Caça-Submarino G8-Graúna da Classe G
C a r a c t e r í s t i c a s
Deslocamento: 280 ton (padrão), 450 ton (carregado).
Dimensões: 52.73 m de comprimento, 7.01 m de boca e 3.04 m de calado.
Propulsão: diesel; 2 motores diesel de 16 cilindros General Motors Model 16-258S gerando 2.000 bhp, acoplados a dois eixos com hélices de três pás.
Eletricidade: ?
Velocidade: máxima de 20 nós.
Raio de ação: 3.000 milhas náuticas à 12 nós.
Armamento: 1 canhão de 3 pol. (76.2 mm/50); 1 canhão Bofors L/60 de 40 mm em um reparo Mk 3; 2 metralhadoras Oerlikon de 20 mm em reparos singelos Mk 4; 2 lançadores óctuplos de bomba granada A/S (LBG) de 7.2 pol. Mousetrap Mk 20 na proa; 2 calhas de cargas de profundidade Mk 3 e 2 projetores laterais do tipo K Mk 6 para cargas de profundidade Mk 6 ou Mk 9.
Sensores: 1 radar de vigilância de superfície tipo SF ou SL; 1 sonar de casco.
Código Internacional de Chamada: ?
Tripulação: 65 homens, sendo 5 oficiais e 60 praças.
Obs: Características da época da incorporação na MB.
H i s t ó r i c o
O Caça Submarino Graúna - G 8, ex-USS PC 561, foi o primeiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem a essa ave negra de nossa fauna. O Graúna foi construído pelo estaleiro Jeffersonville Boat and Machine Co., em Jeffersonville, IN. Foi lançado em 1º de maio de 1942 e incorporado a Marinha dos EUA em 11 de julho. Foi transferido e incorporado a MB em 30 de novembro de 1943 em cerimônia realizada em Miami, Florida. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente José Leite Soares Júnior.
O custo de aquisição dos Caça Submarinos dessa classe em 1942-43 era de US$ 1,7 milhões.
Em seu livro "A Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial", o Almirante Arthur Oscar Saldanha da Gama, descreve o serviço e a vida a bordo dos Caça-Submarino, carinhosamente chamado pelo pessoal da Armada de "Caça-Ferro", em artigo compilado da Revista do Clube Naval, n.º 252, de maio de 1978, de autoria do Almirante Rubens José Rodrigues de Mattos, intitulado "A Vida nos Caça-Ferro, durante a II Guerra Mundial".
Segue abaixo o depoimento transcrito da revista, conforme acima assinalado:
"Os navios menores, os do tipo SC, foram substituídos pelos PC’s, de 173 pés, casco de ferro, dos quais tivemos oito com nomes iniciados pela letra "G". Como os caças de 110 pés, estes foram projetados para patrulhas com bases nos portos; contudo, tanto na Marinha americana, como na nossa foram usados intensamente nos comboios. A prova máxima destes barcos de 173 pés consistia na escolta do comboio Recife-Trinidad (JT), principalmente na volta, aproado aos ventos alísios e o mar sempre cavado, em 11 a 13 dias de viagem.
Esses navios receberam o radar e tinham melhor tipo de sonar, maior raio de ação e melhores acomodações que os SC’s de madeira, mas eram, assim mesmo, muito deficientes. Eram navios para gente jovem, pois os mais velhos não poderiam resistir à dura vida de bordo. Podemos dizer, sem receio de errar, que os homens que tripulavam esses navios, se não eram, tornaram-se verdadeiros marinheiros.
Os da classe "G" eram melhor armados, havendo, entre eles algumas diferenças nas peças usadas, principalmente no canhão de 3 polegadas e nas metralhadoras de 20 mm, quando foram introduzidos os canhões automáticos de 40 mm. Todo armamento era de duplo uso, de superfície e antiaéreo, se bem que nunca foram disparados contra aviões (na MB) .
Em ambos os tipos, o ponto crítico estava na limitada velocidade máxima, muito próxima da de ataque anti-submarino de 15 nós. Contudo eram navios de fácil manobra, condição essencial para a sua função principal, isto é, combater submarinos imersos. Os "G’s" eram navios de 280 toneladas, dois motores de 2.880 com dois hélices, 60 toneladas de óleo diesel e 65 homens de tripulação.
Os caça submarinos eram empregados em todas as missões anti-submarinos, quer na patrulha, quer nas escoltas de comboios. Essas não eram, na realidade, missões empolgantes ou gloriosas, de curta duração, como acontecia com os avioes militares, os quais recebiam informes precisos, saindo as aeronaves para o ataque aos submarinos plotados. Voltavam esses pilotos às suas bases cheios de excitação, contando, com profusos gestos de mão, os detalhes do combate. A vida de um caça submarino no mar era, pelo contrário, monótona e cansativa, prolongando-se por dias seguidos, sem nada acontecer. A Vitória da missão estava, justamente, em nada de anormal haver no comboio, para os mercantes chegarem, com as suas valiosas carga, incólumes aos seus destinos.
