segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Adam Czerniakow, presidente do Juderant no Gueto de Vársovia e exigência de dinheiro pelos alemães

Adam Czerniakow, "Presidente do Conselho Judeu de Varsóvia", em conversa com um oficial da Luftwaffe

Czerniakow nasceu em Varsóvia, em 1880, numa familia judaica assimilada. Após concluir seus estudos de Química na Politécnica de Varsóvia, continuou estudando Engenharia Industrial em Dresden, na Alemanha. Retornando a Varsóvia, casou e constituiu familia, mas não trabalhou em sua profissão. Em vez disso, tornou-se professor no ginásio técnico, chefiou a organização dos artesão judeus e ocupou um cargo numa empresa publica. Foi tambem membro do governo municipal de Varsóvia, membro ativo em associações judaicas, candidato ao Senado e membro da junta de diretores da Comunidade Judaica de Varsóvia.

Um lider sionista descreveu-o como "um homem dotado, destituído de quaisquer ideais políticos ou publicos, mas um homem decente". Czerniakow era ambicioso, com talento que só revelaram quando viu o momento certo de assumir um papel de liderança. Não foi membro de qualquer partido judeu, nem se identificava com qualquer dos movimentos políticos ou sócio-religiosos dominantes, muito embora, a certa altura, ele tivesse apoiado o bloco minoritário e se aproximado dos não-sionistas na Agencia Judaica.

Czerniakow era um firme patriota polones, completamente à vontade na cultura polonesa e europeia. Estava afastado, quase alheio, no que tange à vida, cultura e historia do povo judeu. Assimilacionista, esteve publicamente ativo no setor judaico, mas permaneceu outsider. Segundo um relato, "até ser nomeado ninguém ouvira falar dele". Mesmo seus inimigos diziam que era um homem decente, com boas intenções e elevados padrões morais, mas talvez fosse decente demais numa época que exigia muito mais do que decência e moralidade para que se dirigisse o povo judeu.

Czerniakow era um liberal em suas opiniões e em seu mundo interior; era sensível em relação às pessoas e à vida, introvertido e isolado, amante de livros e autor secreto de poesias, mas com pouca compreensão  das massas. Na presidência do Judenrat, ele pode ter ansiado pelos alemães pelos alemães que havia conhecido em Dresden -  gente honesta e atenciosa, com um senso de lei e de ordem, em cujas promessas se podia crer.

Como presidente do Judenrat, no entanto, a policia, a Gestapo e os funcionários nazistas com os quais se deparou eram de uma estirpe bem diferente. Quando ocasionalmente encontrava uma resposta humana, ficava momentaneamente aliviado, mas em geral conviveu com a amargura e o desapontamento até seu triste fim. calvo e corpulento, foi insultado e fisicamente agredido. Ainda assim insistia em manter uma atitude cortes. Não ia se submeter ou se humilhar. Uns dois meses antes de sua trágica morte, escreveu no seu diário: "Será que eu tenho a forças para manter um nível de comportamento decente?" Sua preocupação em manter sua dignidade ao lidar com os alemães era estranha para a maioria dos judeus ao seu redor, mas nele era característica.
Diario de Adam Czerniakow
Seu estado de espírito é clara e impressionantemente refletido na anotação no seu diário, de 26 de janeiro de 1940:

"Fui convocado à policia [Tenente-Coronel Daume]. A comunidade vai ter de pagar 100.000 zlotys por ter agredido uma alemã étnica [ Volksdeutschin] ou então 100 judeus serão fuzilados. Apelei à Gestapo  para nos dispensar desse pagamento, e depois eles admitiram que eu não precisaria fornecer trabalhadores para retirar neve, de modo que poderíamos poupar algum dinheiro. Não em nada. Vamos ter de pagar pontualmente amanhã de manhã. Sendo essa a situação, comecei a recolher dinheiro na comunidade. Preciso tomar emprestado 100.000 e depois cobrar dos que devem impostos. Ao mesmo tempo, a policia está exigindo 6.100 zlotys por 61 judeus e judias que foram pegos sem a faixa com a Estrela de davi em suas mangas. Diante desses eventos pedi à SS que me liberasse do meu cargo de chefia [do Judenrat], pois em condições tão anormais não posso dirigir a comunidade. Em resposta...aconselharam-me a não renunciar."

Fonte: GUTMAN, Israel - Resistência. Ed. Imago, 1995, pg 62-63.
Transcrito por: Daniel Moratori - avidanofront.blogspot.com

2 comentários:

  1. Daniel, eu ia fazer esse comentário na comunidade(justamente no tópico com esse post), mas segue aqui. Esse nome "Juderant" consta como tradução(pro português) pra Judenrat? Comento isso porque só achei essa palavra como tradução de Judenrat pro inglês e mesmo assim com poucas referências já que a maioria dos textos sobre isso costumam usar o nome no alemão mesmo, Judenrat.

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  2. Judenrat é mais uma soma de duas palavras em alemão, o que daria algo como "Conselho(ou câmara) Judeu". Só desmembrar a palavra e verá: Juden + rat.
    Mas o mais comumente usado é Judenrat mesmo, pois o termo em si era usado em paises com linguas diferentes do alemão.

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