sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Feliz Natal e prospero Ano Novo

Guadalcanal, 1942.
Feliz Natal e um prospero Ano Novo a todos os frequentadores do blog.

Esses dois últimos anos foram corridos, muito trabalho e final da faculdade impediram a atualização por aqui. Mas agora ficará mais tranquilo, a partir do ano que vem, creio eu.

Forte abraço a todos, em especial para o pessoal do Holocausto.Doc.

Paz.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Nelson Mandela, extrema direita, racismo e atualidade



Morreu aos 95 anos, no dia 5 de dezembro, Nelson Mandela, um dos lideres da líder da luta anti-apartheid na Africa do Sul.

As noticias detalhadas sobre a morte dele podem ser vista aqui, aqui, aqui,e aqui.

Para entender mais sobre o Apartheid, ler aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Extrema direita africâner (Movimento de Resistência Africâner):

Ótimo documentário aqui.

Algumas matérias no Holocausto Doc. aqui.

Israel e seu apoio ao Apartheid aqui, (Texto genérico, quem quiser saber mais, só procurar que tem bastante coisa.)
Matéria falando sobre os judeus na Africa do Sul,muito interessante, aqui. (isso é bom para fazer um contra-ponto ao apoio de Israel no Apartheid)

Apoio de empresas gigantes aqui.

A foto ao lado foi retirada da Wikipedia, com a tradução: "área de banho reservada para uso exclusivo por integrantes do grupo racial branco."

Tem muita coisa na internet que facilmente da pra ver o apoio de outros países e empresas no regime racista sul africano, basta ao leitor interessado procurar.

Mas o ponto em que queria chegar é como mesmo após um conflito (Segunda Guerra Mundial/Genocídio) onde o uma parcela da população europeia foi exterminada por uma politica racista, xenófoba, autoritária, o domínio de uma classe "racial" sobre outra prevaleceu durante décadas na Africa do Sul, levando a população negra e indiana ao relendo, tratando  como sub-humano, tudo dentro da lei, e  nenhum pais teve a vergonha na cara de dar um fim nisso, deixando apara o próprio povo do pais resolver. A ONU, como sempre só gritava, resolver que é bom nada, deixando para as grandes potencias a ação, que não veio. Precisou chegar ao ponto de os próprios brancos votarem para acabarem com o Apartheid,  com uma faixa de 250 mil votos sim contra 35 mil não (os números não me lembro certo de cabeça, mas ficam nessa faixa). Fico imaginando se essa maioria que votou sim tive votado não, se um massacre teria ocorrido depois de 80% da população em greve geral e conflito a flor da pele, com a extrema direita (com aquela bandeira sugada da suástica) toda nas forças de policia, destilando seu ódio através das armas na população desarmada. 

Esse mundo é hipócrita ao extremo, defendem um grupo e não dão a minima a outros, e depois vem com discursos moralistas de apoio e solidariedade, quando a confusão já terminou.

Que o legado muito recente dessa batalha contra o racismo sirva de atenção, que não estamos nem um pouco distantes dessas violações extremas dos Direitos Humanos.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Submarino japonês abatido na 2ª Guerra Mundial é achado no Havaí

Submarino ficou muito danificado e caiu quase de bico após ataque,
 diz especialista (Foto: NOAA HURL/Reuters)
Submarino foi afundado pelos EUA quando iria atacar o Panamá. Embarcação foi encontrada por acaso a 700 metros de profundidade.

Cientistas divulgaram imagens feitas de um um submarino japonês da Segunda Guerra Mundial descoberto recentemente no fundo do o oceano Pacífico nos arredores do Havaí . O submarino foi abatido pelas forças dos Estados Unidos quando estava se preparando para atacar o Canal do Panamá e estava desaparecido desde 1946.

A embarcação, de 400 pés (122 metros) da classe "Sen-Toku", é um dos maiores submarinos pré-nucleares a serem fabricados. Ele foi achado por acaso em agosto a sudoeste da ilha de Oahu, em um leito marinho rochoso a cerca de 700 metros de profundidade, segundo cientistas da Universidade do Havaí em Manoa.

Na época do ataque norte-americano ao submarino, os EUA disseram não ter informações precisas sobre o local.

O I-400 e seu "gêmeo" I-401, achado na mesma região em 2005, eram capaz de dar uma volta e meia em torno do planeta sem reabastecer, e era capaz de abrigar três bombardeiros de asas retráteis, que poderiam decolar minutos após a emersão do submarino, segundo os cientistas.

"Topamos com isso quando estávamos procurando outros alvos... É como ver um tubarão em repouso", disse Jim Delgado, pesquisador que viajou até o local do naufrágio.

Segundo o arqueólogo, que trabalha para a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), o submarino foi torpedeado, ficou muito danificado e caiu quase de bico.

Fonte: G1

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Morre Heinrich Boere, ex-oficial nazista condenado por execuções durante a Segunda Guerra Mundial

Heinrich Boere foi condenado por execuções durante
 a Segunda Guerra Mundial
O ex-oficial da SS Heinrich Boere faleceu aos 92 anos no hospital da penitenciária de Froendenberg, na Alemanha, onde cumpria pena de prisão perpétua por crimes realizados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Sua morte foi registrada no último domingo (1º), por causas naturais, informaram autoridades locais.

O ex-oficial nazista foi condenado, no âmbito do julgamento de Aachen, pela morte de três civis holandeses — membros da resistência local — em 1944. Boere foi detido no ano seguinte, após a sentença ser confirmada.

Fonte: DCI




Morre aos 92 anos ex-oficial nazista Boere, condenado à prisão perpétua

Berlim, 2 dez (EFE).- O ex-oficial da SS alemã Heinrich Boere morreu aos 92 anos no hospital da prisão de Fröndenberg (oeste do país), onde cumpria pena de prisão perpétua ditada em 2010 pelos assassinatos a sangue frio de membros da resistência holandesa durante o nazismo. 

Fontes do Ministério da Justiça do estado federado da Renânia do Norte-Vestfália informaram nesta segunda-feira sobre a morte de réu, nascido em 1921 e que durante décadas teve uma existência sem sobressaltos, até que a Audiência de Aachen o processou por crimes de guerra. A justiça alemã o declarou culpado em 2010 pelos assassinatos de três civis, cometidos em 1944, e pelos quais tinha sido julgado e condenado à morte por um tribunal holandês após o fim da Segunda Guerra Mundial. Boere, que foi preso em 2011, morreu por causas naturais, disseram as citadas fontes. 

O ex-membro das SS foi condenado já com 88 anos, após um julgamento tardio em que confessou ter assassinado três membros da resistência contra Hitler na Holanda ocupada. Com 61 anos de atraso em relação à primeira condenação em Amsterdã, o idoso ouviu a sentença sobre a cadeira de rodas em que acompanhou o julgamento. Boere foi, durante o nazismo, um dos 15 membros do comando "Feldmeijer" criado para assassinar membros da resistência e foi condenado pelas execuções provadas de três civis, nas cidades holandesas de Breda, Voorschoten e Wassenaar. 

O réu tinha na época 22 anos, havia ingressado nas SS com 18, por "puro fanatismo e convicção", segundo sua própria declaração em seu julgamento. Após servir na frente do Leste dois anos foi destinado à Holanda - país de seu pai - onde recebeu esse comando. A incumbência dos membros do "Feldmeijer" era buscar em seus domicílios e matar a sangue frio civis suspeitos de pertencer à resistência antihitleriana. Seu método consistia em ficar na frente da porta da casa das vítimas, confirmar suas identidades e matá-las a tiros, estivessem ou não na presença de seus parentes.

Estima-se que Boerer tenha participado de 50 execuções, mas o processo se centrou nos três casos mencionados, onde os filhos de duas de suas vítimas moveram uma ação particular. Nascido em 1921 em Eschweiler (a 100 quilômetros da fronteira com a Holanda), Boerer foi preso pelos aliados antes do fim da Segunda Guerra Mundial e já nesses interrogatórios se declarou autor das mortes.

Em 1947, o criminoso fugiu de seu campo de prisioneiros, passou sete anos escondido na Holanda, coincidindo com o julgamento em que foi condenado à morte, sentença depois comutada por prisão perpétua.

Fonte: Portal R7

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Zagueiro da seleção croata gera polêmica com grito fascista em comemoração

Josip Simunic convocando e recebendo resposta da torcida
 ao gritos de expressões usadas pelas extrema-direita Ustasha

O zagueiro Josip Simunic criou polêmica ao emitir um grito fascista em meio às festas de comemoração da classificação da Croácia para a quarta Copa do Mundo de sua história, obtida nesta terça-feira com a vitória sobre a Islândia por 2 a 0.

Na euforia após o triunfo, Simunic pegou o microfone do estádio Maksimir e exclamou um conhecido lema dos "ustachis", os fascistas pró-nazistas croatas da Segunda Guerra Mundial.

