O jornalista soviético Boris Voyetekhov relata a face da guerra na cidade-fortaleza, durante os últimos dias do cerco alemão :
A noite caía rapidamente quando nosso destróier se aproximava da arruinada Sebastopol. O Farol de Kherson irradiava seus primeiros sinais luminosos. Era a única luz que não estava camuflada de modo permanente. Mal tinha começado a cumprir sua abnegada missão quando os seus flancos se iluminaram também, mas com os estampidos das granadas.
Os nossos marinheiros sabiam que o acolhimento daquela luz familiar não os convidava ao repouso nem ao calor de um lar feliz. Aquele resplendor hesitante dizia: "Em breve atravessareis os umbrais das nossas casas destruídas. Em breve vereis o que os alemães fizeram da nossa cidade."
Diminuímos a velocidade e iniciamos a travessia do canal pelo dédalo dos campos de minas. No começo da ofensiva, os alemães haviam minado o porto cheio de barcos. Mas os marinheiros russos tinham-se atirado à água, empurrando as minas flutuantes até a margem. Muitos morreram, despedaçados pela explosão das minas, para abrir uma passagem que permitisse aos nossos navios sair de Sebastopol e voltar carregados de munições destinadas aos seus defensores.
Quando por fim chegamos ao porto interior, vimos Sebastopol envolta em chamas e fumaça dos incêndios provocados pelos projéteis inimigos. O punhal nazista ameaçava a garganta da desditosa cidade. Em cima, no céu, centenas de projetores, russos e alemães, cruzavam num duelo aéreo as suas luzes, semelhantes a espadas de prata. As balas teciam os seus fios mortíferos. A superfície aprazível da baía refletia o inferno que se desencadeava ao longo das duas margens. À esquerda do cais em que atracamos, quartéis e depósitos pegavam fogo. Enquanto observava o espetáculo, vi desmoronar-se lentamente, sobre o mar, a única parte de um edifício que estivera até então de pé.
- Temos sorte, a noite está tranqüila - disse o nosso capitão.
- O senhor chama isso de tranqüilidade?! Que acontece quando não há?
- Amanhã de manhã terá a resposta - replicou.
O desembarque dos homens e das munições, bem como o carregamento do destróier com feridos e evacuados, realizou-se de forma incrivelmente rápida. Eu tinha ainda alguns assuntos a resolver no almirantado; um comissário de bordo levou-me até lá.
A entrada para o posto de comando do Estado-Maior da Marinha, centro nevrálgico da defesa de Sebastopol, era um túnel perfurado nos rochedos. Dentro, galerias estreitas conduziam ao coração da rocha. O débil resplendor das lâmpadas elétricas mal ajudava a caminhar, quase às cegas, na penumbra. Dos corredores o olhar penetrava, através de numerosas portas, em pequenos quartos onde gente ativa vivia e trabalhava, com os nervos à flor da pele. Ouviam-se breves trechos de conversas telefônicas, o matraquear das máquinas de escrever, os gritos dos feridos, entremeados com as respostas secas dos oficiais de serviço e o ruidoso ressonar dos que dormiam.
A noite caía rapidamente quando nosso destróier se aproximava da arruinada Sebastopol. O Farol de Kherson irradiava seus primeiros sinais luminosos. Era a única luz que não estava camuflada de modo permanente. Mal tinha começado a cumprir sua abnegada missão quando os seus flancos se iluminaram também, mas com os estampidos das granadas.
Os nossos marinheiros sabiam que o acolhimento daquela luz familiar não os convidava ao repouso nem ao calor de um lar feliz. Aquele resplendor hesitante dizia: "Em breve atravessareis os umbrais das nossas casas destruídas. Em breve vereis o que os alemães fizeram da nossa cidade."
Diminuímos a velocidade e iniciamos a travessia do canal pelo dédalo dos campos de minas. No começo da ofensiva, os alemães haviam minado o porto cheio de barcos. Mas os marinheiros russos tinham-se atirado à água, empurrando as minas flutuantes até a margem. Muitos morreram, despedaçados pela explosão das minas, para abrir uma passagem que permitisse aos nossos navios sair de Sebastopol e voltar carregados de munições destinadas aos seus defensores.
