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terça-feira, 18 de maio de 2021

Uma história de um antigo operário da Outubro Vermelho


Ju 87 Stuka em Stalingrado
Pela orla estavam as pessoas, incluindo muitas crianças. Usando pequenas pás, bem como suas próprias mãos, elas cavavam buracos para protegerem-se das balas e granadas de artilharia. A amanhecer aviões alemães apareceram sobre o Volga. Em um vôo rasante eles passaram por cima de uma balsa, bombardearam e abriram fogo de metralhadoras. De cima, era muito bem visível aos pilotos que na orla os civis estavam esperando. Muitas vezes nós vimos pilotos inimigos agindo como assassinos profissionais. Eles abriam fogo sobre mulheres e crianças desarmadas e selecionavam objetivos para maximizar o número das pessoas assassinadas. Os pilotos lançaram bombas em uma multidão no momento que esta começava a subir a bordo de um barco, metralhavam os conveses dos barcos e bombardeavam as ilhas nas quais centenas de feridos tinham se acumulado. As pessoas não só cruzavam o rio em barcos e barcaças. Elas navegavam em barcos superlotados, até mesmo em troncos, barris e tábuas atadas com arame. E sobre cada ponto flutuante os fascistas abriam fogo do ar. Era uma caçada de pessoas.


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Nós retornamos à nossa fábrica no assentamento. Nós chegamos a estação de trem de Archeda e fomos a pé mais adiante. Estava muito frio. Nós viajamos dois dias. Passamos a noite em desolados abrigos externos. Nós chegamos na cidade em 14 de fevereiro. No distrito da fábrica nós encontramos o diretor P.A. Matevosyan e o diretor da garagem V. J. Jukov. Eles chegaram primeiro à fábrica e a retomaram do comando militar. Eles nos avisaram: todas as áreas da fábrica são um sólido campo minado. Só é possível andar através de trilhas feitas pelos sapadores. Nós começamos a procurar um lugar para abrigar a nós mesmos. Nós decidimos assentar moradia temporária diretamente nas propriedades da fábrica. Nós entramos no alto-forno N1 da fábrica. Era necessário examinar a localização de um porão. Nós demos uma olhada silenciosamente e atravessamos um buraco na parede da oficina. De repente nós vimos uma metralhadora posicionada num buraco em uma parede mirando a uma barreira. Nós mesmos não tínhamos nenhuma arma.
O que fazer? Nós deveríamos entrar mais adiante na oficina ou não? Nós estacamos; era necessário olhar mais além ao redor. Nós ouvimos passos vindos da direção do Volga. Dois soldados fascistas com marmitas de estanho chegaram mais próximos à nossa oficina. No caminho eles foram até a metralhadora. Ao nos verem eles ficaram atônitos. Após alguns momentos de confusão eles começaram a tagarelar em um péssimo russo: " Nós trabalhamos cozinha e garagem ". Mas nós sabíamos que não havia nenhuma cozinha ou garagem funcionando no distrito da fábrica a muito tempo. Nós dissemos " ok " e seguimos em frente. Depois de alguns minutos nós encontramos um jovem soldado - submetralhador, e perguntamos-lhe: vocês recolheram todos os prisioneiros de guerra na área da usina? " Sim, claro , ele respondeu. A mais de uma semana atrás. O que aconteceu "? Nós vimos dois fascistas e uma posição de metralhadora, nós respondemos. " Hm... Vamos " ele disse. Ele entrou na oficina com nós atrás dele. Nós descemos em um porão. Seguimos na mais completa escuridão. Nós passamos um porão localizado, e a um outro. No terçeiro era visível uma escrivaninha de madeira, forno, marmitas de estanho, uma luminária de pavio. Sobre catres, alemão deitados. O soldado iluminou o porão com uma lanterna e gritou: " Armas sobre a escrivaninha ".
Os soldados fascistas ergueram-se de seus catres e puseram suas pistolas e outras armas na escrivaninha. O soldado os conduziu para o quartel-general.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Filme Stalingrado (2013 )

"Pena que não exista mais aquela nuvem..."


Em 2 de outubro foi exibido oficialmente pela primeira vez em Moscou o filme "Stalingrado", do diretor russo Fiodor Bondarchuk. A película vai disputar o prêmio Óscar na categoria de "Melhor filme estrangeiro". "Quis rodar um filme sobre uma guerra que eu próprio não cheguei a ver", - disse Bondarchuk.

E conseguiu isso...

Por um lado, a película de Bondarchuk pode ser comparada a um monumento em memória de soldados soviéticos que lutaram nos campos da Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, é um autêntico filme de ação, em que foram observadas todas as regras e condições deste gênero cinematográfico. Além disso, "Stalingrado" é o primeiro filme russo a ser rodado em formato IMAX 3D, que permite conseguir hoje em dia o melhor efeito de imagem tridimensional. Daí o resultado – um espetáculo dinâmico, potente e impressionante, que tem como base um sério material histórico. Além disso, a música magnífica do compositor americano mundialmente famoso Angelo Badalamenti. "Quando Fiodor me convidou a trabalhar no filme 'Stalingrado', perguntei: 'Qual será a diferença entre este filme e muitas outras películas dedicadas à guerra?'”,- recorda o compositor.

"E ele respondeu: 'Sim, no meu filme haverá tudo que está normalmente presente nos filmes de guerra – combates, lutas de corpo a corpo, haverá tiros do lado russo e do lado alemão. Sim, todos estes elementos obrigatórios estarão presentes. A diferença do meu filme dos demais consiste em que todos os seus personagens têm coração – apesar de tudo, são capazes de amar e de condoer-se com os outros'".
"Gostei desta orientação!", - ri-se Badalamenti. Ela agradou também à famosa cantora de ópera Anna Netrebko, que concordou em gravar todas as partes vocais do filme...

O filme narra os eventos da Segunda Guerra Mundial. Novembro de 1942, Stalingrado, – uma cidade na margem do rio Volga... Uma casa que não foi destruída por milagre e um grupo de exploradores militares que recebeu a ordem de manter esta casa custasse o que custasse. De repente, surge uma moça, – a única habitante desta casa que conseguiu sobreviver. A seguir desenvolve-se uma história do amor entrecortada por terríveis ataques sangrentos. Eis uma cena do filme: o casal de amantes que num momento de calma se esconde nas ruínas abandonadas olha o céu e sonha: se fosse possível percorrer como que numa nuvem todo este tempo de guerra, todo este horror, tudo que é incompatível com a vida humana normal... Pena que não exista a tal nuvem!

