segunda-feira, 8 de março de 2010

Os diários da Husky

As lembranças do General Patton sobre o início da invasão na Sicília e suas conclusões sobre a ação decorrente.

O I Corpo Blindado, que planejou a campanha da Sicília, era constituído pelo que restara da Força-Tarefa Ocidental, depois de fornecer oficiais e soldados para o recém-criado 5º Exército. O efetivo do Corpo foi reforçado para a invasão da Sicília e, após o desembarque, veio a constituir o 7º Exército.

As Forças Terrestres aliadas, sob o comando do General Sir Harold Alexander, compreendiam o 8º Exército inglês, comandado pelo General Montgomery, e o 7º Exército americano, comandado pelo General Patton. As Forças Navais eram comandadas pelo Almirante Sir Andrew Cunningham e as Forças Aéreas pelo Marechal-do-Ar Sir Arthur Tedder.

Os exércitos desembarcaram no dia 10 de julho de 1943, com o 8º Exército no lado sudeste da ilha e o 7º Exército no lado sudoeste. Na noite de 16 de agosto, elementos do 7º Regimento de Infantaria, da 3ª DI, comandado pelo Coronel H. B. Sherman, entraram em Messina. A queda da Sicília ocorreu na manhã do dia 17, quando o General Patton entrou naquela cidade. A campanha durara 38 dias.


P. D. H.

OS DIÁRIOS DA INVASÃO DA SICÍLIA

11 de julho de 1943

Eu, o General Gay, o Capitão Stiller e alguns soldados saímos do Monróvia no batelão do almirante às 9 horas, e chegamos na praia, em Gela, às 9h30min.

Na praia vi dois DUKW, destruídos por minas e sete embarcações de desembarque encalhadas na areia. Enquanto fazia esta observação o inimigo abriu fogo, provavelmente com um canhão de 88 ou 105 mm. As granadas explodiram dentro da água, a uns 30 metros da praia, mas não podiam atingir a areia por causa do desenfiamento proporcionado pelos prédios da cidade. Assim que retirassem o material que fizera o nosso carro de reconhecimento flutuar, era minha intenção avançar até o QG da 1ª Divisão de Infantaria, cerca de 5 quilômetros para sudeste e a cavaleiro da estrada litorânea. Ao entrarmos em Gela observamos uma flâmula à nossa esquerda e resolvemos visitar o Coronel W. O. Darby, comandante dos Rangers. Foi uma decisão feliz; se houvéssemos avançado pela estrada, teríamos encontrado sete carros de combate alemães que, naquele momento, progrediam pela estrada em direção à cidade.

Tripulação do tanque "Eternity" buscar seu veículo após o desembarque na Praia Vermelha 2, na Sicília

Quando chegamos no Posto de Comando dos Rangers o Coronel Darby e a cidade de Gela sofriam um ataque de alemães e italianos, vindo do nordeste. Darby dispunha de uma bateria de canhões 77 mm, capturada aos alemães, da 8ª companhia do 3º batalhão do 26º RI, de dois batalhões de Rangers, de uma companhia de morteiros 4.2 e de um batalhão do 59º Regimento de Engenharia.

Esta força ficara isolada da divisão, pelo lado direito, em conseqüência da progressão dos sete carros de combate, já agora a uma distância de 1.000 metros da orla da cidade. Dirigimo-nos para um Posto de Observação situado 100 metros à retaguarda da linha de contato; dali podíamos ver o inimigo progredindo através do campo, talvez uns 800 metros à nossa frente.

Darby ordenara que as estradas fossem patrulhadas por viaturas meia-lagarta. Estas viaturas não se destinavam a ações de combate e sim ao transporte de material de Engenharia; todavia, trabalharam tão bem e fizeram tanto barulho que perturbaram a progressão dos italianos, os quais parecem que não dispunham de apoio de Artilharia.

A progressão italiana cessou por volta das 11h50min; voltamos ao PC de Darby para averiguar o que se passava do lado direito, região que podia ser avistada de dentro de Gela.

Ao chegarmos lá, dois bombardeiros Hurricane despejaram bombas sobre a cidade. Depois, a Artilharia alemã abriu fogo com os canhões de 88mm. O edifício onde nos encontrávamos foi atingido duas vezes; o teto do prédio situado do outro lado da rua também foi atingido, mas ninguém ficou ferido, com exceção de alguns civis. Nunca ouvi tanta gritaria como naquela ocasião. Neste momento chegou um oficial da 3ª DI trazendo dez carros de combate, vindo de Licata para Gela pela estrada litorânea. Chegaram também dois carros de combate do Grupamento Tático B.

Disse a Gaffey para fechar a brecha entre Gela e a 1ª DI e para mandar uma companhia de carros de combate para ajudar Darby. A ordem foi cumprida. Darby contra-atacou imediatamente, na esquerda, e fez 500 prisioneiros. Também destruímos os sete carros de combate alemães, na direita.

