A queda de Paris no Hebreu Brasileiro
Mesmo com sete anos, eu tinha noção claríssima do que estava acontecendo: tinha família na Polônia, meus pais falavam todos os dias sobre o assunto e meu irmão, mais velho, me explicava tudo - onde estavam os alemães, onde estavam os russos. Os jornais davam muita notícia sobre a guerra, que também era trombeteada duas (ou seriam três?) vezes ao dia no rádio pelo Repórter Esso.
Cursei o ginásio no Hebreu Brasileiro, uma escola extremamente politizada e com professores em sua maioria de esquerda. Os alunos, especialmente mobilizados pela situação de seus familiares na Europa, traziam a efervescência política de suas casas. Por conta do racionamento faltavam gasolina, carne, leite e derivados e outros alimentos , as crianças decidiram, em 1943, criar na escola a Horta da Vitória, que era estimulada pela LBA-Legião Brasileira de Assistência. Por iniciativa do Moisés Veltman, que era uma espécie de alma e mola propulsora da minha turma, muito politizado aos onze anos de idade, começamos também a rodar no mimeógrafo da escola um combativo jornalzinho chamado GHB.
Tínhamos um professor de francês, Rodolfo Arditi, judeu de Marselha, de quem gostávamos muito. Era dia de aula dele quando os aliados entraram em Paris (25 de agosto de 1944) e a turma resolveu fazer-lhe uma homenagem: mal ele entrou na sala, começamos a cantar A Marselhesa. Foi emocionante. Nós cantávamos e ele chorava, nós chorávamos e ele cantava.
A notícia se espalhara com grande velocidade. Não havia tevê, mas o rádio era um fator de comunicação muito importante, ouvia-se a BBC em ondas curtas e, além de “testemunha ocular da História”, o Repórter Esso era também “o primeiro a dar as últimas”. A alegria pelo fim da guerra era tamanha que as pessoas se telefonavam para comentar a boa nova mesmo de madrugada. Para reforçar a comemoração, alguém descobriu que os primeiros acordes da 5a. Sinfonia de Beethoven correspondiam à letra V no código Morse, que se usava em telegrafia e era bastante conhecido. Aqueles acordes passaram a simbolizar a vitória dos aliados.
Eu, garoto, tinha a idéia de que afinal haveria paz, de que “agora, tudo vai ser bom”. Infelizmente, acabou a Segunda Guerra e começou a Guerra Fria.
Alberto Dines
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Muita bebida em Fiorenzuola D’Arda
Fui soldado voluntário do 1o Regimento de Infantaria, conhecido como Regimento Sampaio. Na tropa, sabia-se da existência dos campos de concentração, mas não tínhamos informação da matança de judeus nas proporções que assumiu. Depois de uma ofensiva contra os alemães a partir dos Apeninos, estávamos, no dia da rendição incondicional do Comando alemão, 9 de maio de 1945, no pequeno povoado de Fiorenzuola D’arda, perto de Milão. Àquela altura, a população italiana, exceto os fascistas, era toda contra os alemães e muito afetuosa com os brasileiros. Então alguém trouxe a notícia de que a guerra tinha acabado.
Eu havia combatido oito meses na linha de frente, tinha visto muitos companheiros mortos e feridos. Foi, portanto, uma sensação de alívio formidável saber que estávamos fora de perigo. Todos procuramos um bom vinho italiano, enchemos a cara e fizemos um carnaval. Fomos transportados para Gênova e seguimos de navio para Nápoles, onde ficamos acampados até 22 de agosto, quando embarcamos de volta em navios de transporte americanos.
No Rio, fomos recebidos por um milhão de pessoas que nos viram desfilar, fuzil na mão, pela Avenida Rio Branco. Já na Vila Militar, cada um recebeu baixa e uma passagem de navio. Com a passagem, voltei para Salvador, de onde sou natural.
Jacob Gorender
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Tiros na cara de Hitler
No dia 8 de maio de 1945, saí cedo de casa para a aula de piano.
Desde quando me lembro, a guerra fazia parte da minha vida. Eu não estava na guerra, mas a guerra estava em mim. Ela aparecia no choro constante da minha mãe, ou na fisionomia grave do meu pai, olhando fixo para o rádio, como se enxergasse as notícias através dele. Ao primeiro acorde do Repórter Esso, todos, inclusive as crianças, deviam estar em pétreo silêncio, até o fim do noticiário. Mesmo nas matinês de domingo, os cinemas exibiam documentários sobre o conflito, o que eu odiava, porque retardavam a exibição dos filmes.