Merecem uma atenção especial também as imagens de soldados alemães. Não são caricaturas, nem fantoches – são pessoas humanas, capazes de sentir dúvidas, vergonha e dor. Mais do que isso: os antagonistas principais do filme – um oficial soviético e um oficial alemão, – morrem juntos e nos últimos instantes de vida olham um para o outro. Mas esta não é uma reconciliação, - diz o diretor do filme Fiodor Bondarchuk.

" Não queríamos, em hipótese alguma, reduzir o final ao perdão de tudo e nivelamento do preto e do branco… O final, em que eles se encontram no mesmo local depois de disparar impiedosamente um contra o outro, - é imagem da guerra e em hipótese alguma a reconciliação”

Neste filme há muitas cenas de batalha que foram rodadas propositadamente em câmara lenta ou, pelo contrário, acelerada. Aviões espatifam-se de encontro ao solo, destroem-se casas, as chamas ardem. Graças ao formato 3D, consegue-se o máximo de realismo. Os espectadores têm a impressão de presença pessoal. “Se valia a pena fazem um filme em 3D? Inicialmente tive dúvidas. Mas depois, à medida que o trabalho avançava, certifiquei-me de que sim, valia a pena”, - diz o produtor de "Stalingrado" Alexander Rodnyansky.

"O 3D é precisamente o sistema que destrói a barreira entre o espectador, por um lado, e os eventos que se passam na tela, por outro. É o sistema que o cinema buscou durante toda a sua história. Falando a rigor, é o cinema com que sonhávamos."

Em 10 de outubro o filme "Stalingrado" entra na rede de distribuição cinematográfica russa. Os espectadores que resolverem assistir a esta película, não irão considerar o tempo perdido. E quanto à opinião da Academia de Cinema Americana, vamos saber isso um pouco mais tarde.

Na região de Moscou surgiu uma nova área teatral – a quinta Lyubimovka, que pertencia a Konstantin Stanislavsky. Os atores e diretores têm à sua disposição palcos onde o mundialmente famoso encenador criou a os seus primeiros espetáculos. A equipe que teve a ser cargo do restabelecimento da herdade espera que a história teatral de Lyubimovka continue e ofereça os seus palcos às jovens trupes.

Antes da revolução de 1917 a quinta Lyubimovka pertencia à família Alexeev, - os pais de Konstantin Stanislavsky. O dramaturgo Anton Chekhov passou aí o verão de 1902 escrevendo a sua peça "O Jardim das Cerejas". Depois da revolução, a quinta foi abandonada, ficou fechada e quase destruída. O seu restabelecimento começou apenas em 2004. Inicialmente os restauradores cuidaram da reforma da casa senhorial, a seguir empenharam-se em reformar o pavilhão teatral, que os pais tinham dado ao jovem Stanislavsky, - diz a diretora artística do projeto, Elena Gruyeva.

"A história deste pavilhão é a seguinte: quando Kosntantin Stanislavsky, ainda jovem, conscientizou que a sua prioridade era o teatro, os pais compraram para ele um pavilhão, que foi trazido e montado aqui. Era um presente destinado especialmente para os entretenimentos teatrais da família Alexeev."

O pavilhão teatral não se parece com as áreas cênicas tradicionais. O recinto pode ser dividido convencionalmente em três partes: central, onde estão os espectadores, e duas salas laterais – semicirculares, com grande janelas, onde se pode encenar espetáculos. No processo de obras de reforma e restauração de Liubimovka serão criadas novas áreas cênicas – não tradicionais, quanto à forma, mas clássicas, quanto ao conteúdo, – disse Elena Gruyeva.

"Além de tudo o mais, teremos por trás desta casa uma estufa, dentro da qual haverá um recinto para realizar conferências de imprensa, exposições e alguns projetos teatrais. Agora os encenadores nem sempre imaginam o palco em forma de uma caixa. Aí haverá uma sala com saída para o jardim de inverno e dali será possível penetrar no cerejal. Agora existem áreas para diversos projetos inovadores, como, por exemplo, um novo drama. E nós aí mantemos a tradição do teatro psicológico, cuja forma pode variar."

Nos próximos anos deve ser restaurada a casa senhorial em que vivia a família Alexeev. Aí serão realizadas diversas exposições. Mas, de um modo geral, esta quinta não deve transformar-se em museu. Lyubimovka será um local de encontro de atores e diretores teatrais, um local especialmente destinado para ensaios e experiências. A quinta já se saiu bem no “teste de resistência”, - especificou Elena Gruyeva.

"Aqui mesmo, neste teatro doméstico, decorreu recentemente o laboratório do diretor teatral escocês Matthew Lenton, famoso pelo seu método de improvisação teatral. Achamos que era importante para os nossos atores e responsáveis artísticos tomar conhecimento deste método. Ele deu aulas aqui durante 7 dias e o grupo era constituído por dez artistas russos e dez artistas da ópera de Beijing, da China. Conseguiu durante esta semana uni-los num grupo e apresentou em resultado o estudo de um espetáculo praticamente pronto, cujo tema é a maneira de uma pessoa de enfrentar a velhice."

Os realizadores e os atores já começaram a tornar habitável o pavilhão teatral. Os graduados e estudantes do Instituto Estatal de Arte Teatral encenaram no seu palco o espetáculo "Judas", baseado no conto de Leonid Andreev "Judas Escariotes", mostrando como se pode utilizar este espaço incomum, em que a qualquer instante se pode entrar no jardim ou abrir a janela. Este espetáculo, da mesma maneira que o ateliê de Matthew Lenton são realizados no quadro do festival teatral "Temporada de Stanislavsky".

A rua Arbat, uma das ruas mais famosas da capital russa, completa 520 anos. Quem não esteve nesta rua antiga de Moscou, dificilmente poderá compreender o caráter de toda a cidade antiga. Muitas lendas e muitos destinos de pessoas famosas da Rússia estão relacionados com esta rua. Festiva, alegre e imprevisível – esta rua está sempre aberta para os amigos.