"Za dom" ("Pela família), exclamou Simunic várias vezes, obtendo resposta de milhares de pessoas, que gritavam "Spremni" ("Prontos"). Esse era um dos lemas dos "ustachis", que entre 1941 e 1945 lideraram o Estado Independente Croata, um protetorado da Alemanha liderada por Hitler e onde foram assassinados centenas de milhares de judeus, sérvios, ciganos e dissidentes políticos.

O presidente da Croácia, Ivo Josipovic, representantes do Governo e outras instituições do país pediram nesta quarta uma reação urgente da Federação Croata de Futebol (HNS) pelo incidente.

Josipovic considerou os gritos do jogador do Dínamo Zagreb "completamente inapropriadas" e pediu que a HNS atue "se desejar manter sua autoridade".

Quem também se pronunciou foi o ministro da Educação, Zeljko Jovanovic, pediu uma "reação urgente" por parte dos presidentes do Comitê Olímpico Croata, Zlatko Matesa, e da federação, o ex-atacante Davor Suker. "Pedimos informação urgente sobre as reações dos senhores e as medidas que tomarão", diz comunicado ministerial.

O próprio Simunic - um australiano de origem bósnio-croata - tentou minimizar o incidente. "Como croata nascido no exterior, associo a palavra "dom" com amor e calor, e não com ódio e destruição", justificou.

A procuradoria de Zagreb comunicou ter pedido à Polícia um relatório sobre os eventos, para decidir se houve alguma infração, já que a legislação croata não prevê responsabilidade penal nesse tipo de situação.

Fonte: Portal Terra



Comentário: Que isso sirva de alerta para o ressurgimento da extrema-direita católica, que matou dezenas de milhares no decorrer da 2ª Guerra Mundial e o assunto é ignorado pela mídia e pela própria igreja. Para quem não sabe, sugiro a ler as postagens aqui no blog e no Holocausto Doc. sobre o Ustasha:
Material aqui no blog
Material no Holocausto Doc.

Segue abaixo alguns documentários da minha conta do Youtube:

Documentário sobre Ustasha:
Os maiores assassinos da Historia, os Croatas pró-nazistas - Ustasha 1/2
Os maiores assassinos da Historia, os Croatas pró-nazistas - Ustasha 2/2

Documentário Holocausto do Vaticano:

Holocausto do Vaticano - Campos da morte na Croácia pró-nazista - parte 1
Holocausto do Vaticano - Campos da morte na Croácia pró-nazista - parte 2
Holocausto do Vaticano - Campos da morte na Croácia pró-nazista - parte 3
Holocausto do Vaticano - Campos da morte na Croácia pró-nazista - parte 4
Holocausto do Vaticano - Campos da morte na Croácia pró-nazista - parte 5
Holocausto do Vaticano - Campos da morte na Croácia pró-nazista - parte 6

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

São Petersburgo homenageia os 70 anos do fim do cerco a Leningrado

Leningradenses em Nevsky Prospekt, durante o cerco de 1942
Foi aberta na quarta-feira, 27, uma exposição em São Petersburgo lembrando os 70 anos do fim do cerco de Leningrado, apresentando quadros, pinturas e esculturas de artistas sobreviventes do bloqueio Nazista à cidade durante a II Guerra Mundial. Os visitantes podem conferir o diário da União dos Artistas de Leningrado no período, materiais de arquivo originais sobre a vida criativa da cidade sitiada, além de histórias sobre o trabalho de artistas no front.

O cerco em torno da cidade se manteve durante 900 dias, até que Leningrado foi finalmente retomada em 27 de janeiro de 1944 pondo fim a uma das páginas mais terríveis da história da II Guerra Mundial. Segundo cálculos realizados por historiadores graças à revelação de documentos secretos da época, até 2,3 milhões de pessoas foram sepultados nas 146 valas comuns cavadas durante o bloqueio nos quatro cemitérios de Leningrado.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Extrema-direita húngara ergue monumento a ex-presidente nazi em Budapeste

Miklos Horthy e Adolf Hitler durante uma visita de estado na Hungria
O partido fascista Jobbik ergueu um monumento em homenagem ao presidente nazi Miklos Horthy, responsável pela colaboração do país com os alemães durante a Segunda Guerra Mundial e pela deportação de mais 43 7000 judeus húngaros em 56 dias.

O partido de extrema-direita “Movimento por uma Hungria Melhor” (Jobbik) ergueu e inaugurou um grande busto de bronze em Budapeste em homenagem ao ex-presidente húngaro Miklos Horthy, que colaborou ativamente com o regime nazi, permitindo a deportação de milhares de judeus para os campos de concentração alemães.

Um dos organizadores da homenagem a Horthy, Marton Gyongysi, vice porta-voz do Jobbik no Parlamento, onde são terceira força política, foi obrigado a retratar-se publicamente no ano passado após pedir a elaboração de um registo dos cidadãos húngaros de origem judaica.

Miklos Horthy, o principal símbolo da extrema-direita húngara, governou o país com mão de ferro durante 24 anos e cedo se aliou com a Alemanha de Adolf Hitler em 1944. Com a ocupação nazi, sobre o mandato de Horthy, as autoridades húngaras deportaram mais de 437 000 judeus húngaros em 56 dias.

"Chamar a Horthy criminoso de guerra é injusto e erróneo do ponto de vista histórico", afirmou o dirigente do Jobbik, Lorant Hegedus, em declarações à agência Reuters. "Não foi tratado como criminoso de guerra em Nuremberga, então porquê fazê-lo agora?", questionou. Horthy testemunhou nos julgamentos de Nuremberga depois da Segunda Guerra Mundial, mas não foi acusado e morreu no exílio, em Portugal, em 1957. Para Gyongyosi, também do Jobbik, Horthy foi o maior estadista húngaro do século XX.

Em resposta a este evento público, aproximadamente mil manifestantes expressaram a sua repulsa à homenagem feita a Horthy, a mesma resposta obteve do partido de governo Fidesz – União Cívia Húngara do polémico populista de direita Viktor Órban.

"É escandaloso que uns quantos fascistas levantem uma estátua a Horthy, responsável pelo domínio nazi e do Holocausto na Hungria", criticou um jovem manifestante, Bence Kovacs, que trazia uma estrela amarela ao peito em homenagem aos judeus perseguidos.

O prefeito de Budapeste, Antal Rogan, do Fidesz, classificou o busto como uma "provocação". "Isto dará à imprensa de esquerda da Europa ocidental uma desculpa para denunciar o antissemitismo (no país) e atribuir à Hungria uma imagem negativa", argumentou.

O Jobbik conta atualmente com 45 dos 386 lugares no Parlamento, controlado por uma maioria absoluta do partido do Governo, Fidesz, mas as sondagens preveem uma significativa redução do apoio do partido de direita e uma ascensão da extrema-direita.

Está previsto que em abril ou maio se realizem novas legislativas e o Jobbik conseguirá entre o 8 e o 9 por cento dos votos, segundo as sondagens mais recentes.

Fonte: Revista Forum

domingo, 17 de novembro de 2013

Sobreviventes do Trem da Morte



Uma crosta de sangue ressequido recobre seu rosto. Tem de esfregar com força o olho direito para desgrudar as pálpebras. Lentamente, os dedos apalpam a profunda ferida da fronte. Durante alguns segundos ele se pergunta o que teria podido provocar tamanho corte... depois as imagens e os sons invadem sua cabeça. Ele quer dizer: 

- Foi uma garrafa... uma garrafa que me atingiu!... 

Mas nenhuma palavra se forma, não brota nenhum som. Ele vai gritar. A garganta infla-se. Um pigarro apenas. Um sopro de ar. Nada. O silêncio. A mão hesita sobre os lábios, ele se surpreende, sente a carne intumescida, rachada, arrebentada. Lábios desmesurados, lábios gigantescos. Aos poucos volta o suor - o último suor - que dissolve o sangue ressequido sobre a sua face.

Ele está deitado sobre o lado esquerdo. 

Gritos distantes e difusos chegam até ele. O trem está parado; o seu vagão silencioso. A mão desliza sobre o peito nu, pousa no chão, encontra um joelho, uma outra mão, uma... como se tivesse sido queimada, ela se retrai e procura refúgio no peito que acaba de deixar. Treme de medo. A pele, coberta de suor, de repente fica gelada. Em menos de um segundo ele passa pelo martírio da sede, da fome das crispações, das coceiras e, sobretudo, desse zumbido dentro de sua cabeça, que vai crescendo como um trovão, rói, tortura, e que só se manifesta entre os fracos e os loucos que não querem morrer. A vontade impede os reflexos. O corpo inteiro, músculos e nervos, desaparece diante dos olhos. O homem é somente um olho. Um milhão de facetas em cada globo. Pupila ofuscada. Olho inflamado e aguçado. Pela primeira vez desde a partida, o olho vence a penumbra, essa névoa espessa que substitui o pouco ar do vagão de gado, e consegue ver o chão. O chão coberto de cadáveres misturados. Soalho de cadáveres. Cama de cadáveres sobre a qual ele acorda. 

