terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Depoimento de Heinz Knoke, um piloto de Me109 na frente ocidental contra os B17 americanos


Heinz Knoke, piloto de Me109 e detentor de 33 vitórias, relata alguns de seus encontros aéreos no front ocidental :

13 de junho de 1943

Hoje é o décimo terceiro dia do mês.

O grupo executa um ataque em formação contra uma esquadrilha consistindo de uns 120 bombardeiros pesados. Há uma Fortaleza maravilhosamente alinhada em minha mira. Eu aperto os dois botões de tiro e - nada acontece. Verifico meu pente de cartuchos e a presilha de segurança, aperto os botões novamente e - nada acontece ainda.

Espumando de raiva eu realizo uma espiral descendente para o banco de nuvens abaixo.

Hoje é dia treze!

25 de junho de 1943

Eu ainda me sinto morto quando me arrasto para o ponto de dispersão nesta manhã. Eu e os outros pilotos ficamos na cantina até o nascer do sol. O bar está coberto com um regimento inteiro de garrafas vazias.

O tempo está enevoado. Nós esperamos que este seja um dia que os Ianques nos deixem em paz. Na sala de operações do esquadrão nenhuma atividade inimiga é relatada. Eu me deito tentando tirar um cochilo na sala de espera adjacente à sala de reuniões.

O telefone me desperta às 7:00: concentração inimiga no mapa, referência de setor Dora-Dora.

Eles não podiam escolher um outro dia?

Os pilotos ainda dormem. Eu não os perturbo e vou para o lado de fora, para o avião. O engenheiro chefe relata que todas as aeronaves foram verificadas e estão disponíveis para serviço.

Indo para a sala de jantar, peço um ovo frito, pão branco e manteiga, os quais eu tento comer. A comida parece bastante sem gosto. Pela primeira vez eu não me sinto feliz em pensar na missão vindoura. Sinto um peso peculiar no estômago, será medo?

Não, não creio que seja exatamente medo, está mais para indisposição e indiferença. Nem mesmo uma visita ao banheiro traz algum alívio. Eu gasto quinze minutos correndo de um lado para o outro da pista tentando acertar as idéias. Turit, meu cachorro, trota junto comigo. Às vezes ele se afasta, latindo atrás de alguma gaivota.

Da sala de operações vem a ordem de preparação para um alerta. Os pilotos resmungam enquanto vêm para fora, um por um. Depois de comer alguma coisa eles calçam as botas de pele, vestem os casacos de vôo e coletes salva-vidas. Há pouca conversa. Eu guardo algumas rações de emergência e um kit de primeiros socorros no bolso do joelho.

Lentamente nós vagueamos em direção aos aparelhos. O alerta é esperado a qualquer momento. Os mecânicos estão juntos a nós. Meu chefe de guarnição de terra balança as pernas enquanto se espreguiça sobre uma asa e mastiga um pedaço de grama. Que exemplo de alerta!

Arndt aperta meu cinto enquanto visto meu capacete de vôo. Ele me passa a extensão telefônica: o Oficial Comandante está na linha.

Ele pergunta se nós estamos prontos. Os comandantes de grupo respondem em seqüência: Tenente Sommer, eu e o Capitão Falkensamer. O inimigo está se aproximando da costa: aparentemente hoje ele está se dirigindo para Wilhelmshaven de novo.

8 horas e 11 minutos: decolagem.

Os grupos decolam em sucessão, quarenta e quatro aeronaves ao todo. O teto de nuvens está a 6.000 pés. Nós o atravessamos próximo à costa. Ocasionalmente vemos relances de terra entre as camadas de nuvens.

15.000 pés: outra camada de nuvens se interpõe em nosso curso.

20.000 pés: não há conversas no rádio, somente a posição inimiga é anunciada.

22.000 pés: Nós esperamos a qualquer momento estabelecer contato com o inimigo.

Eu verifico minhas armas. Minha máscara de oxigênio está desconfortavelmente apertada. Eu afrouxo e a ajusto.

Nós voamos entre nuvens cumulus. Alto sobre nós espalha-se uma terceira camada de nuvens geladas. Voamos através de vales e cavernas, pelas gigantescas montanhas de nuvens. Os aviões parecem absurdamente pequenos, engolidos por este majestoso fundo.

"Lá estão eles!"

As Fortalezas estão aproximadamente 3.000 pés abaixo de nós. Eles não estão voando em formação cerrada hoje, mas voam isolados ou em grupos de 3 ou 4 através da deslumbrante camada de nuvens.

Atenção redobrada, nós descemos mergulhando.

"Atrás deles!" A caçada se inicia.

É uma surpresa perfeita, nosso ataque cria nos americanos um estado de grande confusão. Eles se esquivam, fazem curvas e mergulham para se abrigarem na camada de nuvens, tentando fugir de nós. É impossível estimar a quantidade deles. É quase como uma colméia que tenha sido agitada. Nós falamos, uns para os outros, as melhores posições de tiro pelo rádio.

Em pares os nossos pilotos atacam os grupos individuais de Fortalezas. Meu ala (N.T.: Wingman) de hoje é um jovem sargento com o qual eu nunca havia voado. Esta é sua primeira experiência em combate. Há também a chance de que seja sua primeira vitória aérea se ele mantiver a cabeça no lugar.

Eu escolho dois bombardeiros isolados voando em formação, asa com asa, e nós mergulhamos para atacá-los pela traseira.

"Dölling, você pega o da esquerda."

Eu chamo o sargento, mas ele continua voando em direção ao da direita e não parece ouvir minhas mensagens.