A rua Arbat atravessa o próprio centro da cidade de Moscou. O enigma do seu nome não foi desvendado até hoje. Os cientistas discutem mesmo as raízes deste topônimo. Alguns afirmam que a origem deste termo é eslava, outros estão certos de que ela é turca ou árabe. Mas uma coisa é indiscutível: a rua Arbat é mencionada pela primeira vez nas crônicas de 1493 por causa do grande incêndio que arrasou Moscou. O czar Alexei Mikhaikovich, pai do imperador russo Pedro, o Grande, tentou certa vez rebatizar esta rua, dando-lhe o nome de Smolenskaya. Mas os habitantes insistiam em chamá-la Arbat. A rua não quis obedecer aos planos das autoridades da capital também no fim do século passado, – diz a chefe do departamento de exposições científicas do Museu da Cidade de Moscou, Irina Karpachova.
"Em 1980 foi decidido transformar a rua Arbat numa zona pedestre peculiar – uma espécie de "parque nacional" a céu aberto. A rua devia ser calma e tranquila. Mas o resultado foi contrario, pois ela foi invadida imediatamente por uma multidão alegre de pintores e turistas, animação que permanece até hoje. É absolutamente impossível ensinar a rua Arbat a viver de acordo com um decreto ou uma prescrição. É uma rua que escolhe em todas as épocas uma vida muito sua. Nisso consiste a sua unicidade absoluta tanto no plano histórico, como no plano da atualidade."

"Oh, Arbat, minha rua Arbat!", - os que percorrem a rua hoje repetem as palavras do famoso poeta e cantor Bulat Okudzhava, que escreveu uma canção muito conhecida sobre este canto da capital. Com efeito, nesta rua há muita coisa que não pode deixar de causar admiração. Não foi por acaso que o maior poeta russo, Alexander Pushkin, alugou em 1831 um apartamento precisamente na rua Arbat. Foi aí que ele se estabeleceu depois de desposar Natalia Goncharova, a jovem mais bela de Moscou, – diz a dirigente do serviço de imprensa do Museu Estatal Pushkin, Veronica Kirsanova.

"No segundo andar deste palacete está situado, digamos, um centro memorial. São apartamentos que o poeta tinha alugado e que o recordam. Neste espaço estão exclusivamente os objetos que pertenciam a Pushkin, à sua esposa e aos seus filhos."

Uma outra filial do museu Pushkin na rua Arbat é o apartamento do famoso poeta russo Andrei Beli. Foi aí que ele nasceu e viveu 24 anos. Nesta rua famosa está também situado o museu do grande compositor russo Alexander Skryabin. Aliás, mesmo hoje na rua Arbat vivem muitas pessoas conhecidas em todo o país. Um dos habitantes desta rua é o ator popular da Rússia Mikhail Derzhavin, que goza de prestígio indiscutível entre os seus moradores mais antigos.

"Recordo muito bem a infância na minha casa. Vinham lá pessoas magníficas, as pessoas mais famosas daquela época. Eram músicos, pintores e, como é natural, atores do teatro Vakhtangov – todos eles viviam nesta casa. Por isso, a rua Arbat tornou-se uma parte de toda a minha vida, para mim este é um local sagrado."

Nestes dias festivos, a rua mais antiga de Moscou será dividida em cinco zonas, cada uma das quais vai mostrar um determinado momento histórico. Nos limites de cada uma destas zonas serão instalados os chamados "postes jubilares", isto é, limites simbólicos de diversos períodos históricos. Nestas "fronteiras" irão montar guarda grupos de "strelets", isto é, soldados da época de Ivan, o Terrível, de granadeiros, de hussardos e de cadetes.

Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/2013_10_10/pena-que-nao-existe-mais-aquela-nuvem-4548/

Mais: Veteranos russos da II Guerra Mundial são os primeiros a assistir “Stalingrado”(2013)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Cartas de soldados alemães, escritas durante a batalha em Stalingrado

“Você é o coronel, querido pai e do Estado-Maior. Você sabe o que significa tudo isto, por isso evita de eu explicar o que poderia ser sentimentalismo.É o fim. Acho que ainda agüentamos uma semana, depois, fecha o cerco. Não quero falar dos motivos a favor ou contra nossa situação. Esses motivos são perfeitamente insignificantes e não tem importância, mas se pudesse dizer qualquer coisa, gostaria de dizer que não devem procurar em nós a razão dessa situação, mas sim em vocês e quem é o responsável por isso tudo. Levantai a cabeça! Você pai, e os que são da mesma opinião, estejam com atenção para não acontecer uma coisa pior à nossa pátria. Que o inferno do volga sirva de aviso. Por favor, não deixem que o vento leve esta lição.”

Fonte: Cartas de Stalingrado, Coleção Einaudi, 1958.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Cartas de soldados alemães escritas durante a batalha em Stalingrado


“Me assustei quando vi o papel. Estamos completamente isolados, sem ajuda exterior. Hitler nos abandonou. Esta carta vai seguir se o aeroporto ainda estiver nas nossas mãos. Estamos no norte da cidade. Os homens da bateria também pensam nisso, mas não o sabem tão bem como eu. O fim está próximo. Hannes e eu vamos à prisão. Ontem vi os russos apanharem quatro homens, depois da nossa infantaria ter recuperado a iniciativa. Não, não vamos para a prisão. Quando Stalingrado cair, você ficará sabendo que nunca mais voltarei”.

Fonte: Cartas de Stalingrado, Coleção Einaudi, 1958.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Cartas de soldados alemães escritas durante a batalha em Stalingrado


“Não sei se voltarei a te escrever mais uma vez, é preciso que esta carta chegue às suas mãos e que fique a saber desde já, para o caso de voltar alguma vez. Perdi as mãos no princípio do mês de dezembro. Na mão esquerda me falta o dedo mínimo, mas o pior é que na direita congelaram os três dedos do meio. Posso pegar um copo com o polegar e o mínimo. Me sinto um inútil. Só quando perdemos os dedos que percebemos para é que servem, mesmo nas coisas mais pequenas. Kurt Hahnke, acho que você conhece, porque iam juntos à escola em 1937, ele tocou a música Passionata num piano, há 8 dias, numa pequena rua paralela à praça vermelha. Não acontece todos os dias, o piano estava literalmente na rua. A casa tinha  sido bombardeada, mas o instrumento, talvez por compaixão, tinha sido afastado e colocado no meio da rua. Cada vez que passava um soldado, tocava um pouco. Em que outro lugar do mundo é que se pode encontrar pianos no meio da rua?” 