Quando por fim chegamos ao porto interior, vimos Sebastopol envolta em chamas e fumaça dos incêndios provocados pelos projéteis inimigos. O punhal nazista ameaçava a garganta da desditosa cidade. Em cima, no céu, centenas de projetores, russos e alemães, cruzavam num duelo aéreo as suas luzes, semelhantes a espadas de prata. As balas teciam os seus fios mortíferos. A superfície aprazível da baía refletia o inferno que se desencadeava ao longo das duas margens. À esquerda do cais em que atracamos, quartéis e depósitos pegavam fogo. Enquanto observava o espetáculo, vi desmoronar-se lentamente, sobre o mar, a única parte de um edifício que estivera até então de pé.
- Temos sorte, a noite está tranqüila - disse o nosso capitão.
- O senhor chama isso de tranqüilidade?! Que acontece quando não há?
- Amanhã de manhã terá a resposta - replicou.
O desembarque dos homens e das munições, bem como o carregamento do destróier com feridos e evacuados, realizou-se de forma incrivelmente rápida. Eu tinha ainda alguns assuntos a resolver no almirantado; um comissário de bordo levou-me até lá.
A entrada para o posto de comando do Estado-Maior da Marinha, centro nevrálgico da defesa de Sebastopol, era um túnel perfurado nos rochedos. Dentro, galerias estreitas conduziam ao coração da rocha. O débil resplendor das lâmpadas elétricas mal ajudava a caminhar, quase às cegas, na penumbra. Dos corredores o olhar penetrava, através de numerosas portas, em pequenos quartos onde gente ativa vivia e trabalhava, com os nervos à flor da pele. Ouviam-se breves trechos de conversas telefônicas, o matraquear das máquinas de escrever, os gritos dos feridos, entremeados com as respostas secas dos oficiais de serviço e o ruidoso ressonar dos que dormiam.
Prisioneiros sendo feitos pelos alemães
Os aparelhos de rádio ditavam mensagens urgentes; escutei alguns fragmentos ao passar: "Grupo de projetores O-24: ilumine a entrada da baía para um transporte que entra. Mulheres e crianças retiradas do transporte afundado são recolhidas pelos navios de guerra. Os alemães atiram sobre o porto. Dêem instruções à 35ª Bateria para bombardear os alemães."
Estes compartimentos subterrâneos estavam providos, nos pontos mais profundos da rocha, de condutos de água potável, esgotos, um restaurante, um salão de cabeleireiro e muitas outras instalações. Mas o ar rareava e, quando os ventiladores avariavam, a respiração tornava-se difícil. Havia muitas mulheres entre o pessoal; assistir ao seu corajoso trabalho era um trágico espetáculo. Os seus olhos claros estavam cheios de olheiras e injetados de sangue. Respiravam penosamente diante dos telefones ou das máquinas de escrever. De vez em quando, revezando-se, tomavam nos braços os filhos adormecidos e suados e subiam às trincheiras exteriores para aspirar profundamente o ar do mar. Mas estes momentos de descanso eram escassos e interrompidos freqüentemente pelos shrapnels ou pelas bombas.
Sob a terra, todas as vozes, todos os sons, eram abafados pelo ruído espantoso das explosões na superfície. O bombardeio (que recomeçava todos os dias precisamente ao amanhecer) era tão intenso que, em alguns locais, abrira fendas na rocha. Parecia que, de um instante para outro, aqueles corredores, aqueles quartos, aqueles refúgios mal instalados, iam desfazer-se, sepultando tantas pessoas que ali trabalhavam sem repouso.
Durante os quatro dias seguintes não abandonei o subterrâneo e nada vi do que acontecia no exterior. Mas um oficial - que saíra no cumprimento de ordens recebidas - descreveu-me horrorizado o aniquilamento da cidade.
- Já não existe Sebastopol. As casas já não têm telhados e as ruas estão bloqueadas por montões de escombros.