No início de 1945, contudo, o clima estava mudando.
Nossa casa era mais ou menos o quartel general dos judeus progressistas de Madureira. À medida que os combates na Europa recrudesciam, as reuniões, quase que na mesma proporção, se sucediam no quartel. Creio que foi no dia em que os soviéticos entraram em Berlim que nosso sobrado se transformou num campo de batalha e festa. Meu pai havia comprado algumas bebidas, minha mãe preparara uns petiscos. Naquela noite, um a um, foram chegando os habituais companheiros do meu pai, Aron Sapir, Júlio Braz, Adam Rozen, Finkielstein, José Gorenstein, Morgenstern, Feldon, e outros que já não lembro. Estavam todos muito alegres.
A horas tantas, alguém desenhou com giz a cara do Hitler na porta do barracão onde eram guardadas as tralhas da casa e meu pai, com uma pistola lembrança dos tempos em que servira o exército na Polônia, foi o primeiro, seguido pelos outros, a dar os tiros que matariam implacavelmente o monstro nazista. Estava consumada a catarse!
Naquele 8 de maio, quando saí da casa da professora, muita gente circulava, apressada ou correndo, numa área geralmente quase deserta. Em algum lugar soltavam fogos. Nas casas, com as janelas abertas, os rádios tocavam música ou falavam em alto volume.
Intuindo que alguma coisa maravilhosa estava acontecendo, parei diante de uma janela para tentar descobrir a razão daquele rebuliço, daquela euforia coletiva, de tamanha explosão de alegria, quando distingui a voz do locutor, aos gritos: “A guerra acabou!”
Senti o coração quase parar.
Eu estava com nove anos, mas tinha plena consciência do que isso significava. Era o fim do fantasma. Era a minha paz. Trêmula, o coração aos pulos, saltando pela boca, corri o mais rápido que podia, querendo ter asas para vencer a interminável distância que me separava de casa. Subi os degraus de dois em dois, até alcançar o salão. O rádio tocava a Marselhesa. Eu não podia falar. Pela emoção e pelo cansaço da corrida. Quando me viu, meu pai, o austero Max, chorando, me pegou no colo e rodopiou comigo, como se fosse uma valsa vienense.
Nunca fui tão feliz!
Clara Goldfarb
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Carlos Frias e quatro ouvintes
Berlim foi conquistada pelo Exército Vermelho da União Soviética. As últimas matilhas nazistas foram esmagadas. Iossl e Fêiguele, meus pais, choravam. Eu e Gustavo, meu irmão, também. O rádio Philco, e o famoso olho, ligados.
De repente, Carlos Frias entrou no ar e, com seu maravilhoso vozeirão, bradou: “Terminou a guerra! Vitória soviética em Berlim!”
Papai pegou o rádio e o colocou na sacada aberta para a Rua Marechal Floriano, ex-Rua Larga, para dar a boa nova ao povo. O volume, no máximo. Parecia que ele, com seu rádio, queria chegar até as gloriosas tropas soviéticas. “Derrotadas as hordas nazistas! Hitler, não mais! Paz! Viva a paz!
Enquanto Frias dava vazão à sua alegria, fui até a sacada olhar a rua. Nenhuma aglomeração... A rua estava deserta...
Carlos Frias foi o primeiro locutor no Brasil a anunciar o fim da Segunda Guerra Mundial.
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Moysés Ajchenblat
Fim esperado
O dia da declaração do final da guerra não foi uma surpresa. Depois de mais de cinco anos de pesadelo, esse final já era esperado pelos acontecimentos anteriores denotando o enfraquecimento da Alemanha e as várias conquistas dos aliados, tanto do lado da Rússia como do lado ocidental.
Tínhamos o rádio ligado praticamente o tempo todo e, embora estivéssemos a salvo aqui no Brasil, os horrores do conflito também nos faziam sofrer. Não eram sempre aceitáveis as estratégias dos aliados e nos causavam muita perplexidade medidas como o lançamento da bomba atômica ou os grandes bombardeios, embora nos dando conta de que eram inevitáveis face aos selvagens bombardeios do inimigo. Lembro-me do suspiro de alívio quando ouvimos pelo rádio a rendição, mas, como disse, já era esperada.