Fonte: Cartas de Stalingrado, Coleção Einaudi, 1958.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Cartas de soldados alemães, escritas durante a batalha em Stalingrado


“Amados pais. Se estão lendo esta carta, é porque ainda temos o aeroporto. Tenho certeza que esta  será a última que seu amado filho lhes escreverá. Temos russos por todos os lados e não nos mandam ajuda de Berlim. Lhes tenho uma triste notícia, Granstsau morreu semana passada. Estava ele, eu e mais três andando quando simplesmente caiu no chão com a cabeça aberta. Amados pais, chorei muito ao vê-lo, porque crescemos juntos, lembram-se? Quando éramos crianças, quebrei a perna, ele me levou a casa nas suas costas com a minha perna quebrada. Sinto muito pelos pais dele. Perdi meu único amigo. E aqui haverá o fim. Nosso comandante se matou com um tiro na boca ontem de noite. Nossa moral não existe mais. Mas espero que essa maldita guerra acabe, pouco me importa o que aconteça. Se não receberem mais cartas minhas, vão para Espanha o quanto antes, sabemos que é uma questão de tempo dos russos chegarem em Berlim. Amados pais, após essa guerra, a Alemanha ficará atônita ao saber que o soldado que lhes escreve teve a vida salva por um médico judeu. Estou bem dos ferimentos, mas a cicatriz é enorme e horrível. Amados pais, se cuidem. Se não receberem mais cartas minhas, vão para Espanha, o dinheiro vocês já tem. Logo estaremos de novo conversando com Hilse, nos bom tempos dos dias de sol. Com muita devoção, seu filho querido.”

Fonte: Cartas de Stalingrado, Coleção Einaudi, 1958.

Mais cartas:
http://www.stalingrad-stalingrad.de/stalingrad-feldpostbriefe.htm

terça-feira, 18 de maio de 2010

Um episódio da batalha de Stalingrado

Do arquivo de Volgogrado.

Informe do comandante da batería de artilharia antiaérea do 1051º Regimento de Fuzileiros da 300ª Divisão de Infantaria.

Nota: Esta batería estava situada na ilha Penkovatyj no Rio Volga. Através da parte do norte da cidade. Próximo da aldeia de Sryedne-Pogromnoje na margem esquerda (leste) do rio.

 
"Ao amanhecer do dia 20 de outubro de 1942, informou o posto de observação: entre a névoa na área de Tomilino, o estrondo de motores de barcos é audível. Estão se aproximando da ilha dois barcos de assalto e 12 barcos a remos, transportando aproximadamente um batalhão de comandos alemães (tropas de assalto). Os artilheiros da batería A.A. elevaram um alarme. Quando os barcos inimigos estavam à distância de 150 metros, a bateria começou um fogo destrutivo. Os fuzis e metralhadoras das companhias de um batalhão do 1049° Regimento de Fuzileiros também começaram atirar. A artilharia alemã começou um poderoso contrafogo. Metralhadoras inimigas da margem direita e dos barcos atiraram sobre nossas defesas. Os canhões da bateria destruíram os barcos de assalto alemães e duplas metralhadoras pesadas, com a ajuda dos fuzileiros, destruíram os barcos a remo. Os "comandos" são completamente destruídos na água. Nenhum soldado alemão pôs os pés na ilha.
Baixas da batalha: 1 morto, 6 feridos.
Munição desperdiçada... ..etc..
Estes soldados mostraram coragem particular:
1. Sargento Kuzmenko - comandante de guarnição antiaérea.
2. Sargento júnior Temirgalyjev - municiador.

Assinatura: Tenente Júnior I. Chenin.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Casa de Pavlov


Casa de Pavlov (russo: дом Павлова—dom Pavlova) é o nome pelo qual ficou conhecido um edifício de apartamentos fortificado na cidade de Stalingrado, durante a Batalha de Stalingrado ocorrida na ex-União Soviética, durante a Segunda Guerra Mundial. Ela recebeu o nome do sargento Yakov Pavlov que, comandando um pequeno destacamento de soldados, a defendeu por dois meses dos ataques alemães durante a longa e sangrenta batalha na cidade.

A fortaleza
A 'casa' era um edifício de quatro andares em frente a uma das principais praças no centro da cidade, construído paralelamente ao rio Volga e que foi atacado pelos invasores alemães em setembro de 1942, durante a invasão nazista de Stalingrado. Um pelotão da 13ª Divisão de Guardas de Rifle, comandando pelo sargento Pavlov, em comando substituindo seu superior ferido, recebeu a ordem de ocupá-lo e defendê-lo. Eles tiveram sucesso na defesa do edifício sozinhos por vários dias, apesar de sobrarem apenas quatro do pelotão original. Quando os reforços chegaram, os sobreviventes foram equipados com metralhadoras, morteiros e armas antitanques.

Agora uma guarnição melhor armada e com um total de 25 homens, eles cercaram a construção com arame farpado e minas terrestres, montando as metralhadoras e demais armas pesadas nas janelas do prédio. Para melhor comunicação interna e recebimento de munição e suprimentos, eles abriram buracos nas paredes e no chão entre o porão e os andares mais altos e cavaram longas trincheiras entre o prédio e as posições soviéticas fora do edifício. Os suprimentos eram trazidos por essas trincheiras e por botes através do Volga, desafiando os bombardeios aéreos e a artilharia alemã.

Mesmo assim, os defensores nunca tiveram água e comida em quantidade suficiente. Sem camas, os defensores tentavam dormir em isolamentos de lã arrancados de pipas e canos, enquanto os alemães atiravam no edifício dia e noite. Os atacantes tentavam tomar o prédio várias vezes por dia e cada vez que os soldados e os tanques tentavam cruzar a praça e se aproximar da construção, ficavam sob o fogo pesado dos homens de Pavlov, entrincheirados no porão, no telhado e nas janelas do edifício. Deixando na praça dezenas de corpos e armas destruídas, os alemães recuavam ataque após ataque.

A luta durou dois meses, de 23 de setembro a 25 de novembro de 1942, entre os soldados entrincheirados, apoiados por civis que já então se escondiam e viviam no prédio e as tropas de infantaria, artilharia e blindados alemães, até serem liberados e terem o cerco levantado pela contra-ofensiva soviética sobre a cidade.