André Gonzales se endireitou. Na sua semi-consciência, imagina mais do que vê esse montão de corpos. Está horrorizado de ter que pisar sobre esses... Os dedos agarram uma argola chumbada na parede metálica. O braço se crispa, ergue o busto e os quadris. Os pés procuram um apoio contra a parede de ferro, escorregam, e encontram um lugar entre duas pernas nuas. André Gonzales chora, imobilizando-se num canto do vagão. Ele sufoca. Não suporta o calor das chapas de ferro. De repente ele corre levantando bem alto os joelhos e desaba contra a porta corrediça. Aproveita uma fresta da porta para respirar o ar puro que vem de fora. Dentes contra o ferro. Ar pesado e espesso. Boca escancarada. 

As narinas, bloqueadas, compartilham os odores, esforçam-se para não sentir o mau cheiro do produto dos intestinos esvaziados. Espumas e vômitos. Miasmas venenosos, fétidos e sufocantes. 

- Respirar. Relaxar-se. Respirar. Rezar mais uma vez. Não olhar para baixo. Respirar e beber. Beber alguma coisa para soltar as crostas que endurecem a língua, cobrem o céu da boca, empurram os lábios para fora.

André Gonzales se levanta, firma os pés nesse tapete que ondula com seus passos e desabotoa as calças. 

- Beber. 

A urina que ele engole parece-lhe fria e adocicada. 

Ajoelhou-se sobre umas costas maciças. 

- Não desmaiar, não dormir. Deitar-se é morrer. Morrer aos dezoito anos. André, desde ontem você tem dezoito anos. E os outros? Todos os outros que estão debaixo de você, que idade teriam? Não! Não procurar saber. Não pensar neles. Não! 

Ele está surpreso por haver escutado o último "não". Ele pode falar! Para se certificar, André Gonzales repete esse "não". Não! Não! 

- Não pensar neles. Sair deste vagão...

De calças curtas e sandálias de corda ele sobe de rochedo em rochedo com seus colegas do Colégio Saint-Udo de Ax-les-Thermes. O "instrutor da excursão" estende a mão para ajudá-lo a atravessar o último obstáculo. Catrapus! A água gelada do Ariège chicoteia seu corpo comprido e magro de adolescente. Esta lembrança e todas as outras cenas de infância que se atropelam por trás dos seus olhos lhe dão vida, sacodem seu torpor. Agora ele reza com o fervor meio amedrontado que lhe foi inculcado pelos frades das Escolas Católicas de Saint-Aubin, em Toulouse. Atravessa as campinas, mata a sede nas torrentes, ladeia as manadas de cavalos e rebanhos de carneiros que descem das pastagens de Puymorens e de Andorra. Feno cortado, chocalhos e, sobretudo, o perfume estranho - enxofre e camomila - que se desprende da bacia de Ladres e das oitenta e três fontes alcalinas de Ax. Isso tudo se mistura, se confunde, desemboca nos plátanos do Boulevard de Estrasburgo, onde ele foi preso com os bolsos atulhados de panfletos, no dia 21 de abril de 1944.

Ele chora. Uma nova angústia, mais densa do que os primeiros temores, dissipa, até mesmo, o rosto de sua mãe. O punho golpeia a porta corrediça: 

- Socorro! Água!

Perto dele, um estertor, apenas perceptível, lhe responde. Ele gostaria de gritar de alegria. O coração se acelera. Várias vezes ele pergunta: 

- Tem alguém? 

Uma massa escura intercepta a nesga de luz que entra por uma fresta da lucarna esquerda, da parte da frente. André Gonzales, dentes cerrados, quer evitar uma briga, custe o que custar. Ele pensa: "Talvez seja o sujeito que ainda há pouco me acertou com a garrafa." Recua, pisando nas carnes mortas, comprimindo caixas torácicas que exalam o seu último suspiro num silvo rascante. 

- Você está aí. Você está vivo. Eu vi. Diga alguma coisa! Ele se agacha, lá atrás, no canto direito, pronto para saltar se for atacado, ignorando o líquido imundo no qual suas mãos mergulham. 

- Diga alguma coisa!

Ele distingue o homem que se aproxima: fantoche desarticulado à procura de equilíbrio. Faltam três passos. Dois. A silhueta se desmancha, se desmorona. Ruído surdo: pá caindo na areia. 

Delicadamente André Gonzales segura-lhe a cabeça entre suas mãos. É um rapaz... talvez de dezoito anos, como ele. As duas pequenas pupilas, perdidas nessa espantosa inchação negra, semeada de pústulas, se animam: 

- Água! 

- Pobrezinho, não tenho nada. É preciso respirar. Vem. Vamos até a porta; tem uma fresta. Eu, eu bebi minha urina. Daqui a pouco você vai ver...

Eles avançam de quatro para o meio do vagão. 

- Assim! Devagar. Profundamente. Encha bem os pulmões.

Ele se volta para André Gonzales e murmura: 

- Obrigado. Obrigado. Estou melhor. Mas tenho um amigo que está ali, onde eu estava... Ele não está morto. Isto é, ainda há pouco, quando eu me mexi, ele também se mexeu e eu senti os seus dedos na minha perna.

- Vamos até lá, nós dois juntos. Mas, antes, ainda um pouco mais de oxigênio. 

Cinco minutos depois, os três únicos sobreviventes do vagão metálico estão reunidos perto da porta corrediça. Tal como André Gonzales, os dois rapazes também beberam suas urinas. O último a ser reanimado era o mais tagarela: 

- Eles nos fecharam aqui dentro para nos matar. Vão continuar o passeio até que estejamos todos mortos. Em Compiègne puseram-nos cem em cada vagão. Aqui somos apenas três sobre-viventes e nos outros vagões talvez todos estejam liquidados. Fizeram de propósito. Queriam que nos amotinássemos. Queriam que ficássemos sem ar. Quanto a mim, eu digo para vocês: este trem é o trem da morte. Nenhum de nós escapará vivo. Vocês compreendem: "O Trem da Morte".

Transcrição: Daniel Moratori (avidanofront.blogspot.com)
Fonte: O Trem da Morte -  Christian Bernadac - pg 11-15

Ver mais sobre o Trem da Morte:
O Trem da Morte - O transporte dos deportados de Compiègne com destino a Dachau.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Alemã revela que provava comida de Hitler antes de ele comer


Aos 95 anos, Margot Woelk posa em seu apartamento
 em Berlim (Foto: Markus Schreiber/AP)
Margot Woelk comia antes para saber se prato estava envenenado.
Aos 95 anos, alemã lembra os dois anos e meio ao lado de Hitler.

Por mais de meio século, Margot Woelk guardou um segredo escondido do mundo, até mesmo do marido. Alguns meses antes de completar 95 anos, ela revelou a verdade sobre o seu papel durante a Segunda Guerra Mundial: provadora de comida de Adolf Hitler.

Woelk, então com seus vinte e poucos anos, passou dois anos e meio como uma das 15 jovens que "testavam" a comida de Hitler para ter certeza que não estava envenenada antes de ser servida ao líder nazista em sua "Toca do Lobo", um centro de comando localizado onde hoje é a Polônia, no qual ele passou a maior parte de seu tempo nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial.

"Ele era vegetariano. Ele não comeu carne durante todo o tempo que eu estava lá", disse Woelk sobre as preferências do líder nazista. "E Hitler era tão paranóico que os britânicos pudessem envenená-lo, é por isso que ele tinha 15 meninas para provar a comida antes de ele comer."

Enquanto muitos alemães lutavam contra a escassez de alimentos e tinham uma dieta branda enquanto a guerra se arrastava, a prova de alimentos de Hitler tinha suas vantagens.

"A comida era deliciosa, apenas os melhores legumes, aspargos, pimentão, tudo o que você pode imaginar. E sempre acompanhados de arroz ou macarrão", lembra. "Mas este medo constante - nós sabiamos de todos esses rumores de envenenamento e nunca podíamos desfrutar da comida. Cada dia nós temíamos que fosse ser a nossa última refeição".

Só agora, no final da sua vida ela se dispôs a relatar suas experiências, que tinha enterrado por causa da vergonha e do medo de perseguição por ter trabalhado com os nazistas. Mas ela insiste que ela nunca foi um membro do partido. Ela contou sua história enquanto folheava um álbum de fotos no mesmo apartamento onde nasceu em 1917, em Berlim.

Woelk diz que sua associação com Hitler começou depois que ela fugiu de Berlim para escapar de ataques aéreos aliados. Com o marido servindo o exército alemão, ela foi morar com parentes cerca de 700 quilômetros ao leste em Rastenburg, então parte da Alemanha e hoje Ketrzyn, no que se tornou Polônia após a guerra. Lá, foi convocada para o serviço civil e trabalhou dois anos e meio como provadora de alimentos e guarda-livros na cozinha no complexo "Toca do Lobo".