José Mindlin
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Festa na charrete
Estávamos reunidos em Curitiba, na casa de amigos dos meus pais, comemorando o aniversário de sete anos de sua filha e minha amiga Berta. Eu tinha quase sete.
Meus pais e seus amigos eram todos imigrantes da Polônia e acompanhavam o desenrolar da guerra com apreensão, pois todos tinham algum parente por lá.
Ao entardecer, quando estávamos cantando os parabéns, chegou a notícia de que a guerra havia terminado. Corremos todos para fora. Aos poucos a rua foi se enchendo com as pessoas que saíam de suas casas para festejar a boa nova.
Telefonei recentemente para Berta para ver se esta lembrança era real, e ela ainda me disse que depois ganhamos um passeio na charrete de seu pai.
Algum tempo depois, não me recordo quanto, fomos todos à estação ferroviária festejar a volta dos pracinhas que haviam lutado na Itália.
Gitel (Guita)
Arszyn Bucaresky
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Suspensão das aulas no Pedro II
Em altos brados, Severo, o enfermeiro do Colégio Pedro II – Internato, acordou os alunos, que dormiam serenamente. Eram 5 horas da manhã – a sineta tocava normalmente às 5h30. Os alunos que acordavam iam chamando os outros colegas. Ainda cambaleando de sono, começamos a farra, pois com a severa disciplina do Internato, qualquer chance extra que aparecesse era uma explosão de bagunça.
Os quatro dormitórios se situavam no quarto e último andar do velho casarão de São Cristóvão. Eram salões amplos, onde dormiam cem alunos em cada um. Cada aluno era responsável pela sua cama. Ainda sem lavar o rosto, todos descemos as escadarias em direção do refeitório e do pátio de recreio, a fim de entender o que estava acontecendo.
O diretor liberou os alunos por dois dias para que o término da guerra fosse comemorado com os familiares.
Pedro Bucaresky
Fonte: http://www.asa.org.br/boletim/94/depoimentos.htm
Mesmo com sete anos, eu tinha noção claríssima do que estava acontecendo: tinha família na Polônia, meus pais falavam todos os dias sobre o assunto e meu irmão, mais velho, me explicava tudo - onde estavam os alemães, onde estavam os russos. Os jornais davam muita notícia sobre a guerra, que também era trombeteada duas (ou seriam três?) vezes ao dia no rádio pelo Repórter Esso.
Cursei o ginásio no Hebreu Brasileiro, uma escola extremamente politizada e com professores em sua maioria de esquerda. Os alunos, especialmente mobilizados pela situação de seus familiares na Europa, traziam a efervescência política de suas casas. Por conta do racionamento faltavam gasolina, carne, leite e derivados e outros alimentos , as crianças decidiram, em 1943, criar na escola a Horta da Vitória, que era estimulada pela LBA-Legião Brasileira de Assistência. Por iniciativa do Moisés Veltman, que era uma espécie de alma e mola propulsora da minha turma, muito politizado aos onze anos de idade, começamos também a rodar no mimeógrafo da escola um combativo jornalzinho chamado GHB.
Tínhamos um professor de francês, Rodolfo Arditi, judeu de Marselha, de quem gostávamos muito. Era dia de aula dele quando os aliados entraram em Paris (25 de agosto de 1944) e a turma resolveu fazer-lhe uma homenagem: mal ele entrou na sala, começamos a cantar A Marselhesa. Foi emocionante. Nós cantávamos e ele chorava, nós chorávamos e ele cantava.
A notícia se espalhara com grande velocidade. Não havia tevê, mas o rádio era um fator de comunicação muito importante, ouvia-se a BBC em ondas curtas e, além de “testemunha ocular da História”, o Repórter Esso era também “o primeiro a dar as últimas”. A alegria pelo fim da guerra era tamanha que as pessoas se telefonavam para comentar a boa nova mesmo de madrugada. Para reforçar a comemoração, alguém descobriu que os primeiros acordes da 5a. Sinfonia de Beethoven correspondiam à letra V no código Morse, que se usava em telegrafia e era bastante conhecido. Aqueles acordes passaram a simbolizar a vitória dos aliados.