Simbolismo
A Casa de Pavlov tornou-se um símbolo da indomável resistência dos soviéticos na Batalha de Stalingrado e na Grande Guerra Patriótica, como eles chamam a luta travada entre a URSS e a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Ela se levanta principalmente porque os alemães até então haviam conquistado cidades e países inteiros no curso de semanas, durante a guerra mas foram incapazes, por dois meses inteiros, de capturar um simples edifício semi-destruído, defendido a maioria do tempo por apenas duas dezenas de soldados decididos. Nos mapas de guerra alemães em Stalingrado, o prédio era marcado como 'fortaleza'.

Yakov Pavlov foi condecorado com o título de Herói da União Soviética por sua bravura e o general Vassili Chuikov, comandante das forças soviéticas em Stalingrado, mais tarde declarou, de maneira um tanto jocosa, que os homens de Pavlov haviam matado mais nazistas em Stalingrado do que estes haviam perdido de soldados na tomada de Paris.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_de_Pavlov

domingo, 5 de abril de 2009

Duelo de sniper's em Stalingrado

Um dos duelos mais famosos entre atiradores de elite aconteceu na batalha por Stalingrado entre o russo Vasili Zaitsev e o alemão Erwin Konig.

Durante o início da batalha de Stalingrado as condições que os russos enfrentavam eram extremamente difíceis, pois os alemães queriam os campos de petróleo do sul da Rússia, do Cáucaso e o controle do rio Volga. Era uma região de extrema importância econômica, industrial e política, o que fazia com que os nazistas levassem não só infantaria bastante numerosa, mas também tanques, aviões de caça, bombardeiros, canhões e infantaria blindada. Visto que a cidade industrial de Stalingrado não tinha grande concentração de efetivos militares, as condições eram extremamente difíceis e a vitória alemã parecia iminente. Todavia os efetivos para Stalingrado foram aumentados, contando com o comando de vários generais soviéticos, unidades da NKVD e a chegada de soldados de todas as partes da URSS. Hitler chegou a declarar uma guerra pessoal entre ele e Stalin, tornando-se assim um conflito entre o Vozhd e o Fürrer. A população civil fugia, todavia não era possível que uma boa parte escapasse, fazendo com que muitos civis sofressem com a guerra ou se juntassem à luta como partizans (guerrilheiros comunistas).

Efetivos soviéticos não paravam de chegar, chegou-se a fazer uma ponte alguns centímetros abaixo do rio Volga (a primeira da história), trens blindados chegavam trazendo divisões do Exército Vermelho, uma dessas, a 284ª divisão do 62º exército, trazia dentre vários soldados um pastor de ovelhas siberiano que habitava a região dos Montes Urais. Nascido em Katav-Ivanovskogo, era órfão desde cedo e foi ensinado à atirar desde os 5 anos de idade por seu avô caçador de lobos. O nome deste soldado era Vassili Grigorievitch Zaitsev ("lebre" em russo). Ele chegou em Stalingrado no dia 20 de setembro de 1942, com 27 anos de idade.

Quando chegou em Stalingrado ele não tinha um rifle como muitos outros soldados soviéticos. Devido à falta de munições muitos soldados tinham de ficar atrás de outro que tivesse um rifle para pegá-lo quando este morresse, recebendo apenas uma tira de balas. Vassili recebeu apenas as balas, mas não ficou com o rifle. Avançando pela cidade junto da sua pequena tropa (que foi facilmente vencida pelos alemães entrincheirados), Vassili escondeu-se entre os cadáveres dos seus camaradas mortos e segundo relatos do livro Enemy at the gates ("O Círculo de Fogo", transformado em filme) apossou-se de um rifle de um soldado morto e atirando apenas quando soava o som das explosões (afim de que não fosse ouvido o barulho do rifle), abateu 5 alemães que estavam em um estabelecimento próximo sem ser percebido e sem levar um só tiro, o que conquistou a atenção do comissário político e jornalista Igor Danilov.

Naquele momento em que o jovem soldado Vassili mostrava proezas heróicas abatendo os soldados alemães, Nikita Khruschev chegava à Stalingrado para cobrar dos líderes militares e dos comissários um postura mais agressiva. Uma das sugestões para um melhor desempenho dos soldados, agoniados com a provável vitória das tropas do III Reich, partiu de Danilov, que sugeriu a publicação do jornal militar novamente e a exaltação do sacrifício pessoal e a dedicação à causa comunista, mostrando como exemplo aquele que conhecera de perto, o lendário atirador de elite Vassili Zaitsev. Tal proeza funcionou e Vassili foi promovido para a divisão dos atiradores de elite, seu nome foi publicado nos jornais militares e ainda se tornou a grande sensação das primeiras páginas do jornal "Pravda", o qual era lido por milhões de pessoas na URSS, dando grandes esperanças ao povo soviético e aos soldados do Exército Vermelho.

De fato as proezas de Zaitsev eram lendárias, por exemplo, no período de apenas 10 dias ele já havia eliminado cerca de 40 oficiais alemães de alta patente, corajosa atitude essa que fizera dele também o mais falado nas rádios soviéticas e o mais popular soldado da cidade e um dos mais da URSS (senão o mais popular). Foi devido à necessidade de mais soldados como ele, que Danilov encarregou Vassili de treinar e instruir outros atiradores de elite, dentre os quais a oficial russa-americana Tatiana Tchernova, que voltou dos EUA para a URSS quando a guerra havia começado. Obcecada pelo desejo de vingança contra os nazistas que executaram seus avós, Tania perdera também seus pais durante a guerra, e por isso sob instruções de Vassili Zaitsev tornou-se uma exímia atiradora de elite, matando um grande número de soldados alemães junta com seu instrutor. Tania Tchernova também veio a tornar-se a namorada de Zaitsev, vindo a iniciar um relacionamento duradouro. Ele chegaria a ser ferida por uma mina atirada pelos nazistas. Além de Tania, Vassili também deu eficaz treinamento à outros atiradores, procurando sempre compartilhar com estes seu conhecimento e táticas que utilizava na taiga siberiana.