Temores quanto à segurança de Hitler não eram infundados. Em 20 de julho de 1944, um coronel de confiança detonou uma bomba na "Toca do Lobo", em uma tentativa de matar Hitler. Ele sobreviveu, mas cerca de 5 mil pessoas foram executadas após a tentativa de assassinato, incluindo o homem-bomba.
Margot Woel mostra um velho álbum de fotos e aponta para uma
foto tirada do caminho para a 'Toca do Lobo' (Foto: Markus Schreiber/AP)
"Nós estávamos sentados em bancos de madeira, quando ouvimos um barulho muito forte", disse ela sobre o bombardeio 1944. "Nós caímos do banco, e eu ouvi alguém gritando 'Hitler está morto!' Mas ele não estava".

Após a explosão, a tensão cresceu ao redor do quartel-general. Woelk disse que os nazistas ordenaram que ela saísse da casa de seus parentes e se mudasse para uma escola abandonada perto do composto.

Com o exército soviético na ofensiva e a guerra indo mal para a Alemanha, um de seus amigos da SS aconselhou-a a deixar a "Toca do Lobo". Ela disse que voltou de trem para Berlim e passou a se esconder.

Woelk lembra ainda que as outras mulheres na equipe de degustação de alimentos decidiram permanecer em Rastenburg, "Mais tarde descobri que os russos mataram todas as 14 outras meninas, quando as tropas soviéticas invadiram o quartel-general em janeiro de 1945".

Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/04/alema-revela-que-provava-comida-de-hitler-antes-de-ele-comer.html

domingo, 3 de novembro de 2013

O Trem da Morte - O transporte dos deportados de Compiègne com destino a Dachau.





Estou há um tempo enrolando para falar sobre o transporte de Compiègne com destino a Dachau, que ficou conhecido como o "Trem da Morte", por causa do alto número de mortes durante a viagem. Os 2152 homens que compõem este transporte pertenciam a dezoito países diferentes, mas a participação do francesa permanece esmagadora (2.018 indivíduos, aproximadamente 94% do total).

Depois do estudo das vítimas que está logo abaixo, haverá a tabela que contém no site de "Memória à deportação", o qual cito mais detalhadamente no final da matéria. A tabela traz algumas diferenças frente a contagem de mortos de Christian Bernadac, pois o mesmo faz o cálculo durante a viagem, e na tabela a contagem vêm também com os mortos após a viagem; mas já da pra ter uma base da mortalidade na viagem e após ela. Nesses anexos, dá para se notar o trabalho que deu para organizar os depoimentos, e calcular o número de vítimas nesse transporte.

Há uma diferença de 6 embarcados em Compiègne, de 2166 e 2152. 

No mais, irei postando futuramente alguns relatos sobre  os sobreviventes do trem.  Esse é um dos vários tipos de modo de assassinatos que os nazistas prepertaram aos seus opositores.




Detalhes sobre o Trem da Morte - O transporte dos deportados de Compiègne com destino a Dachau.

Anexo I


COMBOIOS SAÍDOS DA FRANÇA

Não existe um estudo geral sobre os comboios de deportados com destino à Alemanha. O relatório do governo francês (documento F274, pagina 124 do volume 37 do Tribunal Militar de Nuremberg) não "fornece uma descrição completa dos comboios,e sim, um número suficiente para indicar a sua progressão, não levando em conta saídos diretamente da Alsácia e da Lorena".

1940............ 3 comboios
1941 ......... 19 comboios
1942........ 104 comboios
1943........ 257 comboios
1944....... 326 comboios¹

1 - de 1º de janeiro de 44 até agosto, isto é, uma média de 10 comboios semanais.


Anexo II

COMBOIO DE 2 DE JULHO DE 1944 - TREM DA MORTE

Embarcados em Compiègne: 2.166
Mortos durante a viagem: 536
Matriculados à chegada: 1.630


Na noite de 5 de julho de 1944, os sobreviventes do Trem da Morte compararam suas "estimativas" das perdas da viagem... Isto não era nada fácil porque a maioria dos deportados ignorava a identidade dos outros "viajantes" do seu vagão. Corria o boato, alimentado pelo rumor, pelos responsáveis de blocks, pelas personalidades do campo, de que havia "mais de mil mortos".

No dia seguinte, esse número caía para 870 (éramos 2.500 na partida, somos 1.630 vivos durante a chamada: portanto 870 morreram durante a viagem). Mas ninguém havia tocado na lista de partida, exceto o abade Fabing, e o abade Fabing (ele me confirmou) não teve tempo de contar porque o Comandante de Dachau tinha pressa em recuperar esta lista (única e preciosa; todos se lembram do guarda-chuva que um SS manteve, durante uma parte da chamada, por cima da cabeça do abade Fabing).

Nos dias que se seguiram, o número de mortos subiu para 984, sem que se saiba, exatamente, por que processos ou verificações alguns deportados, chegavam a este total. Além disso, Eugen Pfeiffer que havia participado do descarregamento dos cadáveres (mas não os havia contado) confirmou "984" e depois um deportado, Auguste Thillot, afirmou: "Eu era o primeiro a' esquerda da coluna, no momento em que esta atravessava a por-ta do campo, eu falo alemão e escutei nosso chefe de comboio dizer: "Eu lhes trago 1630 franceses imundos que fedem como a peste, felizmente 984 morreram durante o trajeto". Acreditaram nele. Aliás, ele devia repetir esta frase durante o processo de Metz e ninguém (nem mesmo a defesa de Dietrich) o contra-disse... o que, no entanto, era fácil: Dietrich havia ficado na plataforma e foram os SS de Dachau que se "encarregaram" dos que chegavam; quanto à chamada que devia determinar o número dos presentes e não o dos ausentes, iniciada no dia 5, foi interrompida e só terminou no dia 6. No entanto, em Metz como em Dachau, acreditaram em Thillot.

O campo de Dachau aceitou esta "verdade de 984" (ainda que alguns deportados, como Michelet, Roche ou Lassus julguem este total muito elevado).

No processo de Nuremberg, em 1945-46, o Ministério francês dos Deportados e Prisioneiros, em seu documento F 274, limitava-se a: "Mais de 600 mortos" (Volume XXXVII do Tribunal Militar Internacional, páginas 126 e 127). Para estabelecer este total, o Ministério fundamentava-se numa primeira compilação dos Arquivos do campo de Compiègne, comparada com o Registro de matrículas de Dachau que acabava de ser encontrado (os 1630 deportados registrados no dia 6 de julho de 1944 receberam números indo de 76.418 até 78.047). Os "Encarregados de Missão" que preparavam os documentos franceses de acusação, na realidade, haviam constatado em suas listas de Compiègne que "em nenhuma hipótese o trem de 2 de julho poderia ter transportado mais de 2200 deportados". Para obter este resultado bastava uma única subtração entre uma chamada de 3 de julho (dia seguinte à partida, e urna chamada dos dois últimos dias de junho. Isto é: 2200 menos 1630 é igual a 570. Este resultado aproximado, porém lógico, conforme veremos, não estava muito longe da verdade. O "mais de 600 mortos" do Auto de acusação oficial era apenas um pequeno exagero, para cobrir a margem de erro que sempre ocorre neste gênero de probfemas.

Em 1950, o processo de Metz ignorou estas primeiras pesquisas, apesar de constarem dos Autos Oficiais, e aceitou a "verdade" de 984 mortos. Entretanto, durante este processo, dois balancos foram citados: 450 mortos em Novéant, quando Dietfich assumiu o comando do trem; 483 na chegada em Sarrebourg. Estes números foram confirmados por várias testemunhas e, constam nos relatórios do inquérito dos inspetores encarregados de interrogar os ferroviários das estações. Ainda que revelado por Dietrich, o "total" de Novéant parece verossímil. O que o é menos, é que, sempre segundo Dietrich, no resto do percurso houve apenas um morto suplementar. Em Sarrebourg, conforme vimos no capítulo relativo aos incidentes desta estação, o comissário Franz Mulherr é categórico: 481 mortos I mais as dois mortos do "vagão enfermaria" Ia Perraudière-Segelle) ou seja, 483 mortos. Este balanço, confirmado por Rocert Mangín que somou os números escritos a giz nos vagões, também é confirmado pelas "boutades" dos chefes de comboios que (pelo menos por três vezes) gritarM para os representante da Cruz Vermelha: "Vocês terão quinhentas rações mais". E, de fato, depois da partida do trem restaram a "grosso modo" quinhentas rações (Processo de Metz). Portanto, esse lanço de 483 mortos em Sarregourg, parece "razoável". Mas, como depois de Sarrebourg, não consta que tenha havido muitas mortes, o total destas, na chegada, deveria estar porvolta de 483 (minimo).

Evidentemente que o ideal teria sido encontrar a lista original da partida de Compiégne. Este documento(num único exemplar, datilografado ou manuscrito, conforme as páginas e repleto de emendas) foi entregue, somente por poucos dias, à Seção política da Administração de Dachau, e em seguida remetido para a Sicherheitspolizei (Polícia de Segurança SIPO) de Paris concentrada em Würtemberg. A remessa do documento original ocorreu no dia 9 de outubro de 1944 (o envio pode ser a prova de que um inquérito estava em curso). No final da guerra os arquivos queimaram e a lista de partida ficou perdida para sempre.