Efetivamente não havia um só lugar que não estivesse ameaçado pelas bombas, as ruínas terrestres ou os projéteis. Tudo aquilo que se movia - trenós, automóveis ou motocicletas - era perseguido e atacado. As esquadrilhas inimigas descobriam as mulheres e as crianças que, perto da margem, ao abrigo das rochas, esperavam ser evacuadas: potentes explosivos os enterravam sob as ruínas.
Todos os dias os mergulhadores informavam ao almirantado o material recuperado no fundo do porto. Estes especialistas dos mistérios submarinos realizavam incursões noturnas e, rebuscando entre toda a espécie de restos e cadáveres, carregavam os recipientes que levavam com as bombas e os projéteis que não tinham chegado a explodir.
O comissário era insaciável. Folheava as listas do material recuperado nos barcos afundados e perguntava constantemente:
- Onde estão esses seis motores de aviação? Onde estão as ataduras, o algodão e os remédios? Que fazem vocês debaixo da água?! Será que jogam xadrez com os mortos?!
- Exatamente - retorquiu o chefe dos mergulhadores - E o senhor faria muito bem se fosse dar uma volta por lá, para compreender que é impossível trazer esses motores para a superfície. Estão no porão, cobertos por montões de cavalos mortos. Quanto aos medicamentos... - hesitava - Não! Não é possível chegar até lá.
- Por quê?
- Olhe: há mais de trinta anos que sou mergulhador; tenho visto coisas que fizeram perder a cabeça aos que trabalhavam comigo. Mas, entrar naquela cabina, onde mal a porta se abre, há cadáveres de crianças que chocam conosco... não! Não posso fazer isso.
- Bem! - replica o comissário - Quer dizer: você prefere deixar morrer as outras crianças por falta de remédios e alimentos!
Estas discussões terminavam sempre da mesma maneira: os mergulhadores voltavam ao fundo do mar. No dia seguinte, pela manhã, levavam os motores de avião para o aeródromo; as ataduras secavam ao sol e, no céu de Sebastopol, os projéteis recuperados voavam contra o inimigo.
Noite após noite, os nossos barcos penetravam no porto, trazendo reforços, víveres e munições e evacuando as mulheres e as crianças. Os alemães iluminavam com seus foguetes e projetores os pontos de atracagem e nos bombardeavam sem piedade. O espetáculo era indescritível: os depósitos de petróleo voavam pelos ares; os cunhetes de munição explodiam; caminhões transbordando atravessavam a toda a velocidade as chamas e a fumaça, enquanto os soldados de engenharia se esforçavam por dominar os incêndios.
Uniam-se os esforços de todos para manter incessantemente o ritmo formidável de carga e descarga. Era preciso andar depressa, sempre mais depressa. Era preciso que, ao amanhecer, todos os barcos estivessem no mar alto. Como o que estava em jogo tinha muita importância os meios empregados revestiam-se de extrema dureza. Entre os trabalhadores do cais havia certo número de condenados. Um deles reunira um grupo de descontentes que atrasavam o trabalho. Um oficial de transmissões aproximou-se do cabeça e gritou-lhe:
- Abre a boca e diz: Ah!
E imediatamente disparou sobre ele um tiro de revólver. Os seus dentes voaram, misturados com sangue e pedaços de cérebro. Depois, voltando-se para os outros, o oficial disse:
- O que eu quero é um bom rendimento.
Quando, por fim, ganhei a coragem suficiente para sair em pleno dia do refúgio subterrâneo do almirantado, senti-me desfalecer perante o panorama gigantesco e espantoso que se estendia ante os meus olhos. Barcos meio submersos, dos quais se via sobressair a popa ou a proa, retinham ainda, colhidos na armadilha, o seu carregamento de infelizes fugitivos. Uma escuna, carregada até à borda, jazia sobre o costado, apontando para a margem os seus mastros inclinados sobre a água, como um homem que se afoga e estende os braços pedindo auxílio.
Os habitantes das casas mais próximas do mar procuravam geralmente abrigo entre esses cascos, durante as incursões aéreas. Acreditavam ingenuamente que as bombas não caem duas vezes no mesmo lugar. Enganavam-se porque os alemães bombardeavam também os destroços.