O oficial recém-chegado explicou-me a situação da 3ª DI; chegou também o General Roosevelt (sub-comandante da 1ª DI) e conversei com ele a respeito do fracasso da 1ª DI na conquista do objetivo, na noite anterior. Na minha opinião o motivo do fracasso residiu no fato de a divisão haver atacado sem canhões anticarro e sem desdobrar a sua Artilharia. É verdade que a reação a um contra-ataque dos CC (carros de combate) alemães foi muito boa, inclusive com a destruição de vários dos nossos carros. Acho que foram destruídos 14 carros de combate inimigos naquele dia. Eu, pessoalmente, contei onze.

Decidi, então, ir ver o General Allen e o General Gaffey.Já na estrada, encontramos o General Allen viajando em sentido contrário ao nosso; paramos no alto de uma colina. Eram 15h30min. De repente, apareceram 14 bombardeiros alemães e a nossa Artilharia antiaérea abriu fogo. Saímos da estrada, mas como o traçado da mesma era paralelo à direção de vôo dos aviões inimigos, os estilhaços das granadas antiaéreas começaram a cair na estrada. Um estilhaço caiu a 5 ou 10 metros do local em que estávamos eu e o General Gay. Durante esta incursão vi dois bombardeiros e um outro avião serem abatidos.

Passado o ataque voltamos às viaturas e nos dirigimos para o QG da 2ª Divisão Blindada. Enquanto permanecemos lá uma bateria alemã ficou atirando contra o quartel-general, mas a pontaria não era boa, ou a colina atrás do QG nos deixava desenfiados; de qualquer maneira, todos os tiros foram longos. Combinamos que Allen e Gaffey conquistariam o aeroporto de Ponte Olivo na manhã seguinte.

Regressamos a Gela sem nenhum acidente; creio não ser comum um comandante de exército e seu chefe de estado-maior viajarem 10 quilômetros em uma estrada paralela às linhas de frente de dois exércitos.

Durante a viagem de volta fiquei olhando, despreocupadamente, para o mar. Saía fumaça de um navio classe Liberty que fora bombardeado pelos alemães. Diante dos meus olhos uma explosão monumental lançou nuvens brancas e pretas a vários metros de altura. O navio partiu-se em dois, mas a parte da popa ainda flutuou durante seis horas. Quase todo o pessoal do exército que se encontrava a bordo, cerca de 115 homens, foi salvo.

Enquanto aguardava, na praia de Gela, a embarcação que nos levaria de volta ao Monróvia, vi a coisa mais tola que os soldados poderiam fazer. Estavam empilhadas, na areia, cerca de 300 bombas de 250 quilos e sete toneladas de granadas explosivas de 20 mm; os soldados cavavam abrigos individuais entre as bombas e as caixas de munição. Disse-lhes que estavam procedendo corretamente se quisessem poupar o trabalho de serem enterrados pelo pelotão de sepultamento; se desejassem poupar suas vidas, seria melhor cavar em um outro lugar.

Enquanto dava esta explicação, surgiram dois bombardeiros Stuka e metralharam a praia; todos os soldados correram para os buracos que haviam cavado. Continuei a caminhar pela praia e, assim, convenci-os a saírem dos buracos. Chegamos ao Monróvia às 19 horas, completamente encharcados. Acho que este foi o primeiro dia desta campanha no qual fiz jus aos meus vencimentos.


Durante a invasão aliada da Sicília, a SS Robert Rowan (navio Liberty K-40) explodiu após ser atingido por um Ju 88 bombardeiro alemão fora de Gela, na Sicília (Itália), em (11 de julho de 1943).



18 de julho de 1943

Continuamos a progredir, com vários dias de adiantamento em relação ao planejado desde o assalto bem sucedido contra as praias, executado antes do alvorecer do dia 10. Conseguimos isto, graças ao fato de não deixar o inimigo parar a partir do momento em que começou a recuar, isto é, nos mantivemos, por assim dizer, sempre nos seus calcanhares.

Nosso sucesso também se deve ao fato de os alemães e italianos haverem gasto muito tempo, trabalho e dinheiro na construção de posições defensivas. Tenho certeza que, como no caso das muralhas de Tróia e das muralhas romanas espalhadas pela Europa, o fato de confiarem em posições defensivas reduziu-lhes a capacidade de combate. Se houvessem despendido em combate um terço do esforço gasto na construção de fortificações de campanha, por certo não teríamos conquistado suas posições. Por outro lado, as unidades italianas, quase todas provenientes do norte da Itália, combateram de forma desesperada. As unidades alemãs não lutaram tão bem quanto as que destruímos na Tunísia. Este julgamento aplica-se particularmente aos carros de combate. Os alemães revelaram bravura, mas adotaram decisões erradas.

Os números de prisioneiros, de canhões capturados etc., são mais convincentes do que as palavras para demonstrar o sucesso da nossa operação. As comparações são odiosas, mas acho que até ontem o 8º Exército inglês não fez mais de 5.000 prisioneiros.