"Se aproxime, homem. Do outro lado - na sua ESQUERDA! Vá para lá e ataque!"

Eu abro fogo a pouca distância. Meus projéteis de canhão acertam perfeitamente o centro da fuselagem. O artilheiro de cauda persistentemente revida o fogo. Calmamente me aproximo mais, as armas cuspindo fogo. Buracos aparecem na minha asa esquerda conforme sou atingido. Aquele maldito artilheiro! Ele não vai me deixar - temos que ter muito estômago para isso.

Ainda próximo eu continuo disparando todas as armas na Fortaleza, me concentrando na torreta traseira. Ela desintegra sob as salvas dos meus canhões. Mais projéteis também colocaram a torreta dorsal fora de ação.

Nós estamos entre as nuvens, em uma ravina profunda, com paredes leitosas se elevando a cada lado. Definitivamente uma visão gloriosa. Dölling permanece voando obstinadamente na sua posição à minha direita, calmamente observando o combate. Porque diabos ele não vai atrás do segundo bombardeiro?

Eu perco a paciência com ele:

"Ataque, seu estúpido, ATAQUE!"

Ele ainda não se move.

Woomf! Woomf! Woomf!

Eu estou sob fogo pesado pelo lado. Os tiros vêm da torreta direita da segunda Fortaleza. Eu estou próximo ao artilheiro, praticamente a seu lado. O artilheiro dorsal também atira em mim com suas metralhadoras gêmeas. As traçadoras passam rente à minha cabeça.

Woomf! Eu sinto outro tiro. Nós passamos por uma abertura de nuvens. Meu cockpit embaça, então abro a janela lateral da cabina.

Minha Fortaleza está em chamas, próximo à traseira e no motor interno direito. Os dois artilheiros da segunda Fortaleza ainda descarregam suas armas em mim, eles estão a somente 100 pés de distância.

Continuo atirando em minha vítima. O bastardo tem que cair, nem que isso signifique meu próprio pescoço. Eu permaneço entre 150 a 200 pés atrás dele. Meus tiros agora se espalham pela asa direita.

Eu solto o manche por um momento e tento atrair a atenção de Dölling acenando e apontando o outro bombardeiro, então, de repente, vejo um clarão em frente aos meus olhos e sinto a mão que acenava ser projetada violentamente contra a parede lateral do cockpit. Totalmente alarmado eu seguro o manche novamente, para soltá-lo no mesmo segundo. Minha luva direita está em pedaços, com sangue pingando. Eu não sinto nenhuma dor.

Mais uma vez eu agarro o manche com minha mão ferida, acerto a mira no meu oponente e esvazio os pentes em uma longa rajada. Finalmente a Fortaleza é abatida, caindo das nuvens como uma tocha acesa.

Eu mergulho depois disso, em direção ao mar. Tudo que resta do bombardeiro é uma grande mancha de óleo na superfície do oceano.

Neste momento minha mão começa a doer. Seguro o manche com a mão esquerda, lambuzando-a de sangue. Pedaços de carne ficam pendurados na luva.

Eu perdi minha orientação algum tempo atrás, durante o tiroteio sobre as nuvens, contudo, seguindo para sul é provável que eu encontre terra em algum lugar. É um milagre que meu motor não tenha sido atingido. Por um golpe de sorte os artilheiros naquela Fortaleza não tinham muito boa mira.

A dor na mão machucada vai ficando pior. Estou perdendo muito sangue. Minha jaqueta de vôo está tão ensangüentada que parece que eu andei em um matadouro.

Quão longe, no mar, eu estou? Os minutos se arrastam; e ainda não há qualquer sinal da maldita costa. Eu começo a ter um pensamento pessimista e minha cabeça vai ficando leve, perco muito sangue e ainda esta horrível dor na mão.

Uma ilha se delineia a frente: Norderney. Só mais sete ou oito minutos e eu poderei pousar. O tempo parece interminável. Finalmente estou sobre Jever. A despeito da dor insuportável na mão, eu mergulho sobre a área de dispersão de vôo e executo uma rolagem de vitória.

Os mecânicos acenam suas mãos e quepes, tão deslumbrados quanto crianças. Agora preciso de ambas as mãos para pousar. Trinco meus dentes. Minha mão direita está completamente dormente.

Meu mecânico chefe fica horrorizado ao ver a minha mão e o sangue em minha jaqueta. Os mecânicos se amontoam em torno do meu avião: o Chefe foi ferido!

No posto de primeiros socorros, o oficial médico de serviço remove o resto da luva e coloca uma bandagem de emergência na mão. Também recebo uma injeção antitetânica por prevenção.

São somente 9:00. O último avião não retornaria até o meio-dia. Duas outras vitórias são anotadas no quadro negro do setor de dispersão.

Às 12:00 finalmente sou transferido para o hospital. Eles terão que me operar. Uma das falanges foi amputada, mas a mão ficará boa, a não ser que desenvolva gangrena.

Uma freira me leva para um leito. Eles sugerem que eu fique internado até segunda ordem. Olho pela janela, meu carro ainda está lá embaixo, Jungmaier, meu motorista, está esperando. Cuidadosamente eu me esgueiro pelo longo corredor, ninguém à vista, nunca pude suportar o cheiro de desinfetante que os hospitais têm. Meia-hora depois eu estou de volta ao ponto de dispersão do grupo. Não posso evitar de rir: eles devem estar me procurando naquele hospital até hoje!

2 comentários:

  1. Muito bom, este livro esta publicado em Portugues?

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    1. Caro Amigo: Sim, "A Grande Caça" - Heinz Knoke - Editora Flamboyant. Um abraço. Paulo Ricardo

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