaria grandes dificuldades; Thijs e seu grupo estavam de prontidão, à espera de ordens para levar a cabo a operação. Quando chegou a ordem, eu já tinha inventado motivos para o "insucesso". Dois dias depois a RLS transmitiu para Londres a seguinte mensagem: "Tentativa contra Kootwijk mal sucedida. Nossos homens encontraram campo de minas. Cinco homens desaparecidos. Thijs e os outros salvos, inclusive dois feridos". No dia seguinte: "Dois dos cinco desaparecidos voltaram. Três outros mortos em combate. Inimigo reforçou guarda de Kootwijk e outras estações".

Londres respondeu: "Lamentamos muito suas perdas. Sistema de defesa novo e imprevisível. Necessária a maior vigilância possível. Comunique qualquer anormalidade". Mandei noticiar o caso na imprensa holandesa. A notícia dizia que elementos criminosos haviam tentado fazer explodir uma estação de rádio. O material de sabotagem apreendido sugeria auxílio do inimigo. Eu esperava que meus adversários em Londres tivessem conhecimento dessa notícia por intermédio dos países neutros. Quinze dias depois, Londres mandava à RLS uma mensagem de congratulações pela tentativa de sabotar Kootwijk. Thijs deveria receber uma condecoração britânica como dirigente da operação.

A fase decisiva da Nordpol, de junho de 1942 até a primavera de 1943, foi a sua participação na Operação Marrow, de iniciativa anglo-holandesa. O chefe da operação Marrow era um agente chamado Jambroes, cuja missão - conforme soubemos quando os representantes da resistência lhe deram as boas-vindas antes de o prendermos - era estabelecer contato com os líderes da organização holandesa Ordedienst e fazer com que esta formasse 16 grupos de sabotagem e resistência com cem homens cada um.
Desenhos de radares alemães feito por agentes.

Não sabíamos quem eram os líderes da Ordedienst, de modo que comunicamos a Londres que havia desmoralização nas altas camadas da organização e que se haviam infiltrado espiões alemães entre os seus dirigentes. Sugerimos que Jambroes entrasse em contato com líderes de organizações de maior confiança.

A formação fictícia da organização Marrow começou em agosto de 1942. Os 16 grupos tiveram um desenvolvimento aparentemente tão grande que, em novembro, Londres havia mandado por nosso intermédio 17 agentes, cinco dos quais eram operadores de rádio, com seus próprios aparelhos e freqüência. Quando radiografamos que havia cerca de 1.500 homens recebendo instrução, lembramo-nos de que toda aquela gente precisaria com urgência de coisas tais como roupas, calçados, fumo, chá. E pedimos abastecimentos, recebendo certa noite uma remessa de cinco toneladas!


(1) Depois da guerra, Lauwers declarou que recebera instruções de Londres para cometer propositadamente um erro na 16ª letra de cada mensagem; a falta dessa "prova de identidade" indicaria que ele tinha caído nas mãos do inimigo. Conseguiu esconder de seus captores esse estratagema, inserindo, assim, uma advertência clara em todas as mensagens que irradiava para os alemães. Mas, por incrível que pareça, Londres não percebeu esses avisos.

(2) Nota do autor: Apesar disso, dos 54 agentes anglo-holandeses da Nordpol, 47 não sobreviveram à guerra. Investigações dos holandeses apuraram que eles foram fuzilados em 1944, no campo de Mauthausen. Sua eliminação foi um dos muitos crimes característicos dos processos de Himmler, que não podem ser justificados por quaisquer necessidades da guerra. A memória dessas vítimas de um infame abuso de confiança, que só posso recordar com vergonha e amargura, foi o que guiou a minha pena ao escrever esta narrativa.


O major da Abwehr, H. J. Giskes, narra as ações da contra-espionagem alemã e como se deu o fim da Operação Nordpol :

De janeiro a abril de 1943, outros 17 agentes caíram em nosso poder, compreendendo sete operadores com canais independentes de comunicação radiotelegráfica. Agora defrontava-me com o problema de dar informações a Londres sobre as atividades de quase 50 agentes. Não poderíamos manter a situação por muito tempo. Nossos seis radio-operadores não podiam dar conta do recado. Assim, obtivemos autorização de Londres, "por motivos de segurança", para encerrar as atividades de alguns dos transmissores Marrow.