Eu, garoto, tinha a idéia de que afinal haveria paz, de que “agora, tudo vai ser bom”. Infelizmente, acabou a Segunda Guerra e começou a Guerra Fria.
Alberto Dines
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Muita bebida em Fiorenzuola D’Arda
Fui soldado voluntário do 1o Regimento de Infantaria, conhecido como Regimento Sampaio. Na tropa, sabia-se da existência dos campos de concentração, mas não tínhamos informação da matança de judeus nas proporções que assumiu. Depois de uma ofensiva contra os alemães a partir dos Apeninos, estávamos, no dia da rendição incondicional do Comando alemão, 9 de maio de 1945, no pequeno povoado de Fiorenzuola D’arda, perto de Milão. Àquela altura, a população italiana, exceto os fascistas, era toda contra os alemães e muito afetuosa com os brasileiros. Então alguém trouxe a notícia de que a guerra tinha acabado.
Eu havia combatido oito meses na linha de frente, tinha visto muitos companheiros mortos e feridos. Foi, portanto, uma sensação de alívio formidável saber que estávamos fora de perigo. Todos procuramos um bom vinho italiano, enchemos a cara e fizemos um carnaval. Fomos transportados para Gênova e seguimos de navio para Nápoles, onde ficamos acampados até 22 de agosto, quando embarcamos de volta em navios de transporte americanos.
No Rio, fomos recebidos por um milhão de pessoas que nos viram desfilar, fuzil na mão, pela Avenida Rio Branco. Já na Vila Militar, cada um recebeu baixa e uma passagem de navio. Com a passagem, voltei para Salvador, de onde sou natural.
Jacob Gorender
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Tiros na cara de Hitler
No dia 8 de maio de 1945, saí cedo de casa para a aula de piano.
Desde quando me lembro, a guerra fazia parte da minha vida. Eu não estava na guerra, mas a guerra estava em mim. Ela aparecia no choro constante da minha mãe, ou na fisionomia grave do meu pai, olhando fixo para o rádio, como se enxergasse as notícias através dele. Ao primeiro acorde do Repórter Esso, todos, inclusive as crianças, deviam estar em pétreo silêncio, até o fim do noticiário. Mesmo nas matinês de domingo, os cinemas exibiam documentários sobre o conflito, o que eu odiava, porque retardavam a exibição dos filmes.
No início de 1945, contudo, o clima estava mudando.
Nossa casa era mais ou menos o quartel general dos judeus progressistas de Madureira. À medida que os combates na Europa recrudesciam, as reuniões, quase que na mesma proporção, se sucediam no quartel. Creio que foi no dia em que os soviéticos entraram em Berlim que nosso sobrado se transformou num campo de batalha e festa. Meu pai havia comprado algumas bebidas, minha mãe preparara uns petiscos. Naquela noite, um a um, foram chegando os habituais companheiros do meu pai, Aron Sapir, Júlio Braz, Adam Rozen, Finkielstein, José Gorenstein, Morgenstern, Feldon, e outros que já não lembro. Estavam todos muito alegres.
A horas tantas, alguém desenhou com giz a cara do Hitler na porta do barracão onde eram guardadas as tralhas da casa e meu pai, com uma pistola lembrança dos tempos em que servira o exército na Polônia, foi o primeiro, seguido pelos outros, a dar os tiros que matariam implacavelmente o monstro nazista. Estava consumada a catarse!
Naquele 8 de maio, quando saí da casa da professora, muita gente circulava, apressada ou correndo, numa área geralmente quase deserta. Em algum lugar soltavam fogos. Nas casas, com as janelas abertas, os rádios tocavam música ou falavam em alto volume.
Intuindo que alguma coisa maravilhosa estava acontecendo, parei diante de uma janela para tentar descobrir a razão daquele rebuliço, daquela euforia coletiva, de tamanha explosão de alegria, quando distingui a voz do locutor, aos gritos: “A guerra acabou!”
Senti o coração quase parar.