Vassili Zaitsev era um exímio atirador de elite, com seu rifle Moisin-Nagant 91/30 (na época um dos melhores a disposição do Exército Vermelho) foi capaz de abater só em Stalingrado 242 nazistas, dentre soldados, oficiais e até atiradores de elite alemães, com os quais travou árduas lutas, sendo a mais épica dessas, a luta contra o major alemão Heintz Thorvald, também conhecido como Major Erwin König. Segundo os soviéticos ele era da escola alemã de atiradores de elite.

As atividades dos atiradores de elite soviéticos causavam grande intranqüilidade aos generais alemães em Stalingrado onde já tinham matado mais de mil soldados alemães. Diante das constantes ameaças, os alemães começaram a organizar unidades anti-atiradores de elite. Certa uma das patrulhas russas trouxe um prisioneiros para fins de identificação que disse que o Chefe da escola alemã de atiradores de elite, Major Konig, tinha chegado de avião de Berlim e fora incumbido, antes de tudo de matar o mais eminente dos atiradores soviéticos, Vassili Zaitsev.

Como se sabe os soviéticos escreveram muito sobre os feitos de Vassili Zaitsev. Alguns dos panfletos cairam em mãos alemães, que estudaram os métodos dos atiradores soviéticos e tomaram medidas ativas para combatê-los. Logo quando um dos atiradores soviéticos matava um ou dois oficiais inimigos, a artilharia e os morteiros alemães, escondidos, começavam a disparar, o que forçava os atiradores de elite soviéticos a mudarem apressadamente de posição.

Na verdade existe uma grande dúvida se o Major Erwin König/Heintz Thorvald existiu de fato e se eram a mesma pessoa. Esta dúvida existe porque Erwin König. só aparece e muito na propaganda russa, mas não encontramos nenhuma documentação na Alemanha as respeito dele. Tanto Erwin König quanto Heintz Thorvald eram nomes alemães bem comuns na época da guerra. É interessante observar que no registro de guerra russo o adversário de Vassili Zaitsev é chamado de Erwin König e nas suas memórias o atirador de elite o chama de Heintz Thorvald. Alguns dizem que o temível atirador de elite alemão foi fabricado pela imprensa soviética para representar o exército alemão, ou os atiradores de elite como um todo e que o objetivo do duelo era a de levantar o moral soviético.

Os soviéticos diziam que Erwin König. era um rico caçador de veados da Bavária que foi enviado a Stalingrado apenas com a missão de abater Vasha (como também era conhecido Vassili), fato que comprovava sua fama até mesmo entre os soldados alemães, o que fazia dele um arcanjo para os soviéticos e demônio para os alemães. Ambos posicionados, o duelo entre o comunista pastor de ovelhas e o nazista caçador de veados seria um dos épicos episódios da batalha de Stalingrado, pois além de sua extensa duração foi marcado por momentos em que ambos estiveram próximos da morte, momentos em que a sorte esteve presente, em que a ânsia e a angústia estiveram presente nos corações daqueles que aguardavam os resultados daquele duelo, fossem civis ou militares, enquanto que com toda cautela, mas sobretudo com calma os atiradores souberam levar tal conflito.

Uma das desvantagens de Vasha era o fato de que seus atos haviam sido observados, sendo levados ao conhecimento do Comando da Wermatch e conseqüentemente de König, que passou a caçar o atirador russo. O próprio Vasily Zaitsev fala a respeito do duelo:

"A chegada do atirador nazista trouxe-nos uma nova tarefa: tínhamos de encontrá-lo, estudar os seus hábitos e métodos e esperar pacientemente o momento justo para um, somente um, tiro certeiro. Nos nossos abrigos, à noite, tínhamos discussões furiosas sobre o próximo duelo. Todo atirador apresentava as suas especulações e conjecturas extraídas da observação de cada dia das posições de vanguarda do inimigo. Discutíamos toda espécie de propostas e de apostas. Mas a arte do franco-atirador se distingue pelo fato de que, seja qual for a experiência que muita gente tenha, o resultado da luta é decidido por um dos atiradores. Ele enfrenta o inimigo face a face e de cada vez tem de criar, de inventar, de operar diferente. Não pode haver esquema para o atirador; um esquema seria suicídio.

Ainda assim, onde estava o atirador de Berlim - perguntávamos uns aos outros. Eu conhecia o estilo dos atiradores nazistas pelo seu fogo e pela sua camuflagem e podia, sem dificuldade, distinguir os experimentados dos novatos, os covardes dos tenazes e resolutos. Mas o caráter do chefe da escola era ainda um mistério para mim. As nossas observações cotidianas nada nos diziam de definitivo. Era difícil decidir em que setor operava. Presumivelmente alterava a sua posição com freqüência e me procurava tão cuidadosamente quanto eu a ele. Então alguma coisa aconteceu. O meu amigo Morozov foi morto e Sheykin ferido por um fuzil com mira telescópica. Morozov e Sheikin eram atiradores experientes; muitas vezes saíram vitoriosos das mais difíceis escaramuças com o inimigo. Agora não havia mais dúvida. Tinham dado com o super-atirador nazista que que procurava. Pela madrugada saí com *Kulikov para as mesmas posições que os nossos camaradas haviam ocupado na véspera.

(*Segundo informações Nikolay Kulikov, conheceu o major König na Alemanha durante a época do tratado de não-agressão. Acompanhando Vassili, Kulikov usou-se de binóculos para scannear as linhas inimigas quando estas travavam nas ruas batalhas e desferiam ataques contra as tropas soviéticas, sempre escondendo-se em prédios ou outras edificações.)

Inspecionando as posições de vanguarda do inimigo, que havíamos passado muitos dias estudando e conhecíamos bem, nada encontrei de novo. O dia estava chegando ao seu termo. Então, acima de uma trincheira alemã surgiu inesperadamente um capacete, movimentando-se vagarosamente ao longo dela. Deveria eu atirar ? Não! Era um ardil; o capacete movimentava-se de modo irregular e presumivelmente estava sendo levado por alguém que ajudava o atirador, enquanto ele esperava que eu atirasse. - Onde estará escondido ? Perguntou Kulikov, quando deixamos a emboscada sob a proteção da escuridão. Pela paciência que o inimigo demonstrava durante o dia conjecturei que o atirador de Berlim estava aqui. Era necessário vigilância especial...