De que maneira, nessas condições, determinar a lista dos mortos de 2 de julho...? Talvez apenas consultando o livro dos mortos de Dachau. Examinei cuidadosamente o registro original. Nele, com a data de 5 de julho, consta apenas um nome de morto: Franz Ryz (ele estava no campo há mais de um ano). Portanto, os corpos retirados do Trem da Morte foram diretamente para o crematório, sem terem sido registrados.

Desde 1945 que no Ministério francês dos Antigos Combatentes, Pierre Garban e uma equipe de inquérito reconstituíam os arquivos dos campos de concentração e, em particular, as listas de nomes. Esta equipe conseguiu 99% de sucessos nessa pesquisa considerada "impossível". O Trem da Morte apresentou inúmeros problemas e, foi objeto de um estudo especial. Estudo incompleto, porém interessante.

Retomando o livro de matrículas das entradas em Compiègne e completando-o com os diferentes documentos do campo (listas de chamada, de cabeleireiro, de enfermaria, de corvéias, de transferências, de partidas parciais, etc.) esta equipe praticamente reconstituiu o conjunto dos nomes dos internados de Royallieu. No livro de matrículas, bem ou mal organizados, conforme o período em que dele se ocupava os secretários-prisioneiros, figuram em geral: o sobrenome do internado, seu nome, o block para o qual havia sido designado seguido da inicial do campo A, B ou C, a data do nascimento e data de sua partida no comboio. Nestas colunas de informações, várias centenas de prisioneiros tinham espaços em branco. Estes vazios foram parcialmente preenchidos pelas outras listas do campo, especial-mente pela de chamadas. Após muitos meses de compilação metódica, de verificações, de leitura com a lupa, M. Garban organizava uma lista alfabética (que nunca foi publicada) de 464 mortos.

Em 1969, M. Garban aconselhou-me a continuar o seu trabalho: "certamente incompleto, mas que não devia estar muito longe da verdade". Eu não sabia, ao aceitá-lo, que esta tentativa de reconstituição ia demorar um ano e mobilizar, em torno do dossiê, quatro pessoas. Entretanto, antes de começar essa "tentativa" eu tinha em meu poder um "balanço" que me parecia o mais próximo possível da realidade. O inquérito aberto para encontrar testemunhas e depoimentos havia permitido que eu recolhesse mais de cento e sessenta manuscritos inéditos redigidos por "viajantes" do Trem da Morte. Isto era uma fonte de informações insubstituível, que antes de mim, nenhum pesquisador havia possuído. Estes sobreviventes forneciam, pelo menos, mil nomes de vivos na chegada, ou de mortos durante o percurso. Os 161 "viajantes" pertenciam ao conjunto do comboio e dessa forma eu tinha uma "amostragem" suficiente para cada vagão. Esses 161 deportados forneciam-me o número exato de mortos em seus vagões (em todos os vagões os mortos foram contados, várias vezes, durante a viagem). Bastava somar todos os vagões.

1) Vagão metálico de André Gonzales: um único sobrevivente na chegada; 99 mortos.

2) Vagão R ohmer (segundo sete depoimentos): 76 mortos. 3) Vagão Fully-Thomas (quatro depoimentos): 75 mortos.

4) Vagão Mamon-Garnal (nove depoimentos): 75 mortos. 5) Vagão Sirvent-Dhenain (onze depoimentos): 64 mortos.

6) Vagão Canac (nove depoimentos): 46 mortos.

7) Vagão Habermacher (onze depoimentos): 44 mortos.

8) Vagão Líotier (oito depoimentos). Este vagão comportava ao partir 120 deportados: 36 mortos.

9) Vagão Puyo (doze depoimentos): 17 mortos.

10 e 11) Foi-me impossível separar exatamente as dezessete testemunhas, encontradas, desses dois vagões e reconstituir a ocupação dos mesmos. Mas é certo que nesses dois vagões foram contados:

10) 8 mortos. 11) 3 mortos.

12) Vagão "enfermaria" la Perraudière-Segelle: 2 mortos.

13) Vagão "inválidos" (segundo o abade Goutaudier): 1 morto.

14) Vagão Helluy-Aubert-Villiers (nove depoimentos): não houve mortos.

15) Vagão Lambert (dez depoimentos): não houve mortos.

16) Vagão de 80 (Chapalin e quinze depoimentos): não houve mortos.

17) Vagão Bernard-Verchuren (nove depoimentos): não houve mortos.

18) Vagão Lutz-Hamburger (dez depoimentos): não houve mortos.

19) Vagão Weil-Fuchs-Kienzler (sete depoimentos): não houve mortos.

20) Vagão Bent-Solladié (doze depoimentos): não houve mortos.

21 e 22) Vagões "duvidosos" (umas vinte testemunhas que não rude situar, mas que não estavam nos outros vagões).

Em geral não utilizei estes depoimentos no livro. Estes dois vagões não têm importância para o nosso "balanço" porque não tiveram mortos.

É evidente que muitos deportados não ocupam seus lugares nos vagões que lhes foram destinados... mas esse não é o caso dos treze vagões que tiveram mortos.

Antes de totalizar, são necessárias duas observações:

1) Os sobreviventes pensavam, desde Dachau, que somente dois vagões haviam tido 72 mortos, quando, com toda a certeza, está demonstrado que os vagões foram três.

2) Os sobreviventes estavam persuadidos de que um único vagão, ou quando muito dois, não continham mortos. Na realidade, encontramos 8 e possivelmente 9.

Total de mortos: 546.

Este total deveria ser o "maior possível" porque em certos casos eliminei os algarismos menores (Liotier, por exemplo, diz que houve 32 mortos no seu vagão, porém baseando-me em outros depoimentos desse mesmo vagão, achei que devia "alterar" este balanço para 36, a fim de não ficar "abaixo" ainda que o depoimento Líotier me parecesse perfeitamente completo e objetivo).

Ao iniciar a tentativa de reconstituição da lista de partida de Compiègne, parecia-me que o "intervalo" ideal apresentava-se assim: 483 mínimo... 546 máximo... (mínimo pela verificação de Sarrebourg, máximo pelos depoimentos.) 483..., 546, estávamos longe dos 984 de Dachau ou do processo de Metz.

Precisávamos, agora, organizar um fichário duplo.

1) Fichário de partida (2 de julho em Compiègne).

2) Fichário de chegada (5 de julho em Dachau).

Retirando o número de fichas 2 do fichário 1, obtinha-se o resultado.

Trabalhando quase sempre com os documentos originais, vá-rios problemas surgiram:

A. Leitura. O registro de Compiègne e as listas (chamadas, cabeleireiro, enfermaria, etc.), são manuscritas, inúmeros nomes estão ilisíveis ou parcialmente apagados. A fotografia em diferentes diafragmas e a ampliação permitiram reconstituir a maioria dos nomes.

O registro das matrículas de Dachau (original) está datilografado, e uma única matrícula, a 88.006, desapareceu, mas os secretários-deportados, alemães ou poloneses, germanizaram ou polonizaram as ortografias, inverteram os nomes e cometeram numerosos erros de datilografia. Para conseguir uma justaposição das fichas Compiegne, Dachau, era necessário uma comparação das datas de nascimento.

B. Homonímias. Em mais de de 10 casos, os mesmos nomes.

C. Nomes falsos. Varios deportados da resistencia foram presos usando seus "codinomes", e os conservaram em Compiegne (Rival quer dizer Rykner, etc.).

D. Partículas. Onde encontrar o Padre Bernard Letourneux de la Perraudiere, em L? T? D? L? P?. Conforme as listas, ele está catalogado obedecendo a qualquer uma dessas iniciais.

E. Depoimentos. Depois das fichas organizadas e comparadas, era preciso verificar na pilha de depoimentos reunidos, se o deportado estava citado, como ausente ou presente, no momento da chegada e, finalmente retomar o estudo de Pierre Garban e do Ministério dos Antigos Combatentes para saber se, pelo menos quanto aos 464 nomes já indexados, as nossas conclusões coincidiam.

A lista de mortos publicada, talvez não esteja "totalmente" exata. Possivelmente algumas ortografias continuam erradas, mas ela está dentro do "intervalo" ideal, e se aproxima da "verdade"com uma margem de erro de cerca de dez nomes.

Transcrição: Daniel Moratori (avidanofront.blogspot.com)
Fonte: O Trem da Morte -  Christian Bernadac - pg 323-332




Obs: O livro em português faltou alguns anexos,como a lista de deportados no trem e a de mortos, que por sinal eu não sabia que existia na edição original. Descobri quando olhei o site do USHMM, quando diz:

"Paginas 303-306 incluem uma lista alfabética de 536 pessoas que morreram quando foram deportados de Compiegne para Dachau em 2 de julho de 1944.  Paginas 306-315 inclui uma lista alfabética de 1.630 sobreviventes deste transporte."²

As referências bibliográficas e registros que cita no site, fico na duvida se são as que estão em nota de rodapé (que abundam o livro) ou se existe mais algumas no final do livro original, mas só mesmo conseguindo um pdf ou o original, que podemos confirmar. 