O inimigo colocava armadilhas no cadáver dos seus mortos, atirava em nós pela retaguarda depois que o ultrapassávamos e estava utilizando bala dum-dum. Tudo isto nos custou algumas baixas, mas o inimigo sofreu muito mais. Nos campos ao sul do aeroporto de Biscari, onde ocorrera um combate violentíssimo, eu senti o cheiro de corpos em decomposição em ambas as margens da estrada pelo menos até afastar-me 10 quilômetros do aeroporto.

Em diversas ocasiões, os alemães semearam minas na retaguarda dos italianos; quando os italianos corriam, acabavam explodindo. É claro, por outro lado, que os italianos não gostavam dos alemães.

Os italianos também praticaram atos de bravura. No dia 10, alguns carros de combate italianos entraram na cidade de Gela, que era defendida pelo Coronel Darby com dois batalhões de Rangers. Com a metralhadora leve do seu jipe Darby engajou um dos carros de combate, a uma distância de 50 metros. Ao verificar que os projeteis não penetrariam no carro, Darby desceu até a praia sob o fogo de três carros de combate, apanhou um canhão de 37mm, que acabara de ser desembarcado, abriu uma caixa de munição com uma machadinha, subiu a colina até a cidade e ocupou posição com o canhão a menos de 100 metros na frente de um carro que descia sobre ele. O primeiro tiro não deteve o carro, o que só foi conseguido com o segundo disparo. Apesar disto, a guarnição não abandonou o carro enquanto Darby não abriu uma escotilha e atirou uma granada de termite lá dentro.

No dia seguinte, este mesmo oficial - Darby - foi proposto para o comando de um regimento, com promoção ao posto superior na sua patente de tempo de paz; recusou tudo só para poder continuar combatendo junto com os homens que ele próprio instruíra. No mesmo dia, o General-de-Brigada Albert C. Wedemeyer solicitou rebaixamento a coronel, a fim de poder receber o comando de um regimento. Considero os dois atos como da maior relevância.

O tenente-coronel Lyle Bernard, CO, Inf 30. Regt., a prominent figure in the second daring amphibious landing behind enemy lines on Sicily's north coast, discusses military strategy with Lt. Gen. George S. Patton . Regt., Uma figura proeminente no desembarque anfíbio ousadia segundo atrás das linhas inimigas, na costa norte da Sicília, discute estratégia militar com o general George S. Patton. Near Brolo. Próximo Brolo. 1943. 1943

Durante o desembarque, um tenente de Artilharia decolou de uma embarcação de desembarque com o seu avião Piper Cub, depois de correr 15 metros em cima de uma pista improvisada com cerca de arame. Passou o dia inteiro voando sobre a cidade, apesar do fogo da defesa. O avião sofreu vários impactos, mas o observador aéreo manteve o comandante da 3ª DI informado sobre a situação.

Um oficial de Marinha conduzindo uma embarcação de desembarque de carros de combate (LCT) verificou que a lâmina de água não tinha profundidade suficiente para permitir o acesso de embarcação à praia. Decidiu avançar o máximo, encalhou a embarcação na areia e engajou as metralhadoras inimigas com os dois canhões de 20mm do seu barco; silenciou-as e possibilitou o desembarque das tropas que transportava.

O apoio de fogo naval - isto é, o fogo naval lançado sobre as praias pelos navios situados ao largo do litoral - representou um papel destacado. Chegamos a solicitar este apoio até durante a noite e conseguimos enquadrar o alvo já na terceira salva.

A população deste país é a mais miserável e esquecida por Deus entre todas as que já vi. Certo dia, eu estava na cidade quando o inimigo quase a reconquistou; algumas granadas mataram civis. Pois bem, todo mundo na cidade levou cerca de 20 minutos gritando que nem coiote.

Os animais recebem melhor tratamento, são mais gordos e maiores do que os animais na África; fora isto, tudo o mais por aqui é pior do que na África. As carroças são bem diferentes.Têm o formato de uma caixa com umas coisas que parecem pés de cama nos cantos e ao longo das bordas laterais. Os painéis que ficam entre esses pés de cama são desenhados com figuras. Na parte de baixo da carroça existe uma voluta, colocada entre o eixo e o fundo da caixa, parecida com as existentes nas varandas das casas construídas em 1880. A coleira do animal de tração possui um espigão apontado para cima, com cerca de 60 cm de altura, e alguns animais usam plumas na testeira da cabeçada.

Durante dois ou três dias, enquanto o combate se desenvolvia junto das cidades, os habitantes mostraram-se hostis; como demonstramos a nossa capacidade de destruir tanto alemães como italianos, tornaram-se americanófilos e passavam o tempo todo pedindo cigarros.


Fonte deste artigo: A guerra que eu vi - George S. Patton - Bibliex

2 comentários:

  1. adorei essa matéria sobre o livro a guerra que eu vi de Patton, mas eu gostaria de ler o livro todo. poderia me dar algum link onde eu possa baixa-lo.

    dpsousa98@hotmail.com

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  2. excelente artigo adorei sou grande fã da 2 guerra mundial e adorei

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