Passou-se um segundo dia. De quem seriam os nervos mais resistentes ? Quem venceria ? Nikolay Kulikov, um verdadeiro camarada, também estava fascinado pelo duelo. Não tinha dúvida de que o inimigo ali estava diante de nós e eu estava ansioso pra que vencêssemos. No terceiro dia, o comissário político Danilov, também foi conosco para a emboscada. O dia rompeu como sempre: a luz ia aumentando de minuto a minuto e as posições inimigas iam sendo distinguidas com cada vez mais clareza. Travou-se batalha perto de nós, obuses silvavam acima de nós, mas, colados às miras telescópicas, mantivemos o olhar dirigido para o que acontecia à nossa frente. Lá está ele! Eu o indicarei para vocês! - disse, de repente, o comissário Danilov ficou excitado.

Ele mal se elevou, literalmente por um segundo, mas sem cuidado, acima do parapeito, e isso bastou para que o alemão o atingisse e o ferisse. Esta espécie de disparo, naturalmente, só podia provir de um sniper experiente. Durante muito tempo examinei as posições inimigas, mas não pude descobrir o seu esconderijo. Pela velocidade com que disparara cheguei à conclusão de que o atirador estava em algum ponto diretamente à nossa frente. Continuei a observar. À esquerda havia um carro fora de ação e à direita uma fortificação solitária. Onde estava ele ? No carro ? Não, um sniper veterano não tomaria posição ali. Na fortificação, talvez ? Também não - a portinhola estava fechada. Entre o carro e a fortificação, numa faixa de terreno plano, havia uma chapa de ferro e uma pilha de tijolos quebrados. Estavam ali havia muito tempo e já nos acostumáramos a vê-las. Coloquei-me na posição do inimigo e pensei - que lugar melhor para um atirador ? Bastava apenas fazer um cavalete sob a chapa de ferro e chegar a ela durante a noite. Sim, ele estava certamente ali, sob a chapa de ferro, na terra-de-ninguém. Resolvi certificar-me. Pus uma luva na ponta de um pedaço de pau e a elevei. O nazista caiu nessa. Abaixei cuidadosamente o pedaço de
pau na mesma posição e examinei o orifício aberto pela bala. Ela atingira diretamente pela frente; isto significava que o nazista estava debaixo da chapa de ferro.

- Lá está o nosso atirador! - disse Kulikov, com a sua voz calma, do seu esconderijo perto do meu. Veio então o problema de atrair, ainda que fosse pelo menos parte da sua cabeça, para a minha mira. Era inútil tentar fazê-lo logo. Precisávamos de mais tempo. Mas eu pudera estudar o temperamento do alemão. Ele não abandonaria a boa posição que havia encontrado. Devíamos, portanto, mudar de posição.

Trabalhamos durante a noite. Ficamos em posição pela madrugada. Os alemães atiravam contra os ancoradouros do Volga. A luz chegou com rapidez e ao raiar o dia a batalha cresceu de intensidade. Mas nem o troar dos canhões nem a explosão de bombas e obuses, nada nos poderia distrair do trabalho que tínhamos à mão. O sol se elevou no céu. Kulikov deu um tiro às cegas: tínhamos de despertar a curiosidade do atirador. Havíamos decidido passar a manhã à espera, pois poderíamos ser localizados pelo reflexo do sol nas nossas miras telescópicas. Após o almoço os nossos fuzis estavam na sombra e o sol brilhava diretamente sobre a posição do alemão. Na ponta da chapa de ferro alguma coisa brilhava: um pedaço qualquer de vidro ou uma mira telescópica ? Cuidadosamente, Kulikov começou, como somente podem fazê-lo os mais experimentados, a levantar o seu capacete. O alemão disparou. Por uma fração de segundo Kulikov se levantou e gritou. O alemão acreditou que finalmente apanhara o atirador soviético que vinha caçando havia quatro dias e levantou a cabeça de debaixo da chapa de ferro. Era com isso que eu contava. Fiz uma pontaria cuidadosa. A cabeça do alemão caiu para trás e a mira telescópica do seu fuzil K-98 ficou sem movimento, brilhando ao sol, até que a noite caiu..."

Após o duelo Vassili Zaitsev veio a matar vários outros soldados alemães em Stalingrado. Indomável e audacioso ficaria conhecido em toda a cidade por seus feitos heróicos, tanto pelos comunistas quanto pelos nazistas, por quem era tão temido. Vassili seria designado posteriormente como comandante dos atiradores de elite, que viam nele uma inspiração e um grande professor que procurava repassar aos alunos todos os conhecimentos aprendidos. Em janeiro de 1943 Vassili Zaitsev veio a ser gravemente ferido, sendo levado para Moscou e tratado no principal hospital da cidade com o professor universitário Filatov, um dos melhores médicos do país.

Zaitsev pôde no mesmo ano retornar a Stalingrado e reencontrar seus amigos atiradores de elite e sua companheira Tania Tchernova. À pedido seu veio a atuar no front de batalha como soldado comum, demonstrando clara determinação e heroísmo de um soldado exemplar. Após Stalingrado, Zaitsev atuou em Dniestre já com a patente de capitão. Nesse período veio a escrever dois famosos manuais para atiradores de elite.

Condecorado com a Ordem da Guerra Patriótica, duas Ordens da Bandeira Vermelha, várias vezes condecorado com a Ordem de Lenin, além de medalhas menores, Vassili Zaitsev recebeu então a medalha da Estrela Dourada e o status de "Herói da União Soviética", vindo a ser condecorado ainda outras vezes por ser veterano de guerra de Stalingrado.

Após o término da guerra Zaitsev desmobilizou-se e passou a ser um veterano de guerra, trabalhando como diretor de uma fábrica de construção de carros em Kiev, tendo terminado esse trabalho somente em 15 de dezembro de 1991 quando morreu.

Quem se encontrava com Zaitsev ficava surpreendido com sua modéstia, o modo despreocupado com que se movimentava, o seu temperamento plácido, a maneira atenta com que olhava as coisas; podia fitar o mesmo objeto durante longo tempo sem pestanejar. Tinham mãos vigorosas - e quando apertavam as mãos de alguém os dedos doíam.