Na cidade não havia tempo para enterrar os mortos. Eram cobertos com uma fina camada de terra. Num túmulo onde jazia um avião avariado, li estas palavras escritas num pedaço de hélice: "Também vós, os mortos, tendes que deixar um espaço livre nas vossas tumbas! Apertai-vos uns contra os outros, velhos soldados! Um recém-vindo se junta agora a vós para demonstrar seu amor ao combate. Acolhei-o nos vossos túmulos, era um valente."
Porto de Sebastopol destruido
Os alemães, que procuravam localizar certos depósitos de petróleo, tinham devastado completamente um cemitério. Os restos dos mortos da guerra da Criméia estavam espalhados e as suas cinzas impregnadas de sangue fresco. Por trás do cemitério estendia-se uma zona tão duramente bombardeada que era impossível saber onde antes tinham existido casas ou ruas. Ali, nas crateras cheias de água sanguinolenta, flutuavam mãos, membros, troncos de crianças.
Fiquei assombrado ao ver nestes espantosos lugares uma mulher jovem, modestamente vestida, que, com o passo prudente e seguro, abria caminho através das ruínas levando nos braços um ramo de flores frescas. Andava pelas ruas bombardeadas com a cabeça erguida, sem pestanejar. Contaram-me que todos os dias atravessava a Sebastopol em ruínas para ir ao cemitério colocar flores sobre a campa do seu marido, herói anônimo morto durante a defesa da cidade. Recomendava-se a ela que se juntasse aos evacuados, mas repelia a sugestão dizendo: "Permanecerei no lugar onde repousa o meu marido." Os combatentes sentiam orgulho por ela, orgulho pela sua firmeza, orgulho por verem que permanecia ao seu lado essa russa silenciosa e modesta, cujo amor era tão belo e resplandecente.
As fotografias tiradas por aviões de reconhecimento proporcionavam ao comando alemão a prova indiscutível de que Sebastopol deixara de existir. Dissera-se aos soldados que, decorridos dois dias no máximo, tomariam banho na baía e que, em seguida, teriam uma longa licença.
Apesar disso, Sebastopol continuava vivendo. Fervendo de ódio e energia, roía a terra, mordendo-a com as suas gengivas sangrentas. Privada da vida ao ar livre, Sebastopol continuava existindo e lutando nas covas, nas pedreiras abandonadas, nos refúgios improvisados.
Nada mais exemplificativo desta situação do que a fábrica subterrânea que eu visitei. Ali, a barafunda era incrível. O imenso porão estava dividido em compartimentos por pesados tabiques metálicos, atrás dos quais centenas de tornos zumbiam. Um motor de trator, rugindo e fumegando, servia de gerador. Quando o motor parava, as luzes se apagavam: instantaneamente todos os operários acendiam um cigarro e centenas de fracas luzinhas brilhavam na escuridão. Tinham combinado que só fumariam quando o trabalho fosse interrompido por falta de corrente.
O morteiro THOR de 600mm em bombardeia a cidade
As máquinas funcionavam 24 horas por dia. Todas as pessoas trabalhavam. Defronte de mim, uma mulher já idosa permanecia em frente de uma máquina de imprimir. Faltava-lhe a mão direita. A onda explosiva de uma bomba a tinha arrancado. Ao sair do hospital, não permitira que a evacuassem. Ao seu lado, uma mulher nova e bonita dava de mamar a um bebê, vigiando ao mesmo tempo uma máquina perfuradora. Às vezes distraía seus camaradas cantando uma canção de embalar.
Em beliches de três andares, colocados ao longo das paredes, dormiam operários dos grupos que tinham sido rendidos, amontoados entre os seus objetos pessoais e as bagagens para as quais não se encontrara arrumação possível. Na parte inferior dos beliches, crianças pálidas e enfermiças brincavam com os soldados. As meninas enrolavam granadas em panos de cores vivas e faziam bonecas com elas. Agentes de ligação, chefes de serviço, jornalistas, operadores de noticiários cinematográficos atravessavam as fileiras de beliches e percorriam apressadamente os corredores.