Para quem quiser saber mais sobre o Trem da morte, sugiro ler mais no site Memoria a Deportação:

Também esse site é muito bom, mostra alguns depoimentos e  mostra comemoração dos sobreviventes:


Abaixo segue a tabela do site Memoria a Deportação:




Créditos as fotos: 

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Chefe de polícia secreta nazista está enterrado em cemitério judeu

Heinrich Müller

O ex-chefe da Gestapo, Heinrich Müller, está enterrado em um cemitério judeu, informa em sua edição desta quinta-feira o jornal Bild, que remete suas informações aos arquivos da resistência contra o nazismo.

Contrariamente ao que se achava, o responsável da temida polícia política de Hitler não sobreviveu à Capitulação do Terceiro Reich e morreu naquele mesmo ano de 1945. Seu corpo foi enterrado em uma vala comum do cemitério judeu do bairro berlinense de Mitte, disse ao Bild o diretor do centro de Documentação da Resistência, Johannes Tuchel, tomando como fonte textos achados em diversos arquivos.

Esta informação contradiz a versão que persistia nos serviços secretos da Alemanha ocidental, segundo os quais Müller sobreviveu ao fim da Segunda Guerra Mundial e foi viver na cidade tcheca de Karlovy Vary.

Segundo Tuchel, o corpo do oficial nazista foi encontrado e identificado, em agosto de 1945, em um túmulo provisório próximo ao que foi o Ministério de Aviação do Reich. Müller foi identificado porque ainda usava seu uniforme de general e sua folha de serviços no bolso, após o qual foi levado para uma vala comum do citado cemitério judeu.

O presidente do Conselho Central dos Judeus da Alemanha, Dieter Graumann, qualificou a esse meio como de "mau gosto monstruoso" o fato de que tenha se decidido enterrar a "um dos mais sádicos nazistas" justamente em um cemitério judeu, questão que considera um insulto à memória das vítimas.

domingo, 27 de outubro de 2013

Levante de Varsóvia - Execuções nos salões do mercado (Hale Mirowskie)


Levante de Varsóvia: Soldados alemães próximos a Hala Mirowskia.
O mais provável é uma visão do cruzamento da rua Zimna e rua Plac Mirowskiego  na parede norte do edifício leste.


Registro n º 23 / ​​II

Durante o Levante, ao sair da casa onde eu morava, na rua Ogrodowa, nº30 , encontrei-me em um abrigo do Ministério da Indústria e Comércio, nº2, rua Elektoralnamn. Isso foi em 7 de agosto de 1944. No abrigo, havia várias centenas de pessoas, a maioria mulheres e crianças. Na tarde de hoje, após os insurgentes terem recuado da rua Elektoralna, um posto avançado alemão foi colocado em frente à porta de entrada do Ministério. Cerca de 9 horas da noite dois gendarmes(policia) entraram no abrigo e ordenaram que todos os homens para saírem. O soldado que estava de guarda nos assegurou para nós que estávamos apenas indo para o trabalho. Fomos levados a três por três (éramos cerca de 150 homens) para praça Mirowski, entre os edifícios das duas salas do Mercado. Aqui, fomos obrigados a retirar os cadáveres, dezenas de que estavam deitados no chão, e depois disso, os entulhos das sarjetas e a estrada. Havia cerca de uma centena de poloneses na praça quando chegamos, todos ocupados a limpar, e algumas centenas de gendarmes (policiais) alemães, que se comportavam muito brutalmente: batendo nos poloneses, chutando-os e chamando-os de poloneses bandidos. Em um certo momento em que nosso trabalho parou, ordenaram que aqueles que não eram poloneses que avançassem. Um homem que tinha documentos bielo-russos o fez, e foi imediatamente liberado. Depois de uma hora e meia de trabalho, os policiais mandaram-nos formar grupos de três. Eu me encontrei no segundo posto. Todos estávamos com as mãos para cima. Um velho na linha de frente, que não conseguiu segurar as mãos para cima por mais tempo, foi cruelmente golpeado no rosto por um gendarme. Depois de 10 minutos, cinco fileiras de três marcharam sob a escolta de cinco policiais armados com submetralhadoras para o Mercado Municipal na rua Chlodnat. Por acaso ouvi os nomes de dois dos gendarmes que gritavam uns com os outros, Lipinski e Walter. Quando entramos no prédio, depois de passar dois portões eu vi, quase no centro do salão, um buraco profundo em que o fogo estava ardendo, mas deve ter sido polvilhado com gasolina por causa da fumaça negra e densa. Fomos colocados em um muro do lado esquerdo da entrada perto de um banheiro. Ficamos separadamente com os rostos voltados para a parede e as mãos para cima.

Depois de alguns minutos, ouvi uma série de tiros e eu caí. Deitado no chão, ouvi os gemidos e suspiros de pessoas deitadas perto de mim e também mais tiros. Quando o tiroteio cessou, ouvi os gendarmes contando aqueles que jazia no chão, pois eles só contou até treze. Em seguida, eles começaram a procurar mais dois que estavam faltando. Eles descobriram que um pai e filho se escondendo no banheiro adjacente. Trouxeram-nos, e eu ouvi a voz do menino gritando "Viva a Polônia", e, em seguida, tiros e gemidos. Algum tempo depois, ouvi as vozes de poloneses que se aproximam; cautelosamente eu levantei minha cabeça e vi os guardas de pé ao lado do buraco cheio de fogo e poloneses que transportam os corpos e os jogavam nele. Seu trabalho os trouxe mais perto de mim. Eu, então, me arrastei para o banheiro e me escondi atrás de uma divisória que formava o teto do banheiro. Sentado lá, ouvi disparos nas proximidades e os gritos dos alemães da direção do buraco. Em um determinado momento, um outro polonês que tinha escapado por baixo, através do banheiro encontrou-se ao meu lado. Ele era médico Jerzy Lakota, que trabalhava no Hospital Menino Jesus.

Sentamos lá por muitas horas. O tempo todo ouvimos o crepitar dos cadáveres ardentes no buraco e do próprio fogo. Além disso, ouvimos uma série de disparos vindos do outro lado (mais perto da rua Zimna). Dr. Lakota contou-me que, depois de uma saraivada ele tinha caído junto com os outros. Os policiais se aproximou para ver se ele ainda estava vivo, e o espancaram brutalmente, mas ele fingiu estar morto. Devo acrescentar que quando eu caí após o vôlei, eu vi um gendarme examinando aqueles deitados no chão, e aqueles que ainda estavam vivos, ele atirou com seu revólver. Eu tinha conseguido escapar antes. Por volta das duas horas na noite que desceram e saímos para a rua através da Câmara já vazia, em que o fogo ainda estava ardendo, e conseguimos chegar a rua Krochmalna.


Hale Mirowski

Registro n º 33 / II

Em 7 de agosto de 1944, eu estava no porão de uma casa na Rua Elektoralna em Varsóvia. Neste dia, ao entardecer, alguns soldados alemães chegaram no local e ordenaram que todos os homens saíssem da adega, e para desmantelar as barricadas dentro de duas horas. Eu obedeci e sai da adega com cerca de cinqüenta outros homens. Os soldados levaram-nos sob escolta para a Praça Zelazna Brama, e depois para o lugar perto da rua Mirowska, que fica em frente à pequena praça entre os dois halls do mercado.Na calçada da rua Mirowska estava cerca de 20 mortos.

Fomos obrigados a transportar os corpos desde o pavimento da rua Mirowska para o pequeno quadrado entre os salões. Com outros homens que carregavam os cadáveres eu notei que ao fazê-lo, em seguida, que todos eram de homens mais ou menos de meia-idade. Após a remoção desses corpos, fomos obrigados a remover a barricada que estava do outro lado da linha do bonde da praça Zelazna Brama para a rua Zelazna. Depois de ter removido parte desta barricada e tanques, assim, habilitado a passar, fomos levados na direção da rua Zelazna, onde fomos interrompidos, e ordenaram a levantar nossas mãos. Perguntaram várias vezes se não havia alemães entre nós. Em seguida, fomos revistados, tudo de valor, como anéis, relógios e cigarros, foi tirado de nós. Depois de sermos revistados ficamos em pé no mesmo lugar por cerca de uma hora e meia. Não muito longe de nós havia grupos de soldados, ao todo cerca de 200 homens, e nossas orações para a liberação foram respondidas pelos soldados com risos e escárnio. Eles falavam alemão, russo e ucraniano. Um deles nos disse repetidas vezes que deveríamos ser morto a qualquer momento. Então (estávamos em fileiras de três) as três primeiras linhas foram levadas para o Mercado Municipal, que está mais próximo da rua Zelazna. Pouco tempo depois, ouvi uma série de tiros. Depois, seguiu as próximas três fileiras. Eu estava na segunda, ou talvez no centro da terceira. No momento em que estávamos em frente da entrada, um dos soldados que nos escoltava nos atirou, e imediatamente o meu vizinho do lado esquerdo caiu no chão diante de mim, bloqueando meu caminho, eu tropecei e caiu, mas levantei imediatamente e voltei aos meus companheiros. Eu não percebi o que aconteceu com o corpo sobre o qual eu tinha tropeçado. Depois de subir, quando cheguei aos meus companheiros, que estavam entrando no salão do segundo portão, vi uma porta que dava para a direita e imediatamente corri através dela. Eu vi um hall, entrei, e notei as escadas que levam para cima. Já estava escuro, mas a escuridão era iluminada pelo reflexo do fogo em volta de mim. Eu pensei que a minha fuga havia sido observada, como ouvi um grito atrás de mim, mas não foram disparados tiros. Corri para uma galeria onde parte da estrutura de madeira estava queimando e lá fiquei.