A tripulação de um "caça-ferro" , tipo G, assim chamado para distinguir do "caça-pau" do tipo J, era de 60 homens fortes, moços e capazes, pois de outra forma não resistiriam àquela vida, dividida nos clássicos "quartos", "de serviço", "de retém", e "de folga", folga esta em que nada significava, porque no mar, em tempo de guerra, todos trabalhavam. Os Postos-de-Combate eram rapidamente guarnecidos nas emergências, que não eram poucas e sempre nas horas de maior perigo para o comboio, isto é, nos crepúsculos matutino e vespertino. Estes Postos, atendidos por todos, sem exceção, todos os dias, com mau e bom tempo, marcavam o início e o fim do dia; contudo à noite, por qualquer suspeita, poderiam haver ocorrências, para as quais seria soada, sem hesitação pelo Oficial de Quarto, a buzina de chamada geral. Por essa razão, os homens escolhidos para os caça-submarinos deveriam ser calmos e controlados, de forma a poder, receber chuva e vento frio na cara e voltar meia hora depois para retomar o sono e dormir, até que a buzina soasse novamente. Nos Postos-de-Combate, os homens compareciam, obrigatoriamente, vestindo os capacetes de aço e coletes salva vidas, espalhando-se pelo navio, fechando, na ordem prevista, as portas estanques, e guarnecendo seus postos no armamento, comunicações e máquinas. Em segundos estava o navio pronto, na sua mais alta eficiência, para o combate. Sem indisciplinas ou esmorecimentos, essa gente, vigilante e coesa, estava pronta para qualquer eventualidade; o endoutrinamento era de tal forma perfeito, que poucas ordens eram dadas, sendo unicamente ouvidos os ruídos normais dos aparelhos e a voz severa e serena do Comandante.
Ãs vezes, o tempo era bom, que minorava as condições de vida num caça-submarino que, de convés baixo e levando alta velocidade, obrigava homens aquecidos em seus beliches a se levantarem, já vestidos, e enfrentarem borrifos das ondas, quando atendiam em segundos, os seus postos. Em outras ocasiões, o tempo era mau: o vento soprava forte e o mar varria a proa a cada caturro do navio. A guarnição do canhão de proa era a que mais sofria; a onda invadia o barco, carregando tudo, a ponto de, por vezes, desaparecer no mar, como perdidas fossem, mas ao navio se levantar , rápido, lá estavam os homens, sem um protesto, inteiramente molhados, agarrados como podiam, sem contudo abandonarem seus postos e prontos para fazer o canhão despejar fogo contra o inimigo.
Malgrado toda essa provação e atenção permanente, a vida administrativa do navio continuava; havia a "parada", quando o Imediato distribuía o serviço para limpeza e conservação do material; alem do mais cozinhavam e comiam; quando havia ordem, recebiam meio balde de água para o banho, se bem que água era artigo de luxo e sempre apreciada e poupada. Também, não eram esquecidos os Postos de Incêndio, de Colisão e de Abandono. A cada homem cabia, no convés ou na máquina um incumbência específica, mantida sempre em boas condições.
Os caça submarinos eram navios excelentes: dificilmente os arquitetos navais poderiam fazer um barco tão completo e, ao mesmo tempo, tão compacto. Eram bem armados, com um canhão de duplo uso, de 76 mm na proa; a meio-navio havia instalado um canhão de duplo efeito de 40 mm Bofors, mesmo tipo daqueles fornecidos pelos EUA à URSS, durante a guerra. Além disso, possuía duas metralhadoras, de superfície e anti-aérea de 20 mm Oerlikon, e , no ataque anti-submarino, duas calhas duplas de doze foguetes, dois morteiros K de bombas de profundidade, em ambos os bordos e finalmente as calhas de bombas de profundidade na popa. As calhas de bombas apenas deixavam cair os petrechos, mas os morteiros em K podiam variar a distância, conforme a carga de projeção usada.
Os alojamentos eram confortáveis e com boa ventilação; cada homem dispunha de um beliche e um armário de alumínio, pequeno, mas muito prático. Por ante-à-ré do passadiço ficava a estação rádio bem aparelhada e, logo depois a praça d’armas, tudo no convés principal. A coberta do rancho da guarnição era localizada a ré, ao lado da cozinha, onde o fogão elétrico era o justo orgulho do cozinheiro, membro eficiente da metralhadora de BE. Dois eixos acoplados hidraulicamente aos motores principais davam ao navio, ao fim de 30 segundos, inicialmente a velocidade de 7 nós, indo depois até 18 nós. O fato de levar algum tempo para o acoplamento e arrancar já nos 7 nós, quando se dava a partida no forte motor diesel, pertubava os manobristas de renome, dificultando as atracações e outras manobras,. Era porém otimo navio no mar, apesar de baixo, e os seus dois lemes faziam o navio girar muito rapidamente, condição necessária à caça do insidioso inimigo, o submarino."
Fonte: "A Vida nos Caça-Ferro" - Almirante Rubens José Rodrigues de Mattos - Revista do Clube Naval, n.º 252, de maio de 1978
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