De joelhos ante uma pequena mesa, um engenheiro fazia a barba. O caixa pagava os salários. Um telefonista - que estava no seu período de descanso - tocava violão.
Era assim que vivia e trabalhava essa gente. E outras. E outras...
Os alemães, que procuravam localizar certos depósitos de petróleo, tinham devastado completamente um cemitério. Os restos dos mortos da guerra da Criméia estavam espalhados e as suas cinzas impregnadas de sangue fresco. Por trás do cemitério estendia-se uma zona tão duramente bombardeada que era impossível saber onde antes tinham existido casas ou ruas. Ali, nas crateras cheias de água sanguinolenta, flutuavam mãos, membros, troncos de crianças.
Fiquei assombrado ao ver nestes espantosos lugares uma mulher jovem, modestamente vestida, que, com o passo prudente e seguro, abria caminho através das ruínas levando nos braços um ramo de flores frescas. Andava pelas ruas bombardeadas com a cabeça erguida, sem pestanejar. Contaram-me que todos os dias atravessava a Sebastopol em ruínas para ir ao cemitério colocar flores sobre a campa do seu marido, herói anônimo morto durante a defesa da cidade. Recomendava-se a ela que se juntasse aos evacuados, mas repelia a sugestão dizendo: "Permanecerei no lugar onde repousa o meu marido." Os combatentes sentiam orgulho por ela, orgulho pela sua firmeza, orgulho por verem que permanecia ao seu lado essa russa silenciosa e modesta, cujo amor era tão belo e resplandecente.
As fotografias tiradas por aviões de reconhecimento proporcionavam ao comando alemão a prova indiscutível de que Sebastopol deixara de existir. Dissera-se aos soldados que, decorridos dois dias no máximo, tomariam banho na baía e que, em seguida, teriam uma longa licença.
Apesar disso, Sebastopol continuava vivendo. Fervendo de ódio e energia, roía a terra, mordendo-a com as suas gengivas sangrentas. Privada da vida ao ar livre, Sebastopol continuava existindo e lutando nas covas, nas pedreiras abandonadas, nos refúgios improvisados.
Nada mais exemplificativo desta situação do que a fábrica subterrânea que eu visitei. Ali, a barafunda era incrível. O imenso porão estava dividido em compartimentos por pesados tabiques metálicos, atrás dos quais centenas de tornos zumbiam. Um motor de trator, rugindo e fumegando, servia de gerador. Quando o motor parava, as luzes se apagavam: instantaneamente todos os operários acendiam um cigarro e centenas de fracas luzinhas brilhavam na escuridão. Tinham combinado que só fumariam quando o trabalho fosse interrompido por falta de corrente.
O morteiro THOR de 600mm em bombardeia a cidade
As máquinas funcionavam 24 horas por dia. Todas as pessoas trabalhavam. Defronte de mim, uma mulher já idosa permanecia em frente de uma máquina de imprimir. Faltava-lhe a mão direita. A onda explosiva de uma bomba a tinha arrancado. Ao sair do hospital, não permitira que a evacuassem. Ao seu lado, uma mulher nova e bonita dava de mamar a um bebê, vigiando ao mesmo tempo uma máquina perfuradora. Às vezes distraía seus camaradas cantando uma canção de embalar.
Em beliches de três andares, colocados ao longo das paredes, dormiam operários dos grupos que tinham sido rendidos, amontoados entre os seus objetos pessoais e as bagagens para as quais não se encontrara arrumação possível. Na parte inferior dos beliches, crianças pálidas e enfermiças brincavam com os soldados. As meninas enrolavam granadas em panos de cores vivas e faziam bonecas com elas. Agentes de ligação, chefes de serviço, jornalistas, operadores de noticiários cinematográficos atravessavam as fileiras de beliches e percorriam apressadamente os corredores.
De joelhos ante uma pequena mesa, um engenheiro fazia a barba. O caixa pagava os salários. Um telefonista - que estava no seu período de descanso - tocava violão.
Era assim que vivia e trabalhava essa gente. E outras. E outras...
Excelente artigo. Gostaria de saber o título do livro do Boris Voyetekhov de onde ele foi extraído.
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