Durante esse tempo eu ouvi tiros separados do interior do salão. Depois de algum tempo, eu olhei para baixo a partir da galeria para o corredor e vi um buraco redondo grande, cerca de 6-7 metros (22 pés) de largura, no andar do hall. Neste buraco um grande fogo ardia; suas chamas subiram vários metros acima do nível do chão. Notei também que os soldados estavam levando um homem à beira do buraco. Eu vi esse homem fazendo o sinal da cruz, e então ouvi um tiro, e o viu cair no fogo. Devo acrescentar que este tiro foi disparado de tal forma que o soldado colocou a arma no pescoço do homem e atirou. Depois eu vi muitas dessas cenas. Eu percebi que quando o tiro foi disparado o homem não caiu de uma vez, mas só depois de alguns segundos. Depois de ter visto vários assassinatos desse tipo eu não podia olhar para mais nada, mas ouvi muitos mais tiros e gemidos, que cresceram mais e mais fracos, ou mesmo gritos humanos. Eu supunha que eles vieram daqueles que haviam caído no fogo e ainda estavam vivos. Pelo número de tiros eu tomei a impressão de que todos aqueles que tinham sido trazidos comigo desde o porão do nº 2, da rua Elektoralna foram baleados. Eu fiquei na galeria por mais algum tempo (pelo menos uma hora), até o momento em que o tiroteio e as vozes pararam. Então, despercebido, eu corri através do pequeno gueto na direção da rua Grzybowska, e depois fui a rua Zlota, onde fiquei por um mês.

Tradução: Daniel Moratori (avidanofront.blogspot.com)
Fonte: http://www.warsawuprising.com/witness/atrocities9.htm
Foto 1: Bundesarchiv: Bild 101I-695-0425-09

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Banco de Inglaterra ajudou a vender ouro roubado pelos Nazis

Durante a Segunda Guerra Mundial, o banco central de Inglaterra guardou nos seus cofres ouro roubado pelo regime nazi ao banco central da Checoslováquia, avaliado na altura em 5,6 milhões de libras.

Apesar de o Reino Unido ser um dos Estados que integrou as forças aliadas durante a Segunda Grande Guerra, o Banco de Inglaterra protagonizou um dos papéis mais obscuros na história dos bancos centrais.

De acordo com documentos, nunca antes publicados, sobre a atividade do banco na altura, que foi apenas revelada esta terça-feira no site da entidade, o Banco de Inglaterra guardou em 1939 ouro que o regime nazi roubou durante a invasão da Checoslováquia em 1938, assim como terá facilitado a sua venda posterior.

Durante a invasão à antiga Checoslováquia, o regime liderado por Adolf Hitler saqueou ouro do banco central daquele país. Um ano mais tarde, o ouro, avaliado na altura em 5,6 milhões de libras, foi transferido da conta do Banco Nacional da Checoslováquia no Banco Internacional de Pagamentos (BIS, na sigla inglesa), na altura o principal banco central, para uma conta do Reichsbank, o banco central da Alemanha.

Na altura, o episódio denegriu a imagem do BIS. Porém, o papel que o Banco de Inglaterra desempenhou neste episódio é menos conhecido. Segundo a informação disponibilizada pela própria entidade, que é referida num artigo do “Financial Times” (FT), o Banco de Inglaterra deu prioridade ao apaziguamento do BIS sobre os desejos do Governo britânico em congelar a venda de ativos checos.

A entidade, que então tinha Otto Niemeyer como director executivo, que também era presidente do BIS, guardou nos cofres de Threadneedle Street grande parte do ouro saqueado pelos nazis. A história, escrita por funcionários da entidade monetária britânica, revela ainda que o banco britânico vendeu ouro em nome do regime de Hitler, sem esperar pelo consentimento do Governo britânico.

“Houve uma outra transacção de ouro no dia 1 de Junho [de 1939] quando se registou vendas (440 mil libras) e carregamentos (420 mil libras) para Nova Iorque a partir da conta número 19 do BIS. Esta representava o ouro que tinha sido enviado para Londres pelo Reichsbank”, refere o documento.

Os documentos referem ainda que Montagu Norman, então governador do Banco de Inglaterra, não era transparente no diálogo que mantinha com John Simon, primeiro-ministro na altura.

“A 26 de Maio, o chanceler escreveu ao governador inquirindo se o Banco de Inglaterra ainda detinha o ouro checo, uma vez que o esclarecimento poderia ajudá-lo a responder perguntas na Câmara. O governador, na sua resposta [a 30 de Maio], não respondeu à pergunta, referindo apenas que o banco detinha ocasionalmente ouro em nome do BIS e que não tinha conhecimento se esse ouro era propriedade do BIS ou dos seus clientes. Assim, não poderia responder se o ouro detido era propriedade do Banco Nacional da Chescoslováquia”, lê-se no documento, que é citado pelo FT.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Como punir criminosos nazistas que ainda vivem sem julgamento?

Centenas, talvez milhares de criminosos de guerra nazistas ainda vivem impunes, salvos por causa da impossibilidade de identificar todos eles, sobretudo quando a maioria está mais próxima da 'solução biológica' para acabar com essa página negra da história europeia.

"Ninguém, absolutamente ninguém, pode determinar quantos criminosos nazistas ainda seguem vivos", disse o historiador Efraim Zuroff, diretor do escritório de Jerusalém do Centro Simon Wiesenthal.

Por causa da morte este mês do húngaro Laszlo Csatary, um dos criminosos de guerra mais procurados dos últimos anos, Zuroff lembrou que a idade média desta geração está perto dos 90 e advertiu que as recentes campanhas para encontrá-los e puni-los chegaram tarde.

Para tentar impedir que morram sem ser julgados, o Centro Wiesenthal publicou há algumas semanas mais de 20 mil cartazes em três cidades alemãs oferecendo recompensa de 25 mil euros por informação fidedigna.

"Recebemos dezenas de nomes, agora é preciso investigar", destacou sobre o trabalho que tem ocupado esta instituição desde sua fundação em 1993 e que nada tem a ver com o de Documentação Judia em Viena fundado e dirigido pelo austríaco Simon Wiesenthal, sobrevivente do Holocausto.

Morto aos 96 anos, em 2005, Wiesenthal foi a primeira pessoa que se propôs a buscar os criminosos nazistas responsáveis pela morte de seis milhões de judeus europeus no Holocausto, trabalho que foi assumido por Zuroff e que o tornou conhecido como o "último caçador de nazistas".

Último porque já faz tanto tempo da Segunda Guerra que todos os que a viveram já estarão mortos na próxima década. Nascido nos Estados Unidos pouco depois da barbárie nazista, Zuroff afirma que quer lutar "até o final" porque a condenação formal é importante, mesmo que nenhum deles passe só um dia na prisão.

Caso de Csatary, que Zuroff descobriu em Budapeste, e morreu enquanto aguardava julgamento na Eslováquia pela deportação a Auschwitz de 15.700 judeus. Pelos crimes cometidos na Segunda Guerra Mundial no campo de concentração húngaro de Kosice, Csatary chegou a ser condenado à revelia à pena de morte em 1948, mas fugiu e só foi descoberto mais de 60 anos depois, em 2011.

Até então Csatary liderava o "Top Ten" do Centro Wiesenthal, lista da qual saem e entram nomes de acordo com as investigações ou morte de criminosos de guerra. Costumam estar no topo dois altos oficiais nazistas cuja morte não está confirmada cientificamente, Alois Brunner, figura chave na aplicação da "solução final" e o médico de vários campos de extermínio Aribert Heim.

Os líderes do nazismo foram julgados pelos aliados em Nuremberg (1945-6), embora muitos tenham fugido para América Latina e Espanha.

O Israel chegou a capturar um, Adolf Eichmann, em uma operação do Mossad (serviço de inteligência de israel) na Argentina, que foi julgado e executado em 1962.

Além disso, Israel matou no Uruguai o letão Herbert Cukurs, também conhecido como o "carrasco de Riga", em 1964, e os tribunais acusaram em 1993 John Demjanjuk de ter sido "Ivan o Terrível" do campo de Treblinka.

Hoje, segundo Zuroff, os que vivem são oficiais que serviram nos campos sendo relativamente jovens, mas adverte que não por isso eram menos sanguinários e desumanos.