Por um triz não fomos apanhados quando desembarcou um agente chamado Jongelie, cujo nome de guerra era "Arie". Preso, declarou que, para confirmar sua chegada são e salvo, devia imediatamente radiografar a Londres: "O expresso partiu na hora". Isso colocou os interrogadores num dilema. Estaria ele procurando enganar-nos?

Fui falar com Jongelie. Impassível ele respondia a todas as minhas perguntas com a declaração de que devia imediatamente transmitir o despacho: "O expresso partiu na hora", do contrário Londres compreenderia que ele caíra em poder dos alemães. Fingi, afinal, estar convencido. Aparentemente absorto nos meus pensamentos, disse-lhe que transmitiríamos a sua mensagem. E então, levantando os olhos de repente, surpreendi uma expressão de triunfo nos dele. Era realmente um estratagema.

Na primeira transmissão de rotina, mandamos o seguinte despacho: "Houve um acidente. Arie caiu mal e está desacordado. Médico diagnostica traumatismo grave". Três dias depois radiografamos: "Arie recuperou os sentidos ontem, por algum tempo. Médico espera melhoras". E no dia seguinte: "Arie faleceu. Esperamos prestar-lhe homenagens condignas depois da vitória".

Tivemos sorte: Londres tomava precauções normais, mas não podia supor que toda a sua rede de comunicações na Holanda e todos os seus agentes tivessem caído nas mãos dos alemães.

Pouco depois desse incidente, o quartel-general anglo-holandês começou a insistir que mandássemos de volta à Inglaterra, a fim de prestar informações, o agente Jambroes, chefe do grupo Marrow. Tínhamos que arranjar pretextos constantes para conservá-lo na Holanda: o principal era que a rota de comunicações para a Espanha andava difícil e perigosa. Reforçávamos essas informações dizendo que de vez em quando um agente partia para a França e não chegava a parte alguma. Quando Londres pedia informações sobre terrenos da Holanda onde poderia descer um avião para apanhar Jambroes, respondíamos que não conseguíamos achar lugar conveniente, ou então, quando parecia iminente um vôo especial, declarávamos à última hora que o local marcado era perigoso. Finalmente, tomamos a única atitude ainda possível: anunciamos que Jambroes estava desaparecido, "depois de uma incursão da polícia alemã em Roterdã".

Para remediar a situação, foi desembarcado na Holanda o Grupo Golf. Visava preparar rotas de comunicação e linhas de fuga seguras, através da França, Espanha e Suíça. Deixamos passar seis semanas e depois Golf radiografou a Londres que fora aberta uma rota segura até Paris e que o emissário seria um homem experimentado chamado "Arnaud". Na realidade, Arnaud era o nosso Unteroffizier Arno. Fingindo-se de refugiado francês, ele já havia entrado em contato com elementos da resistência e conseguira realmente penetrar nas rotas de comunicação do inimigo.

Para "experimentar a segurança" da linha de fuga do Grupo Golf, mandamos para a Espanha dois aviadores ingleses que viviam escondidos na Holanda. Três semanas depois, Londres confirmou que eles haviam chegado bem. Esse sucesso deu grande prestígio ao Grupo Golf e a Arnaud em Londres, e assim obtivemos informes sobre três estações do Serviço Secreto britânico em Paris, que serviam as linhas de fuga. A contra-espionagem alemã não tomou medidas contra essas estações, partindo do princípio de que obter informações - como passamos a obter em quantidade - era mais valioso do que a eliminação.