*OBS: Há grande debate sobre se o lendário atirador alemão Segunda Guerra Mundial que foi enviado a Stalingrado para envio de Vasily Zaytzev foi König, Thorvald, ou mesmo se ele existiu. Na verdade, no real registros de guerra soviéticos, inicialmente se mostrou como um Major Erwin König, que é de fato um nome alemão muito básico e simples da época. Nas memórias de Vasily Zaytsev de guerra, mais tarde ele se refere a ele como Heinz Thorvald, que era outro nome popular na Alemanha nesse período de tempo. Thorvald parece ser o nome que é usado mais agora, e fica a duvida, se eles eram a mesma pessoa, ou um foi um erro, ou se o sniper alemão foi fabricado pela imprensa soviética para representar o exército alemão, ou os snipers alemães como um "todo", e que a história era apenas um meio de fornecer o moral das tropas soviéticas. Os dois nomes estão em registros oficiais de guerra soviéticos, mas não há registro de qualquer nome no livro dos recordes alemão.


domingo, 28 de dezembro de 2008

Natal Em Stalingrado


Forças russas em Stalingrado

Goebbels considerou este relato, do correspondente de guerra Heinz Schröter, muito impressionante para ser publicado na época :
No dia previsto, os combatentes de Stalingrado celebraram sua festa de Natal. Um céu cor de cinza estendia-se pesadamente sobre a estepe nevada. Um frio implacável cristalizava a paisagem. Em Stalingrado não havia mesas cobertas com toalhas brancas, nem nozes, nem maçãs: só algumas pequenas árvores de Natal, enviadas pelo correio. Aquele que dispunha de uma vela, acendia-a por momentos, colocando-a no gargalo de uma garrafa, calcando-a sobre uma táboa, dentro do capacete ou em algum ramo de árvore. Depois, apagava-se e guardava-se para outra noite. As árvores de Natal e os discursos alusivos à festividade perdiam todo o valor simbólico no meio das munições, quase sem pão e naquele ambiente de promiscuidade. Os homens sentavam-se muito perto uns dos outros. Táboas e caixotes serviam de mesas, os recipientes de metal faziam-se de copos. Os mais favorecidos bebiam aguardente, ou mesmo vinho. A maioria contentava-se com chá, ou neve derretida. É difícil descrever os sentimentos que animavam estes homens a minha volta. Aqueles soldados apenas tinham de comum as suas mãos vazias e a abóbada do céu, cercada por uma fumarada cor de sangue. Perguntavam-se por que motivo permitia Deus voltasse o Natal, quando os homens, dominando a Sua voz com o tumulto da guerra, continuavam a matar-se uns aos outros. Houve muitas companhias que passaram o Natal assim. Só a nossa viveu um verdadeiro conto de Natal - o primeiro e o último. Chegara da Alemanha quatro semanas antes. Avançava em estado de alerta sobre uma camada de neve com 40 centímetros de espessura. Depois de três horas de marcha, as primeiras filas da companhia detiveram-se. Com os rostos açoitados pela neve, vimos, repentinamente, uma aparição fantástica. Uma estaca de três metros de altura, sobre a qual mão desconhecida colocara uns paus transversais, que estavam cravejados de velas, cujas chamas tremeluziam sobre a estepe. Diante dessa árvore de Natal improvisada, recortava-se a estranha silhueta de um homem que sustentava na mão direita uma tosca cruz, feita com duas tábuas. Por detrás das árvores apinhava-se um grupo alucinante: uma dúzia de homens, envoltos em mantas, apoiados em muletas e cajados e com as cabeças cobertas de ligaduras. Espontaneamente nossa companhia formou em redor um semicírculo. Tiramos os capacetes. O homem que empunhava a cruz aproximou-se e disse: - Sabíamos que passavam por aqui esta noite. Quisemos fazer-lhes esta surpresa. Os da companhia sorriram um pouco amargamente... - Vivemos hoje - prosseguiu o homem - a noite de Natal; e amanhã será o dia em que a cerca de dois mil anos, teve início a Redenção. Aquele dia e aquela noite deveriam trazer a paz. Lutamos contra um inimigo que não conhece aquela noite nem aquele dia. Agora, saibamos dar a Deus o que é de Deus; quando esta hora tenha decorrido, dareis a César o que é de César. Depois o homem recitou o Glória: "E paz na terra aos homens de boa vontade". Disse em voz alta o texto latino e não o envergonhou falar de paz. Rezou um Pater Noster em alemão, para os protestantes. Os cento e vinte e um homens acompanharam-no a uma só voz diante da "árvore" iluminada: "...mas livrai-nos do mal. Amém". As ladeiras geladas do barranco repetiram surdamente aquele "Amém". Depois a 9ª Companhia cantou as três estrofes de Stille Nacht, heilige Nacht. Jamais este cântico terá tido tal vibração, no meio de uma desolação semelhante a esta. No que respeita ao correio, esse montão de cartas e postais destinados a vencer a distância que os separava de seu país, já quase nada chegava às suas mãos. Algumas sacas tinham sido atiradas para dentro da grande mala: que representava, porém, tão pequena quantidade para tanta gente? Basta dizer que 380 das sacas de correio destinadas a Stalingrado foram queimadas em Chiov porque, no dia da ofensiva russa, um transporte ambulante de correio que vinha de Dresden atrapalhou-se e, ao ouvir anunciar que os carros russos se encontravam a apenas 10 quilômetros, não se lembrou de colocar uma saca em cada um dos veículos que circulavam sem interrupção no caminho de Nijni-Chircaya. A maioria dos soldados passou tristemente o Natal e com uma secreta angústia ao ver reduzida para 100 gramas a sua ração de pão. Quanto ao tempo dedicado ao Natal pela emissora Grande Alemanha, foi tomado como piada de mau gosto e acolhido com palavrões. Os homens sofriam, tinham fome. A organização do abastecimento não era suficiente. A bolsa de resistência dispunha dos aeródromos de Pitomnik e Gumrak, do campo auxiliar de Bassargino e do de Stalingradsky, para as aterrissagens forçadas. O exército dera ordem de disparar contra os que praticassem pilhagens. Nos setores de quatro divisões, situadas a oeste e ao sul de Stalingrado, 364 homens foram executados em três dias, por covardia, deserção, roubo de provisões... Sim, por roubo. Certa manhã, arrancaram o soldado Wolf do buraco onde se encontrava. É ouvido, julgado e condenado à morte. A execução realiza-se num quarto mobiliado com uma mesa, três cadeiras e um fogão. Na parede está pendurado um retrato de Lênin. Nada há como a fome para levar ao crime...