Eu estava com nove anos, mas tinha plena consciência do que isso significava. Era o fim do fantasma. Era a minha paz. Trêmula, o coração aos pulos, saltando pela boca, corri o mais rápido que podia, querendo ter asas para vencer a interminável distância que me separava de casa. Subi os degraus de dois em dois, até alcançar o salão. O rádio tocava a Marselhesa. Eu não podia falar. Pela emoção e pelo cansaço da corrida. Quando me viu, meu pai, o austero Max, chorando, me pegou no colo e rodopiou comigo, como se fosse uma valsa vienense.
Nunca fui tão feliz!
Clara Goldfarb
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Carlos Frias e quatro ouvintes
Berlim foi conquistada pelo Exército Vermelho da União Soviética. As últimas matilhas nazistas foram esmagadas. Iossl e Fêiguele, meus pais, choravam. Eu e Gustavo, meu irmão, também. O rádio Philco, e o famoso olho, ligados.
De repente, Carlos Frias entrou no ar e, com seu maravilhoso vozeirão, bradou: “Terminou a guerra! Vitória soviética em Berlim!”
Papai pegou o rádio e o colocou na sacada aberta para a Rua Marechal Floriano, ex-Rua Larga, para dar a boa nova ao povo. O volume, no máximo. Parecia que ele, com seu rádio, queria chegar até as gloriosas tropas soviéticas. “Derrotadas as hordas nazistas! Hitler, não mais! Paz! Viva a paz!
Enquanto Frias dava vazão à sua alegria, fui até a sacada olhar a rua. Nenhuma aglomeração... A rua estava deserta...
Carlos Frias foi o primeiro locutor no Brasil a anunciar o fim da Segunda Guerra Mundial.
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Moysés Ajchenblat
Fim esperado
O dia da declaração do final da guerra não foi uma surpresa. Depois de mais de cinco anos de pesadelo, esse final já era esperado pelos acontecimentos anteriores denotando o enfraquecimento da Alemanha e as várias conquistas dos aliados, tanto do lado da Rússia como do lado ocidental.
Tínhamos o rádio ligado praticamente o tempo todo e, embora estivéssemos a salvo aqui no Brasil, os horrores do conflito também nos faziam sofrer. Não eram sempre aceitáveis as estratégias dos aliados e nos causavam muita perplexidade medidas como o lançamento da bomba atômica ou os grandes bombardeios, embora nos dando conta de que eram inevitáveis face aos selvagens bombardeios do inimigo. Lembro-me do suspiro de alívio quando ouvimos pelo rádio a rendição, mas, como disse, já era esperada.
José Mindlin
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Festa na charrete
Estávamos reunidos em Curitiba, na casa de amigos dos meus pais, comemorando o aniversário de sete anos de sua filha e minha amiga Berta. Eu tinha quase sete.
Meus pais e seus amigos eram todos imigrantes da Polônia e acompanhavam o desenrolar da guerra com apreensão, pois todos tinham algum parente por lá.
Ao entardecer, quando estávamos cantando os parabéns, chegou a notícia de que a guerra havia terminado. Corremos todos para fora. Aos poucos a rua foi se enchendo com as pessoas que saíam de suas casas para festejar a boa nova.
Telefonei recentemente para Berta para ver se esta lembrança era real, e ela ainda me disse que depois ganhamos um passeio na charrete de seu pai.
Algum tempo depois, não me recordo quanto, fomos todos à estação ferroviária festejar a volta dos pracinhas que haviam lutado na Itália.
Gitel (Guita)
Arszyn Bucaresky
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Suspensão das aulas no Pedro II
Em altos brados, Severo, o enfermeiro do Colégio Pedro II – Internato, acordou os alunos, que dormiam serenamente. Eram 5 horas da manhã – a sineta tocava normalmente às 5h30. Os alunos que acordavam iam chamando os outros colegas. Ainda cambaleando de sono, começamos a farra, pois com a severa disciplina do Internato, qualquer chance extra que aparecesse era uma explosão de bagunça.
Os quatro dormitórios se situavam no quarto e último andar do velho casarão de São Cristóvão. Eram salões amplos, onde dormiam cem alunos em cada um. Cada aluno era responsável pela sua cama. Ainda sem lavar o rosto, todos descemos as escadarias em direção do refeitório e do pátio de recreio, a fim de entender o que estava acontecendo.
O diretor liberou os alunos por dois dias para que o término da guerra fosse comemorado com os familiares.
Pedro Bucaresky
Fonte: http://www.asa.org.br/boletim/94/depoimentos.htm
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