Nos meses seguintes, o Grupo Golf prestou realmente alguns serviços aos Aliados. Muitos aviadores inimigos que tinham sido abatidos na Holanda e na Bélgica foram encaminhados numa aventurosa viagem clandestina para a Espanha, sem saberem que estavam sob a asa da contra-espionagem alemã. Anunciávamos continuamente essas viagens, dando nomes e patentes, e quando os aviadores chegavam à Inglaterra realizávamos o nosso propósito: aumentar o prestígio do Grupo Golf, sem prejudicar a Nordpol.
Nessa altura eu começava a recear que as informações obtidas pelo inimigo nos países neutros não confirmassem as notícias que transmitíamos sobre movimentadas atividades de sabotagem na Holanda. Promovemos, então, uma série de atentados fictícios nas estradas de ferro. Hora e local eram planejados de maneira a evitar acidentes de trem, mas o assunto era muito comentado nos meios ferroviários holandeses.

Fizemos, também, explodir um navio em pleno dia, no Rio Maas, em Roterdã. Escolhemos uma barcaça de mil toneladas, que fazia o percurso para a Alemanha pelo Reno, com uma carga de peças de aviões destroçados e uma tripulação da Marinha de Guerra alemã. Pouco depois do meio-dia, numa bela tarde de agosto, houve uma explosão no momento exato em que a barcaça passava sob a grande ponte do Maas. Subiu ma enorme nuvem de fumaça e a embarcação começou a afundar. Homens a meu serviço tinham embarcado nela passando por engenheiros da luftwaffe e, sem despertarem as suspeitas da tripulação, fizeram detonar a carga de explosivos no lugar e no momento que convinham.

A lancha do capitão do porto "estava por caso nas proximidades", comigo a bordo. Tocamos depressa para o local do desastre e salvamos a tripulação da barcaça. Os destroços foram arrastados para a terra, pela correnteza, com a carga de velhas fuselagens e asas de aviões. Nas margens, milhares de habitantes de Roterdã aplaudiam e gritavam de alegria. A publicidade teve um êxito retumbante.

O capitão do porto, um honrado oficial alemão, passou uma semana interrogando febrilmente a tripulação da barcaça, num grande esforço para descobrir a origem da sabotagem. Mas nunca soube a verdade.

Em 31 de agosto de 1943, Ubbink e Dourlein, dois dos cinqüenta e tantos agentes que detínhamos na prisão de Haaren, conseguiram fugir e desapareceram. Eu estava convencido que aqueles homens corajosos e resolutos encontrariam algum meio de voltar à Inglaterra. Se conseguissem, trairiam a nossa organização.

Durante os dez primeiros dias de dezembro, as mensagens de Londres tornaram-se de repente monótonas e desinteressantes. Parecia que Ubbink e Dourlein tinham alcançado seu objetivo. Agora Londres procuraria enganar-nos a nós. Não deixamos transparecer que sabíamos que o grande logro fora, afinal, descoberto e continuamos as atividades normais. As mensagens de Londres apenas se tornavam cada vez mais desinteressantes.

Em março de 1944, propus a Berlim que puséssemos termo à farsa das operações Nordpol por meio de uma última mensagem. E assim foi que radiografamos aos homens que sabíamos estarem à testa do serviço secreto anglo-holandês:

Srs. Pancrácio, Simplório & Cia. Ltda., Londres. Sabemos que V. Sras. há algum tempo vêm procurando fazer negócios na Holanda, sem nosso auxílio. Lamentamos esse fato, pois fomos por tanto tempo seus únicos representantes no país em condições mutuamente satisfatórias. Asseguramo-lhes, não obstante, que, no caso de pretenderem fazer-nos alguma visita no continente, em escala considerável, dispensaremos aos seus emissários a mesma atenção de sempre, e uma acolhida sempre cordial.
O texto, em linguagem comum, foi radiografado para Londres no dia 1º de abril, por todos os dez canais. A data não podia ser mais indicada.

Na tarde seguinte, nossos radioperadores informaram que Londres aceitara a mensagem em quatro canais, mas que não respondera aos chamados dos outros seis. E assim foi encerrada a operação Nordpol.


Fonte: História Secreta Da Última Guerra  - Seleções Do Reader S. Digest
Autor: H.J. CISKES
http://pt.wikipedia.org/wiki/Abwehr