"Por criminoso de guerra nazista entendemos qualquer pessoa que serviu ao III Reich, ou a seus governos satélite (Croácia, Hungria, Bulgária...), e que participaram das perseguições de inocentes, judeus e não judeus", explicou o caçador de nazistas.

Após a perseguição de figuras líderes do nazismo nas décadas de 50 e 60, a busca enfraqueceu conforme avançava a Guerra Fria, e embora nos últimos 20 anos tenha ganhado fôlego com processos e condenações de mais de cem nomes, muitos deles na Alemanha.

Segundo Zuroff, estão abertas pelo menos três mil investigações e pelo menos outros 90 foram processados na Europa. Após a morte de Csatary sem julgamento, Zuroff garante que "não faltam candidatos para encher a lista dos dez mais procurados".

Mas reconhece que nesta luta contra o relógio, a morte - que Wiesenthal descreveu como "solução biológica" - ganhará inevitavelmente da Justiça na maior parte dos casos.

Fonte: Terra

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

"Muitas meninas cometiam suicídio", relata ex-escrava sexual na 2ª Guerra

Lee Ok-Seon tinha 14 anos quando foi jogada
 dentro de um carro e acabou indo parar em um
 bordel para militares japoneses na China.
 Foto: Reprodução
Lee Ok-Seon passou três anos em um bordel militar japonês na China durante a 2ª Guerra Mundial, onde foi forçada à prostituição. Quase 70 anos após a rendição japonesa, ela visitou a Alemanha para divulgar seu segredo.

Ela fala com coragem sobre o dia em que foi capturada nas ruas da cidade de Busan, no sudeste da Coreia do Sul, por um grupo de homens. Lee Ok-Seon, então com 14 anos de idade, foi jogada dentro de um carro e acabou indo parar em um bordel para militares japoneses na China, chamado de "posto de consolo". Ali, sofreu estupros diários até o fim da guerra.

Lee Ok-Seon não tinha ideia de que jamais veria sua família novamente ou que sequer iria pisar em seu próprio país nos 60 anos seguintes. Ela também ignorava as torturas que teria de aguentar.

A senhora de 86 anos não fornece detalhes específicos de suas experiências. Apenas resume tudo em poucas palavras: "Não era um lugar para seres humanos; era um matadouro". Sua voz fica mais exaltada quando diz a frase. Aqueles três anos a marcaram pelo resto de sua vida. "Quando a guerra acabou, outros foram libertados, mas eu não."

Um outro nome para escravas sexuais

O caso de Lee Ok-Seon não é isolado, porém não se sabe exatamente quantas outras mulheres tiveram o mesmo destino. "De acordo com estimativas, devem ter sido em torno de 200 mil mulheres, mas esse total nunca foi confirmado", explica Bernd Stöver, um historiador da Universidade de Potsdam, na Alemanha. Elas eram chamadas de "mulheres de alívio" ou de "conforto", o que o pesquisador considera "um absurdo". Trata-se de um eufemismo para o que elas realmente eram: escravas sexuais, diz Stöver.

Não eram apenas as mulheres da península coreana – sob domínio colonial japonês entre 1910 e 1945 – que eram forçadas a se prostituir. Elas também vinham, entre outras regiões, da China, Malásia e das Filipinas.

Os bordéis, que se espalhavam por toda a área de ocupação japonesa, tinham como objetivo manter elevado o ânimo dos soldados e de evitar que as mulheres locais fossem estupradas.

Muitas das escravas sexuais, em sua maioria menores de idade, não sobreviveram aos tormentos. Estima-se que dois terços dessas mulheres morreram antes do fim da guerra.

Vergonha avassaladora

"Nós éramos frequentemente agredidas, ameaçadas e atacadas com facas", relembra Lee Ok-Seon. "Tínhamos 11, 12, 13 ou 14 anos de idade e não acreditávamos que ninguém nos salvaria daquele inferno." Ela explica que estava completamente isolada do mundo exterior e que não confiava em ninguém. Era um constante estado de desespero.

"Muitas meninas se suicidavam. Elas se afogavam ou se enforcavam", conta. Lee afirma que também chegou a pensar que essa seria sua única saída. Mas não teve coragem. "É fácil dizer 'eu preferia estar morta'. Mas é muito difícil fazê-lo", explicou.

Lee Ok-Seon optou pela vida e acabou sobrevivendo à guerra. Após a capitulação japonesa em 1945, o dono do bordel desapareceu. As mulheres, de repente, estavam livres, porém confusas e desorientadas. "Não sabia para onde ir. Não tinha dinheiro. Estava sem casa, tive que dormir nas ruas."

Ela sequer sabia como voltar para a Coreia, também não tinha certeza se de fato queria. O sentimento de vergonha era grande demais. "Decidi que preferia passar o resto dos meus dias na China. Como podia ir para casa? Estava escrito no meu rosto que eu era uma mulher de alívio. Jamais poderia olhar minha mãe nos olhos novamente."

Vida nova na China

Lee Ok-Seon acabou conhecendo um homem de descendência coreana, com quem se casou e passou a cuidar de suas crianças. "Senti que era meu dever tomar conta daquelas crianças, cuja mãe tinha morrido. Eu não podia ter meus próprios filhos."

Enquanto estava no bordel, ela quase morreu em decorrência de doenças sexualmente transmissíveis como a sífilis. Para aumentar suas chances de sobrevivência, os médicos retiraram seu útero.

Na China, ela viveu na cidade de Yanji. Manteve seu passado em segredo e tentou se recuperar, sempre por conta própria. Ela permaneceu assim durante décadas. Seu marido a tratava bem. "Se não, não teria ficado tanto tempo com ele", comenta Lee, bem-humorada.

Muitas "mulheres de alívio" tiveram vida semelhantes às do cativeiro após o tempo em que viveram nos bordéis, sempre mantendo o silêncio sobre os horrores que tiveram que passar – na maioria dos casos, por medo de sofrer recriminações.

Segundo o historiador Stöver, o tema da prostituição forçada é um tabu absoluto. "Não havia apoio algum na sociedade a essas mulheres", explica. Apenas décadas após o fim da guerra, começaram a surgir as histórias sobre as "mulheres de conforto" na Ásia.

O historiador Stöver conta que apenas em 1991 a primeira "mulher de alívio" divulgou sua história. Ela acabou por encorajar 250 outras mulheres, que finalmente falaram sobre suas experiências como escravas sexuais dos soldados japoneses, e exigiram o reconhecimento e as desculpas do governo do Japão.

Desde então, as mulheres e seus apoiadores se reúnem todas as quartas-feiras em frente à embaixada japonesa em Seul. Elas levam cartazes e gritam slogans, mas ainda não tiveram suas exigências atendidas.

Dificuldade em reconhecer os erros

O Japão tem dificuldades em lidar com seu passado, afirma Stöver. Em 1993, o governo finalmente publicou um estudo reconhecendo oficialmente a existência das "mulheres consoladoras" e o papel dos soldados japoneses. "O governo se desculpou inúmeras vezes, mas sem que houvesse qualquer consequência maior", lamenta o historiador.

Ele explica que os pedidos de desculpas foram ocorrências isoladas. Jamais houve qualquer admissão completa de culpa, tampouco um programa de compensação financeira.

Além do pagamento feito por algumas centenas de pessoas em um fundo criado pelo governo, as mulheres não receberam qualquer valor, e não há indicações que isso venha a ocorrer no futuro. A corte japonesa decidiu em 2007 que as mulheres não têm direito a receber indenizações.

A decisão deixou um gosto de frustração nas vítimas. Mesmo hoje em dia, muitos políticos japoneses negam a existência das "mulheres de alívio", ou diminuem os seus dramas. O primeiro-ministro Shinzo Abe chegou a declarar que "não há prova de que elas foram realmente forçadas" a trabalhar nos bordéis. Mais tarde, ele se desculpou por essa declaração.

No começo de 2013, o governador de Osaka, Toru Hashimoto, chegou a afirmar a jornalistas que durante a guerra a escravidão sexual era "necessária" para manter a disciplina entre as tropas. Lee Ok-Seon considera essa declaração grosseira e ultrajante. "Não posso aceitar que alguém diga uma coisa dessas. Quem se recusa a aceitar o que os japoneses fizeram não é um ser humano de verdade", defende Lee.

De volta para casa, mas solitária

Lee Ok-Seon vive hoje na Coreia do Sul. Em 2000, após a morte de seu marido, ela sentiu que tinha que voltar para o seu país de origem e tornar pública a sua história. Ela mora próximo a Seul, nas chamadas "casas compartilhadas", que dão assistência a ex-escravas sexuais. Foi lá que recebeu pela primeira vez cuidados psicológicos, e finalmente, um novo passaporte.

Ao pesquisar seu passado, ela soube que seus pais haviam morrido, mas que seu irmão mais novo ainda vivia. Ele inicialmente a ajudou, mas com o tempo o relacionamento se deteriorou. Foi exatamente o que ela temia: ele tinha vergonha de ser irmão de uma "mulher de alívio", e não queria ter nenhuma ligação com ela.


Fonte: Portal Terra